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2.2 Autos de Habilitação Matrimonial (1753)

2.2.1 Aspectos Gráficos

Os aspectos gráficos dizem respeito à escrita propriamente dita. No documento analisado, a letra é a humanística cursiva. Quanto ao ductus, pode-se dizer que a ordem de sucessão e o sentido dos traços que compõe cada letra são mais acurados, mesmo se tratando de um documento que objetiva, em algumas partes, a transcrição de depoimentos.

Pelo seu aspecto geral, trata-se de uma letra com diversos traços adicionais, ou seja, com traços particulares eventualmente adicionados à letra. Do mesmo modo, é uma escrita que identifica seu autor com um rápido olhar, pois contém automatismos próprios do escriba. Ana Belén Sánchez destaca que os automatismos, em geral, são muito mais frequentes nas letras que requerem um número maior de movimentos. ([19-- ?] p. 334)

Figura 5 – Exemplos da letra d minúscula.

A letra d minúscula pode aparecer de três formas diferentes, mas a que se destaca é a da esquerda, na qual a cabeça da letra se apresenta com uma grande curva que encerra um volteio menor, fechando-a completamente. Nas outras duas formas, constantes na palavra idade, a letra é muito semelhante ao traçado das letras do período.

Figura 6 – Exemplo da letra h minúscula.

Outra letra bastante particular é a h minúscula. Nota-se que a haste inferior está acompanhada do traçado destrógiro.

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Também podem ser destacadas como identificadoras dos automatismos do Pe. Clarque as letras E, M, N maiúsculas. Na Figura 7, à esquerda, há um exemplo da letra

E, nos quais as curvas são bastante acentuadas. Curvas e alongamentos também são

denotados nas letras M e N.

No elemento gráfico do peso da escrita, que é o resultado do peso da mão do escriba ao grafar o documento, os traços das letras podem ser grossos e finos. Existindo muito contraste entre grosso/fino, a escrita pode ser classificada pesada. Caso contrário, a escrita será leve, quando o instrumento de execução apresenta ponta fina e aguda. Portanto, para uma escrita ser pesada ou leve dependerá do instrumento de escrita, da posição do instrumento e do material escritório, assim como do progresso da própria escrita.

Figura 8 - Fragmento de um dos depoimentos.

Observando Figura 8, pode-se dizer que ela é leve. Essa dedução baseia-se na pouca diferença existente entre o peso dos traços descendentes e dos traços ascendentes. No traço descendente, os músculos do braço e da mão se contraem e o gesto é de tensão, existindo um aumento natural de pressão no papel. O contrário acontece no traço ascendente, havendo um relaxamento dos músculos e a tendência é ficar mais fino. No fragmento selecionado, o escrivão está tomando nota do depoimento de uma das testemunhas do processo. Pensa-se que, mesmo se tratando do progresso de escrita ligeiramente tenso; é notável que isso não afeta suas características, ainda

mais se comparada com a Figura 9, quando o Escrivão trata de anotar um dos termos de finalização do processo.

Figura 9 – Fragmento do Termo de Entrega.

O módulo reflete o tamanho da letra e determina a proporção e a dimensão, altura e largura existentes.

Figura 10 – Exemplos de letras que iniciam parágrafos.

O módulo pode ser classificado como pequeno, médio e grande. Da letra do Pe. Thomaz Clarque pode-se dizer que é de proporção média tendente a pequena, sendo as hastes superiores e inferiores bastante acentuadas. A mesma acentuação é observada nas letras maiúsculas no meio do texto e, em maior destaque, para as letras que iniciam os parágrafos.

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O ângulo da escrita é determinado pela posição do instrumento escritório em relação à linha da escrita. Sánchez Prieto afirma que o ângulo é o que existe de mais pessoal na escrita. ([19--?], p. 335) Segundo a mesma autora, os ângulos são formados pelo corte do bisel da pena – daí o toque pessoal, uma vez que os cortes eram feitos pelos próprios escribas. É lícito pensar dessa forma, uma vez que os documentos trabalhados datam de meados do século XVIII e a pena de metal passa a ser utilizada apenas no final do mesmo século. Portanto, o Pe. Thomaz Clarque certamente cuidava de seu instrumento escritório, já que seu ofício era o de ser Escrivão. O ângulo da inclinação é medido através do ângulo formado pelas hastes das letras e a pauta horizontal da linha.

Figura 11 – Ângulo de inclinação medido através das letras t, f, b.

Observa-se na figura acima que a inclinação da letra é um pouco maior que 45 graus, com a letra levemente tombada para o lado direito.

Os demais elementos a serem tratados, no que diz respeito aos aspectos gráficos são: a relação entre letras maiúsculas e minúsculas, a distribuição das palavras, a pontuação, a acentuação e a numeração.

As letras maiúsculas são utilizadas, praticamente, da forma como na atualidade, nos inícios de parágrafos, nos nomes de pessoas e de localidades, nos pronomes de tratamento e títulos de ofícios etc.

O escrivão utiliza ligaduras que chegam a unir indevidamente algumas palavras. Na Figura 12, encontram-se dois exemplos: o primeiro mostra a expressão “e eu

Escriuão”; no segundo, encontram-se as palavras “e bautizado” unidas, assim como “na freguezia”.

Figura 12 – Exemplos de palavras unidas indevidamente.

No que tange à pontuação e à acentuação, pode-se dizer que são características desse período. Sabe-se que a regulamentação da língua portuguesa passa a acontecer em finais do século XIX. Pe. Thomaz Clarque utilizava a vírgula, em momentos, a princípio, que denotam breve pausa, muito eventualmente o ponto e vírgula e o ponto final. Quanto à acentuação, só é possível destacar o til como acento gráfico.

Para encerrar a análise dos aspectos gráficos, na Figura 13 está uma amostra da numeração arábica, usada para calcular as custas do processo. Quando inseria as datas e as idades, ele as escrevia por extenso.

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