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3.3.3 O combate à corrupção na Administração Pública pela AMARRIBO Brasil: um

3.3.3.1 Associação Amigos Associados de Analândia – AMASA: uma heróica batalha de

374 Trecho da entrevista com o informante-chave E. 375 Trechos da entrevista com informante-chave J. 376 Trecho da entrevista com o informante-chave P.

Da mesma forma e pelos mesmos motivos que, no estudo do caso Observatório Social do Brasil, levaram a pesquisa a perscrutar uma associação filiada a essa rede – o OSSJC -, o trabalho de pesquisa para o estudo do caso Rede AMARRIBO Brasil impôs a sua ampliação para se alcançar uma segunda associação: o enriquecimento da pesquisa com dados sobre como são desenvolvidas as estratégias de controle da Administração Pública pela Rede AMARRIBO Brasil, atentando-se para o fato da sensível diferença que se pode observar nos esquemas de atuação das duas organizações não-governamentais que lideram as respectivas redes de controle social da Administração Pública. Como se viu, a Rede OSB desenvolve estratégias e frentes de atuação com um formato mais detalhadamente desenhado, de modo que as organizações-membros da Rede, desde a sua criação até subseqüente atuação, seguem um modelo pré-estabelecido e regulado pela sua organização coordenadora, que hoje se apresenta a partir de um Sistema de Franquia Social recém implantado. A Rede AMARRIBO Brasil, por sua vez, constituiu-se e vem se expandindo a partir de um modelo de relacionamento, entre e para com as filiadas, mais flexível, no tocante aos requisitos para a admissão de novas ONGs e, na sequência, a atuação das mesmas; ou seja, os vínculos entre as organizações na AMARRIBO Brasil se consolidam e se fortalecem predominantemente sob alicerces principiológicos e finalísticos, enquanto que na Rede OSB, se completam mediante uma estreita observância a preceitos próprios de um sistema previamente estabelecido, embora aplicados sem rigor extremo, como informou a pesquisa.

Para tanto os trabalhos de pesquisa foram direcionados para uma observação participante do fenômeno estudado, que, no caso Rede AMARRIBO Brasil, consistiu na realização de uma visita de campo ao município paulista de Analândia, onde tem sede a organização não-governamental Amigos Associados de Analândia (AMASA), integrante da Rede AMARRIBO Brasil, cuja fundação guarda estreitos laços de ligação com a então, e simplesmente, Amigos Associados de Ribeirão Bonito – AMARRIBO, devido à similitude dos fatos que motivaram a constituição da entidade. Na oportunidade, foram realizadas entrevistas com três associados, identificados como informantes-chave da organização e colhidos importantes relatos sobre as circunstâncias que envolveram a história da AMASA, bem como de que modo são desenvolvidas as ações capazes de perpetuar os vínculos da entidade com a Rede AMARRIBO Brasil para além daquelas circunstâncias iniciais. Os dados levantados foram obtidos essencialmente através dessas entrevistas e de alguns poucos documentos físicos disponibilizados pelos entrevistados, considerando-se que a entidade ainda não dispõe de um sítio eletrônico próprio, mas apenas um endereço de correio

eletrônico e de uma página no Facebook.377

Os dados coletados na pesquisa informam que a AMASA constituiu-se no mês de setembro do ano de 2009, após realização de uma série de reuniões públicas que tiveram início por volta do mês de fevereiro daquele ano.

O ano de 2008 – ano de eleições municipais em todo o Brasil -, veio revelar o tamanho do descontentamento político e social em que estava mergulhada uma significativa parcela da população do município de Analândia378, devido, segundo informantes-chave da AMASA, a sucessivos desmandos que vinham sendo protagonizados no ambiente da administração pública local, pelo menos ao longo dos dezesseis anos que antecederam aquele pleito. Eram anos de constantes perseguições políticas contra os cidadãos que ousavam se posicionar contra condutas da Administração Pública local – tanto no âmbito do Poder Executivo, quanto do Legislativo, mas, principalmente, do primeiro -, bem como de abandono da cidade e má utilização dos recursos públicos.379

Esta parcela insatisfeita da população local, portanto, decidiu se mobilizar publicamente e, já a partir do princípio do ano de 2009, teve o apoio de membros da AMARRIBO Brasil, os quais passaram a compartilhar o know how desenvolvido no combate à corrupção no município paulista de Ribeirão Bonito.

