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ASPECTOS SOCIAIS DO BLOCO DA SAUDADE: RELAÇÕES DE CLASSE E

3.1 – PANORAMA DE FOLIÃO: ASPECTOS DESCRITIVOS DA ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO BLOCO DA SAUDADE

Ao longo de seus 40 anos de existência, o Bloco da Saudade passou por profundas mudanças. De uma reunião informal de amigos em meados dos anos 70, a agremiação cresceu exponencialmente e tornou-se uma das referências do Carnaval pernambucano por se apropriar e reinterpretar, a seu modo, a estrutura básica de organização dos antigos blocos carnavalescos mistos. Ficou a essência, especialmente o repertório de frevos-de-bloco, o coro feminino e a orquestra de pau-e-corda. Por sua vez, sumiram os acessórios, como os ―garridos caminhões enfeitados‖ com os quais os primeiros blocos mistos adornavam as ruas recifenses nos anos 20. E, com o tempo, os próprios desfiles da agremiação e os acertos-de-marcha demandaram uma organização tal de suas atividades que o bloco tomou contornos quase empresariais. Esse processo ocorreu pouco ao pouco, de mãos dadas com a progressiva legitimação do Bloco da Saudade por outros atores sociais, como a imprensa41 e por pesquisadores do frevo.

Hoje, o bloco apresenta, por exemplo, estatuto lavrado em cartório, Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, site oficial e assessoria de imprensa, além de ter sua história publicada em livro e de ter lançado os já citados CDs com repertório de frevos-de-bloco. Além disso, o próprio nome ―Bloco da Saudade‖ é patenteado, evitando assim seu uso para outros fins que não os estipulados pela própria agremiação. A defesa desta ―tradição pernambucana‖, portanto, não é feita apenas pelo acionamento da nostalgia de Carnavais passados durante os desfiles do bloco. A mediação entre passado e presente feita pela agremiação envolve ferramentas artísticas, jurídicas ou comunicacionais presentes no aqui e agora.

Uma das primeiras ações que levaram o bloco a atingir uma maior formalização foi a criação do seu estatuto, datado de 26 de outubro de 1986, que define o Bloco da Saudade

41 Em 2006, a diretoria de documentação da Fundação Joaquim Nabuco, instituição federal de educação e cultura sediada no Recife, fez um inventário dos objetos pertencentes ao Bloco da Saudade, incluindo neste trabalho a listagem dos recortes de jornais e revistas que citavam a agremiação. Até aquele ano, foram encontrados 184 registros em mídia impressa, sem contar as reportagens realizadas para a TV e internet.

como uma sociedade civil sem fins lucrativos, cuja diretoria, por extensão, compõe um grupo de trabalho voluntário. O documento detalha as cores do bloco (vermelho, azul e branco), seu símbolo (um flabelo, em forma de máscara, nas cores do bloco) e o hino (Valores do Passado, de Edgard Moraes). Além disso, o estatuto delimita as finalidades da agremiação: participar dos festejos carnavalescos; divulgar a tradição dos blocos pernambucanos através do frevo- de-bloco e de suas fantasias características; promover reuniões e diversões de caráter esportivo, social e cívico. O mandato de todos os seis membros da diretoria e dos três membros do conselho fiscal é de dois anos, podendo ser renovados indefinidamente. Todos os integrantes do bloco acima de 20 anos estão aptos a votar. É dessa forma que a atual presidente, a bibliotecária aposentada Izabel Bezerra, foi eleita. Ela está no bloco desde 1977 e passou a assumir a direção da agremiação a partir de 1980, só deixando o cargo mais alto do bloco durante um intervalo de dois anos, entre 1993 e 1995.

