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2.5 FATOS MARCANTES NA HISTÓRIA DA ESAO

2.5.1 Registros históricos relevantes sobre a EsAO, da sua fundação até

2.5.1.1 De 1919 até o final da década de1920

No início do período em questão, um fato importante marcou a História Militar

Brasileira. Sob a influência da Missão Militar Francesa, se deu a criação da Escola

de Aperfeiçoamento de Oficiais (EAO), em 1919. Logo após a sua fundação, houve

uma busca contínua pelo desenvolvimento de um ensino militar de qualidade que

atendesse as demandas do combate daquele momento histórico.

Nos primeiros meses de 1920, a Escola foi instalada na cidade do Rio de

Janeiro-RJ, nas dependências do então 1º Regimento de Artilharia Montada,

atualmente 1º GAC AP. Seu primeiro comandante foi o Major José Maria Franco

Ferreira que comandou a Escola até julho de 1920.

A cerimônia de inauguração se deu no dia 8 de abril de 1920 e contou com a

participação dos instrutores franceses pertencentes à Missão Militar Francesa, além

de figura ilustre da História do Brasil, o então capitão Humberto Alencar Castelo

Branco, que viria a se tornar presidente do Brasil, em 1964.

Em 1924, a Escola foi transferida para o local que ocupa até os dias atuais,

no bairro da Vila Militar, Rio de Janeiro-RJ. No ano seguinte, sob a direção dos

instrutores franceses, foi criada, no interior da EAO, a Escola Provisória de

Cavalaria, que em 1927 passou a ter uma sede própria.

Em 1926, também nas dependências da instituição de ensino, foi criado o

chamado Centro de Transmissões, que se caracterizou como a origem da Escola de

Comunicações do Exército, criada em 1953.

Alguns anos mais tarde, por intermédio do decreto nº 18.696 de 11 de abril de

1929, foi aprovado um novo regulamento para o estabelecimento de ensino militar.

De acordo com esse documento, a EAO seria comandada por um coronel do

Exército e teria um Conselho de Administração.

Os principais membros desse Conselho recém-criado seriam o comandante,

como presidente, o fiscal administrativo, como relator, o ajudante e o

almoxarife-pagador. Além disso, definiu-se que o público alvo da Escola seriam os oficiais de

Infantaria, Artilharia e Engenharia.

Suas principais atribuições seriam aperfeiçoar instrutores e comandantes de

unidades combatentes, preparar comandantes de unidades táticas (batalhões e

grupos), aperfeiçoar oficiais superiores e ampliar a instrução militar de seu corpo

discente. Foi definido também que haveria, anualmente, um curso para oficiais

subalternos e capitães, também chamado de categoria A, e um curso para majores e

tenentes-coronéis, conhecido como categoria B.

No que tange especificamente ao ensino desenvolvido na Escola no período

de 1919 até o fim da década de 1920, em seus primeiros anos de funcionamento, a

Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais tinha o seu ensino militar fundamentado no

Decreto nº 13.451 de 29 de janeiro de 1919. Dentre os principais assuntos definidos

nessa legislação, cabe ressaltar que ela estabelecia que os instrutores da Escola

seriam estrangeiros, em virtude da contratação da Missão Militar Francesa.

Ainda conforme essa legislação, o corpo discente seria composto por capitães

e primeiros-tenentes de infantaria, cavalaria, artilharia e engenharia e o objetivo do

ensino seria completar a instrução dos militares alunos e aperfeiçoá-los para que

pudessem exercer as funções de instrutores e de comandantes das pequenas

unidades.

Conforme afirma Netto (2002), em 1921, o Estado-Maior do Exército

estabeleceu que a doutrina militar brasileira seguiria as orientações da “Instrução

Provisória sobre o Emprego Tático das Grandes Unidades”, visando unificar e

difundir a doutrina. Segundo esse documento, a manobra se caracterizava pela

primazia do fogo sobre o movimento, estando este numa condição de segunda

prioridade.

Além disso, enfatizava a centralização do comando durante todas as ações, o

que era alcançado por meio de meios de comunicações eficientes. Dessa forma, o

ensino militar da EAO passou a observar essas diretrizes que foram expressas em

manuais, notas de aula e regulamentos do estabelecimento ensino.

No que tange aos manuais que nortearam o ensino militar da EAO no período

em análise, ainda conforme Netto (2002), pode-se citar o Regulamento para Direção

e Emprego de Grandes Unidades, o Regulamento para o Serviço de Estado-Maior

em Campanha, o Regulamento para a Organização do Terreno, o Regulamento para

a Instrução dos Quadros e da Tropa e o Regulamento de Educação Física, todos de

1921.

