• Nenhum resultado encontrado

5. DISCUSSÃO

5.4 ASPECTOS SOBRE COLPOCITOLOGIA E DOSAGEM DE

A utilização da citologia vaginal no presente estudo, tal como observado por autores como WRIGHT & BUSH (1979), NAGLE & DENARI (1983), ORTIZ et al. (2005), DOMINGUES et al. (2007) e KNAUF et al. (2009), foi uma importante ferramenta para a compreensão do ciclo ovariano, além de ser um método simples, de baixo custo e fácil execução, e eficiente para a determinação das fases do ciclo estral e anestro em primatas não humanos. A morfologia das células da mucosa vaginal observada nos esfregaços vaginais neste estudo foi semelhante à descrita por JAROSZ et al. (1977).

A avaliação colpocitológica em micos-de-cheiro e em primatas não humanos em geral é um recurso apoiado por KNAUF et al. (2009), uma vez que em qualquer espécie que apresente ou não sinais de edema na região perineal, a citologia vaginal constitui um método simples e útil para informar o estado reprodutivo nas fêmeas. Embora o procedimento na maioria das vezes requeira imobilização, além de ser pouco invasivo, os resultados produzem rapidamente dados sobre o status sobre os hormônios sexuais femininos.

A maior parte dos animais (56,5%) em estudo encontrava-se em anestro (tabelas 38, 39 e 40) durante o período de coleta (maio de 2011). SCHIML et al. (1996) ressaltam que embora fatores ecológicos sejam indubitavelmente importantes para a manutenção da ciclicidade dos animais de acordo com transição das estações do ano,

97

há a importante evidência de que micos-de-cheiro e outros animais com características fisiológicas de sazonalidade tenham a alteração da coordenação reprodutiva entre indivíduos mediada por estímulos sociais.

DIAMOND et al. (1987) citam que no hemisfério norte, o período de cópula dos micos-de-cheiro ocorre entre dezembro e março, e a maioria dos animais parem entre junho e agosto. Analogamente, DUKELOW et al. (1983) relatam que as espécies do gênero Saimiri spp. oriundas da região amazônica apresentam período de cópula entre junho a setembro; os nascimentos, entre dezembro e fevereiro. Entretanto, ainda que localizados no hemisfério sul, quando micos-de-cheiro são mantidos em ambiente ex-

situ, podem sofrer alterações nesses períodos, uma vez que estão expostos a um maior

estresse devido a condições de criação e manejo como dieta controlada e confinamento que podem interferir na ciclicidade desses animais. A pesquisa de COE et al. (1981) corrobora esta ideia, já que ressalta que há uma influência primária do fotoperíodo no desenvolvimento da função reprodutiva e ciclicidade, quando períodos de dias curtos/noites longas são essenciais no acasalamento dos micos-de-cheiro, sobretudo quando a variação da luminosidade é alterada. Portanto, a condição do fotoperíodo a que estão expostos os animais do SCPrim pode explicar a ocorrência de partos tardios (mês de abril) no decorrer desse estudo.

Em relação às faixas etárias, é importante destacar a redução da concentração sérica de progesterona nas fêmeas com mais de dez anos (13,469 ± 11,165 ng/mL), quando comparadas àquelas entre quatro e dez anos (18,711 ± 13,358 ng/mL). Esse achado está de acordo com o relato de HELVACIOGLU et al. (1994), que destacaram em sua pesquisa uma menor produção de progesterona em animais mais idosos, tanto na fase pré-ovulatória e na luteal, quando comparadas às fêmeas de meia idade, o que foi comprovado pelo fato que animais com mais de 12 anos de idade ovularem com menos frequência do que fêmeas entre dois e oito anos de idade. Tais achados sugerem uma redução na sensibilidade hipotalâmica-hipofisária em micos-de-cheiro de idade avançada, aliado à relativa deficiência na produção de progesterona, o que pode explicar uma redução na capacidade reprodutiva em fêmeas idosas.

98

Tendo em consideração apenas as concentrações séricas obtidas em fêmeas micos-de-cheiro cíclicas (21,207 ± 13,601 ng/mL) e acíclicas (8,876 ± 5,005 ng/mL) neste estudo (tabela 44), somente os valores encontrados nessas últimas se assemelham aos verificados no estudo de AKSEL et al. (1985), que investigou o perfil hormonal em fêmeas de Saimiri boliviensis boliviensis criadas em ambiente ex-situ em grupos sociais com machos durante o período de acasalamento, em coletas diárias, durante 19 a 20 dias. Nas fêmeas acíclicas, foram relatadas concentrações séricas com média e desvio padrão de 11,6 ± 14,0 ng/mL (intervalo de 2,2 a 22,0 ng/mL), e nas fêmeas cíclicas, 160,6 ± 16,4 ng/mL (intervalo de 6,0 a 310,0 ng/mL). Os autores realizaram o estudo durante a época de acasalamento, como no presente trabalho, entretanto, foi executado com coletas seriadas diferentemente da abordagem do nosso estudo transversal. Além disso, afirmam que durante o período de acasalamento, fêmeas que apresentaram concentrações séricas de progesterona abaixo de 50,0 ng/mL estavam seguramente acíclicas, o que não se confirmou no nosso estudo.