Antes mesmo do estatuto, outro fator que pode ter contribuído para levar o bloco a uma maior delimitação de suas atividades foi a troca de comando ocorrida na agremiação na virada da década de 70 para a década de 80, quando Izabel assumiu o comando. Nos primeiros anos, a composição do bloco era majoritariamente de artistas, jornalistas, ou pessoas que participavam de movimentos culturais, assim como seus conhecidos e amigos. Com o afastamento do fundador do Bloco da Saudade, Zoca Madureira, por conta de sua mudança de Recife para Campina Grande, na Paraíba, houve uma desagregação desse grupo inicial. Para substituí-lo, houve uma entrada cada vez maior de foliões cujas profissões apresentavam novas redes de relacionamento, especialmente professores do departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco. A agremiação começou, assim, a aproveitar a experiência profissional de seus integrantes para implantar, aos poucos, uma organização mais metódica. Bezerra e Victor (2006, p. 44) citam, por exemplo, a comerciante e integrante Claudia Cabral, que disponibilizou as instalações de sua empresa e seus conhecimentos em gestão e contabilidade para auxiliar na prestação de contas do bloco junto aos seus integrantes.

Embora, em seus primeiros anos, o bloco tenha contado com aproximadamente 30 membros, o número atual é o quádruplo disso. Segundo a presidente do Bloco da Saudade, Izabel Bezerra, a agremiação apresenta um número fixo de 120 pessoas, cerca de 80 mulheres e 40 homens. Para entrar, é preciso acompanhar o bloco durante anos e se fazer conhecer pela diretoria, ou então travar contato com algum integrante e pedir para que ele faça as apresentações necessárias. Embora, segundo Izabel, o número total não mude, ―por questões de controle e logística‖, sempre tem ―uma brechinha‖ para entrar um novato. ―Qualquer

pessoa pode entrar. Só é se apresentar, se aproximar, ir para os acertos, para a gente ficar conhecendo‖. No entanto, a entrada na agremiação pode ser demorada e chegar a uma década, como ocorreu com a professora de educação especial Ailza Barbosa, 53 anos, e o funcionário público aposentado Luiz Pinto, 57 anos.

Este é o nosso segundo ano no bloco, mas já acompanhamos, como perseguidores, há mais de dez anos. A gente tem que ―namorar‖ o bloco antes de haver o casamento oficial. É difícil para entrar, mas é mais difícil ainda para sair, porque ninguém quer ficar longe dele. É um título praticamente vitalício. Depoimento à autora em 18/01/2013.

Atualmente, os participantes do bloco são, em sua maioria, pessoas de classe média: profissionais liberais, professores universitários, aposentados. Mas a presidente do bloco faz uma ressalva, com o intuito de afastar o estigma de distinção social ligado à agremiação. ―Dizem que nosso bloco é de rico, mas não é de rico. Temos funcionários públicos, taxistas, manicures, pessoas de todas as classes sociais‖. É possível constatar, também, a predominância de foliões de meia-idade, ou acima de 30 anos, embora crianças e jovens também sejam encontrados em seus quadros. Trazidos, em sua maior parte, por parentes, são considerados como a garantia de continuidade da agremiação, dando origem a arranjos familiares nos quais há três gerações envolvidas: pais, filhos e netos. A faixa etária dos integrantes dos blocos líricos em geral, não apenas do Bloco da Saudade, é um assunto sensível a quem é ligado às agremiações. Vila Nova (2007, p. 140), assim como Bezerra e Victor (2006, p. 74), apontam para a existência de um discurso discriminatório contra os participantes dos blocos, cuja composição seria, para muita gente, feita exclusivamente a partir de pessoas de idade mais avançada. Durante os desfiles do bloco, principalmente em Olinda, vimos duas reações distintas: transeuntes que cantavam e aplaudiam a passagem da agremiação, e outros espectadores que falavam baixo: ―isso é coisa de velho‖.

A agremiação tem um cronograma definido de atividades a ser seguido ao longo do ano, com uma divisão rígida de tarefas e com uma distribuição de funções que deixa pouca margem para imprevistos ou improvisações. Um mês após o Carnaval, a diretoria do bloco já começa a fazer reuniões para decidir o tema42 do ano seguinte, comunicando seus planos ao carnavalesco que, em paralelo, começa a fazer os croquis das fantasias. Em junho, por volta

42 Para o Carnaval de 2013, foi escolhido como tema a música Boneca, composta por José Menezes e Aldemir Paiva e gravada há 60 anos por Claudionor Germano, um dos intérpretes de frevo mais conhecidos em Pernambuco. Esta foi a primeira música do cantor para o selo Mocambo, da gravadora Rozenblit. O enredo também inspirou as fantasias: as mulheres se fantasiaram de bonecas, enquanto os homens saíram às ruas vestidos de consertadores de bonecas

do São João, a fantasia-piloto já precisa estar costurada, assim como os arranjos de cabeça que acompanham as roupas. A partir daí, é estipulado o orçamento dos materiais e da mão-de-obra (carnavalesco, costureiras, bordadeiras) para que os integrantes do bloco se organizem para pagá-los.

