• Nenhum resultado encontrado

Mapa 6: Localização aproximada do Assentamento Simão Bolívar no município de Jóia

2.6. Assentamento Simão Bolivar

O Assentamento Simão Bolívar é o mais recente instalado no Município de Jóia. Foi criado em 14 de dezembro de 2006 e oficializado no ano de 2007, tem uma área total de 1.116 hectares e está localizado a 14,3 quilômetros da sede do município.

Mapa 6: Localização aproximada do Assentamento Simão Bolívar no município de Jóia. Fonte: INCRA – RS. Relatório Ambiental do Projeto Assentamento Simão Bolívar. Porto Alegre, INCRA, 2007.

Este assentamento recebeu 85 famílias vindas de quatro diferentes acampamentos, Terra Nova, que estava em Palmeira das Missões, criado no ano de 1999; o segundo, criado em 2000, chamado de Passo dos Buracos, que estava em Júlio de Castilhos; outro, criado em 2001, que estava localizado entre Cruz Alta e Ibirubá e o acampamento Encruzilhada Natalino, criado também em 2001. Esses acampamentos foram para Coqueiros do Sul e dali para Sarandi onde permaneceram por dois anos até virem para Jóia. As famílias assentadas são originárias de diversos municípios do norte e centro do estado, como Trindade do Sul, Chapecó, Coronel Bicaco, São Pedro do Sul, São Paulo das Missões, Julho de Castilhos, Santo Cristo, Palmeira das Missões, Cruz Alta, Tiradentes do Sul, Fortaleza dos Valos e Salto do Jacuí, entre outros. Nove famílias assentadas eram funcionários da antiga fazenda.

O relevo da área do assentamento é pouco ondulado, seu solo vária entre argiloso e arenoso. Os cursos de água encontrados no assentamento ficam por conta de pequenos córregos e nascentes, num total de vinte que secam em períodos de menor precipitação. Apenas 8% de sua área é de mata virgem e o restante da vegetação é campo e com o início da produção agrícola passou a ser destinado para a agricultura.

Quando instalado os assentados contaram a infraestrutura da antiga fazenda, pouca para atender as famílias. Atualmente todas as famílias contam com energia elétrica e

abastecimento de água proveniente de poços artesianos. A partir do mês de julho de 2009, foi iniciado um projeto de habitação para melhoria e implantação de moradias de alvenaria através de recursos do governo federal aplicados pela Caixa Econômica Federal. As famílias ainda não contam com infra-estruturas sociais, como igreja, centro comunitário e usam a estrutura da antiga fazenda como local para realizar os encontros e reuniões.

3 ANÁLISE ECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE JÓIA

Pessoas que antes eram assalariados, peões de fazendas, arrendatários, pequenos produtores sem condições de criar seus filhos vão para os acampamentos da reforma agrária organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra em busca de melhores condições de vida. Após muitos anos de sofrimento e desapontamentos nos acampamentos, chega a sonhada hora de produzir na terra que é de sua propriedade. Sem muitos recursos, é necessário colocar em prática os conhecimentos sobre produção agrícola adquiridos nas atividades que eram desempenhadas no passado e com o que era incentivado e passado pelo movimento.

Piccin e Picolotto (2007) identificam que os agricultores assentados são filhos de pequenos agricultores e arrendatários rurais em situação anterior ao acampamento, tendiam a apresentar um campo de visibilidade de interesses maior que aqueles que se situavam como trabalhadores assalariados, antigos meeiros e peões de fazendas. Destaca que as famílias antes de ir para os acampamentos estavam inseridas numa economia mercantil de trocas desiguais tendo como principio a maior lucratividade. Segundo Olmos (SD) “a população que não encontra trabalho nesta agricultura capitalista como assalariada permanece em terras de inferior qualidade ou assume a tarefa de ir abrindo novas terras que serão oportunamente incorporadas ao setor capitalista”.

