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CORREIO RIOGRANDENSE

3.1 O APOIO A RECRISTIANIZAÇÃO NACIONAL

As mudanças políticas do início da década de 1930 manifestar-se-ão para o Catolicismo brasileiro como uma oportunidade de reconciliação com o Estado nacional. A reparação do erro republicano de 1891 processar-se-ia quase quarenta anos depois, pelo justo reconhecimento das verdadeiras aspirações da alma católica brasileira; além disso, o Movimento de Outubro daquele ano acenava para as mudanças que se confirmariam no decorrer da década. Todavia, é importante lembrar que, se aquilo foi possível naquele momento, só o foi porque o movimento de revigoramento do Catolicismo nacional já vinha se processando desde a década anterior, quando a Igreja passou por uma renovação em seus quadros, agregando ao seu redor uma intelectualidade combativa que projetará os novos rumos do Catolicismo no Brasil.

Uma destas figuras será o anarquista agora convertido Jackson de Figueiredo372 que em 1922 funda o Centro Dom Vital, passando a editar a revista A Ordem, órgão de projeção dos jovens intelectuais cristãos. Na verdade, o Centro fora fruto da orientação do então arcebispo- coadjutor do Rio de Janeiro, D. Sebastião Leme, o grande artífice da renovação católica que, ainda quando Arcebispo Metropolitano de Olinda (1916-1921), redigira a conhecida carta pastoral de 1916, na qual conclamava a nação para uma obra de verdadeira recristianização, ao acusar o Catolicismo brasileiro de ser “informe, difuso e inoperante”, sendo a decadência religiosa fruto da crise moral que atravessava o país que somente poderia ser resolvida através da reação católica.373

Esse laicato era marcadamente reacionário e conservador, sob forte influência ultramontana; além disso, conservava um caráter elitista e propunha o revigoramento da Pátria através de uma doutrina moralizante que sustentasse a ordem política e social por meio de um retorno a um ideal medieval de mundo em que a tradição e a hierarquia deveriam imperar sob a

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Jackson converteu-se ao Catolicismo sob a influência espiritual do padre Leonel Franca (1893-1948). Sofrera influência também das leituras do filósofo Farias de Brito que muita penetração teve entre a geração católica de então, principalmente por ser um pensador que se posicionava contra o pensamento dominante da época, criticando a herança positivista no pensamento brasileiro. TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. São Paulo: Difel, 1974. p. 38.

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conturbada ordem moderna, anárquica e subversiva. Era a visão restauradora da autoridade que deveria imperar sobre a liberdade - caminho aberto, pois, para todo tipo de aberração como o liberalismo do século XIX e o comunismo no século XX.

A paz social era premente, principalmente em um período histórico conturbado como fora o entre-guerras. As democracias liberais pareciam dar seus últimos estertores, a crise do mundo capitalista ocasionava a descrença no sistema vigente e abria caminho para o surgimento de regimes que se consideravam alternativos; no caso do Catolicismo brasileiro, os regimes autoritários de direita, aqui entendidos os fascistas, apareciam como um exemplo a ser seguido - a via autoritária fazia parte essencial da crença católica. O pensamento predominante e irradiado pelo Centro D. Vital e expresso através de seu principal intelectual, Jackson de Figueiredo, não guardava simpatias pela democracia, filha da Revolução Francesa, portanto considerada como um sistema demagógico e desagregador. O caráter ético dos problemas nacionais colocava em segundo plano as questões políticas, sociais e econômicas. Figueiredo, no entanto, não teve tempo para assistir à ascensão do autoritarismo no Brasil, pois viria a falecer prematuramente em 1928. Dessa forma, a liderança do movimento católico passaria para as mãos de outro intelectual convertido, Alceu Amoroso Lima374, e este manteria a mesma linha de seu antecessor, convencido de que, como ele própria afirmava, ser o “Catolicismo uma posição de direita”.375

Dentro desta linha de pensamento, o novo regime era bem-vindo, pois seria o autoritarismo a via mais acertada para a salvação do Brasil.376 A hierarquia católica, de maneira geral, via o Movimento de Outubro como uma verdadeira obra de regeneração e um ponto de resgate da própria identidade nacional, visto que o novo regime acenava para uma reconciliação entre Igreja e Estado, isto é, o reconhecimento do Catolicismo como principal marca que identificava e unia o país. Vargas estava ciente da questão e da necessidade do apoio da Igreja; da

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Alceu Amoroso Lima havia recém sido convertido em 1928, ano da morte de Figueiredo, pelo mesmo padre que convertera Jackson, padre Leonel Franca e contra sua própria vontade, assumira o papel de direção do movimento católico, a pedido do Cardeal D. Leme. Ibid., p. 107-113.