Quanto mais o Carnaval se aproxima, mais as atividades se intensificam. Três meses antes do período momesco, começam os ensaios da orquestra de pau-e-corda do bloco, cujos 30 componentes são liderados por Ewerton Almeida, conhecido como Maestro Bozó. Embora não sejam cantoras profissionais, as dez integrantes do coral feminino ensaiam com a orquestra e também começam a fazer exercícios vocais e aulas de canto. Este é mais um indicador do nível de profissionalização alcançado pelo bloco e de sua diferenciação com relação aos antigos blocos carnavalescos mistos, que utilizavam vozes não treinadas em suas apresentações.

Além dos músicos, há outros profissionais que fazem o bloco ir às ruas. Além do carnavalesco, há uma equipe de costureiras, uma equipe de bordadeiras, e uma equipe de controle de qualidade, cuja função é ir às costureiras para verificar se as fantasias estão iguais, se houve alguma falha ou mesmo alguma modificação não autorizada pelo carnavalesco. A partir de setembro ou outubro, os membros da agremiação são chamados para tirar as medidas e, no fim de janeiro ou início de fevereiro, a indumentária está pronta. Durante os desfiles, também entra em ação uma equipe de 50 seguranças, que se comunica por walkie-talkies e faz um cordão de isolamento cuja prioridade é proteger os músicos de colisões ou choques com foliões. Essa proteção também se estende, mas em menor grau, aos membros fantasiados do bloco.

A partir da virada do ano, as atividades do Bloco deixam de envolver exclusivamente seus integrantes e se voltam ao um público mais amplo. Os ensaios do coral e da orquestra, antes realizados a portas fechadas, são abertos ao público, com cobrança de ingressos. Esses eventos são chamados de acertos-de-marcha e acontecem na sede do Clube Náutico Capibaribe. Essas festas são consideradas um ―aquecimento‖ para o Carnaval e acontecem nas primeiras quatro sextas-feiras do ano, sempre à noite. No Carnaval de 2013, ocorreu uma ligeira mudança nesse formato: no primeiro domingo do ano, o ensaio inaugural da agremiação foi concebido sob a forma de matinê e com o nome Manhã de Sol, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), onde se realizavam, anteriormente, os acertos-de-marcha do bloco. Assim, houve apenas três acertos-de-marcha antes do Carnaval, devido à proximidade deste feriado com o início do ano. Nessas festas, também são vendidos produtos

do bloco: CDs, livretos com as letras dos frevos-de-bloco presentes no repertório, camisas e o livro Evoluções! Histórias de Bloco e de Saudade.

Cada acerto-de-marcha se organiza de uma forma previamente definida: os portões abrem às 19h30, duas horas e meia antes do horário estipulado para o começo do evento, às 22h. De acordo com estimativas da diretoria do bloco, o público médio em cada um desses eventos é de 3 mil pessoas. Algumas pessoas já começam a chegar antes mesmo do início da festa, para guardar lugar entre as 1200 cadeiras e 300 mesas disponíveis no salão de festas do Clube Náutico, ao redor da pista de dança, construída em formato circular. As festas costumam durar, no total, entre três horas e meia e quatro horas.

O público dos acertos-de-marcha é composto não apenas por integrantes do Bloco da Saudade, mas por simpatizantes desse Carnaval mais ―tradicional‖ defendido pela agremiação. Entre os frequentadores, encontra-se gente de todas as faixas etárias, embora, assim como na composição do bloco, seja possível identificar uma maioria de pessoas acima de 30 anos. Vários deles também costumam ir fantasiados, ou no mínimo com acessórios, como arranjos de cabeça, que diferenciem suas roupas do vestuário do dia-a-dia. Por sua vez, os membros do Bloco da Saudade se diferenciam dos outros participantes da festa por vestirem fantasias de anos anteriores.

