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3.2.3 – A CONQUISTA DA ABISSÍNIA

3.5 ASSUMINDO A BRASILIDADE

Seria injusto e mesmo incorreto afirmar que o jornal católico defendera sempre o ideal de italianidade. Como foi visto no início do atual e mesmo no primeiro558 capítulo desta

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Correio Riograndense, 10 set. de 1941.

555 A Época, 12 mai. de 1942. 556 O Momento, 14 set. de 1942. 557 A Época, 15 fev. de 1942. 558

dissertação, entre as preocupações dos capuchinhos encontrava-se a de proporcionar ao imigrante uma melhor adaptação à terra de adoção, consciente do fato e do perigo que representava o simples transplantar da Itália sonhada pelo clero peninsular para essas terras distantes, especificamente os carlistas. O fato de terem dado apoio aberto ao Fascismo não excluiu a sua tendência ao abrasileiramento; deste modo, a dupla fidelidade patriótica persistiu até o último momento quando enfim a lei obrigou a uma posição definida a favor da nacionalidade brasileira.

Mesmo durante o período da guerra, em que as simpatias pró-Itália e Alemanha ficaram mais evidentes, o jornal não deixava de render a sua homenagem à nação de acolhida, se bem que estas demonstrações de patriotismo só se faziam evidentes em datas especiais como o 7 de setembro. A passagem do fogo simbólico, os desfiles de militares e escolas, os pronunciamentos das autoridades eram publicados na íntegra pelo jornal. Em tais datas, as cerimônias sempre se encerravam em frente à Igreja local, e os discursos sobre patriotismo e sobre religião eram pronunciados por R. P. Ambrósio, reitor do Seminário Maior dos Padres Capuchinhos de Garibaldi. É importante ressaltar, aqui, a fidelidade a Getúlio Vargas, ao Estado Novo. O Vigário da cidade , padre Caetano, também discursa, convoca a juventude para continuar a obra de engrandecimento da Nação, isto é, a União dos Moços Católicos, que, colaborando com a Liga de Defesa Nacional do município, construía a sólida base das futuras gerações brasileiras.

Antes mesmo do ano polêmico de 1941, antecipando-se às horas difíceis e contraditórias que viriam, como uma preocupação já evidente diante do ponto crucial que envolvia a identidade local, publicava o jornal em 1940 a mensagem de D. João Becker ao clero e aos católicos sobre a Pátria e sobre o patriotismo na qual afirmava peremptoriamente:

A nossa pátria é o Brasil [...] Todos são brasileiros, sem distinção de suas origens étnicas. A Constituição não antepõe a brasileiro nenhum restritivo ou qualificativo, como seja , luso, ítalo, teuto, afro, siro, nipo, chino, indo, judio, etc. Ora, segundo o axioma jurídico “ubi lex non distinguit, nec nos distinguere debemus, onde a lei não distingue, nem nós devemos distinguir”. Portanto, todos são brasileiros sem nenhuma adjetivação, pois a Constituição é a lei suprema de que dimanam todas as outras.559

As ações por parte da hierarquia eclesiástica na tentativa de evitar futuros atritos já se faziam sentir ainda em 1939 quando Dom João Becker orienta o clero metropolitano para que cessem as pregações em idiomas estrangeiros; se acaso em algumas paróquias essa houvesse

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necessidade, os sacerdotes repetiriam as suas falas em língua estrangeira ao final das prédicas.560 Neste mesmo ano o bispo de Caxias, D. José Barea, seguindo as determinações do Arcebispo de Porto Alegre, resolve nacionalizar as práticas religiosas regionais. A Igreja já começava a sentir o impacto das leis de 1938 e direcionava-se ao acatamento da legislação nacionalizadora.

Quanto ao jornal, o ano decisivo foi 1942, marcado pelo rompimento diplomático entre o Brasil e as potências do Eixo. Em 04 de fevereiro daquele ano, publicavam-se as medidas de segurança tomadas pela chefatura de polícia que podem assim ser resumidas.

I – Os estrangeiros nacionais da Alemanha, Itália e Japão devem comunicar à autoridade policial a sua residência em quinze dias, a contar a data (29.01.1942).