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AZZI, Riolando. A Neocristandade: um projeto restaurador. São Paulo: Paulus, 1994. p. 131.

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É importante lembrar que, a princípio, a hierarquia episcopal e os intelectuais cristãos não viram com bons olhos o Movimento de Outubro, primeiro por tratar-se de uma “revolução”, portanto, subversiva à ordem e segundo porque identificavam o movimento como fruto do tenentismo, portador de idéias modernas e perigosas vinculadas ao liberalismo e ao positivismo. Alceu Amoroso Lima definiria o fato como “obra da Constituição sem Deus, da escola sem Deus, da família sem Deus, e o cardeal Leme advertia: “ou o Estado reconhece o Deus do povo, ou o povo não reconhece o Estado.” Porém, já em 1931, as desconfianças estavam praticamente desfeitas, e a Igreja encontrava no novo governo um importante aliado. SCHWARTZMAN, Simon; BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro. Tempos de Capanema. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 72.

mesma forma, esta última via no ditador o depositário de todas as esperanças de uma nova era que viesse a resgatar a dignidade da nação, que havia se perdido no decorrer das anteriores décadas republicanas. Para D. João Becker, faltava ao país

um novo Moisés que tenha a audácia cívica de escolher a N. Senhor Jesus Cristo, para guiar a nação, que tenha a coragem de restabelecer os direitos, os ensinamentos e as leis de Deus em todos os departamentos da sociedade brasileira. Quem será? Como todos os Estados o RS tem o direito inconcusso de apresentar seu candidato, como o fez. Eu quisera [...] que este Moisés regenerador da República surgisse do meio do heróico povo gaúcho, que partisse do alto das nossas coxilhas verdejantes e, sob as bênçãos da Igreja e as aclamações de todos os rio-grandenses e todos os brasileiros, realizasse esse sublime ideal de grandeza e felicidade do Brasil.377

O apoio do arcebispo de Porto Alegre deixou de ser meramente discursivo e tornou-se em ação quando eclodiu o Movimento, pois ofereceram-se sacerdotes ao governo, a fim de acompanhar as tropas militares - oferta que foi aceita por Getúlio. Mais tarde na capital federal, quando a Revolução já era praticamente vitoriosa, é Vargas quem pede auxílio à Igreja por meio do Cardeal D. Leme, na tentativa de que esse persuadisse Washington Luís a entregar- se. D. Leme já fizera isso várias vezes, porém tais pedidos haviam sido infrutíferos. Chegando a uma situação limite em que as tropas revolucionárias estavam prontas para bombardear o Palácio Guanabara, o cardeal, atendendo ao pedido de Vargas, consegue, em uma última tentativa, a rendição do então presidente. Getúlio de muito lhe ficaria grato e logo acenava para uma futura colaboração entre as duas instituições.

Acompanhando esse contexto e as diretrizes gerais do posicionamento da Igreja frente ao ocorrido, assim se referia o Staffetta sobre a Revolução:

A Revolução terminou. E terminou com um completo triunfo. Agradecemos ao Senhor pela vitória e por ter abreviado os dias de luta. Rogamos fervorosamente a fim de que o Brasil, em plena e perfeita paz, possa rapidamente alcançar o progresso moral e material que o heroísmo de seus filhos tem como mérito. O objetivo que atende aos novos governantes é árduo e importante: mas esses saberão se portar dignamente se os acompanhar sempre o espírito de sacrifício e de trabalho; se a amada pátria tiver o espírito do Senhor, do qual devemos render-se dignos com a Prática constante da virtude, com uma vida digna de cidadãos conscientes da grandeza ao qual Deus chama o próprio país.378

O consórcio entre Igreja e Estado parece ser evidente, e os sinais concretos dessa aproximação ocorrerão claramente já em abril de 1931, quando o governo provisório assina o

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Becker apud BEOZZO, José Oscar. A Igreja entre a Revolução de 1930, o Estado Novo e a redemocratização. In: FAUSTO, Boris (org.). História geral da civilização brasileira, v. 11. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1986. p. 287-288.

