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Do ponto de vista desenvolvimental constata-se um percurso atípico ao nível da oromotricidade destacando-se constragimentos ao nível dos órgãos necessários à alimentação e linguagem, que se complicam em consequência das maiores limitações no controlo postural, com tendência ao descontrolo da baba e às dificuldades na deglutição (mastigar e engolir alimentos sólidos), entre outros (Winter, 2007). As limitações oromotoras irão influenciar a linguagem podendo verificar-se a ocorrência de

disartrias, disglosias, lentidão da fala, modificações na voz e dificuldades na produção de palavras (Andrada et al., 2005; Sandberg, 2016; Winter, 2007).

Parkes, Hill, Platt e Donnelly (2010) indicam que as dificuldades oromotoras (e.g.: articulação, deglutição e baba excessiva) estão mais presentes em pessoas com DID e com maiores limitações na praxia global. Relativamente às prevalências, 30% da população com PC apresenta dificuldades na articulação, 20% apresenta baba excessiva e possui dificuldades de deglutição e 40% exibe limitações comunicativas (Parkes et al., 2010), sendo que destes, cerca de 60% apresenta limitações na fala e 24% não fala (Delacy e Reid, 2016). A existência de dificuldades comunicativas influencia negativamente o estabelecimento e manutenção de relações sociais (Voorman, Dallmeijer, Van Eck e Schuengel, 2009).

A PC caracteriza-se pela existência de limitações comunicativas (Rosenbaum et al., 2007). No que diz respeito à comunicação expressiva, Pennignton, Goldbart e Marshall (2004) indicam que esta pode estar afetada em qualquer tipo de PC, no entanto, Vos e colegas (2014) afirmam que as maiores dificuldades estão presentes nos casos de PC espástica bilateral e de PC não espástica. De acordo com os mesmos autores, este tipo de comunicação é também influenciado pela presença de DID, sendo que os indivíduos que apresentam esta co-morbilidade têm uma maior probabilidade de apresentar maiores limitações na linguagem expressiva. Já as dificuldades na comunicação recetiva aparentam estar mais dependentes da existência de DID e não tanto pelas características motoras apresentadas (Vos et al., 2014).

Domínio Adaptativo

Quando comparadas com a norma, as crianças com PC tendem a ter uma menor participação nas atividades do quotidiano (Michelsen et al., 2009). Nesta população o desempenho de atividades da vida diária e a participação social são negativamente influenciados pela existência de dor, pelas dificuldades na marcha, praxia fina, comunicação e pela presença de DID (Parkes, McCullough e Madden, 2010). Resultados semelhantes foram reportados por Østensjø e colaboradores (2003) que indicam que as crianças com maiores comprometimentos motores eram aquelas que apresentavam mais dificuldades no desempenho das atividades quotidianas e que necessitavam de um maior apoio por parte dos prestadores de cuidados. Os mesmos autores identificaram que, independentemente do tipo de PC, a maioria da amostra deste estudo apresentava valores adaptativos (mobilidade, autocuidado e socialização) dois desvio-padrão abaixo da média para a idade e que a realização das tarefas era em grande parte conseguida devido à utilização de tecnologias de apoio.

Comorbilidades

As alterações comportamentais também são comuns, estando presentes em cerca de 25% das crianças com este diagnóstico (Carlsson, Olsson, Hagberg e Beckung, 2008). De um modo geral, Parkes et al., (2008) verificaram que os problemas na interação com os pares, a hiperatividade e as alterações emocionais eram as características mais presentes nesta população e que eram mais comuns naqueles que apresentavam dificuldades intelectuais, dores significativas e menos limitações a nível motor. Rosenbaum e colaboradores (2007) também referem a existência de problemas comportamentais, mas acrescentam a tendência para perturbações da ansiedade. Tal como já foi referido no domínio cognitivo, cerca de 50% da população com PC apresenta também DID (Surman et al., 2003).

Correlação com os casos acompanhados

Ao longo do período de estágio foi possível acompanhar vários clientes com características distintas. Em termos cognitivos as dificuldades encontradas corroboram a literatura (Reid, 2016), uma vez que as limitações apresentadas variavam conforme o caso, no entanto verificava-se uma tendência para os indivíduos com maiores comprometimentos motores apresentarem também mais limitações cognitivas.

Relativamente ao domínio psicomotor observou-se mais uma vez uma grande variedade de competências. A maioria dos clientes com PC não era capaz de andar ou necessitava de apoio para o fazer, sendo que neste caso eram observáveis as alterações tónicas e posturais mencionadas na literatura e que punham em causa a execução de movimentos (Krigger, 2006; Rosenbaum et al., 2007). Apesar desta tendência verificou-se também a existência de indivíduos que não apresentavam limitações em termos de marcha. Em grande parte dos clientes eram visíveis grandes dificuldades na manutenção do equilíbrio e na realização de movimentos globais e finos de modo coordenado.

No que respeita à comunicação observaram-se casos bastante distintos que incluíam pessoas que não utilizavam a linguagem falada, outros que apresentavam grandes dificuldades num discurso compreensível e alguns que apresentavam poucas ou nenhumas limitações. Por último, no âmbito adaptativo observaram-se dificuldades na execução das atividades de vida diária que resultavam não só do comprometimento cognitivo, mas também das dificuldades motoras e que levavam a limitações na alimentação, higiene pessoal, mobilidade, vestuário, entre outros. As dificuldades motoras interferiam também na participação em atividades de grupo, principalmente

No que respeita às características positivas destacam-se principalmente as competências cognitivas e socioemocionais. Comparativamente com os pares, os indivíduos com PC eram aqueles que apresentavam maiores competências linguísticas, sendo não só capazes de perceber o discurso dos outros, bem como de se expressarem verbalmente. Em termos sociais destaca-se a sua capacidade de iniciativa e preserverança, bem como o elevado nível de responsabilidade com os seus pertences e os dos outros. Apesar das dificuldades na participação em atividades de grupo, os clientes da AFID demonstraram-se sociáveis tanto com o restante grupo como com a equipa técnica. Por fim salienta-se a inexistência de comportamentos desadaptados na maioria dos clientes com PC acompanhados pela estagiária.

Um dos apoios oferecidos pela AFID a todos os clientes, é a intervenção psicomotora, e por ser a área de atuação da estagiária, proceder-se-á em seguida à sua contextualização teórica, procurando facilitar depois a leitura e compreensão da atividade concretizada na prática, ao longo do estágio.