Com a posse da terra, os objetivos e projetos para o futuro dessas famílias poderiam ser diferentes, mesmo com a vivência de muitas incertezas, instabilidades, perigos. Procuravam não fracassar e lutar pela vida almejada e contra o status quo estabelecido. O lote de terra significava a ascensão social, a mudança de vida e novas perspectivas de futuro.

O assentado entrevistado do Assentamento Rondinha nos relata que

“...se preparando prá gente se acampá com o objetivo de conquistar um pedacinho de terra. Esse era nosso objetivo inicial porque se sabia que naquele nosso lugar lá não tinha mais como sobreviver. Então esse foi principal objetivo, foi isso NE. Aí a gente acampo...”

Os assentamentos da reforma agrária no município de Jóia contribuíram para a transformação sócio – econômica, diminuindo as desigualdades sociais com o aumento da produção e, por conseqüência, o aumento da arrecadação do município. São vários os estudos realizados no Rio Grande do Sul que comprovam a dinamização da economia e a experimentação de novas estratégias produtivas. Dentro da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, vários municípios também influenciam os assentamentos, como Ijuí, Augusto Pestana, Cruz Alta, Tupanciretã, pois são nesses que as populações assentadas constroem seu mercado consumidor e fornecedor de serviços e materiais. Além disso, é nesses municípios que encontramos as principais industrias de lácteos como a Perdigão, Central de Cooperativas Gaúchas de Leite – CCGL, DPA - Nestlé e Bom Gosto. Os assentamentos incrementaram o comércio local e disponibilizou maior oferta de mão-de-obra em serviços temporários para a região. Houve o incremento de serviços básicos, como saúde, educação, estradas, entre outros. No município de Jóia, pelo Censo de 2000 do IBGE, cerca de 2,07% das residencias rurais não tinham fossa e nem coleta de lixo. Apenas 21,65 % dessas residencias recebiam água da rede geral, outros 37,62 % tinham energia elétrica e cerca 73 domicílios não dispunham de banheiro. Nos últimos anos, essa situação começou ser mudada a partir de vários programas de governo que investiram em redes de água e eletrificação rural como por exemplo, o programa Luz para Todos do governo federal e o RS Rural. Segundo dados coletados pela Emater no ano de 2009, das 650 famílias assentadas, 70% delas possuem fossa séptica e 80% recebem água encanada oriunda de poços artesianos e 99% possuem luz elétrica.

O município de Jóia tem uma área total de 127.283 hectares e 7,88% dessa área corresponde aos assentamentos da reforma agrária. Como podemos ver na tabela a seguir a porcentagem das áreas.

Tabela 3: Área, porcentagem da área total e número de famílias assentadas em assentamentos da reforma agrária em Jóia.

Área/ Ha Porcentagem da área total Nº Famílias

Ass. Rondinha 4200 3,29 % 232

Ass. Ceres 1951 1,532 % 114

Ass. Botão de Ouro 1154 0,906 % 64

Ass. Tarumã 1053 0,827 % 55

Ass. Barroca 514 0,403 % 29

Ass. Simão Bolivar 1161 0,912 % 85

A partir da analise da tabela acima é possível concluir que os Assentamentos ocupam 7,88% da área total do município de Jóia. Os lotes representam 58,9 % do total de 20774 hectares das propriedades do município que possuem de 0 a 100 hectares. Sendo que 19% da área está dividida em 105 propriedade de 100 a 500 hectares e o restante de 64,5% fica concentrado nas mãos de 506 pessoas que tem propriedades acima de 500 hectares.

Os dados relevam o quanto a terra está concentrada nas mãos de poucas pessoas no município de Jóia. Essas propriedades são os latifúndios que tem o sistema de produção baseada na monocultura da soja e criação de gado. Nos anos 60, Guimarães afirmou em seu estudo sobre o latifúndio brasileiro que

por dominar mais da metade do nosso território agrícola, a classe latifundiária absorve e controla muito mais da metade da renda gerada no setor agrário, recebe muito mais da metade do crédito agrícola, e controla de fato a política de crédito agrícola; determina e orienta a política de armazenagem e de transporte, a política de preços agrícolas e, em decorrência, a dos preços em geral; influi poderosamente sobre a política governamental de distribuição de favores e facilidades, e canaliza para si as subvenções e outros recursos que deveriam encaminhar-se para os setores mais necessitados da agricultura. (GUIMARÃES, 1663, p. 202).