A primeira reunião pública, onde aqueles que a organizaram já vislumbravam a constituição de uma organização não-governamental com perfil e objetivos semelhantes aos da Amigos Associados de Ribeirão Bonito, ocorreu em fevereiro de 2009 na Igreja Matriz da cidade de Analândia, tendo comparecido cerca de quarenta e cinco pessoas. Segundo relato de entrevistado-chave, na ocasião o então prefeito do município de Analândia teria dirigido

377 Nos dias de visita ao município paulista de Analândia – 11 e 12 de julho de 2015 -, aonde foram realizadas as entrevistas, por ocasião destas foi entregue por um dos entrevistados-chave seis exemplares do informativo “O grito de ANALÂNDIA”, de circulação local, com distribuição gratuita desde 2011, produzido e editado pela AMASA para informar a população sobre assuntos de interesse público local e sobre iniciativas da organização, algumas das quais foram relatadas nas entrevistas. Sobre o endereço de e-mail, tem-se o amasaanalandia@hotmail.com e sobre a página no Facebook, conferir https://www.facebook.com/AmasaAmigosAssociadosDeAnalândia, atualizada até 16 de abril de 2016 na data do acesso, em 11.05.2016.

378 Trata-se de um município do interior do estado de São Paulo, com população de 4.293 habitantes, segundo Censo Demográfico de 2010, e estimada em 4.731 em 2015, conforme dados divulgados no portal oficial http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=350200&search=||infogr%E1ficos:-

informa%E7%F5es-completas. Acesso em 11.05.2016. 379 Segundo relato do entrevistado-chave J.

ameaças a uma cidadã que ocupava o cargo de professora da rede pública municipal. Entretanto, tal conduta não foi capaz de intimidar os cidadãos do município a desistir do intento de se organizar em uma associação e iniciar um trabalho que permanece até hoje, voltado para o controle social da Administração Pública em Analândia (SP). E, assim, seguiram-se novas reuniões públicas no abençoado pátio da Igreja Matriz, culminando, em 15 de setembro de 2009, na constituição da Amigos Associados de Analândia – AMASA.

[...] nesse dia, sobre a exposição da L., da Amarribo, tivemos... fomos ameaçados pelo prefeito atual da época e até uma das funcionárias, já no término dessa reunião, saiu lá fora e ele a ameaçou porque ela era professora pública, e ele chegou a ameaça-la e aí a L., e mais alguns elementos ali reunidos, foram pra delegacia, fazendo um boletim de ocorrência contra esse senhor. E daí pra frente, continuamos as nossas reuniões. A próxima reunião fizemos no pátio da Igreja Matriz e convidamos as pessoas, convites especiais entregues em mãos. E... mas, o prefeito e as pessoas ligadas a ele, tipo irmãs, os cães fiéis dele, foram lá pra tumultuar a nossa reunião [...] E... tamos aí trabalhando até hoje, e conseguimos reverter uma situação numa cidade em que, vinte anos, imperava um tipo de uma ditadura. Sempre saia aquele prefeito, entrava outro do lado dele e a família enriquecendo ilicitamente, que a gente via claro, pela posição que eles tinham antes de assumir essa prefeitura e depois que assumiram. Todos os parentes do prefeito trabalhavam na Prefeitura. Eles passavam em concursos fraudados e todos tinham um cargo público. Todos os irmãos e os cunhados. Todos, cunhados, cunhadas e, também por influência dele, também, nós temos hoje no Banco Bradesco, uma sobrinha desse senhor que foi prefeito durante muitos anos. Então, eles mandavam na cidade.380

A partir daí a AMASA passa a desempenhar um relevante papel na comunidade analandense, através de uma vigilância constante das ações dos gestores públicos e agentes políticos locais, que podem ser traduzidas como iniciativas voltadas para o controle social da Administração Pública do município. O informativo “O grito de Analândia” tem sido um valioso canal de comunicação da AMASA com a população de Analândia e vem registrando, desde o seu primeiro ano de circulação, ou seja, 2010, as ocorrências mais relevantes do ambiente político-administrativo do município e as iniciativas mais importantes da organização não-governamental, inclusive promovendo denúncias contra a má qualidade de obras e serviços públicos municipais. É o que informam as matérias a seguir destacadas de “O grito de Analândia”, entre os anos de 2010 e 2014. Não obstante a extensão dos relatos que se seguirão, a apresentação dos mesmos torna-se indispensável para a pesquisa, na medida em que, além de oferecer uma visão do comportamento da organização não governamental AMASA no contexto da sua integração à rede AMARRIBO Brasil ao longo dos poucos anos

de existência e atuação, revela conteúdos que muitos dizem com o tema da pesquisa e suas condicionantes problematizadas.