As atividades começam com o início da apresentação da orquestra e do coro do Bloco da Saudade, cuja apresentação dura entre uma hora e meia e duas horas. Após esse tempo, o grupo faz uma pausa, durante a qual outra atração passa a ocupar o palco durante aproximadamente uma hora. É a partir daí que se vê uma maior flexibilização no repertório da noite. Essas atrações convidadas – sempre artistas locais - costumam cantar outros gêneros musicais que não o frevo-de-bloco, privilegiando o frevo-de-rua ou o frevo-canção. Durante essas interrupções, também são feitas homenagens a instrumentistas ou a personagens do Carnaval do Recife. Já a volta do Bloco da Saudade traz o mesmo repertório visto na primeira parte de sua apresentação, e a noite termina com um ―arrastão‖ dos foliões, quando o coro e a orquestra de pau-e-corda descem do palco e vão até a pista de dança, executando marchas- regresso para marcar o encerramento do ensaio.

O primeiro acerto-de-marcha do ano, marcado para a primeira ou, no máximo, segunda sexta-feira de janeiro, é chamado de Encontro de Flabelos, que está em sua quarta edição. Embora tenha estrutura idêntica à de um acerto-de-marcha comum, há diferenças na composição de seus frequentadores. Além do público pagante, para este dia específico o Bloco da Saudade convida dez outros blocos carnavalescos, sejam eles mistos ou líricos, para participar. Os representantes das agremiações não pagam ingressos, mas seus integrantes

precisam ir devidamente fantasiados. Na edição de 2013 do Encontro de Flabelos, um dos artistas convidados, Getúlio Cavalcanti, chegou a executar outros gêneros musicais, como marchas-rancho e marchinhas cariocas, que, como vimos, se confundem com os frevos-de- bloco. No entanto, essas interferências são encaradas como concessões para divertir o público, sendo permitidas apenas durante esse período de descanso da atração principal.

Na última semana antes do Carnaval, acontece o Baile da Saudade, considerado como um ―ensaio geral‖, por ser a última festa fechada do ano. O Clube Náutico é decorado com adereços e fitas com as cores do bloco e são vendidos camarotes, localizados no primeiro andar da sede social. Os ingressos também são mais caros do que os acertos-de-marcha comuns e as mesas, antes gratuitas, passam a ser pagas. No entanto, não há maiores diferenças entre os dois eventos em termos de programação.

Na semana pré-carnavalesca, o Bloco da Saudade abandona os locais fechados e faz dois acertos-de-rua, sempre às 19h, em um cortejo muito semelhante ao do Carnaval. A maior diferença está nas fantasias: a indumentária relacionada ao tema escolhido para o ano só é exibida durante o Carnaval. Até lá, os integrantes fantasiados continuam utilizando as roupas dos anos anteriores, assim como alguns deles já fazem nos acertos-de-marcha no Clube Náutico.

O primeiro desses eventos acontece em Olinda, na terça-feira, exatamente uma semana antes do Carnaval. Em um hábito que se repete há 17 anos, a agremiação toma a bênção do abade do Mosteiro de São Bento e segue, em cortejo, pelas ladeiras do sítio histórico de Olinda. A segunda saída pré-carnavalesca acontece na quarta-feira, a partir da Praça Maciel Pinheiro, na região central do Recife. Este é o mesmo lugar de onde o bloco costuma sair na segunda e na terça-feira de Carnaval, para percorrer o mesmo itinerário a ser seguido durante o período momesco. O objetivo é passar pela região de povoação mais antiga da cidade, encerrando o trajeto no Bairro do Recife, localidade histórica da capital pernambucana e onde acontece a parte mais nobre da programação reservada ao Carnaval do Recife. Nas duas ocasiões, o bloco arrasta uma massa compacta de seguidores, cuja quantidade aumenta à medida que o percurso de três horas se desenrola.

