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1. CONSTRUINDO OS ALICERCES DA PESQUISA

1.3 Aspectos metodológicos

Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Nas escolas, nas ruas, campos, construções Caminhando e cantando e seguindo a canção Vem, vamos embora que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer (...) Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção Aprendendo e ensinando uma nova lição (VANDRÉ, 1994)

A presente pesquisa se insere no campo das ciências sociais e, por conseguinte, conforme atesta Minayo (2014), possui uma série de peculiaridades dentre elas o fato de trabalhar junto a um grupo social historicamente situado, que existe num determinado tempo e espaço, com configuração específica, ou seja, vive o presente marcado pelo passado e projetado para o futuro, num embate constante entre o que está dado e o que está sendo construído. Portanto, a provisoriedade, o dinamismo e a especificidade são características fundamentais da investigação em referência.

Dessa forma, não é apenas o investigador que dá sentido ao seu trabalho intelectual, uma vez que o grupo pesquisado possui consciência histórica e atribui significado e intencionalidade a suas ações e a suas construções.

Além disso, existe uma certa identidade entre o pesquisador e o grupo investigado, visto que a pesquisa lida com seres humanos que possuem, no seu

histórico de vida, algum tipo de afinidade com o investigador, tornando-os solidariamente comprometidos.

Essas particularidades, apontadas por Minayo (2014), embasaram a adoção, na presente dissertação, de uma abordagem qualitativa de investigação, que trabalha com o universo de significados, aspirações, motivações e atitudes, ou seja, um espaço mais profundo das relações e dos processos que não pode ser investigado a partir de um sistema de variáveis quantitativas e numéricas.

Nesse contexto, no qual os atores estão profundamente imbricados e em constante processo de reflexão e mudança, o método qualitativo adotado é a pesquisa-ação, nos moldes propostos por Thiollent (2011), qual seja:

Pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2011, p. 20).

Por conseguinte, o processo investigativo tem como característica básica ser essencialmente dialógico e estimular a participação ativa do pesquisador e do grupo, desde a discussão dos objetivos até a interpretação conjunta dos resultados obtidos, a fim de que o conhecimento produzido se torne significativo para todos os participantes e efetivamente engendre transformações.

Além disso, a pesquisa é interventiva, tendo como princípio a ação-reflexão- ação, não ficando restrita à observação das contribuições que a aprendizagem da leitura e da escrita pode propiciar ao desenvolvimento de jovens e adultos, mas também propondo ações conjuntas que viabilizem e qualifiquem esse processo.

O autor ressalta, entretanto, que é preciso “evitar, de um lado, o tecnocratismo e o academicismo e, por outro, o populismo ingênuo dos animadores”, pois o grande desafio metodológico consiste em inserir a pesquisa-ação “dentro de uma perspectiva de investigação científica, concebida de modo aberto e no qual a ciência não seja sinônimo de “positivismo”, “estruturalismo” ou de outros rótulos” (THIOLLENT, 2011, p. 26).

Complementarmente, utiliza-se também contribuições de Barbier (2007), segundo o qual:

Nada se pode conhecer do que nos interessa sem que sejamos parte integrante, “actantes” da pesquisa, sem que sejamos verdadeiramen-

te envolvidos pessoalmente pela experiência, na integralidade de nossa vida emocional, sensorial, imaginativa, racional. É o reconheci- mento de outrem como sujeito de desejo, de estratégia, de intencio- nalidade, de possibilidade solidária (BARBIER, 2007, p. 70-71). Nesse sentido, verifica-se, conforme atestam Tanajura e Bezerra (2015), que a pesquisa-ação de cunho existencial de Barbier (2007) amplia e complementa a visão político-social crítica de Thiollent (2011), uma vez que, na concepção de ambos, a pesquisa-ação é vista como um modelo aberto e dialético, que se organiza em torno de sujeitos, e não objetos, visando uma mudança social e pessoal cujos resultados poderão contribuir, de forma permanente, no cotidiano dos grupos pesquisados.

Assim, visando fornecer subsídios para o estudo proposto, foram adotadas as técnicas da observação participante, diário de campo, rodas de conversa e entrevistas semiestruturadas.

A observação participante se iniciou em 16 de agosto de 2016, primeiro dia de aula, debates e discussões da Turma BB Educar de São Sebastião, e se estendeu até o seu término, em 01 de julho de 2017, com foco nos seguintes aspectos:

a) Concentração dos educandos nas atividades propostas;

b) Pensamento abstrato, conceitual e criativo na resolução de problemas; c) Postura crítica em relação aos problemas da comunidade e ao seu

processo de aprendizagem;

d) Significação atribuída ao seu processo de alfabetização; e) Participação nas aulas;

f) Relação afetiva com os colegas.

Nesse período, também foram realizadas rodas de conversa, com o objetivo de discutir a percepção e significação pessoal dos educandos relativamente ao seu processo de alfabetização, no tocante às mudanças engendradas no seu cotidiano, no seu trabalho, na sua forma de pensar e nas suas relações com os amigos, vizinhos e familiares.

De abril a junho de 2017, ocorreram entrevistas individuais e coletivas semiestruturadas, a fim de aprofundar os temas discutidos nas rodas de conversa e conhecer mais pormenorizadamente a trajetória de vida dos educandos. Importante ressaltar que as aulas, rodas de conversa e entrevistas foram filmadas mediante autorização assinada pelos educandos e pela educadora Maria de Fátima Silva, nos

moldes dos Termos de Consentimento constantes dos Anexos 1 e 2. Por fim, apresentamos abaixo o cronograma da pesquisa:

Tabela 2 – Cronograma da pesquisa

Fonte: Acervo da pesquisadora.