II – Aos estrangeiros não é permitido:

a) viajar de uma localidade para outra sem licença da polícia;

b) reunir-se, ainda que em casas particulares a título de comemorações privadas;

c) discutir ou trocar idéias em lugares públicos sobre a situação internacional ;

d) mudar de residência sem a prévia comunicação à polícia; e) viajar por via aérea, sem licença especial da polícia; f) obter licença para andar armado e registrar armas; g) obter licença para negociar armas;

III – Fica proibido:

a) distribuir escritos em idioma das potências com as quais o Brasil rompeu relações; b) cantar ou tocar hinos das referidas potências;

c) fazer saudações peculiares a estas potências;

d) usar o idioma das mesmas potências em conversações em lugares públicos; e) exibir retratos dos membros dos governos daquelas potências;

IV – Devem ser detidos os que manifestam simpatias pela causa das referidas potências; V – Devem ser recolhidos todo o material de propaganda política existente em favor das mesmas;

VI – Devem ser interditadas as estações de rádio amador dos súditos daquelas potências; VII – Devem ser interditados os aviões pertencentes aos súditos do Eixo;

VIII – A polícia deve oferecer absoluta garantia à pessoa e aos bens dos súditos das potências do Eixo;

IX – Estas instruções entram em vigor imediatamente.561

Durante as edições do mês de fevereiro, o jornal reeditaria as medidas e reiteraria o pedido aos “italianos” para que se apresentassem à polícia e regularizassem a sua condição de cidadãos nacionais. Na mesma edição de 04 de fevereiro, o prefeito de Garibaldi, Vicente Dal Bó, se pronunciaria sobre o grande problema da região, segundo o que publicava o jornal, reconhecia o grande empenho do governo federal e a sua preocupação em nacionalizar os filhos de colonos que há mais de 60 anos habitavam o local; no entanto afirmava, “de fato,

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CORSETTI, Berenice. A reação do Estado Novo aos movimentos políticos da zona de colonização do Rio Grande do Sul. In: História: Ensino e Pesquisa, Porto Alegre, n. 3, ano 2, p. 51.

Dom João Becker adotava assim a mesma atitude quando da Primeira Guerra em que baixara as mesmas medidas em relação aos ofícios religiosos ministrados em alemão, proibindo, inclusive, o ensino nessa língua em escolas comunitárias católicas. GERTZ, René E. Dom João Becker e o Nacionalismo. Estudos Leopoldenses, Série História, São Leopoldo, n. 2, v. 3, p. 157, 1999.

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porém, este problema não existe aqui: todos estão perfeitamente convencidos de sua brasilidade e todos trabalham para o progresso de nossa Pátria sem ligação nenhuma a partidos ou a ideologias estrangeiras.”562 O afundamento dos navios mercantes brasileiros e a conseqüente declaração de guerra ao Eixo é acolhida pelo jornal com grande júbilo que passa a descrever a empolgação da juventude de Garibaldi ao aceno de poderem lutar na Rússia e na África contra os exércitos alemães e italianos, “a mocidade de Garibaldi está no auge do delírio e espera com impaciência a hora em que , ao lado das heróicas nações aliadas, irá medir forças com alemães e italianos para salvaguardar a nossa independência e a nossa honra nacional.”563

O reconhecimento do estado de beligerância inspirava os cuidados da Igreja nacional; neste sentido no mês de outubro de 1942, aparece a publicação de D. Leme, antigo admirador dos regimes totalitaristas, pedindo cautela ao povo para que não julgassem precipitadamente as ordens, indivíduos ou a instituição; confirmava, desta forma, a sua fidelidade ao Estado nacional:

cônscios de suas responsabilidades e não obstante confiarem plenamente na fidelidade do clero secular e regular à causas do Brasil em guerra em guerra estão os bispos brasileiros, como sempre estiveram e estão ainda, vigilantes em prevenir ou sanar nos meios eclesiásticos possíveis excessos individuais de deslealdades para com a nossas Pátria.564

Por diversos momentos, o jornal toma o tema do clero estrangeiro e da nacionalização e procura demonstrar a importância dos missionários junto aos indígenas e ao seu processo de integração à sociedade nacional, assim como o da dilatação das fronteiras brasileiras pelo embrenhamento dos religiosos no interior do país. Em artigo assinado por Paulo Nunes, há a seguinte afirmação: “não conheço clero nacional ou estrangeiro, o que conheço é o CLERO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.”565 Existe ainda o argumento de que grandes homens patriotas, como Oswaldo Aranha, João Neves, Nereu Ramos e outros foram formados nas escolas religiosas de ordens estrangeiras.

