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A possibilidade de trabalhar com um elevado número de clientes em diversos contextos de intervenção ao longo do período de estágio foi uma importante oportunidade para desenvolver competências profissionais fundamentais para o trabalho do psicomotricista. Assim, de modo a possibilitar uma intervenção psicomotora pensada e coerente, a estagiária sentiu a necessidade de, numa fase anterior à intervenção, identificar as principais necessidades para os vários grupos que acompanhou e ao longo desta procurar organizar da melhor forma as suas sessões em termos de estruturação e estratégias.

Previamente à intervenção foi preciso perceber quais as principais necessidades dos clientes através de questões colocadas à orientadora local e de processos de observação direta que ocorreram durantes os primeiros meses de estágio. Com base nas conclusões retiradas identificaram-se as áreas a trabalhar para cada grupo. Assim, ao longo da intervenção foram promovidades atividades que tinham em conta as necessidades e a heterogeneidade de características dos clientes, não sendo nem demasiado fáceis nem demasiado difíceis, evitando a desmotivação ou frustração nos indivíduos. Anteriormente a todo este processo interventivo foram identificadas áreas prioritárias para os grupos, tendo essas sido as mais trabalhadas. Tomando como exemplo um dos grupos de AMA pelos quais a estagiária ficou responsável, foram observadas limitações nos vários fatores psicomotores, no entanto foram também identificadas dificuldades na interação social e relações interpessoais. Devido às complicações que provocavam com o restante grupo de pares, esta foi apontada como uma área prioritária de intervenção, sendo realizadas em todas as sessões atividades de grupo que promovessem a cooperação e interação entre todos.

Outro dos aspetos que orientou a intervenção realizada pela estagiária passou pela necessidade de elaborar planos e relatórios de sessão diários. Numa primeira fase este trabalho permitiu verificar as principais dificuldades dos clientes e, mais tarde, ajudou a perceber a evolução de cada cliente e se os apoios prestados eram os mais indicados ou se havia necessidade de os adaptar. Apesar de, na maioria das vezes, os planos elaborados terem sido os dinamizados ocorreram situações em que motivos internos (e.g. estado emocional) ou externos (e.g. mudança de instalações) ao cliente impossibilitaram o cumprimento do plano traçado. Também a duração de cada atividade não obedecia a um cumprimento fixo, sendo que os principais motivos que causavam

estas alterações se prendiam com o ritmo com que concretizavam as atividades, a necessidade de fornecer um apoio mais individualizado aos clientes ou situações de dispersão e desconcentração que condicionavam a sessão. Tal como foi referido anteriormente, todas as sessões seguiam uma estrutura específica que incluía a fase de ativação geral, a fase fundamental e um momento final de retorno à calma. De modo a maximizar o alcance dos objetivos por parte dos clientes foram utilizadas diversas estratégias de intervenção:

 Fornecer tempo para a concretização das tarefas, independentemente da velocidade com que as realizam, i.e., respeito pelo ritmo individual;

 Manter a proximidade durante a execução das tarefas, encontrando-se disponível para auxiliar o cliente se este não se sentir seguro e confiante;  Incentivar e reforçar positivamente o desempenho, de modo a manter a

motivação necessária para a concretização da tarefa,

 Nos grupos com competências mistas promover a interação entre os clientes com mais e menos dificuldades;

 Fornecer instruções simples acompanhadas pela demonstração (Santos, 2018); no final questionar os clientes de modo a perceber se estes compreenderam as instruções;

 Utilizar os mesmos materiais ao longo da sessão de modo minimizando os tempos de transição que poderiam causar desconcentração;

 Quando finalizada uma tarefa arrumar de imediato os materiais que não seriam utilizados de seguida evitando situações de distração nas atividades seguintes;  Adequar sempre as atividades à idade cronológica dos clientes, não

infantilizando;

 Planear as sessões de acordo com os gostos dos clientes, para promover uma maior participação,

 Ao longo das sessões incluir tanto as atividades que trabalhassem as áreas a desenvolver como as áreas mais fortes, evitando situações de frustração e desmotivação;

 Iniciar a tarefa na sua vertente mais simples e conforme o desempenho dos clientes optar ou não por complexificá-la;

 Promover momentos de diálogo que possibilitassem a reflexão dos clientes relativamente às principais facilidades e dificuldades que sentiram ao longo da sessão.

Ao longo destes meses realizou-se um trabalho intensivo com os vários grupos da instituição que possibilitaram um enorme crescimento profissional por parte da estagiária. Durante este período de intervenção com os vários grupos, o principal objetivo não passou pela avaliação formal dos clientes ou pela elaboração de objetivos terapêuticos e consequente análise da sua evolução, mas sim fornecer uma oportunidade para a estagiária intervir de forma mais ou menos autónoma com uma grande variedade de indivíduos cujas necessidades e características são bastante distintas. Assim, houve a possibilidade de trabalhar com clientes com diferentes diagnósticos bem como com graus de autonomia distintos, havendo pessoas com elevadas necessidades de apoio e outras com necessidades mais reduzidas, o que exigiu um planeamento de sessões adequadas para todos onde as atividades tivessem vertentes mais ou menos complexas consoante o tipo de dificuldades apresentadas. Além do nível de autonomia, também as características comportamentais e de personalidade impuseram a necessidade de identificar e implementar as estratégias de intervenção mais adequadas a cada caso. Por fim é de referir que todo o trabalho realizado com os vários grupos permitiu à estagiária ganhar uma maior confiança e assertividade no seu trabalho, bem como a capacidade de gerir conflitos e comportamentos.

Além da intervenção em grupo realizada nos vários contextos, o estágio possibilitou a seleção de dois estudos de caso, que servirão de exemplo mais detalhado de toda a intervenção da estagiária, pelo que os mesmos serão apresentados em seguida. Há que referir que a intervenção da estagiária exigiu a avaliação das competências psicomotoras dos clientes e a consequente obtenção de um perfil intraindividual, bem como a elaboração e implementação de um programa de intervenção que promova a aquisição dos objetivos definidos.