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Aspectos políticos e institucionais do processo de Eutrofização em

2.4 Eutrofização: um problema de qualidade ambiental

2.4.2 Aspectos políticos e institucionais do processo de Eutrofização em

combate e ainda atuaria como vetor de proliferação da doença, aumentando o quadro crítico da epidemia (NOGUEIRA, 2009).

Entre os impactos no setor econômico, vale destacar que a eutrofização aumenta consideravelmente os custos de tratamento da água, diminui o valor estético do reservatório e impede a navegação e recreação, onerando o valor turístico e os investimentos nas bacias hidrográficas.

Tundisi (2005) ainda enfatiza que além das perdas de horas de trabalho por afetar a saúde humana, a eutrofização causa, direta ou indiretamente, danos sociais, pois ao atingir a qualidade da água e as atividades econômicas relacionadas ao reservatório, reduz a capacidade de gerar emprego e renda, provocando, em muitos casos, a migração de populações afetadas para regiões com melhores oportunidades de trabalho.

Além dos problemas evidentes resultantes da eutrofização, Tundisi et al. (2006) alerta para o fato de que o aumento da carga orgânica e nitrogênio nos corpos d’água pode promover o aumento da produção de gases de efeito estufa, como os gases carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido de nitrogênio (N20), podendo inclusive contribuir de forma significativa para a alteração da climatologia global.

2.4.2 Aspectos políticos e institucionais do processo de eutrofização em reservatórios

A poluição a que os corpos d’ água estão sujeitos, causada por diferentes fontes de origem urbana, rural e industrial, conduz à necessidade de planos de prevenção e recuperação ambiental, a fim de garantir condições de usos atuais e futuros, para diversos fins. Esses planos, além de medidas de acompanhamento de suas metas, implica em um conjunto de ações estratégicas impulsionadas através

de políticas públicas de gestão e fiscalização, que requerem para sua proposição e efetiva implementação, via de regra, o adequado conhecimento desses ambientes aquáticos (SANTOS et al., 2001; TUNDISI, 2005).

Mas conforme Nascimento (2007), informações da quantidade e qualidade da água dificilmente estão disponíveis para a grande maioria dos corpos hídricos no Brasil, uma vez que a falta de esforços políticos é tida como ponto crítico na conservação dos recursos hídricos, como mostra o depoimento abaixo,

A quantidade e a distribuição dos açudes existentes na região semi-árida nordestina permitem que os habitantes locais tenham alternativas de produção de alimentos, hoje pouco utilizadas, capazes de reduzir a dependência das chuvas e o risco da fome, sendo um importante recurso para a política pública de gestão regional. Com base nestes aspectos, este grande número de açudes no semi-árido pode ser considerado como uma de suas grandes riquezas, porém, estas são muitas vezes desprezadas por falta de políticas públicas adequadas e de tecnologias apropriadas para a implantação de sistemas produtivos compatíveis com a disponibilidade e capacidade desses recursos (NASCIMENTO, 2007).

Para Rebouças (2006), a antiga e impregnada visão da água como um recurso ilimitado, historicamente serviu de suporte à não realização de investimentos necessários ao uso e proteção mais eficientes dos recursos hídricos no Brasil, que acabou por culminar na pequena valorização econômica da água, isto é, a água era compreendida como um bem livre de uso comum.

Contudo, as mudanças nas políticas públicas no Brasil ao longo dos últimos vinte anos apontam um avanço considerável no setor de recursos hídricos, principalmente, caminhando de forma solidária às novas concepções de desenvolvimento, o sustentável. Da criação do Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas, em 1978, até hoje, o país abandonou o estágio de uma gestão institucionalmente fragmentada para atribuir ao Ministério do Meio Ambiente a função da gestão desse recurso natural, culminando no surgimento da Agência Nacional de Águas (ANA), em julho de 2000, como resultado das recomendações da reforma do próprio Estado Brasileiro para gerir os recursos hídricos da União (JACOBBI; FRACALANZA, 2005).

A promulgação da Lei das Águas em 1997 (n°9.433 de 08/01/97) representou outro marco institucional para a gestão das águas no país, pois rompeu de vez com o modelo de gestão econômico-financeiro e veio ao encontro dos

principais aspectos do modelo sistêmico de integração participativa, através, principalmente, do estabelecimento de comitês de bacia formados por usuários de água, que juntos promoveriam o uso racional e a proteção das águas da bacia hidrográfica.

Um dos instrumentos legais específicos para sua implementação foi a outorga do uso da água, mecanismo pelo qual os governos federal e estaduais, cujos domínios se encontram as águas, dispõem-se a cobrar pelo uso dos recursos hídricos, promovendo, assim, o uso adequado sob o ponto de vista de seus múltiplos fins (BORSOI; TORRES, 1997).

Neste seguimento, o Estado do Ceará é considerado pioneiro na gestão hídrica, além de um interessante exemplo de avanço institucional, que já em 1993 criou a Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos (COGERH), responsável pela administração da oferta de água bruta do Estado e União, e que implantou no ano seguinte a cobrança pelo uso da água, limitando os usos abusivos desse recurso escasso (COGERH, 2008).

Então para o gerenciamento dos impactos das atividades humanas nos recursos hídricos, notadamente o enriquecimento de nutrientes, o planejamento e a ação estratégica das ações políticas devem buscar inicialmente a implementação de sistemas de monitoramento permanentes, a organização institucional, a participação de usuários, o desenvolvimento de novas tecnologias de gerenciamento e métodos de baixo custo, como o uso de imagens de satélite nos estudos, que, por sua vez, ampliarão o conhecimento dos principais processos e mecanismos constituintes desse fenômeno complexo e dinâmico.

Segundo Tundisi (2005), somente assim será realizada a fundamentação necessária para a recuperação dos ecossistemas e para a proteção àqueles ainda não ameaçados pela deterioração da quantidade e qualidade de suas águas.

Mesmo considerando as dificuldades na implementação desse sistema, a atual fase da política hídrica brasileira caminha, buscando junto às ciências atuais, uma plataforma tecnológica que consagra a informação como insumo básico dos processos de gestão e monitoramento, a fim de conciliar os modernos princípios da

política das águas com o conhecimento integrado da dinâmica desses ambientes, em seus recortes locais.

A base dessa visão são modelos de gestão hídrica que considerem em seu plano de ação a participação de atividades que impulsionem o crescimento econômico ao passo que respeitem a sustentabilidade do meio ambiente, resguardando aí a quantidade e qualidade do recurso.

Nesse tocante, Ono; Kubitza (2003) citam o uso dos reservatórios no Semi-Árido em projetos aqüícolas e agropecuários, que, por serem grandes contribuintes no aporte de nutrientes, possivelmente podem catalisar o processo de eutrofização. Porém, afirmam os autores, quando se trata dos problemas sociais no Nordeste, o desenvolvimento da aqüicultura é a atividade com maior potencial para geração de emprego e renda nas comunidades rurais carentes, em destaque a piscicultura em tanques-rede, que por ser de baixo investimento, pode se apresentar até como alternativa de subsistência.

O equacionamento destas relações é o grande desafio na atuação do poder público atual, principalmente nas regiões semi-áridas do país, onde o suprimento de água para as necessidades humanas transcorre a esfera social, revelando seu caráter econômico, por meio das possibilidades de geração de emprego e renda dos diversos usos dos corpos hídricos.

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