De maneira geral, os manuais supracitados estavam embasados em alguns

ensinamentos oriundos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Dessa forma,

enfatizavam a supremacia do fogo sobre o movimento e estabeleciam a

necessidade da utilização do carro de combate, como arma de choque,

acompanhando a infantaria.

Consideravam também de grande valia dar uma importância rigorosa à

utilização do terreno, enfatizando a relevância das fortificações nas campanhas

militares e ressaltando a necessidade da observação do terreno, particularmente na

condução dos tiros de artilharia.

Outros aspectos importantes abordados nos manuais em questão foram o

entendimento da importância do emprego militar da aviação como fator determinante

para a vitória, a necessidade da mecanização e motorização das tropas militares e a

ênfase na ligação entre a artilharia e a infantaria para que o apoio de fogo pudesse

ser contínuo.

Também foi observada a necessidade de um gradual aumento da potência de

fogos dos regimentos de infantaria, destinando-lhes uma maior quantidade de meios

bélicos como morteiros, canhões, metralhadoras e o emprego de tropas em

pequenas frações, ou seja, a criação dos grupos de combate.

No que diz respeito ao aspecto tático, a EAO adotou o método de raciocínio

fundamentado em quatro fatores da decisão, que eram a missão, o terreno, o

inimigo e os meios. Esse método visava contribuir para a solução dos problemas

táticos do emprego militar das tropas brasileiras.

Para facilitar o entendimento prático desses novos conteúdos didáticos,

algumas unidades militares da então 1ª Divisão de Infantaria passaram a ser

empregadas como meio de instrução para auxiliar a formação do corpo discente da

Escola.

Ainda conforme o regulamento de 1929 surgiram algumas mudanças

importantes para a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Acerca da direção do

estabelecimento de ensino, foi definido que haveria dois tipos de direção: uma

direção de instrução e uma direção administrativa. Quanto à primeira, a

responsabilidade por sua condução caberia a um oficial superior da Missão Militar

Francesa. Já em relação à segunda, definiu-se que ela estaria sob a

responsabilidade do comandante da Escola.

Além disso, as questões de ensino estariam subordinadas ao Chefe do

Estado-Maior do Exército e as relativas à administração e à disciplina estariam

sujeitas ao Ministro da Guerra. Ainda conforme o documento de 1929, os trabalhos

escolares passaram a ser regulados por programas anuais de ensino. O responsável

pela organização desses programas era o diretor de estudos.

Deste modo, após o diretor de estudos planejar o conteúdo do ensino a ser

ministrado, o produto de seu planejamento era submetido à aprovação do Chefe do

Estado-Maior do Exército por intermédio do Chefe da Missão Militar Francesa. Vale

ressaltar também que o ensino militar da EAO foi dividido em duas vertentes:

instrução de ordem geral e instrução militar técnica.

A instrução militar geral fundamentava-se tanto no estudo de casos concretos,

na carta e no terreno, quanto em exercícios conjuntos das várias Armas. Esses

exercícios eram especialmente organizados com o fim de demonstrar aos discentes,

de forma prática, a maneira de cada Arma atuar em combate.

Esse modelo de instrução apresentava um conteúdo comum a todas as

especialidades militares e seu objetivo era ensinar aos discentes os conhecimentos

gerais concernentes às diversas Armas e os aspectos referentes à sua atuação em

conjunto. As disciplinas gerais eram táctica geral, organização do terreno, topografia,

transmissões e equitação.

Com relação à instrução técnica, ela também era ministrada nas salas de aula

e no terreno. Além disso, ela era peculiar a cada Arma e correspondia ao

conhecimento e ao emprego de cada uma delas. Na infantaria se estudavam as

disciplinas: tática de Infantaria, instrução de Infantaria e armamento, material e tiro.

Na artilharia se estudava: tática de artilharia, material e tiro e as instruções de

artilharia. Por fim, na engenharia as disciplinas ministradas eram: instrução de

engenharia, o emprego tático da engenharia e as especialidades técnicas da

engenharia.

Existiram ainda outros dois pontos interessantes constantes do regulamento

de 1929. Um deles dizia respeito à valorização da meritocracia, uma vez que foi

estabelecido que, anualmente, o ministro da guerra poderia enviar à França, a fim de

aperfeiçoar os conhecimentos em uma das escolas militares francesas, o melhor

aluno de cada Arma, do curso da categoria A.

O outro ponto de interesse se referia ao controle de pessoal, visto que foi

estabelecido que o militar mais antigo de cada turma de aula seria o chefe da

respectiva turma e deveria, constantemente, ter a responsabilidade pelo controle do

efetivo sob sua incumbência.