Para Tambara, “o setor agrícola constitui, pois; um elemento-chave no modelo econômico brasileiro na medida em que é um dos principais captadores de divisas para a nação. Assim, nota-se que os produtos incentivados pelo governo neste setor são aqueles destinados á exportação em detrimento daqueles destinados ao consumo interno, como feijão, milho, mandioca, etc.” (TAMBARA, 1983, p. 20)

Como vimos, nas afirmações dos autores, os grandes proprietários de terras sempre tiveram mais facilidades e apoios do governo e instituições financeiras para suas produções, frente às desigualdades e às dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores e trabalhadores sem terra, Fernandes diz que

no processo de dimensionamento do espaço de socialização política, os trabalhadores vêm a público de forma organizada e ocupam a terra, uma fração do território, cujo domínio reafirma, viabiliza e valoriza o processo de espacialização e de territorialização da luta. O espaço social concretizasse geograficamente como lugar social nos processos de construção da luta. O lugar social revela-se como conquista das condições essenciais para o próprio movimento em transformação. O lugar social é fundamental para a própria reprodução do espaço social que o produz, pois é onde se desenvolvem as experiências que permitem conquistar o espaço social e transformá-lo. Nesse processo, as lutas avançam como formas de organização social. (FERNANDES, 1996, p. 23)

Segundo relatórios da Emater, o valor bruto da produção do município no ano de 2007, da soja foi de R$ 74,55 milhões, do leite de R$7,56 milhões, o trigo com R$ 6,77

milhões, do milho R$3,69 milhões e a aveia alcançou o valor de R$2, 07 milhões, sendo esses os principais produtos.

No ano de 2007 a população bovina do município segundo dados da Inspetoria Veterinária correspondia a 30 mil cabeças. No ano de 2008 a população bovina e bubalina alcançou um total de 30.370 cabeças. Já no ano de 2009, tem-se um detalhamento mais completo da produção agropecuária a partir de informações fornecidas pelos 1.529 produtores cadastrados na Inspetoria Veterinária, como podemos ver na tabela abaixo.

Tabela 4: Produção Agropecuária do Município de Jóia - 2009 Espécie Totais declarados

Peixes 532 açudes Ovinos 12.317 unidades Muares 5 unidades Galinhas 35.770 unidades Equinos 1.059 unidades Coelhos 34 unidades Caprinos 83 unidades Caninos 3.127 unidades Bubalinos 796 cabeças Bovinos 48.602 cabeças Asininos 2 cabeças Abelhas 1.674 caixas

Fonte: Inspetoria Veterinária do Município de Jóia. Elaboração pela autora.

No ano de 2006, segundo dados da Emater, o município ocupou a posição de número 153 na geração do PIB estadual, com um PIB/ capita de R$ 12.695,00. Sozinha, a produção agropecuária foi responsável por 51,26% deste, o setor de serviços por 44,59% e a industria com 4,15% de colaboração, confirmando o município como essencialmente agrícola. Vejamos a tabela abaixo do PIB municipal, este que sempre esteve em elevação, porém sempre abaixo da média estadual.

Tabela 5: PIB, PIB/ Capita Jóia e PIB/Capita Rio Grande do Sul 2000/2006.

Ano PIB PIB/Capita Jóia PIB/Capita RS

2000 50.798.000,00 6.095,00 8.302,00

2002 76.872.000,00 9.036,00 10.057,00

2004 99.107.000,00 11.414,00 12.850,00

2006 112.450.000,00 12.695,00 14.310,00

Os assentados compunham o sistema de produção diversificada, tendo como carro chefe de sua produção o leite e a soja, complementando a economia com a produção de frutas, hortaliças, verduras, entre outros como podemos ver detalhamento da produção de cada assentamento.

Documentos relacionados