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A barragem foi projetada pelo Departamento de Obras Contra a Seca - DNOCS e construída durante os anos de 1950 a 1957, permanecendo a instituição responsável pelo seu gerenciamento até meados da década de 90 quando, após a promulgação da Constituição de 1988, foi possível que a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH assumisse, em 1993, o papel de gestor das águas estaduais.

Inaugurado em 1958, pelo então presidente, Juscelino Kubistchek de Oliveira, a obra ganhou o nome Pereira de Miranda, mas permaneceu o nome de açude Pentecoste como o mais representativo entre as instituições (DNOCS, 2008).

A figura 10 demonstra de forma ilustrativa o esboço e a vista transversal da barragem construída para o Pereira de Miranda. O modelo representativo nos permite destacar quanto à denominação dos ambientes delimitados pela barragem física do açude e quanto à tomada d’água do reservatório, que dependendo da altura da tomada d’água, pode influenciar na qualidade de sua água.

Figura 10 – Esboço e vista lateral de uma barragem de açude. Fonte: MORAES (2005).

No projeto arquitetônico da barragem no município de Pentecoste foi prevista na tomada d’água uma galeria dupla, revestida por dois tubos de aço, que se destinariam distintamente à irrigação e ao aproveitamento do potencial energético

COROAMENTO FACE M OLHADA M ONTANTE FACE SECA JUZANTE TOM ADA D’ÁGUA BASE ALTURA TALVEGUE PORÃO TALUDE TALUDE MONTANTE SANGRADOURO BARRAGEM JUSANTE TOMADA D’ÁGUA

de 300 CV na queda d’água (AGUIAR, 1978). Porém, logo nos primeiros anos a turbina da usina hidroelétrica parou de funcionar por falta de manutenção, permanecendo as tubulações até hoje somente para suprir os canais de irrigação, necessitando de intervenção federal para reativação da geração energética (informação verbal).

A tabela 05 mostra as especificações do reservatório Pentecoste, com destaque para a capacidade da sua bacia hidráulica em acumular quase 4 milhões de metros cúbicos em 5.700 hectares de área inundável. Segundo a COGERH, este pode ser considerado de pequeno porte, já que possui capacidade inferior a 10 milhões de metros cúbicos, mas para a bacia a qual se insere, sua participação representa em 37% do potencial hídrico.

Tabela 05– Dados técnicos referentes à barragem Pereira de Miranda, Pentecoste, CE.

Açude Pentecoste Característica

Capacidade 395.638.000 m³ Localização Pentecoste-Ce Sistema Curu Rio Canindé Bacia Hidrográfica 2.840 m² Bacia Hidráulica 5.700 ha Descarga máxima 1.134 m³/s

Volume afluente anual 150.520 m

Barragem principal

Tipo Terra homogênea

Altura máxima, com fundação 29,40 m

Largura máxima da base 130 m

Comprimento pelo coroamento 1.274 m

Largura pelo coroamento 6 m

Volume do maciço 1.100.455 m³

Barragem auxiliar

Altura máxima 5 m

Comprimento 190 m

Vertedouro

Tipo Descarga Livre

Lâmina máxima prevista 2 m

Largura 200 M

Revanche 4 M

Descarga máxima prevista 1.134 m³/s

Volume do corte 138.700 m³

Tomada da d’água

Diâmetro da galeria de irrigação 1 m

Diâmetro da galeria da casa de força 1 m

Comprimento do túnel 80 m

Sistema de controle e manobra montante e 2 válvulas de agulha à 2 comportas de segurança à jusante

Usina hidroelétrica (desativada)

Turbina 1

Potência 300cv

Gerador 260 Kva

Marca Ellin

Fonte: MORAES (2005).

Atualmente o açude é responsável pelo controle das cheias do rio Canindé e riacho Capitão-Mor, auxiliando na perenização do rio Curu, pela irrigação das terras a jusante, juntamente com as águas armazenadas no açude General Sampaio, pela exploração da piscicultura e aproveitamento para culturas nas áreas de montante.

De forma a aproveitar esse potencial hídrico planejado, o Governo Federal, por meio do DNOCS, implantou ao longo do rio Curu perenizado, canais para irrigação agrícola. São 68 km de canais à jusante do Pentecoste subsidiando projetos de irrigação agrícola, que são realimentados pelas águas dos açudes General Sampaio, Caxitoré e Frios, até o município de Paraipaba. No total são 4.425 hectares plantados com coco, cana-de-açúcar, citros, acerola, banana, mamão e feijão vigna, configurando a bacia do Curu como a região agrícola baseada na produção irrigada mais importante do Estado (CAMPOS, 2007).