Os discursos de Vargas são cada vez mais freqüentes, e os aniversários do presidente e do Estado Novo agora ganham mais espaço. D. José Barea, por ocasião do primeiro, em 1942, pronuncia-se sobre a obra altamente patriótica na região empreendida por Getúlio, “dentro em breve, não soará em nossos núcleos outro idioma que não seja o nacional, pois às

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Correio Riograndense, 04 fev. de 1942.

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Correio Riograndense, 26 ago. de 1942.

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Correio Riograndense, 07 out. de 1942.

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novas gerações temos o direito de exigir mais do que as precedentes que por incúria dos governos, nada aprenderam, porque ninguém nada lhes ensinou.”566 D. José segue declarando que, Vargas eliminou os comunistas, os extremistas de direita (integralistas), os quinta-colunas e construiu uma nação sólida, baseada nos princípios cristãos. Seguindo esta linha, o próprio noticiário nacional acabou por ganhar maior espaço. Isto não quer dizer, certamente, que as páginas internacionais tivessem sido suprimidas: a guerra prosseguia e também a sua cobertura - somente que agora há a nítida tendência aos aliados. De certa forma, os heróis agora mudavam de lado: se a Inglaterra havia sido a “praça forte” da Maçonaria mundial, após 1942 se transformara em um país respeitador da catolicidade; embora o seu governo e a grande maioria de sua população fossem protestantes, haviam-se mostrado bastantes liberais com os católicos, reconhecendo principalmente a sua importância junto ao exército e sabendo premiar o seu patriotismo.

O Correio Riograndense esforça-se por demonstrar a evolução do Catolicismo

nos países aliados como os Estados Unidos; a Alemanha volta a ser dominada pelo paganismo nazista; quanto à Rússia, agora ao lado dos aliados, faz-se silêncio. As declarações mais contundentes sobre o bolchevismo vão ocorrer apenas ao final do conflito, quando a Guerra Fria já estava delineada no espaço internacional. Glorifica-se a ação da aviação brasileira nos ataques a submarinos do Eixo, tem-se orgulho da Força Expedicionária Brasileira na Europa, “nossos irmãos heróicos já desfraldaram nos campos de luta a invicta bandeira auriverde.”567 Os símbolos da nacionalidade estão mais presentes do que nunca; desta forma, “religião e nação formam o patriotismo; catolicidade e Brasil são inseparáveis na história.”568 Ou “servindo a Deus com fidelidade, serviremos o Brasil com eficiência.”569 A bandeira democrática agora se sobrepõe aos ideais totalitários. É importante frisar que durante o ano de 1945 os conceitos de Pio XII sobre a democracia figuram nas primeiras páginas do jornal.

E quanto ao fascismo e a Mussolini? Bem, em relação ao segundo, a notícia de sua morte por fuzilamento é dada juntamente com a morte de seu aliado, Hitler, ocupando toda a página dedicada à manchete “Cessou a Guerra na Europa”, do dia 18 de maio de 1945. Segundo o jornal, as cenas macabras que se seguiram à sua morte, como a exposição em praça pública do

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Correio Riograndense, 09 mai. de 1942.

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Correio Riograndense, 12 jul. de 1944.

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Correio Riograndense, 16 set. de 1942.

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corpo para tornar-se alvo da ira da população, eram simplesmente lamentáveis; o jornal declara sobre isso: “A imprensa sensata lamenta a indiscriminada violência de ódio usados contra Mussolini, cujos erros e méritos a História julgará.”570 Quanto ao regime, fica-se com a resposta de Pio XII a Roosevelt quando as tropas americanas haviam invadido a Sicília em julho de 1943: o Sumo Pontífice expressava “seu pesar pelo fato de não ter sido feita uma distinção suficientemente clara entre os regimes nazista e fascista.”571

Enfim, veladamente o jornal ainda parecia apresentar alguma simpatia por Mussolini e pelo fascismo, porém tal posição era insustentável no referido contexto. De 1942 em diante, há o abandono de uma identificação italiana, assumindo-se a identidade nacional brasileira. O viés europeizante marcadamente presente no clero conservador, que se manteve vivo desde o período da colonização e que tinha no padrão romano a fonte da regeneração espiritual do Catolicismo brasileiro, agora era obrigado a ceder espaço ao projeto autoritário de nacionalização. O sufocamento do discurso pró-italianidade, ligado aos símbolos fascistas, desaparecia junto com o próprio regime - a ambigüidade identitária já não era mais possível: era preciso ser brasileiro por inteiro.

