• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – Processos Comunicacionais

4. Elementos do processo comunicacional

4.6. Emissor

4.6.2. Atitudes

………

Para Homero Ferrinho,

“Atitudes são sistemas constituídos pelo conhecimento, o sentimento e a tendência para agir em relação a um objecto. A natureza da atitude depende das características das suas componentes, das relações entre estas e das relações entre as várias atitudes100”.

Tanto as atitudes como as opiniões (respostas verbais a um estímulo) são respostas explícitas a determinados estímulos. As opiniões implicam quase sempre uma verbalização, ao passo que as atitudes são muitas vezes inconscientes, quase instintivas.

Para que se verifique eficiência na comunicação é necessário ter em conta as atitudes da fonte para consigo mesma, para com o assunto da comunicação e para com o destinatário. Estas atitudes podem ser positivas: gostar muito de si mesmo, do tema da mensagem, do destinatário; acreditar em si mesmo, no destinatário, no assunto, etc. Mas as atitudes também podem ser negativas: de repulsa, inferioridade, dúvida... Entre estes dois extremos situam-se as atitudes de indiferença, que não raro surgem e que tantas vezes provocam nos outros reacções de incómodo e irritação.

A Articulação – Não se devem arrastar nem comer palavras. Deve-se abrir a boca e mexer os lábios. Devem-se articular bem as palavras, para que não possam suscitar ambiguidade;

O Tom – O tom de voz é muito importante, não deve ser muito alto nem muito baixo, deve revelar confiança e interesse;

O Timbre – O grave é o melhor, já que, em confronto com o agudo, não produz tanta estranheza para o ouvido, a não ser que seja excessivamente grave;

A Modulação – A modulação é um excelente meio para manter o interesse e a implicação do aluno;

A Pronúncia – Não devemos preocupar-nos com o sotaque, devemos, sim, pronunciar as palavras todas e as sílabas todas;

A Velocidade – Não devemos ser nem muito rápidos nem muito lentos, para que as palavras sejam perceptíveis”. FACHADA, M. Odete – Psicologia das Relações Interpessoais. 2ª ed. Lisboa: Editora Rumo, 1998, vol I. p. 40-41.

Cap.II / Processos Comunicacionais

4. 6. 3. Sistema sociocultural

………

A fonte não é um agente independente. Apresenta-se condicionada pelo sistema sociocultural a que pertence, pela posição que nele ocupa, pelo prestígio que detém ou pelo ostracismo a que foi votada.

O sistema sócio-cultural, pelas suas normas, valores, tradições, modas, relações institucionalizadas, define os comportamentos socialmente aceitáveis, ou não, as expectativas existentes, os códigos disponíveis e quase todos os elementos que afectam o processo da comunicação. Neste contexto, é importante que o professor conheça o meio sociocultural onde actua, uma vez que tal conhecimento lhe irá facilitar a comunicação com os alunos.

Será pelo conhecimento do contexto sociocultural que o professor colaborará activa e eficazmente no desiderato de integração do aluno no ambiente do grupo, da escola e do meio envolvente. E a comunicação aparecerá muito mais consolidada e sortirá os seus objectivos.

4. 6. 4. Competências cognitivas

………....

Ninguém consegue estabelecer uma relação com outrém, de forma consciente, se não possuir informação sobre ele, quanto aos mais variados domínios e formas de relacionamento. Sem informação, não é possível adquirir e manter actualizado o conhecimento de uma situação nem pensar, participar, agir e tomar decisões em relação ao que quer que seja que a envolva, com vista a manter ou inovar.

É sobretudo da inteligência, do conhecimento e da reflexão que resultam diversos tipos de mentalidade e consequentemente diversos tipos de comunicadores.

Não podemos comunicar bem, se não possuirmos conhecimentos acerca daquilo que pretendemos transmitir. Contudo, se o conhecimento for excessivo, também podemos ter problemas ao nível da comunicação, dado que podemos não conseguir passar essa mensagem, por dificuldade em seleccionar a informação ou em mobilizá-la adequada e atempadamente, não ultrapassando o risco de congestionamento de conteúdos armazenados desordenadamente. Por isso, teremos de seleccionar a informação pertinente e adequar a mensagem ao destinatário, sem ambiguidades,

100

utilizando a capacidade intelectual e reflexiva e fazendo a promoção destas duas capacidades nos alunos: pensar e reflectir.

4. 7. Meio

O canal escolhido deve estar de acordo com o público alvo e ser bem acessível a ele. Para uma comunicação eficiente o melhor canal é o que consegue mobilizar o maior número de capacidades do destinatário para que estejamos perante uma percepção e interpretação correcta da mensagem. Por conseguinte, os melhores canais são os que permitem codificar mensagens que afectam o maior número de órgãos sensoriais do destinatário, pois estes gerem e modulam de formas diferentes o que as pessoas captam, percebem e retêm da mensagem. O que ouço, esqueço; o que vejo, recordo; o que faço, compreendo.