O trabalho de DIAMOND et al. (1985) também relata valores de concentração séricas em fêmeas de mico-de-cheiro acíclicas (25,0-181,0 ng/mL) e cíclicas (31,0- 354,0 ng/mL), e foi realizado em coletas diárias durante 19 a 20 dias, nos períodos de acasalamento e de início de partos em ambiente ex-situ. Tais valores também diferem bastante dos obtidos neste estudo, mas deve-se ressaltar que a abordagem no protocolo das coletas foi completamente diferente em ambas as pesquisas.

Em pesquisa realizada por WOLF et al. (1977) para determinação de alterações cíclicas nas concentrações de estradiol e progesterona em S. sciureus, foram relatados como média e desvio padrão geral os valores de 70,4 ± 12,0 ng/mL, e pico de 399,5 ± 27,7 ng/mL. Ao compararmos os valores dos micos-de-cheiro estudados (tabela 44) com os relatados por WOLF et al. (1977), percebemos que os resultados obtidos no presente estudo são muito inferiores aos dos referidos autores, provavelmente devido ao fato de que o estudo conduzido em 1977 foi realizado ao longo de um ano inteiro, realizando coletas seriadas e levando em consideração meses de estação de acasalamento e de parição, enquanto que o nosso trabalho, por ser um estudo do tipo

99

transversal, levou em consideração somente valores de uma coleta durante a estação de acasalamento.

Através da interpretação do estudo colpocitológico deste trabalho, observou-se que a grande maioria das fêmeas do presente estudo encontrava-se na fase de anestro do ciclo estral, achado corroborado pelas baixas concentrações séricas de progesterona também encontradas. Tal fato ocorrereu, provavelmente, devido à secreção de estrogênio pelo foclículo pré-ovulatório, o qual age nas célula endometriais, estimulando o aumento de receptores para a ocitocina, que por sua vez, estimula a síntese e secreção de PGF2a (prostaglandina F2 alfa), hormônio responsável pela luteólise e consequente queda dos níveis plasmáticos de progesterona. Assim sendo, provavelmente o momento de coleta do presente estudo, conduzido de maneira transversal, coincidiu com o momento de queda dos níveis de progesterona circulantes na maioria dos animais, pelo fato de não estarem ovulando no momento da coleta (ausência do corpo lúteo, responsável pela produção de progesterona no ciclo estral).

Tendo em consideração o estresse dentro do grupo social, a colocação sugerida por ABBOTT et al. (1981) discorda da anteriormente considerada por SCHIML (1996), uma vez que relata que as fêmeas subordinadas em geral se estressam mais que as dominantes, e talvez este seja o mecanismo pelo qual grande parte das fêmeas dominantes suprimam os ciclos das subordinadas.

Em 1987, DIAMOND et al. realizaram um estudo em ambiente ex-situ sobre a concentração sérica de progesterona durante a prenhez em Saimiri sciureus. A média deste parâmetro, analisado durante todo o período gestacional, foi entre 80 e 370 ng/mL, e 96% dos animais observados mantiveram valores acima de 100 ng/mL, e a maioria entre 100 e 200 ng/mL. Um dos resultados do nosso estudo, por ter sido de cunho transversal, foi o cálculo da concentração sérica de progesterona das fêmeas que conceberam durante o ano reprodutivo de 2011/2012, no qual obtivemos média e desvio padrão de 12,902 ± 11,204 ng/mL (tabela 45).

100

Como a coleta foi realizada em maio de 2011, e considerando o período gestacional da espécie de aproximadamente 155 dias, para poder comparar com os valores apontados por DIAMOND et al. (1987), deveríamos ter calculado o parâmetro somente entre as fêmeas que pariram em outubro. Entretanto, só houve registro de partos no SCPrim a partir de 17/11/2011, o que significa que esses animais foram cobertos a partir de meados de junho. Para diagnóstico precoce da prenhez dos animais do nosso estudo, como sugerem os autores acima citados, deve-se proceder com a coleta em intervalos de três dias, o que no caso dos animais do SCPrim, deveria iniciar a partir do mês de junho e se estender até dezembro, pois o período de partos começa normalmente em novembro e pode durar até abril, como já relatado. Após a concepção, segundo os pesquisadores, as concentrações séricas de progesterona raramente permanecem abaixo de 100,00 ng/mL, enquanto em fêmeas cíclicas durante a estação reprodutiva, os níveis de progesterona pré-ovulatórios caem para 20,00 ng/mL ou menos e permanecem assim por um par de dias ou mais, o que não ocorre em fêmeas prenhas.

Essa metodologia para diagnóstico da prenhez seria inviável no sistema da colônia da Fundação Oswaldo Cruz, pois além de pouco prática, submeteria os animais a um grande e prolongado período de estresse para a coleta de sangue. Todo esse processo demandaria contenção física e farmacológica dos animais, o que tornaria a ideia bastante arriscada, novamente sob argumentação do estresse da colônia como um todo, e risco de partos precoces e aumento nos índices de natimortos e abortamentos.

Segundo relato de YEOMAN et al. (1991), indivíduos do gênero Saimiri spp. apresentam perfil hormonal distinto quando comparados a outras espécies de primatas não humanos, pois apresentam um aumento considerável na concentração sérica de estradiol durante o período de acasalamento e uma fase folicular extremamente curta, o que aparentemente é um achado único dentre as espécies de primatas não humanos. Portanto, o entendimento dos eventos hormonais associados ao acasalamento e

101

ovulação contribui sobremaneira para o melhoramento de programas de reprodução ex-

102

Documentos relacionados