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Correio Riograndense, 18 mai. de 1945.

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CONCLUSÃO

O século XIX marcou profundamente a História da Igreja pela cisão ocorrida entre a mesma e as instituições modernas. A Europa secularizava-se cada vez mais ao romper os laços da antiga ordem e a confirmar as reformas modernizantes sob a influência das idéias liberais. A Igreja, diante do espaço perdido pelas ondas revolucionárias, resolve pela reação a contrapelo e passa a negar todos os valores consagrados pela Modernidade. Bastião do conservadorismo, a partir da metade do século XIX, inicia um movimento restaurador, encampado pela hierarquia eclesiástica que tinha em Pio IX o seu mentor principal. Era preciso deter a vaga liberal que tomava conta, inclusive, de parte do clero e reafirmar os valores tradicionais da ordem cristã. Baseado nos ideais tridentinos terá início um revigoramento do Catolicismo mundial, centrado nos preceitos romanos, levado a cabo por setores combativos do clero (ultramontanos) e fiéis à política papal. A luta de tal clero foi a de impor uma disciplina entre os quadros religiosos, ao eliminar as suas tendências liberais e enquadra-las na mentalidade reformista. O mundo católico devia voltar-se para Roma e acatar as ordens do vigário de Cristo. O espírito de contra-ataque do Vaticano não tolerava dissensão: era preciso exterminar com resquícios de Igrejas nacionais, conformando-as ao centralismo romano.

Especificamente no quadro brasileiro, a Igreja que durante quase quatro séculos vivera sob o regime de padroado, passaria pelo período de transição, convivendo com inúmeros atritos que envolviam diretamente a nova orientação de Roma com as tendências regalistas da formação do clero nacional. Durante todo o século XIX, existirá uma permanente tensão entre religiosos liberais e conservadores, visto que os primeiros haviam sido formados em seminários como o de Coimbra, suscetíveis ao pensamento iluminista, enquanto os segundos já possuíam uma formação romana, impregnada dos ideais tridentinos. A luta da hierarquia católica brasileira será a de se desvincular da dependência do governo nacional, em uma recusa ao envolvimento político em prol de uma dedicação exclusiva aos assuntos religiosos. O clímax desta crise pode ser sentido durante a “questão religiosa” da década de 1870 e aprofundou-se com a Proclamação da República e a conseqüente separação entre Igreja e Estado.

A luta, contudo, não era apenas a de enquadrar o clero nas novas diretrizes, e sim a de reformar as próprias práticas religiosas populares. Neste sentido, a religiosidade brasileira causava espanto aos reformadores, pois, longe do padrão dogmático romano,

apresentava-se escandalosamente sincrética, devocional e leiga. A Romanização seria, desta forma, o remédio para trazer de volta estes fiéis ao verdadeiro Cristianismo. A repressão às manifestações religiosas populares ganharam corpo no decorrer do século XIX, já que as expressões de um Catolicismo genuíno iam sendo substituídas pela padronização romana.

No conjunto destas transformações, é preciso lembrar que essa era apenas uma faceta do processo de europeização da sociedade brasileira como um todo; neste sentido, a vinda do clero estrangeiro era bem-vista pela hierarquia eclesiástica que depositava nele a esperança de revigoramento dos quadros nacionais. Entretanto, as esperanças não se depositavam apenas no clero mas também nos próprios imigrantes europeus cuja mentalidade tridentina era o ponto de partida para a reforma das práticas religiosas populares. Por sua vez, as ordens ultramontanas que acompanhavam os imigrantes acreditavam que o isolamento dos mesmos da sociedade nacional e a manutenção de sua identidade européia seriam a forma de preservar neles o espírito cristão - era preciso ficar longe da infecciosa influência da degenerada religiosidade brasileira.