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Staffetta Riograndense, 29 out. de 1930.

É importante salientar que a maioria dos artigos pró-Vargas e de apoio à política nacional da Igreja apareciam no jornal editados em português e não em italiano.

decreto que permite o ensino religioso nas escolas púbicas - uma antiga reivindicação da Igreja junto ao Estado.379 Na segunda edição de maio daquele ano, sobre tal decreto, assim se referia o jornal: “a data de assinatura do decreto pode ser escrita em caracteres de ouro na história gloriosa do Brasil, já que tal decreto constitui o primeiro ímpeto de renovação espiritual e moral que deve levar o nosso país aos mais elevados destinos.”380 Getúlio Vargas era louvado e descrito como um genial e ilustre patriota, pela atitude de ter enfrentado todos os inimigos da civilidade e de não ter hesitado em dar aos “católicos o verdadeiro princípio da real liberdade, dirigindo o Brasil pela via segura de seu glorioso porvir.”381

Na campanha pela implantação do ensino religioso, a Igreja tinha de enfrentar outras correntes, como o movimento Educação Nova que pregava a laicidade do ensino e a sua centralização nas mãos do Estado; preconizava, também, um ensino estruturado em escala nacional com princípios e normas gerais cuja conotação pedagógica era “inspirada nos princípios de liberdade, atividade e originalidade no processo de ensino, em contraposição ao ensino tradicional, essencialmente formal e baseado em memorizações”.382 Por sua vez, o episcopado apresenta o seu próprio projeto e engajava-se nessa luta, principalmente o cardeal D. Leme e a intelectualidade que o cercava. A Igreja, na sua cruzada de reconquista da alma nacional, acreditava que o homem brasileiro precisava ser refeito desde dentro, sendo a educação o caminho mais próximo para esta redenção.383

Ainda, como observa Beozzo, a Igreja procurava impor-se nacionalmente, entrando em uma área de influência que até então se encontrava afastada - a sociedade urbana. A instituição, com forte penetração nas camadas rurais, não encontrava o mesmo espaço no mundo

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O atendimento a esta reivindicação fora facilitado pela presença no governo de elementos oriundos do Governo de Minas Gerais que ainda em 1929 havia autorizado o ensino religioso nas escolas públicas do Estado. Um destes homens foi Francisco Campos, empossado Ministro da Educação em 1931, intelectual que, juntamente com Gustavo Capanema e Amaro Lanari, haviam fundado no ano seguinte à revolução a “Legião de Outubro” que manteve estreitas ligações com o grupo de católicos do Centro D. Vital. Naquele exato momento foi através de Campos que a Igreja encontrou uma via de expressão mais sólida no novo governo, sendo ele mesmo a aconselhar Getúlio Vargas a aprovar o decreto de ensino católico nas escolas. Campos justificava a adoção da medida nos seguintes termos em carta ao presidente: “Neste momento de grandes dificuldades, em que é absolutamente indispensável recorrer ao concurso de todas as forças materiais e morais, o decreto, se aprovado por V. Excia., determinará a mobilização de toda a Igreja Católica de modo manifesto e declarado, toda a sua valiosa e incompatível influência no sentido de apoiar o governo, pondo ao serviço deste um movimento de caráter absolutamente nacional.” SCHWARTZMAN, Simon. A política da Igreja e a educação: o sentido de um pacto. Religião e Sociedade, 13/1, p. 118-119, mar. 1986. Disponível em. http://www.schwartzman.org.br/simon/alceu.htm.

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Staffetta Riograndense, 13 mai. de 1931.

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Staffetta Riograndense, 13 mai. de 1931.

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SCHWARTZMAN, 1986, op. cit., p. 114.

