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Organograma 8 – Regimento de infantaria em 1942

2.3 CARACTERÍSTICAS DA DOUTRINA MILITAR BRASILEIRA NOS

2.3.2 A doutrina militar brasileira na segunda metade do século XIX

A partir de 1850, no contexto histórico do Império Brasileiro, houve um

despertar, por parte das autoridades militares, da necessidade da profissionalização

e modernização do exército. Diante dos avanços tecnológicos e militares dos países

industrializados, as lideranças militares brasileiras procuraram modernizar e

profissionalizar o exército, buscando implementar alterações no ensino, na

organização e na estruturação de suas tropas. Segundo Stumpf,

O então ministro da guerra Manoel Felizardo de Souza Mello realizou uma

profunda reforma na lei de promoções, estabelecendo rigorosos requisitos de

antiguidade, assim como prêmios de instrução, que proporcionaram aos

homens modestos chances de competir pelas promoções com membros da

elite, uma tentativa de abrir o Exército aos homens de talento. Conforme a

legislação em questão estabelecia, para ganhar uma patente, precisava-se: ter

dezoito anos, ser alfabetizado e estar no Exército há dois anos. Já as

promoções para primeiro tenente e capitão somente ocorreriam por tempo de

serviço, após dois anos em cada posto. Porém, como as vagas para

promoções demoravam a aparecer, na prática, os oficiais precisariam esperar

de quatro a cinco anos, em média, antes de cada nova promoção. Além disso,

metade das promoções dos oficiais superiores, de major a coronel, aconteceria

por tempo de serviço, e a outra metade por mérito. Destaca-se, também, que

as promoções por tempo de serviço exigiriam dez anos ou mais, muitas vezes,

até mesmo as promoções por mérito levariam de sete a oito anos. Além disso,

oficiais generais seriam escolhidos com base no mérito. Em zonas de combate,

por sua vez, existia a possibilidade de os intervalos de tempo entre as

promoções serem cortados pela metade; ao passo que, nas armas técnicas, ou

seja, a artilharia e a engenharia, as promoções apenas ocorreriam através de

estudo até o posto de major, pois a lei de 1850 determinava que todos os

oficiais pertencentes a elas, obrigatoriamente, deveriam ter concluído o curso

de nível universitário de suas armas e, consequentemente, aqueles que não

possuíam diplomas foram transferidos desses corpos para a infantaria e a

cavalaria. Assim sendo, “embora a lei de 1850 ainda que fornecesse margem

ao favoritismo e à política, ela estabeleceu requisitos mínimos de tempo de

serviço e educação, que acelerou com a transformação social e intelectual da

oficialidade”. (2010, p.62).

Ainda na década de 1850, houve a criação de uma segunda Academia Militar do

Império, situada na então província do Rio Grande do Sul - RS. Outra ação importante

foi a transferência das atividades militares práticas que ocorriam na Academia Militar do

Rio de Janeiro para a atual região da Praia Vermelha - RJ. Em função disto, os

militares formandos passaram a ter um período de internato de 02 (dois) anos antes de

irem para os corpos de tropa.

Entretanto, embora tenham ocorrido essas tentativas de profissionalização e

modernização na década de 1850, somente após a Guerra do Paraguai (1865-1870) e,

principalmente, após a queda da monarquia e a implantação da República, que o

Exército Brasileiro realmente pôde vivenciar, de fato, reformas profundas em toda a sua

constituição.

Após a Guerra supracitada, João José de Oliveira Junqueira Junior (1832-1887),

ministro da guerra entre os anos de 1872 e 1875, estabeleceu algumas mudanças na

formação dos militares, que ocorria na Escola Militar na Praia Vermelha - RJ.

O curso de formação militar para oficiais de infantaria e cavalaria passou a ser

realizado em 02 (dois) anos e o curso para os oficiais de artilharia em 03 (três) anos. Já

o curso para oficiais do Estado-Maior em 04 (quatro) anos e o curso para os

engenheiros militares em 05 (cinco) anos.

Outra importante medida do ministro Junqueira, visando suprir as lacunas de

efetivo do exército, foi o estabelecimento da polêmica lei de recrutamento militar de

1874. A norma tratava sobre o alistamento universal e estabelecia que todos os

homens com idade entre 19 e 25 anos deveriam, obrigatoriamente, servir por seis

anos.

Determinava também o sorteio de pessoas com a finalidade de preencher as

vagas que não fossem completadas por cidadãos voluntários e as vagas de militares

que terminassem o seu tempo de serviço.

No final do século XIX, o Exército Brasileiro estava estruturado da seguinte

forma: órgãos de direção setorial, Divisão Territorial Militar, EME, Secretaria da Guerra

e Ministério da Guerra. A figura a seguir mostra essa constituição:

Organograma 1 – Estruturação do Exército Brasileiro no final do século XIX

Fonte: Cadeira de História Militar da AMAN (2001)

Segundo Klein,

A Divisão Territorial Militar compreendia sete Distritos Militares (antigo

Comando das Armas), onde se encontrava a força terrestre. Esta contava

com as armas de infantaria, cavalaria e artilharia, que grupadas formavam

as Brigadas comandadas por um coronel. As unidades do Exército, em sua

maioria, concentravam-se no Rio Grande do Sul (35%), Rio de Janeiro

(10%) e Mato Grosso (5%). Seu efetivo total beirava os 18.000 homens. O

Batalhão de Infantaria organizava-se a quatro companhias, tendo como

armamento individual o Fuzil Mauser modelo 1891. Os regimentos de

Cavalaria contavam com quatro esquadrões, sendo dois de lanceiros e dois

de clavineiros. Os regimentos de Artilharia eram a quatro baterias, sendo

cada uma a quatro peças. Usavam, na maioria das unidades, o Canhão

Krupp 75 mm (tiro lento). Além disso, havia os Batalhões de Artilharia, que

guarneciam as fortalezas. Os Batalhões de Engenharia organizavam-se a

duas Companhias de Sapadores, uma de Pontoneiros e uma de

Telegrafistas e Ferroviários. Em 1908 a Engenharia surge como arma.

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(2001).

A figura a seguir apresenta a constituição das especialidades do exército no

final do século XIX e início do século XX:

Organograma 2 – Estruturação do Exército Brasileiro no final do século XIX

Fonte: Cadeira de História Militar da AMAN (2001)