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5. DISCUSSÃO

5.2 ASPECTOS SOBRE OS PERFIS REPRODUTIVOS

De acordo com MENDOZA et al. (1999), o período reprodutivo das fêmeas de micos-de-cheiro inicia-se aproximadamente aos dois anos e meio de idade e pode se estender até acima dos 16 anos. Entretanto, o estudo de DIAMOND et al. (1985) verificou que, com o avançar da idade, esses animais exibem redução das taxas de concepção e aumentam os índices de abortamento. Nos animais do presente estudo, foi observado um perfil de colônia majoritariamente de fêmeas com mais de dez anos, sobretudo de nulíparas e primíparas. Entretanto, comparando a média e desvio padrão de partos entre as faixas etárias (1,510 ± 1,502 em fêmeas entre quatro e dez anos, e 1,60 ± 1,865 com mais de dez anos), não se confirma o que foi dito pelos autores na tabela 12, nos recintos 6 e 7 (Saimiri sciureus Fiocruz). Por outro lado, HELVACIOGLU

et al. (1994) afirmam que a capacidade reprodutiva das fêmeas de mico-de-cheiro decai

após os 12 anos, mesmo podendo alcançar uma expectativa de vida de 20 anos ou mais; e que, entretanto, há ainda fêmeas que continuam a reproduzir mesmo depois de 12 anos de idade, fato que foi também observado no presente estudo, corroborado pelo dado estatístico que a faixa etária de maior concentração de partos é entre oito e 13 anos de idade.

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As médias e desvio padrão obtidas nesse estudo para ambas as faixas etárias de animais maduros (tabelas 11, 12 e 13) também divergem do que foi dito por WALKER et al. (2009), que durante a observação do processo de envelhecimento ovariano em micos-de-cheiro sob aspectos histomorfométricos, afirmou que houve um declínio considerável do número de folículos primários com o passar da idade dos animais, sendo a perda mais considerável em torno dos cinco anos de idade, o que reduz consideravelmente a capacidade reprodutiva.

De acordo com WALKER et al. (2009), há um maior espaçamento nos intervalos entre partos (IEP), conforme o envelhecimento dos animais em estudo. O presente trabalho está em concordância com os referidos autores.

Com base no relato de WALKER et al. (2009), o intervalo entre partos na espécie

S. sciureus pode durar até 720 dias, o que estaria previsto dentro da fisiologia normal

da espécie. Entranto, o tratamento estatístico realizado nesse trabalho, considerando este mesmo intervalo dentro da categoria de fêmeas maduras de cada espécie, revelou um percentual de fêmeas maduras de 50,5% de S. ustus e 51,5% de S. sciureus com intervalo entre partos acima de 720 dias (transpondo dados da tabela 14). Devido ao fato da colônia de primatas não humanos da Fiocruz ter objetivo de criação para gerar modelos animais para experimentação, esse dado deverá ser considerado para melhoramento reprodutivo futuramente.

Sob a mesma ótica de melhoramento da eficiência reprodutiva da criação de micos-de-cheiro da Fiocruz, em consideração a interpretação das tabelas 4, 5 e 6, temos a contabilização de 45 animais dentro da categoria de fêmeas nulíparas maduras (mais de quatro anos de idade), adicionado ao dado de seis fêmeas primíparas ou pluríparas com intervalo entre partos superior a 720 dias. Esses 51 animais merecem ser investigados com maior critério, a fim de elucidar a causa de redução de fertilidade. A fim de aprimorar a eficiência reprodutiva do plantel da Fiocruz, o presente trabalho aconselha a adoção de critérios de descarte de animais que não atendam às expectativas de reprodução, sugerindo, para as fêmeas, as duas observações

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supracitadas (intervalo entre partos superior a 720 dias para primíparas e pluríparas e contabilização de fêmeas maduras nulíparas).

Neste estudo, foram observados nos dados de histórico reprodutivo a ocorrência de abortamentos em 7,5% das fêmeas, cujos parâmetros de média e desvio padrão etária recaíram na categoria de fêmeas idosas (11,320 ± 2,532 anos). Em relação aos natimortos, esse percentual foi de 9,8%, também afetando majoritariamente a categoria com mais de dez anos (média e desvio padrão de 14,500 ± 5,502 anos).

Segundo DUKELOW (1985), o desempenho reprodutivo dos micos-de-cheiro criados ex-situ é caracterizado, substancialmente, por uma baixa taxa de concepção e altas taxas de perdas fetais, e pode chegar a atingir índices de 71% e 25%, respectivamente, de acordo com DIAMOND (1985). Este último destaca, ainda, que aumento nas taxas de abortamentos e redução do número de partos é mais comum em fêmeas de idade avançada, o que está em consonância com os achados deste estudo, apesar dos índices de perdas fetais na colônia da Fiocruz não serem tão altos quanto o apontado no trabalho de DIAMOND (1985).

ABEE (1989) ressalta a particularidade de que os abortamentos são um sério problema em biotérios de criação de micos-de-cheiro, e ocorrem principalmente devido ao fato de que a fêmea parir em um espaço de tempo relativamente curto, quando se tem em consideração um estrito padrão de sazonalidade, inerente ao gênero Saimiri spp. As fêmeas que sofrem abortamento podem não ter outra oportunidade para conceber até o final da estação reprodutiva. Aquelas em que ocorre falha reprodutiva ou devem manter a gestação não podem emprenhar novamente até a próxima estação reprodutiva.

Outra peculiaridade citada por AKSEL & ABEE (1983) é que uma vez que micos- de-cheiro parem fetos de dimensões grandes quando comparados ao tamanho das mães, a morte neonatal associada à distocia é um aspecto a ser levado em consideração. Há um maior risco de parir fetos natimortos naquelas fêmeas que apresentam um menor diâmetro pélvico do que as fêmeas com diâmetro pélvico normal.

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A análise dos índices de desfrute de cada recinto revelou que os valores encontrados para os recintos 4, 5, 6 encontram-se abaixo da média da espécie S.

sciureus Fiocruz (tabela 2), sendo a mesma relação observada nos recintos 9, 10, 11,

14, 15, 18, 19 e 21, dentro da espécie S. sciureus Cayenne (tabela 3). No recinto 22, há a necessidade de implantação de pelo menos um macho, já que as duas fêmeas encontravam-se em um recinto isosexual no último ano reprodutivo e durante o período da coleta. O presente trabalho sugere uma melhor investigação para os recintos supracitados, com o objetivo de obter maiores esclarecimentos que possam aperfeiçoar o desempenho reprodutivo da colônia de primatas não humanos da Fiocruz, já que o índice de desfrute é o parâmetro principal para o estudo da eficiência reprodutiva de um plantel.

Deve-se ressaltar, ainda, a importância do estudo andrológico, a fim de auxiliar na elucidação das falhas reprodutivas em machos e fêmeas, em caráter individual (por recinto) e coletivo (da espécie dentro da sua respectiva origem). O presente estudo pretende colaborar com o melhoramento reprodutivo do plantel, ofertando dados complementares à abordagem andrológica, porém não contemplada nessa pesquisa.

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