O controle social da administração pública funciona e dá resultados. É o que vem mostrando o trabalho da organização não-governamental de combate à corrupção Amigos Associados de Analândia (AMASA). No início de fevereiro a entidade descobriu e divulgou o exagero na cobrança da multa de quem atrasasse o pagamento das contas de água [...] A multa era de 0,33% (9,90% ao mês), quase dez vezes mais do que o permitido pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Premido pela ilegalidade e pela opinião pública, o prefeito Luiz Antônio Aparecido Garbuio tratou de enviar à Câmara de Vereadores o projeto de lei n. 07/2010, reduzindo a multa para 2%, atendendo a requerimento do vereador Evaldo José Nalin. O projeto foi aprovado por unanimidade pelos vereadores de Analândia.381

Desde que decidiram combater a corrupção no município, integrantes da Associação dos Amigos e Moradores de Analândia (AMASA) tornaram-se vítimas de perseguições e atentados. Em 10 de novembro de 2009, dia do apagão nacional, a casa da ex-presidente da ONG, Sônia Maria Dotta, foi apedrejada. Na noite do dia 4 de março uma integrante da associação, a ex- prefeita Antônia Sodelli, de 72 anos, teve a pintura de seu carro danificada por ácido.

[...]

No dia 4 de fevereiro, um membro da ONG, Vanderlei Vivaldini Júnior, foi atacado no interior da prefeitura pelo ex-prefeito e atual chefe de gabinete José Roberto Perin, suspeito de vários atos de improbidade. O apedrejamento da casa de Sônia Maria Dotta foi um dos eventos mencionados na palestra do jornalista investigativo Fábio Oliva durante o Seminário Nacional “Superando a Cultura da Corrupção”, realizado em 9 de dezembro de 2009, Dia Mundial de Combate à Corrupção, em Brasília/DF. [...]

Os integrantes da AMASA estão convencidos de que o atentado contra o carro da ex-prefeita Toninha Sodelli foi mais uma tentativa de intimidar os integrantes da ONG e tentar barrar o trabalho de combate à corrupção iniciado em Analândia [...].

A transparência dos gastos públicos em Analândia só existe na propaganda oficial. Na prática, nem cidadãos, nem vereadores, nem instituições da sociedade conseguem acesso a documentos que possam comprovar onde e como é gasto o dinheiro do contribuinte. No dia 3 de fevereiro a organização não-governamental de combate à corrupção Amigos Associados de Analândia (AMASA) protocolou diversos pedidos de informação e documentos na Prefeitura. Mais de um mês depois a entidade não obteve nenhuma resposta das autoridades municipais[...]. 382

381 Trabalho de ONG consegue reduzir multa escorchante. O grito de Analândia. Analândia/SP, 20 de março de 2010, ano I – n.04, p.1.

382 Transparência embaçada: prefeito não atende pedidos de informações da sociedade, aumentando as suspeitas de irregularidades na administração. Id., Ibid.

A Amigos Associados de Analândia – AMASA – comemorou em setembro deste ano seu primeiro aniversário. O balanço das atividades realizadas pela ONG durante o seu primeiro ano de fundação é considerado extremamente positivo. “A população perdeu o medo de ser perseguida, de sofrer retaliações e das ameaças que sempre eram feitas por autoridades locais e pelos integrantes de uma família que se achava dona da cidade”, explica o engenheiro agrônomo Vanderlei Vivaldini Júnior. Atuante ativista da entidade, para ele essa foi uma das maiores conquistas da ONG. “Hoje a população não tem medo de questionar a roubalheira, a péssima qualidade das obras e até já participa de manifestações públicas, o que era impensável um ano atrás”, salienta.

[...]