O auge de toda a preparação anual do Bloco da Saudade é, evidentemente, o período carnavalesco. São três dias reservados para o desfile, que acontece sempre às 16h, com duração de aproximadamente três horas, em duas cidades diferentes: Olinda, no domingo, e Recife, na segunda e terça. Até os anos 90, Olinda recebia a agremiação durante dois dias, mas segundo Bezerra e Victor (2006, p. 41), ―a concentração cada vez maior de foliões estacionados nas ladeiras aliada à proliferação de caixas de som de volume ensurdecedor

inviabilizaram o desfile do Bloco da Saudade e de várias outras agremiações‖ no Sítio Histórico. Mesmo com a proibição por lei municipal, a partir de 2001, das caixas de som nas portas e janelas, o bloco não voltou a passar pelas ladeiras do sítio histórico, privilegiando a parte plana da região. A justificativa encontrada por Izabel Bezerra para isso foi a de que ―o pessoal que vai para Olinda hoje em dia não gosta do nosso estilo‖. Segundo a presidente do Bloco da Saudade, em depoimento colhido em junho de 2012, o público presente na cidade durante o período momesco se modificou, primando pelos excessos, e com isso, a agremiação não encontrou mais um ambiente propício para fazer suas evoluções nas ladeiras da Cidade Alta. ―Antes, quem estava lá eram os próprios moradores, hoje é gente mais jovem‖.

As saídas no Recife apresentam estrutura muito semelhante, mas, tanto na segunda quanto na terça de Carnaval, o Bloco da Saudade participa de mais dois eventos, além de seus desfiles anuais. O encerramento da segunda de Carnaval acontece no Encontro de Blocos, realizado no Marco Zero, no Bairro do Recife, no qual o Bloco da Saudade se reúne com outras agremiações em um evento específico para os blocos carnavalescos durante a programação do Carnaval do Recife. No último dia do período carnavalesco, após o cortejo no Bairro do Recife, o bloco segue até outro bairro histórico da capital pernambucana, para um evento semelhante ao do dia anterior e intitulado Saideira dos Blocos.

Como parte da preparação para os desfiles, há um ponto de encontro definido, onde se disponibiliza um ônibus para transportar os integrantes do bloco e a orquestra para a concentração, seja na Praça Maciel Pinheiro, no Recife, ou na Praça 12 de Março, em Olinda. A mesma pausa vista nos acertos-de-marcha acontece aqui: em Olinda, o bloco utiliza as dependências de um albergue da juventude para disponibilizar comida, bebida e descanso para seus membros. Já no Recife Antigo, o ponto de descanso é uma casa de festas. No entanto, o acesso a esses locais é restrito, como avisa a observação escrita na programação do Bloco da Saudade distribuída a seus integrantes.

O Bloco da Saudade está pagando per capita os pontos de descanso com lanche e aluguel dos recintos. Há, pois, um limite de pessoas. Solicitamos não convidarem e nem insistirem para que parentes e amigos tenham acesso aos pontos de descanso, como também aos ônibus. Vamos mostrar ao Recife e Olinda nossa garra, cantando, fazendo evoluções com alegria e entusiasmo. A imagem do bloco depende de cada um de nós, portanto, muita alegria, amor e paz e um feliz Carnaval para todos.

Tal observação resume duas das principais características do Bloco da Saudade: a rigidez em sua organização e, ao mesmo tempo, seu posicionamento como representante da ―tradição‖ carnavalesca pernambucana.

3.2. “VAMOS CAIR NO PASSO SEM ALTERAÇÃO”: OS BLOCOS CARNAVALESCOS COMO “BRINCADEIRA SADIA”

Em 12 de janeiro de 2013, um sábado, o Bloco da Saudade participou, junto com seis outras agremiações, tanto mistas como líricas, de um evento chamado Projeto Alegres Bandos, em uma referência ao modo como os blocos carnavalescos mistos eram designados na primeira metade do século XX. Esse projeto foi realizado durante todos os sábados do mês de janeiro, sempre no fim da tarde, com o intuito de apresentar a tradição inventada dos blocos recifenses não apenas aos moradores da capital pernambucana, como também a turistas em passagem. As apresentações aconteciam no Parque Dona Lindu, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife – região turística, reduto hoteleiro e uma das áreas mais valorizadas pelo mercado imobiliário na cidade.

Para apresentar as atrações desse encontro e organizar a ordem de entrada de cada um dos blocos presentes, havia um mestre-de-cerimônias que pontuava o evento com agradecimentos às agremiações pela presença, exaltações à cultura pernambucana ou contextualizações sobre o Carnaval destinadas aos turistas. Entre as intervenções proferidas

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