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secular urbano, embora a sua presença fosse marcante no Ensino Secundário. É importante destacar que todo o Ensino Primário era dirigido pelo Estado e aí estava uma importante parcela da população, especialmente as classes populares, que poderiam fornecer futuramente uma base de apoio à Igreja em seu projeto restaurador.384

Refletindo essas preocupações e o ideário católico nacional, ainda em 1930, o jornal publicava a Encíclica de Pio XI sobre a educação da juventude, e a publicação ocupava toda a primeira página. A Encíclica reforçava a necessidade de educação cristã como a única, verdadeira, adequada e perfeita forma de salvação, vinculando diretamente o catecismo cristão ao esforço educativo dos jovens e crianças. A sociedade, diz Pio XI, é dividida em duas ordens naturais e uma sobrenatural: as duas primeiras consistem na família e na sociedade civil – a terceira é a Igreja. Entre as três perpassa a influência educativa, porém só a terceira é capaz de dar ao homem a oportunidade de realizar os seus anseios mais sublimes; somente a Igreja “esposa imaculada de Cristo, gera e nutre a educação das almas na vida divina da graça com seus sacramentos e seus ensinamentos.” Educar é uma missão, “ensinai a todas as gentes” dizia Jesus, catequizar os gentios era uma obra ainda inacabada em diversas partes do mundo, fato que justificava a ação missionária que, segundo o pontífice, já havia se concretizado em diversos países constituintes agora da civilidade mundial.385

Tornar a educação religiosa obrigatória nas escolas era, portanto, uma questão de civilidade e que, por fim, reforçaria o sentimento de cidadania, evitando ao país cair em mão de força maligna. Nunca, como nos inícios dos anos 30, o Estado laico fora tão condenado e, como exemplo do que não deveria se transformar o Brasil, o Staffeta publica as arbitrariedades do Estado espanhol. A Espanha republicana é vista como dominada pelo comunismo que iludia a boa-fé de seu povo. Fazia pena olhar os camponeses e operários, gente humilde e pobremente vestida, protagonizando e ao mesmo tempo sendo vítimas do anarquismo e comunismo. A carnificina espanhola servia de alerta; os milhares de detentos, por contrariarem as diretrizes dos republicanos, também eram noticiados com destaque. Autoritarismo por autoritarismo, preferia- se o cristão - ao menos, as ingerências seriam em nome de Deus.

Nunca, também, cobrou-se tanto a cooperação entre o Estado e a Igreja, abaixo- assinados de paróquias do Rio Grande do Sul eram publicados, pedindo a Vargas que se

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BEOZZO, 1986, op. cit., p. 299.

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reconciliasse com a Cristandade e que assinasse uma concordata com a Santa Sé para regular as relações entre ambos. “A sociedade sem Deus” legitimava todo e qualquer tipo de violência, “a Justiça e a moral perdem a sua noção rígida, submetidos a um sórdido utilitarismo. A autoridade e a lei não tem outro alicerce senão a força bruta e, mediante esta, o legislador ateu julgará tudo lícito”. 386A democracia brasileira insultava a maioria do seu povo, pois não respeitava a sua índole. “Já basta de dolorosa experiência: a República sem Deus, em quarenta anos de existência redundou em triste fracasso. Em virtude da própria noção de democracia, o povo tem o legítimo direito de ser governado de acordo com as suas convicções.”387

A soberania popular não estava sendo respeitada, “o ateísmo na legislação e no governo não é nem pode ser a resultante e a legítima expressão da vontade de um povo religioso, não representa o verdadeiro regime democrático”.388 O regime das maiorias exigia um governo que legitimasse a crença de grande parte do seu povo; ao contrário, entraria em contradição com os seus próprios princípios, fato que seria um contra-senso, uma violação contra o que o jornal afirma ser a liberdade de consciência.

Apela-se não apenas à maioria cristã do presente mas também à tradição histórica do país. Em longos artigos intitulados “As Senhoras da Cruzada Feminina- Deus e Pátria”, traça-se a História do Brasil como fruto da ação do Catolicismo. Destacava-se que a Terra de Santa Cruz era desde o berço uma nação católica e

A República não tem o direito de ignorar o papel do ideal católico na formação de nossa nacionalidade, na nossa evolução histórica, social e política. Esse ideal combateu conosco em todas as nossas lutas pela integridade da Pátria, desde o regime colonial; compartilhou as nossas glórias, sofreu os nossos lutos, iluminou-se com as nossas alegrias, anuviou-se com as nossas dores: deu-nos o braço a alma e o sangue dos seus apóstolos para construir o nosso futuro e nossa grandeza em marcha. E ainda agora na gloriosa jornada de 3 de outubro, não tiveram os nosso heróicos soldados, a confortá-los moralmente, a incutir-lhes o ânimo e a coragem para a luta e resignação em face da morte, os ministros de um culto que a República de 89 excluiu dos quartéis e das escolas? E foi, por isso, menos bela a vitória?389