No entanto, esse cenário se ordenou pelo suprimento de interesses comerciais e desvinculamento do foco social desses projetos, o que estabelece hoje

na região constantes conflitos pela concentração de terras nas mãos de grandes proprietários, que demandam grande quantidade de água para suas propriedades (STUDART; CAMPOS, 1998; SOARES, 2002).

O potencial do ecossistema lacustre não se restringe somente ao abastecimento, transporte, dessedentação, lazer e aos interesses irrigáveis, mas este reserva grande valor como fonte de proteína animal através da pesca continental e da produção de organismos aquáticos, principalmente quando se retratam os problemas sociais do Nordeste associados às dificuldades no semi- árido.

As figuras 11, 12 e 13 exemplificam alguns dos tipos de usos para os quais as águas do Pereira de Miranda são demandadas.

A primeira demonstra a ligação das margens do açude e das suas águas com o lazer e a recreação das comunidades locais, que, segundo a Prefeitura Municipal de Pentecoste, atrai centenas de pessoas semanalmente para desfrutar do lazer e banho nas “praias do Sertão”. As embarcações, também observadas na figura, confirmam a utilização das águas do açude para o transporte, turismo e pescaria.

Figura 11 – Demonstração dos múltiplos usos do açude Pereira de Miranda, Pentecoste (CE). A se notar, embarcações pesqueiras e de transporte dividindo espaço com área de lazer.

Já a segunda e terceira figuras evidenciam o suporte econômico desse recurso hídrico para algumas atividades de grande relevância para a região de Pentecoste, como a cultura de vazante e a piscicultura em tanques-rede.

Figura 12 – Reservatório Pentecoste e a difundida cultura de vazante em suas margens.

Figura 13 – Piscicultura em tanques-rede operando no reservatório Pentecoste.

Em termos de pesca continental, o açude Pentecoste representa 40% da produção pesqueira de sua bacia e ainda está entre os oito de maior captura por

unidade de esforço do Nordeste, atingindo em média 423,1 kg/pescador/ano. Dentre as espécies que habitam este açude, o cangati (Trachycorystes galeatus) e a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é que possuem maior representatividade nesta produção, sendo a primeira a mais apreciado devido ao seu sabor (FURTADO- OGAWA.; SOUZA, 1986; GURGEL; FERNANDO,1994; IPECE, 2001; CHACON, 1975 apud SILVA et al, 2005).

As mesmas águas que sustentam a biota natural do Pentecoste, abastecem, desde 1969, um dos maiores centros de pesquisas em piscicultura da América Latina, o Centro de Pesquisa Rodolpho von Ihering. A instituição, pertencente ao DNOCS, é responsável pelo povoamento da maioria dos açudes do Ceará e estados vizinhos com alevinos das espécies: Tilápia, Curimatã, Tambaqui e Carpa; e, em parceria com a Universidade Federal do Ceará, realiza diversos trabalhos de extensão universitária e capacitação profissional, buscando incentivar a atividade econômica no Estado, e suprir as carências naturais da região.

Assim como a piscicultura, a carcinicultura em águas doces também é uma atividade realizada no Centro de Pesquisa do DNOCS, mas em menor escala. Desde 2005, quando foi iniciado o Projeto Pirarucu, a produção e distribuição de alevinos desse gigante, oriundo das águas amazônicas, se tornaram objeto de destaque do planejamento e administração do centro, estimulado principalmente por interesses federais diretos.

O açude Pentecoste, a faixa irrigada e o Vale do Rio Curu são considerados importantes sítios de valor paisagístico para a bacia do Curu. Nesse sentido que, para Soares (2002), esses ambientes fazem parte do patrimônio cultural e histórico da região, visto que condicionam a organização social e produtiva das comunidades, através do cultivo de terras, artesanato e culinária regional, além de estar vinculada a manifestações folclóricas e religiosas.

Essa riqueza natural, intimamente atrelada à identidade do povo e que sustenta o desenvolvimento regional, encontra-se ameaçada pela degradação de suas águas acumuladas, paradoxalmente resultado dessa interação entre homem e natureza. Assim como alerta Antônio Alzemar, técnico da Ematerce e presidente do Comitê da Bacia do Curu, em entrevista para jornal O Povo (CAMPOS, 2007): ''hoje

a água do Pereira de Miranda ainda é própria para consumo. Mas do jeito que a situação está, a tendência é em alguns poucos anos não servir nem para beber".

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