Devemos, por isso, ter em conta a selecção dos canais, que deve ser feita em função das características do destinatário, nomeadamente, número de alunos, conhecimentos que possuem, interesses que têm, entre outras; da natureza do código utilizado; das características do sistema social em que se processa a comunicação; dos recursos de que se dispõe; e dos objectivos que se definem.

4. 8. Código

O código é o sistema de signos 101(sinais e símbolos significativos) utilizado para formular a mensagem. Fala-se do código oral e do código escrito, quando nos referimos às manifestações, respectivamente, oral e escrita da língua. A escrita é hoje um código cujos símbolos são o alfabeto e as regras de combinação dos símbolos. Recebem também o nome de código as linguagens artificiais constituídas por unidades significantes (também denominadas sinais, signos e símbolos) e por um conjunto de regras de combinação destas unidades.

A forma sistemática de combinar os elementos de um código (sons, letras, gestos, etc.) é que proporciona a codificação da mensagem. A codificação ou montagem

101

Cap.II / Processos Comunicacionais

comunicativa é, pois, a operação que consiste em conferir um significante específico a um signo previamente dado. O código e a codificação têm de ser familiares ao destinatário, sob pena de a comunicação se tornar impossível, por não ser viável a descodificação ou desmontagem comunicativa, que consiste na relacionação que o receptor faz do significante percebido com o significado que lhe é atribuído. O código seleccionado deve fazer com que a mensagem tenha determinadas características, designadamente a expressividade e a economia. Pela sua expressividade, a mensagem torna-se perceptível para o destinatário, ou seja, este percebe e capta na íntegra as ideias e sentimentos que a fonte deseja transmitir, percebe-os com fidelidade e interpreta-os correctamente; pela sua economia, não deve a mensagem apresentar redundância excessiva, que consuma de forma desnecessária o tempo do destinatário e disperse a sua atenção.

Os signos, que constituem um código, quer sejam do âmbito linguístico quer sejam do domínio da simbólica, são sempre convencionais e arbitrários. É por isso que necessitam de aprendizagens, que se apresentam como consolidáveis, porque facilmente são absorvidas e assumidas socialmente, pelo menos enquanto a comunidade sente a conveniência da sua utilização.

Assim vejamos, o professor no seu todo é composto por signos, nomeadamente: a sua cor de pele, a sua indumentária, a sua maneira de falar, fornecem-nos indicações quer quanto à sua classe social, quer quanto ao seu nível de instrução e grau de educação, muitas vezes até quanto à sua origem geográfica, à sua auto-imagem, e à sua atitude para com os discentes. Por isso, ele socorre-se de uma multiplicidade de códigos que são de diversos tipos:

O Código Sonoro compreende os sons que são utilizados como forma de expressar ideias, emoções e experiências.

O Código Linguístico é o da linguagem que utiliza através da fala.

O Código Cinético compreende signos que implicam movimentos, tais como a linguagem gestual.

O Código Icónico que engloba o órgão sensorial da visão, pela compreensão das representações visuais dos objectos, tais como desenhos, fotografias …

Cabe ao professor a tarefa de conseguir manejar da melhor forma possível todos estes códigos, combinando-os como se de um sistema se tratasse.

5. Barreiras à comunicação

Nem sempre o contacto entre emissor e receptor é perfeito e a mensagem não é facilmente descodificável. Dizemos então que se levantaram obstáculos advenientes da produção de ruídos. Há ruído quando há disfuncionamentos que entravam a transmissão da informação. É por isso que frequentemente somos confrontados com a necessidade de ter um cuidado especial em estabelecer o contacto, verificá-lo e mesmo corrigi-lo.

Há ruído na comunicação oral quando um receptor não logra descodificar a mensagem: por inabilidade, cansaço ou, simetricamente, pela recepção imperfeita do receptor afectada por qualquer insuficiência interna ou externa. Há ruído na comunicação escrita por deficiência do suporte mal apropriado (papel, quadro, sistema electrónico ou informático) ou por dificuldade em o leitor reconstruir referentes ausentes ou em descodificar a situação de enunciação.

Detenhamo-nos um pouco no levantamento de alguns problemas detectáveis no processo de comunicação num contexto de instituição educativa segundo Richard Arends102.

