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2 – CAPITAL SOCIAL E COOPEaÇÃO

No documento Desafios do econômico (páginas 58-61)

A ideia de capital social passou a ser mais bem difundida na esfera

econômica com o trabalho de Robert Putnam (1996), entretanto pesquisadores como Jacobs, Bourdieu, North e Coleman também já haviam estudado sobre esse assunto. O comportamento da sociedade passa a ser analisado como fator importante para o crescimento e desenvolvimento econômico. Vale ressaltar, ao que Putnam (1996) chama atenção, que qualquer interpretação baseada em um único fator certamente será equivocada, visto que qualquer capital por si só não motiva o progresso econômico.

O capital social está relacionado com a democracia e as redes de relações em que os indivíduos encontram-se envolvidos, ao que se pode chamar de instituição. Douglas North (1990), citado por Teixeira (2004), deine instituição como “conjuntos de normas e valores que facilitam a coniança entre os atores”. E ainda airma que as instituições são abstratas, enquanto as organizações são manifestações concretas de cooperação baseadas na coniança. Seu enfoque neoinstitucional inclui em seus trabalhos o ambiente social e político que permite o desenvolvimento das normas e a coniguração da infraestrutura social. Embora, North não se reira ao capital social de forma explícita, pode-se airmar que seus estudos possuem forte relação com o capital social, tornando-se umas das principais fontes de pesquisa neste tema.

Conforme Putnam (1996), a forma de compras e vendas, e trocas de informações dentro da comunidade faz brotar relações de idelidade entre clientes e fornecedores. Possibilita uma maior sinergia dentro da região, dando condições para que haja um desenvolvimento sustentável para aquela região, dado que existirá uma organização social com normas de comportamento e valores.

As experiências com estudos sobre desenvolvimento mostram que a capacidade de auto-organização local, a riqueza do capital social, as dinâmicas participativas e o sentimento de apropriação de tudo que é feito pela

comunidade são essenciais. Nesse novo paradigma do desenvolvimento local e regional, nota-se um esforço nas atividades praticadas que possibilitam a

criação do capital social, visto que este fator deve ser entendido como algo que é construído ao longo da história política, social e cultural da comunidade, fazendo com que os indivíduos percebam que apesar de suas divergências, há interesses comuns que devem ser conquistados de forma conjunta.

A cooperação é outro elemento fundamental para o desenvolvimento, estando atrelado ao capital social. A cooperação, atualmente, é vista como uma das principais estratégias para o desenvolvimento econômico. Um exemplo clássico de cooperação é o caso do Vale do Silício, na Califórnia. O desenvolvimento dessa região foi marcado pela presença de redes de colaboração que facilitaram o aprendizado e a troca de informações, possibilitando a solução dos problemas comuns existentes naquele

aglomerado de empresas. Vale ressaltar que essa região sempre foi de intensa competitividade e concorrência, fatores que também são importantes para a expansão e permanência no mercado.

A cooperação exige uma relação de coniança, garantindo que um indivíduo ou instituição terá benefícios ou que o mesmo não irá prejudicar o outro. O autor Grassi (2006, p.621), ao citar o pensamento de Lyons e Mehta (1997), chama atenção para dois tipos de coniança:

• A “coniança socialmente orientada”, que tem sua raiz no passado (backward-looking). O enfoque de sociólogos e antropólogos costuma analisar os mecanismos sociais que, intencionalmente ou inadvertidamente, engendram e sustentam a coniança, e as consequências da coniança quando eles são realizados pela comunidade de indivíduos. O reconhecimento de que o comportamento é localizado dentro de uma arena social leva a noção de coniança para uma orientação baseada em normas; as relações sociais são experimentadas em certos modos normativos, ou mutuamente entendidas.

• A “coniança autointeressada”, que é a única fonte de coniança reconhecida na literatura econômica ortodoxa. Para esta visão da coniança, este comportamento precisa ser entendido instrumentalmente, com a teoria dos jogos sendo usada para modelar a interação entre agentes, cujos interesses parcialmente conlituam e parcialmente convergem. Onde a coniança surge, é porque é cuidadosamente calculada ou incentivos são criados intencionalmente, em direta resposta à presença de risco

comportamental. Os custos e benefícios relativos de ser coniável são mensuráveis, e eles são avaliados dentro dos limites da relação de troca. Portanto, a coniança autointeressada, ao contrário da anterior, é fundamentalmente forward-looking, com agentes sendo coniantes ou coniáveis somente até o ponto em que eles esperam que tal comportamento tenha um retorno direto no futuro.

A ideia desses dois pensamentos não é um anular o outro, podendo os dois serem verdadeiros e existirem ao mesmo tempo numa relação de cooperação. O que se quer dizer é que a cooperação é uma ação para um bem comum, ainda que parta do princípio do individualismo, não é possível realizá-la sem que haja a participação e colaboração do outro. O que se defende é a importância desse comportamento para o desenvolvimento, as quebras de barreira e facilidades que a cooperação traz, seja para produção de um bem, uma redução de custos ou a simples participação das pessoas de uma comunidade.

Porém, para a maioria dos indivíduos, os resultados dessa prática de comportamento não são tão óbvios assim. Putnam (1996) tenta explicar essa diiculdade de cooperar pelas vantagens que o oportunismo e as trapaças oferecem quando se quebra o pacto. Na teoria dos jogos, para garantir a cooperação é preciso que haja regras e punições para aqueles que quebrarem as normas, gerando um ônus conhecido como custos de transação.

Para que haja uma cooperação espontânea é preciso que a instituição estimule e mobilize a coniança e a presença de um capital social forte. Essas características dependem do processo histórico de cada região. O processo para se chegar a uma instituição forte requer um prazo, e para que essa coniança perfaça na sociedade é preciso um tempo ainda maior. “No que se refere ao fortalecimento das instituições, o tempo é medido em décadas. A história evolui talvez ainda mais lentamente quando se trata de instituir regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica (...). Duas décadas é tempo suiciente para detectar o impacto da reforma institucional no comportamento político, mas não para relacionar seus efeitos com padrões mais arraigados de cultura e estrutura social” (PUTNAM, 1996, p.92).

3 – CONSÓRCIO PÚBLICO: UMA ALTERNATIVA PAa O

No documento Desafios do econômico (páginas 58-61)