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5.1 Desenvolvimento do modelo

5.1.1 Aspectos gerais do modelo espacializado

Considera-se um sistema econômico composto por um conjunto de firmas heterogêneas quanto às suas características tecnológicas e que produzem, a partir de distintos pontos do espaço, produtos assimetricamente diferenciados, todos potencialmente tradebles. A função de produção das firmas apresenta economias de escala e a permanência destas no mercado está sujeita à condição de que o seu capital disponível deve ser suficiente para a produção em escala mínima, a qual é definida pela magnitude do seu custo fixo (F) (ver capítulo 4, item 4.3.1). Os recursos financeiros necessários à efetivação da produção são fornecidos pelo setor bancário – o qual, a título de simplificação, sintetiza o sistema financeiro desta economia artificial. Também, por simplicidade, pressupõe-se a existência de um único grande banco, de abrangência nacional e com agências em cada uma das regiões.35 A postura deste, em cada localidade, dependerá da forma como evolui cada um dos seus indicadores básicos, fornecidos pelas equações 4.29 e 4.31 (capítulo 4) e reinterpretadas sob a forma das equações (5.21) e (5.14) do presente capítulo. Estas se referem, respectivamente, à determinação do spread e às decisões sobre a oferta de crédito. A principal diferença entre as duas versões diz respeito ao fato de que, agora, tais indicadores são definidos por variáveis locais, conseqüentemente variam entre as localidades, definindo posturas regionalmente diferenciadas por parte do setor bancário.

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O método de espacialização utilizado neste trabalho baseia-se no trabalho de Ruiz (2003).

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Uma alternativa seria considerar a existência de bancos regionais – isto é, sediados e com operações restritas a um determinado espaço geográfico – ou ainda a co-existência de bancos nacionais e regionais. A conveniência de um ou de outro modelo de sistema bancário não será objeto de discussão no presente texto. Não obstante, Dow (1993f, p. 98) ressalta a mudança do sistema bancário regional para o nacional ocorrida nos EUA nos anos 80 do século passado, processo este que também se observa no Brasil nos anos 90 (Puga, 1999). Para uma análise empírica comparativa entre os modelos, aplicada ao caso do sistema bancário italiano, ver Alessandrini, Presbitero & Zazzaro (2006).

A cada período recursos financeiros são solicitados pelas firmas ao setor bancário para a contratação de mão-de-obra, sendo este o único insumo considerado nesta formalização. Quando uma firma já se encontra em operação considera-se que haja por parte do agente financiador uma predisposição à continuidade das operações de financiamento, pelo menos

a priori, em função dos custos de oportunidade envolvidos. Uma nova firma, entretanto, deverá submeter a sua solicitação de capital inicial ao banco o qual poderá ser favorável ou não a depender das características tecnológicas do projeto e, num contexto de várias regiões, das expectativas do banco quanto à localização pretendida pela firma. A existência de opções de localização representa uma nova problemática encampada pelo modelo, cujas características específicas serão tratadas no item 5.1.4.

No que se refere às firmas já em operação, estas utilizam informações passadas sobre os seus níveis de demanda para formar expectativas sobre a demanda futura. Assim procedendo, demandam crédito num montante suficiente para efetivar uma produção ajustada à demanda esperada. O custo da produção desejada e, portanto, a quantidade de crédito a ser demandada é uma função direta do custo dos insumos, isto é, do salário vigente na região onde a produção será realizada. O custo dos insumos constitui um importante fator locacional de modo que, um mercado de trabalho com variações salariais deve ser introduzido. Por simplicidade será considerado que a força de trabalho encontra- se distribuída uniformemente entre as regiões, permanecendo fixa em L ara cada região j. Além disso, um piso salarial (salário mínimo ou de reserva) no valor de

p

W é válido para todas as localidades. A partir destas pressuposições, o salário regional é definido da seguinte forma (neste capítulo será utilizado o sobrescrito R para identificar o caráter local das variáveis): ⎪ ⎩ ⎪ ⎨ ⎧ = W L K W j R t j R t j , * , max (5.1)

A velocidade com que o salário se ajusta às variações na demanda por m-d-o pode ser controlada fazendo-se: * , 1 , , (1 ) R t j R t j R t j W W W + −τ ; onde 0<τ ≤1. (5.2)

A equação (5.1) informa que quando a demanda por trabalho ( ) se eleva acima da oferta fixa (

R

K

L) o salário se eleva acima do seu valor mínimo, sendo a velocidade do ajustamento é determinada pela equação (5.2). Note que quandoτ =0 a equação 5.2 é igual à 5.1 – na medida que este parâmetro se eleva em direção a 1 o ajustamento do salário se torna mais lento. Esta é uma forma de se avaliar as implicações de um ajustamento lento dos salários.36 Observe ainda que é o volume de capital agregado regional a ser investido na produção no período corrente, sendo definido pela soma dos empréstimos contraídos mais os lucros eventualmente acumulados e aplicados na produção pelas empresas de uma dada região. Sendo esta uma variável local, o salário nominal regional ( ) pode então ser determinado. A oferta regional de crédito, por sua vez, se constitui num dos elementos centrais do presente modelo e será tratada em detalhes no item 5.1.3.

R

K

R W

Uma vez realizada a produção a firma determinará o seu preço de fábrica (mill price) (equação 4.7, cap. 4). A existência de custos de transporte implicará uma distinção entre o preço de fábrica e os diversos preços locais resultando, conseqüentemente, em níveis de competitividade diferenciados nos vários mercados regionais. Uma vez definidos os níveis de competitividade a parcela de cada mercado regional que caberá a cada firma pode ser determinada, cujos somatórios conformam as quantidades demandadas individuais. A relação entre preço, competitividade, market-share e demanda individual segue a lógica descrita nos itens 4.3.2 e 4.3.3 do capítulo 4. Não obstante, as particularidades deste mecanismo num contexto de várias regiões são discutidas no item 5.1.2 do presente capítulo.

Finalmente, o resultado da interação entre oferta e demanda de produtos determinará a posição financeira das firmas que, por sua vez, terá conseqüências fundamentais para a dinâmica do sistema ao impactar as decisões estratégicas do setor bancário. Sob a ótica microeconômica, o resultado operacional das firmas influenciará a sua estratégia de precificação. Particularmente, as firmas procurarão tirar proveito em situações de excesso

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De fato, este artifício é utilizado com o objetivo de conferir maior estabilidade ao modelo; particularmente, uma redução da variância melhora as condições de análise das relações de causalidade de interesse (elevação do grau de confiança das estimativas). Na prática a equação (5.2) exclui os efeitos das oscilações de curtíssimo prazo sobre o salário nominal. Este procedimento é um recurso modelístico que não deve, entretanto, afetar as propriedades elementares do modelo.

de demanda, aumentando a sua margem (Mk). Um mecanismo de reajuste de mark up pode então ser introduzido da seguinte forma:

)] ( 1 [ , , , , , , , , 1 , , t j i t j i t j i t j i t j i Qs Qs Qd Mk Mk + = +η − ; onde 0<η<1 (5.3)

A equação (5.3) atesta que o mark up se eleva quando há excesso de demanda e se reduz quando ocorre o oposto. A velocidade com a qual o ajustamento ocorre é dada pelo parâmetro η.