PROBLEMAS QUE SE LEVANTAM RELATIVAMENTE À FONTE:

 O professor, por vezes, não percebe que é um mau comunicador ou não se convence disso;

 O professor está mais preocupado em expor a matéria, em desenvolver o programa, do que em comunicar, isto é, despertar nos alunos a atenção e o interesse, mobilizar a inteligência do aluno, induzir o diálogo e a participação e obter o feedback;

 O professor preocupa-se exclusivamente com os alunos mais inteligentes descurando todos os outros;

 O professor cientificamente é brilhante, mas é caótico a expor as suas ideias, a transmitir conceitos e os alunos, não entendendo nada, dizem

102

Cap.II / Processos Comunicacionais

que o professor sabe demais, mas que não gostam das aulas, porque não o conseguem entender;

 O professor utiliza conceitos que ainda não leccionou, mas parte do pressuposto de que os alunos os dominam;

 O professor coloca tantas ideias na sua exposição, que apenas algumas são retidas e compreendidas pelos alunos;

 O professor fala num tom de voz tão baixo, ou em tom tão monocórdico, que os alunos quase que ficam tentados a dormir um sono e a distraírem- se, não prestando atenção à aula;

 O professor não utiliza correctamente os audiovisuais ou usa e abusa destes instrumentos, que apenas devem ser utilizados de forma esporádica como elemento motivador das aulas e como suporte da acção pedagógica;

 Por último, o professor privilegia o monólogo, dado que adora alunos passivos, que pecam pela falta de participação nas aulas, mas que são muito «disciplinados» e bem «comportados», tornando os professores felizes.

PROBLEMAS QUE SE LEVANTAM EM RELAÇÃO AO DESTINATÁRIO:

 Os alunos estão dispersos, porque têm outros interesses e não foram motivados para a actividade em curso;

 Os alunos apresentam latentes problemas de saúde ou de mau estar pessoal e familiar;

 Os alunos estão fortemente condicionados pelos conteúdos e formas aderentes aos meios de comunicação social;

 Os alunos têm experiências de insucesso, contam com as rotinas de progressão escolar sem o nível aceitável de exigência, entram na linha do facilitismo;

 Os alunos estão cansados;

 Os alunos não simpatizam com o professor;

 Os alunos têm o apoio negativo dos pais e colegas e, por conseguinte, mostram-se indiferentes ou agressivos;

 Os alunos confundem tempos e lugares e não encontram autoridade no professor para a reposição da ordem.

PROBLEMAS QUE SE LEVANTAM EM RELAÇÃO AO MATERIAL E CANAL:

 A sala não é devidamente ventilada;

 A sala é demasiado fria ou demasiado quente;

 A sala não tem as condições de conforto, por via do mau dimensionamento;

 Os equipamentos estão degradados e tentam os alunos a provocar mais degradação;

 Os materiais estão mal elaborados, sem atracção, com erros ou gralhas;  Há demasiados ruídos na sala;

 A voz do professor é monocórdica, de deficiente dicção, demasiado melíflua ou excessivamente agressiva.

PROBLEMAS QUE SE LEVANTAM EM RELAÇÃO À MENSAGEM:

 Os conteúdos não estão organizados;  Os conteúdos não são verdadeiros;  A informação é claramente parcelar;

 A informação é contraditória ou inconsequente;  A informação é demasiado rotineira e sem interesse;

 A informação é claramente subversiva em relação à experiência acumulada, provocando estranheza e ruptura.

A este propósito, se fornece uma amostra de algumas situações problemáticas em contexto escolar, com as convenientes pistas de solução ao dispor do professor. Atente-se, pois, no quadro 1, onde se podem examinar as referidas situações e as pistas de reflexão.

Cap.II / Processos Comunicacionais

Quadro 2.1

Deficiências ao nível da comunicação professor/aluno

“As deficiências” - Conselhos ao professor O Professor na sala de aula:

«Não disse tudo o que queria dizer».

- Preparar a aula, através de planificação tecnicamente bem conseguida;

- Anotar com antecedência pontos fundamentais da aula para não os omitir;

- Apontar o que ficou por dizer, para ser dito na próxima sessão.

O Aluno na sala de aula: «Não entendeu o que o professor disse».

- Fazer um enquadramento favorável para introduzir o assunto;

- Motivar os alunos de forma convicta e atraente; - Em caso de interrupção, saber voltar atrás e

explicar tudo de novo de forma mais simples.

«Não ouviu nada do que o professor disse».

- Controlar a comunicação com perguntas; - Cuidado com a velocidade;

- Questionar os mais distraídos. «Não compreendeu o que ouviu do professor».

- Utilizar uma linguagem simples com exemplos reais para melhor compreensão da matéria.

«Não reteve o que o professor transmitiu».

- Fazer resumos parciais; - Fazer sínteses;

- Fazer recapitulações;

- Ministrar menos conteúdos de cada vez e provocar mais exercícios e interactividade. [Fonte: Elaboração própria]

Em suma, proceder a uma constante avaliação da actividade didáctica e investir mais na actividade pré-didáctica e pós-didáctica.

Documentos relacionados