Zuleica Marchizeli Canello, que sucedeu Sônia Maria Dotta na presidência da ONG não pára de contabilizar as conquistas da AMASA. “A população está aprendendo a fiscalizar a aplicação do dinheiro público, não aceita mais obras que não funcionam e passou a exigir eficiência das autoridades”, ela diz. Foi graças a essa mudança que a cidade recebeu em abril a visita da Caravana “Todos Contra a Corrupção”, que reúne técnicos voluntários de vários órgãos governamentais de controle, tais como a Controladoria Geral da União (CGU), Tribunal de Contas da União (TCU), União Nacional dos Auditores do SUS (UNASUS) e auditores da Caixa Econômica Federal.383

Dezenove cidadãos de Analândia ajuizaram ação popular como(sic) o objetivo de reaver dinheiro público supostamente desviado das obras da Avenida 8 [...].

A ação também tem o objetivo de corrigir omissão do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), que apesar de identificar várias irregularidades na licitação, acabou por aprovar a prestação de contas do convênio celebrado entre a Prefeitura e o Estado de São Paulo para reformar a Avenida 8.

[...]

Os autores da ação popular pedem que a Justiça anule todos os atos ilegais praticados pelos réus e os obrigue a devolver os prejuízos causados aos cofres públicos. O valor total do prejuízo será apurado através de perícia, mas são estimados em mais de R$ 1 milhão (Processo n. 283.01.2010.005585-0).384

A qualidade sofrível dos materiais de construção e a aparência de pouco cimento na argamassa da creche que a Prefeitura está construindo no CDHU é preocupante.

[...]

Preocupada com esta situação, a AMASA decidiu enviar ofício à Prefeitura e ao Ministério Público para que inspecione a qualidade da obra, antes que seja concluída e possa causar acidentes com as crianças que deverá atender.385

Ativistas de organizações não governamentais (ONGs) de combate à corrupção de todas as cinco regiões brasileiras estiveram em Analândia,

383 AMASA comemora um ano de conquistas: ONG ganha simpatia da população, respeito das autoridades e evita desvio de milhões dos cofres públicos. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano I, n. 8, p. 1, 30 set 2010. 384 Ação Popular pede devolução do dinheiro desviado da Avenida 8. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano I, n. 8, p. 2, 30 set 2010.

385 Creche mal feita pode por em risco vida de crianças. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano I, n. 8, p. 4, 30 set 2010.

sábado, 11 de dezembro. Por um dia, a cidade transformou-se na capital nacional da luta anticorrupção. O objetivo da mobilização, denominada Caravana “Vamos a Analândia”, foi mobilizar e conscientizar a comunidade sobre a importância do controle e fiscalização social da Administração Pública e o direito do povo a um governo honesto, como formas de reduzir os acentuados níveis de corrupção que se observam na cidade e no país. Analândia tem 4.289 habitantes e 4.860 eleitores (mais eleitores que habitantes) e ganhou o noticiário nacional depois que o vereador Evaldo José Nalin (PSDB) foi brutalmente assassinado com sete tiros, quatro deles na cabeça, por denunciar supostos casos de corrupção na Prefeitura local e após o vereador Leandro Sandarpio (ex-DEM, atualmente PV) renunciar à presidência da Câmara Municipal e ao mandato temendo ser a próxima vítima.

[...]

Com 113 anos de emancipação político-administrativa, Analândia, como a maioria dos pequenos municípios brasileiros, nunca recebeu uma fiscalização da Controladoria Geral da União (CGU) ou do Tribunal de Contas da União (TCU). Apesar de todas as irregularidades verificadas pela população, as contas do município sempre são aprovadas pelo Tribunal de Contas de São Paulo386 (grifo nosso).

A falta de transparência das administrações municipais, que fazem de tudo para dificultar o acesso dos cidadãos às informações e documentos que deveriam ser públicos, transformou Analândia e Ribeirão Bonito em laboratório para um trabalho de pesquisa realizado por cinco alunas do Curso de Gestão em Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) de uma das mais importantes universidades do mundo, a USP (Universidade de São Paulo).

[...]

As universitárias concluíram que “a participação social é fundamental para a garantia do direito de acesso à informação”[...].387

A falta de diligência da Prefeitura de Analândia em tomar cinco providências exigidas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) está impedindo há mais de cinco anos o funcionamento do aterro sanitário da cidade. Enquanto isso a prefeitura deixa de economizar milhares de reais do contribuinte, pagando para transportar o lixo por 128 quilômetros até o Centro de Gerenciamento de Resíduos de Guarapará.

