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Centralidade e Preferência pela Liquidez: determinantes de uma relação não-linear

A argumentação que se segue tem como base a idéia de que, considerando-se um gradiente centro-periferia, cuja hierarquização é determinada pelo grau de centralidade, os reflexos das oscilações no centro sobre as demais partes do sistema não ocorrem de forma homogênea e tendem a se dissipar no tempo e no espaço. Algumas regiões responderão de imediato aos impulsos do centro, cujos efeitos se estenderão pelos mais variados setores da economia. Outras regiões responderão com um lag temporal e os estímulos poderão se restringir apenas a alguns setores específicos. Levado ao extremo, o primeiro caso define o próprio centro. Na medida em que a resposta deixa de ser instantânea e menos setores produtivos são abarcados pelo impulso externo, caracteriza-se um espaço periférico. A outra extremidade corresponde então a uma periferia tão “distante” que os efeitos das oscilações no centro se perdem no tempo e a diversidade produtiva é reduzida a tal ponto que nenhum setor da economia é estimulado. Tais considerações conduzem a um indicador

que pode se constituir em uma proxie do grau de centralidade (c) de uma região.14 Este é dado por:

= = n i j i j L c 1 , ) 1 ( (3.1)

em que n é o número de setores exportadores da região j, os quais são estimulados pelas flutuações no centro com uma defasagem de tempo L.

Mais especificamente, Li,j corresponde ao tempo que transcorre entre as inflexões no centro

e o impacto (positivo ou negativo) sobre o setor exportador i da região j. Vale destacar que o tempo de defasagem, representado pela variável L, incorpora uma série de elementos ligados à competitividade da região tais como custos de transporte, nível de organização dos setores exportadores e infra-estrutura financeira. Ademais, quando a curva de demanda de mercado de um dado produto é deslocada para fora em função de uma expansão no centro, o diferencial de preços resultante será aproveitado primeiro por aquelas regiões que mais prontamente atenderem ao aumento da demanda. Na medida em que a oferta total é aumentada pela incorporação da produção de outras regiões o preço de equilíbrio tende a se reduzir, diminuindo os ganhos de regiões que entraram no processo tardiamente. Dessa forma, é possível levantar a hipótese de que, se duas ou mais regiões são exportadoras de um dado produto, a diferença em termos da intensidade com que o setor produtor do bem em questão de cada região é afetado é uma função inversa do tempo de defasagem; em outros termos, supõe-se que a intensidade do impacto sobre cada setor exportador é inversamente relacionada ao tempo que transcorre até que a retomada do crescimento no centro se faça sentir no referido setor. Uma região periférica que apresente um grau de integração relativamente elevado com a economia central apresentará n elevado e L baixo; à medida que se distancia do centro n tende a diminuir, em função de uma especialização crescente, e L a aumentar, sendo que na periferia extrema n tende a zero e L a infinito. Nestes termos, o fator tempo entra diretamente na definição dos diferentes tipos de regiões;

14

Cabe ressaltar que a caracterização acima exposta não se refere a uma definição alternativa de centro e de periferia, mas sim a introdução da dimensão temporal na conceituação discutida no capítulo 2. Seu caráter é, portanto, complementar. Desse modo, a referida proposição tem pouco a acrescentar à definição de região central, mas, como se tentará argumentar, terá implicações fundamentais para o caso das periferias. Em suma, enquanto a HIF não dispõe de uma dimensão espacial a concepção centro-periferia, por sua vez, carece de uma dimensão temporal. O que se propõe é, então, a conciliação destes dois elementos teóricos de modo a ampliar o escopo da análise regional.

a definição de quão periférica é uma região passa a considerar um índice de centralidade definido dinamicamente.

De acordo com a teoria regional pós-keynesiana a relação esperada entre a preferência pela liquidez e um índice de centralidade tal como proposto acima poderia ser representada por uma reta negativamente inclinada, indicando que quanto mais central for uma determinada cidade/região menor a preferência pela liquidez a esta atribuída e vice-versa. A esta altura faz-se necessário explicitar a hipótese central do presente trabalho, qual seja: a preferência pela liquidez associada a cada região será, em média, maior para valores intermediários do indicador de centralidade. Considerando-se a equação 3.1, pode-se argumentar inicialmente que as causas deste comportamento são: i) quando n é extremamente baixo ou extremamente elevado, a incerteza é reduzida pois, em se tratando de uma região central (n é grande), as expectativas positivas se estendem amplamente pelos diversos setores da economia, de modo que o investidor estará mais preocupado, não em identificar os setores em que poderá incorrer em perdas, mas em descobrir qual deles produzirá o maior lucro; ii) na outra extremidade, como as expectativas são de que nenhum ou poucos setores serão impactados de forma significativa (n baixo) pelas flutuações no centro, as possibilidades para comportamentos especulativos são reduzidas e esta região não despertará interesse dos investidores; iii) entretanto, quando a defasagem é baixa, porém significativa, a decisão de investimento, por força da concorrência, deve ser tomada com rapidez com vistas a aproveitar as melhores possibilidades, o que por sua vez, eleva o risco de uma ação equivocada; e iv) finalmente, o impacto relativamente abrangente sobre os setores da economia regional intermediária amplia as possibilidades de investimento, o que eleva a complexidade para a formação de expectativas.

Uma ilustração das proposições apresentadas pode ser dada pela Figura 3.1 a seguir – por convenção, o termo “periferia” será utilizado como referência à região intermediária, e “centro” e “periferia extrema” aos casos polares.

Figura 3.1: Expectativas e preferência pela liquidez nas diferentes categorias de região

De modo geral, o que a Figura 3.1 atesta é que: (a) as regiões situadas nas extremidades apresentam expectativas relativamente estáveis, embora com sinais opostos,15 enquanto a periferia (região intermediária) seria caracterizada por uma maior volatilidade das variáveis expectacionais, sendo que, (b) na média, tal volatilidade conduziria a um nível de preferência pela liquidez relativamente mais elevado. Este seria o resultado do comportamento de agentes com estratégias regionais diferenciadas. Os itens que se seguem objetivam especificar as formas pelas quais tais comportamentos se fazem observar.