Em relação às comunidades imigrantes do Rio Grande do Sul, especificamente os italianos que se instalaram na região serrana, foram as ordens religiosas dos carlistas italianos e dos capuchinhos franceses que marcaram maior presença em seu meio. Carlistas e capuchinhos foram também as únicas ordens religiosas que sustentaram - no caso dos capuchinhos ainda sustentam - uma imprensa religiosa regional, editada em italiano, de importante influência. Essa voltava-se às comunidades imigrantes na qual refletiam as suas posições frente aos colonos, ao orientar comportamentos, atacar seus inimigos e invariavelmente entrar em conflito consigo mesma. A adoção da imprensa como meio de evangelização encontrava-se no contexto nacional de retomada do espaço perdido pela Igreja frente aos novos tempos republicanos, procurando barrar o oficialismo ateu e conservar as massas cristãs junto à influência clerical.

No caso dos carlistas ou scalabrinianos, seu jornal, Il Corriere d’Italia, editado em Bento Gonçalves, procurava manter-se fiel à orientação delineada por seu fundador, João Batista Scalabrini, de forte apego à italianidade e à política oficial do governo italiano. Os scalabrinianos eram considerados ultramontanos transigentes e, ao contrário dos intransigentes, aceitavam uma reconciliação entre a Igreja e o Estado liberal italiano, instaurado em 1870. Seu forte apego à identidade italiana transparecia no jornal e a condicionava diretamente ao fato de ser católico.

Já os capuchinhos, embora também acreditassem que manter a identidade européia era um importante fator de conservação católica, tinham a consciência da necessidade de adaptar o imigrante à Pátria de escolha; além disso, eram abertamente contra a Itália unificada e a favor das monarquias católicas, como a austríaca. Associando-se ao pároco de Conde d’Eu, João Fronchetti, passam a colaborar com a edição do jornal Il Colono Italiano que, devido à nacionalidade austríaca de seu diretor, toma abertamente partido em favor dos Impérios Centrais, fato que, durante a Primeira Guerra, render-lhe-á atritos e críticas por parte do jornal carlista. O resultado será a saída de Fronchetti da direção do periódico, acarretando também a mudança do nome para Staffetta Riograndense em 1917. A década de 1920 começa já com os capuchinhos como sócios majoritários do jornal e, em 1927, há a fusão das duas folhas quando o Staffetta incorpora Il Corriere d’Italia. A década de 1930 iniciaria ,desta forma, com a imprensa católica unificada, sem resquícios dos antigos atritos e com uma posição sólida entre a comunidade imigrante regional.

No contexto nacional, os anos 30 iniciam-se sob o impacto da Revolução que levaria Getúlio Vargas ao poder, marcando também o processo que ficou conhecido como Neocristandade, isto é, a retomada do espaço político perdido pela Igreja durante os anos da República Velha. Ligado diretamente aos interesses da hierarquia nacional, o Staffetta passa a uma campanha aberta em prol do exercício da cidadania brasileira por parte dos católicos estabelecidos na região colonial. A tendência já observada de defesa a uma adaptação à nova Pátria pode ser observada no conteúdo cívico-político vinculado no jornal. A recuperação do Catolicismo nacional estava diretamente ligada ao papel de um católico militante e de um imigrante que exigia agora o seu direito à cidadania brasileira. A década de 1930 aparecia como o momento adequado para concretizar o vínculo entre o imigrante e a sociedade nacional por meio do catolicismo.

No entanto, a ascensão do Fascismo na Itália ainda na década de 1920 e dos posteriores acordos de Latrão em 1929, conquistarão o clero mundial à sua causa, e os capuchinhos não ficarão imunes a tal influência. O apoio a Mussolini e ao regime italiano acentuariam as tendências europeizantes da identidade local e colocariam em relevo o teor ideológico do clero ultramontano, isto é, profundamente antiliberal e autoritário. Tal posição dúbia será mantida durante toda a década de 1930, passando a ser questionada a partir de 1938 com o recrudescimento da campanha nacionalista, atingindo o seu cume em 1941 com os atritos

diretos entre o jornal A Época de Caxias e o próprio Staffetta. A exemplo do que ocorrera durante a Primeira Guerra, o jornal muda novamente de nome e passa a chamar-se Correio

Riograndense, sendo, a partir de agora, editado em português.

É importante destacar que 1942 torna-se o ano-chave, ocasião em que se desfaz a dicotomia identitária, até então sustentada. Não era mais possível requerer a cidadania brasileira e manter os seus vínculos étnicos com a Itália. Era preciso ser brasileiro por inteiro, e, atendendo a tais mudanças, o jornal assume, neste sentido, o ponto de vista do nacionalismo brasileiro e passa a sustentar uma identidade sem adjetivação. Os novos tempos assim o exigiam: esquecia-se