Respondendo a ofício encaminhado pela ONG Amigos Associados de Analândia (AMASA), a CETESB informou que para o aterro funcionar faltam: 1) ...[...].388

As obras de reforma do Calçadão Ricardo Gregório, no centro de Analândia ficarão cerca de R$ 700 mil mais baratas, graças à fiscalização de uma organização não-governamental (ONG) de combate à corrupção. Desde que a obra foi anunciada a AMASA – Amigos Associados de Analândia vem acompanhando a obra de perto.

386 Por um dia, ativistas transformaram Analândia na capital nacional do combate à corrupção. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano I, n. 10, p. 3, 23 dez 2010.

387 Falta de transparência em Analândia é estudada por universitárias da USP. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano I, n.10, p. 4, 23 dez 2010.

388 Omissão da Prefeitura de Analândia impede aterro sanitário de funcionar. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano II, n.12, p. 3, 7 mai. 2011.

Foi o que possibilitou à entidade descobrir que a obra estava superfaturada [...].

Para a ONG AMASA, exemplos de sucesso como este animam os ativistas do controle social. Mas o que é o controle social?[...].389

A atuação firme e destemida de uma organização não-governamental de combate à corrupção (ONG) tem mudado a rotina dos 4,6 mil moradores de Analândia. Antes, acostumados a obras e serviços de péssima qualidade, como asfaltos que derretiam à menor chuva, agora os habitantes da cidade que fica a 200 quilômetros de São Paulo aprenderam a exigir qualidade e eficiência.

Alguns dos cinco quiosques que a Prefeitura vinha construindo através da Concergi, como parte de um projeto de remodelação de uma praça da cidade precisou ser demolida.

[...]

O perigo que a péssima qualidade da obra representava para a população foi comunicado pela AMASA ao prefeito Luiz Antônio Aparecido Garbuio (DEM), que não teve dúvidas e mandou a CONCERGI Construção, Máquina e Serviços Ltda derrubar os quiosques e construí-los de novo.390

“O grito de Analândia” assim como a população analandense, também registram em suas memórias um grave acontecimento que tristemente marcou, em tão curto tempo de existência da AMASA, a sua história de organização não-governamental que se pretende consolidar como organização social de combate à corrupção e controle social. Assim o Informativo da AMASA, em matéria intitulada “População de Analândia e região pede justiça” - em referência ao decurso de quatro anos desde a data do crime até a esperada sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, prevista para 29 de maio de 2014 -, relembrou o fato em edição do dia 27 de maio de 2014: 391

O vereador Evaldo José Nalin (DEM) elegeu-se pelo grupo político ligado à família Perin. Inconformado com os desmandos e casos de corrupção, afastou-se do grupo político pelo qual se elegera e passou a fazer denúncias e pedidos de providências ao MPSP. Na noite do dia 9 de outubro de 2010, enquanto assistia televisão com a esposa Kátia, dois homicidas invadiram sua casa, no centro de Analândia. Um deles pediu à esposa que se afastasse, dizendo que não era nada com ela e, em seguida, dispararam sete tiros contra o vereador, quatro deles na cabeça.

[...]

389 Obra do calçadão fica R$ 700 mil mais barata por causa de fiscalização da ONG. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano II, n. 13, p. 3, 17 dez. 2011.

390 ONG exige qualidade das obras feitas em Analândia. O grito de Analândia. Analândia/SP, ano II, n. 13, p. 4, 17 dez 2011.

391 “O grito de Analândia”. Analândia/SP, ano III, n. 15, p. 1, 27 maio 2014. Notícia do julgamento do caso também está disponibilizada em http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/05/acusado-de-mandar- matar-verador-de-analandia-pega-18-anos-de-prisao.html, onde se destaca o caráter político atribuído ao crime. Acesso em 14.05.2016.

O assassinato do vereador Evaldo José Nalin foi entendido como um recado àqueles que ousavam atrapalhar os planos políticos da família Perin. O vereador Leandro Santarpio entendeu o recado. Com medo de ser a próxima vítima, renunciou ao mandato no dia 26 de outubro de 2010. Em seu lugar assumiu a presidência da Câmara Municipal o vereador Luiz Fernando de Carvalho, cunhado de Chiba.392

Santarpio declarou na época que “Não estou aguentando. São ligações anônimas, cartinhas, recados mandados por outros. Agem no psicológico e no emocional”. E resumiu numa frase o que ocorria na política de Analândia até então: “Aqui tem um política suja, rasteira e sem escrúpulos. Vou fazer outra coisa e só volto quando esse quadro mudar”.

Sobre os requintes de violência com que os representantes do povo, legitimamente

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