Aparece, inclusive, um certo saudosismo da antiga Monarquia, a qual, feita de homens honrados, não se comparava com o ateísmo inescrupuloso dos homens republicanos. Na Monarquia, Deus possuía o seu posto de honra, enquanto na República Ele havia sido banido, fato que comprovava a degeneração do sistema e que enfim obrigara os homens de bem a

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Staffetta Riograndense, 05 nov. de 1930.

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Staffetta Riograndense, 05 nov. de 1930.

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Staffetta Riograndense, 04 mar. de 1931.

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pegarem em armas em outubro de 1930. Derrubado o sistema ilegítimo, tratava-se de garantir a reordenação do novo, através de uma participação mais ativa nas decisões políticas do presente. Neste sentido, as eleições de 1933 pareciam ser a oportunidade para que a Igreja mostrasse a sua força e recobrasse de vez o espaço perdido na República Velha. Vargas reconhecia a importância do apoio da Igreja para legitimar-se no poder, tanto que, em grau de importância, colocava-a ao lado do Exército.390 Por seu lado, a Igreja procurava dar cada vez mais demonstrações de força em celebrações como II Congresso Eucarístico em Recife em 1933, e a inauguração da estátua do Cristo Redentor no Corcovado no Rio de Janeiro em 1931, contando, inclusive, com a presença do presidente Vargas. O comparecimento de grandes multidões dava a oportunidade de a Igreja impressionar e pressionar o governo a aderir a seus projetos. As grandes massas católicas agora também faziam parte do jogo político, instrumento do qual a Igreja se valia como fonte de prestígio diante do novo governo.

O Staffetta ocupa toda a primeira página da edição de 21 de outubro de 1931

para noticiar a inauguração do Corcovado. Nos festejos, dão-se destaque aos pronunciamentos episcopais, principalmente de D. João Becker e o Cardeal D. Leme - patriotismo e catolicidade se unem na exaltação comemorativa - o discurso de D. Leme termina com estas palavras: “Cristo vence, Cristo reina e, porque reina, a cruz não será jamais humilhada e abatida na nossa Pátria”. Em sua oração em consagração a Jesus Cristo, ocorrem as mesmas vinculações.

Senhor Jesus Cristo Redentor, nosso verdadeiro Deus, verdadeiro homem, que sois para o mundo única fonte de luz, de progresso e felicidade. [...] eis a vossos pés representado o Brasil, terra de Santa Cruz que se consagrou solenemente ao vosso coração sacratíssimo e vos reconhece para sempre seu único rei e senhor. Vós escolhestes no céu brasileiro a vossa cruz, de onde jamais poderá ser apagada, [...] O rei e senhor Jesus reina sobre nossa pátria. Queremos que o Brasil viva e prospere sob os vossos olhares. Queremos que o vosso povo seja sempre iluminado pela verdade de vosso Evangelho. Reina, ó Cristo Rei! Reina, ó Cristo Redentor. Ser brasileiro significa crer em Jesus Cristo, amar a Jesus Cristo, e esta sagrada imagem seja o símbolo do vosso domínio de vosso amparo, da vossa predileção da vossa bênção que paira sobre o Brasil e sobre todos os brasileiros...391

Antes mesmo da inauguração do Cristo Redentor, ocorrida em outubro de 1931, em maio, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, declarada padroeira do Brasil por Pio XI em 16 de julho de 1930, a pedido do episcopado brasileiro, fora trazida à capital federal; em procissão nas ruas da cidade, acompanhada por uma multidão de fiéis, foi consagrada por D. Leme em uma cerimônia que também contara com a presença de Vargas, de seu ministério e do corpo

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BRUNEAU, 1974, op. cit., p. 80.

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diplomático do Itamarati.392 Essas demonstrações de força seriam confirmadas nas eleições de 1933, sendo esta a oportunidade de a Igreja se fazer representar no campo político; no entanto, a sua estratégia eleitoral não passava pela criação de um partido393, mas sim pela constituição de um organismo que pudesse orientar os eleitores cristãos na escolha de quais os candidatos e