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1 – ASPECTOS TEÓRICOS DAS AGLOMEaÇÕES DE EMPRESAS

No documento Desafios do econômico (páginas 133-136)

Ao longo da última década, a literatura econômica tem dado relevância à importância das redes de cooperação para o desenvolvimento econômico e social, tanto em países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Desde o sucesso da experiência italiana, várias têm sido as tentativas de repetir este modelo em diversos ambientes e setores. Entretanto, não tem se dado o destaque necessário ao ambiente socioeconômico externo em que estes países estão inseridos na economia mundial.

Na década de 1970, com as transformações estruturais ocorridas no setor produtivo, com a abertura econômica e o processo de globalização, a certeza de que ser grande era mais vantajoso começou a mudar.

As mudanças ocorreram simultaneamente à emergência de um novo paradigma tecnológico (baseado na microeletrônica), o qual tem imposto um processo produtivo mais intenso em conhecimento. Esta tendência é observada tanto em indústrias tradicionais, tais como: a pesca no Chile, os móveis na Dinamarca, os têxteis e calçados na Itália e as confecções na Tailândia e Taiwan, quanto em indústrias high-tech, em que a competição é fundamentada na contínua introdução de inovações (SANTOS et al., 2007).

A liberalização econômica e a globalização acentuaram estas mudanças e alteraram as barreiras comerciais e de investimentos, modiicando o ambiente competitivo. Essas transformações têm imposto diiculdades de acesso tecnológico às empresas nacionais, especialmente as pequenas e médias empresas (PME), de países em desenvolvimento.

Sob este novo ambiente competitivo, intenso em conhecimento, globalizado produtivamente e comercialmente liberal, o resgate da dimensão do local na atividade produtiva, aparentemente paradoxal, se sustenta pelo fato de a competição se dar sob a égide da chamada “economia do aprendizado ou conhecimento”, em que o ritmo das mudanças tecnológicas é intenso e os elementos tácitos constituem o núcleo do conhecimento individual e coletivo (LUNDVALL; JOHNSON, 1994).

As aglomerações são formadas por atores que constituem a reunião de pequenas e médias empresas em núcleos e que pode contar com a participação de uma empresa de grande porte (empresa-âncora) e manter relações com outras organizações públicas ou privadas.

Sendo assim, para Lastres e Cassiolato (2005), o termo aglomeração (produtiva, cientíica, tecnológica e/ou inovativa) tem como aspecto central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais.

São várias as abordagens para analisar os tipos de organizações de pequenas e médias empresas (PMEs), onde o foco é examinar as redes e aglomerações produtivas que possibilitam a análise das relações existentes entre empresas e outros agentes, da difusão dos conhecimentos, da aprendizagem e a importância do território.

Dentre algumas destas abordagens, estão as especiicadas no Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (2005):

– cadeia produtiva: é deinida como aquela aglomeração que reúne todas as operações e serviços ligados à atividade principal, desde a obtenção dos insumos até o fornecimento do produto inal (distribuição e comercialização). Implica na divisão de trabalho, na qual cada agente ou conjunto de agentes realiza etapas diferentes do processo produtivo;

– clusters: são aglomerações de empresas estabelecidas em uma área próxima. Dá ênfase mais a concorrência como fator dinâmico do que a cooperação. A inovação é reconhecida com fator importante, porém é vista de maneira simpliicada;

– Milieu inovador: é um conjunto de elementos materiais (empresas, infraestrutura), imateriais (conhecimentos) e institucionais (regras) que compõem uma complexa rede de relações. O foco está no ambiente social que favorece a inovações e não em atividades produtivas;

– rede de empresas: são redes de cooperação formadas por empresas que embora possuam objetivos comuns, elas mantêm sua independência. Envolve a realização de transações e/ou o intercâmbio de informações e conhecimento entre agentes, não implicando na proximidade espacial de seus integrantes;

– polos, parques cientíicos e tecnológicos: são áreas que estão ligadas a centros de ensino, pesquisa e desenvolvimento (P&D) com infraestrutura necessária para a instalação de empresas de base tecnológica.

No Brasil, o conceito de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais foi elaborado pela Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (Redesist) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – que é uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997, que conta com a participação de várias universidades e institutos de pesquisa no Brasil e no exterior. Então, arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto especíico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes.

Os sistemas produtivos locais com processos inovativos são caracterizados pela proximidade geográica, predominância de PMEs, cooperação interirmas, competição interirmas determinada pela inovação, troca de informações e estreita parceria com o setor público local. Sendo que a forma de participação das PMEs e como elas se articulam podem variar, dependendo do tipo especíico de aglomeração que elas se encontram.

De acordo com a deinição formulada pela Redesist, os sistemas

produtivos locais são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local (LASTRES e CASSIOLATO, 2003).

A participação do Estado e das universidades, oferecendo incentivos políticos e suporte cientíico às empresas locais, complementa as economias externas, possibilitando uma visão mais completa dos fatores que favorecem o sucesso dos arranjos e sistemas produtivos locais.

Em se tratando de uma aglomeração de base tecnológica, o seu

desenvolvimento tem como apoio a existência de um sistema local de inovação em que participam as universidades e instituições de pesquisa que atuam no processo de desenvolvimento cientíico e tecnológico, um sistema educacional que propicie a qualiicação da mão-de-obra local e a interação entre empresas e demais instituições. Com isso, destaca-se a importância do conhecimento e aprendizado na formação dos processos inovativos e de mudança tecnológica.

2 – O PAPEL DO CONHECIMENTO E

No documento Desafios do econômico (páginas 133-136)