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CAPÍTULO I – O Devir da concretização do direito à Educação e à Cultura

4. Decreto – Lei n.º 172/91, de 10 de Maio

“Este modelo estabeleceu uma estrutura participativa destinada à participação dos pais e da comunidade, criando um conselho de escola que seleccionava e nomeava o director da escola23”.

Foi a prática decorrente deste diploma implementada no ano lectivo 1992/1993, em 21 escolas a nível nacional e 3 áreas escolares, tendo-se alargado no ano lectivo seguinte a mais 28 escolas e 2 áreas, sendo, portanto, aplicado em regime de experiência em 49 escolas e 5 áreas escolares24.

De acordo com o art.º 5.º n.ºs 1, 2 e 3, os órgãos de direcção, administração e gestão dos estabelecimentos de ensino e das áreas escolares são os seguintes:

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FORMOSINHO, João , [et al.] – Autonomia da Escola Pública em Portugal. V.N. de Gaia: Fundação Manuel Leão, 2010, p. 59.

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FORMOSINHO, João – A autonomia das escolas em Portugal – 1987 – 2007. In Inspecção – Geral da Educação (Org.) As Escolas Face a Novos Desafios/Schools facing up to New Challenges: actas da Conferência. Lisboa: IGE, 2007, p. 73.

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FORMOSINHO, João, [et al.] – Autonomia da Escola Pública …, p. 44. 24

Os critérios de selecção da amostra não foram muito explicitados, não sendo a mesma representativa das escolas do país.

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• Conselho de Escola ou Conselho de Área Escolar; • Director Executivo;

• Conselho Pedagógico; • Conselho Administrativo;

• Coordenador de núcleo nos estabelecimentos agregados em áreas escolares.

O artigo 7.º refere que os conselhos de escola e de área escolar são os órgãos de direcção, respectivamente, da escola e da área escolar, e de participação dos diferentes sectores da comunidade, responsáveis, perante a administração educativa, pela orientação das actividades da escola ou área escolar, com vista ao desenvolvimento global e equilibrado do aluno, no respeito pelos princípios constitucionais e pelos princípios consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE).

A reforma da escola, de acordo com o decreto-lei n.º 172/91, consagra princípios que estão em consonância com as leis estruturantes do sistema educativo – Constituição da República, LBSE e decreto-lei n.º 43/89. A autonomia da escola passou a ser decisiva nos planos cultural, pedagógico, administrativo e financeiro exigindo, por isso, a transferência de poder para o âmbito local, tornando as instituições políticas locais cada vez mais autónomas. É referido no preâmbulo do normativo,

“O diploma define o modelo de direcção e gestão que, nas suas linhas conceptuais, é comum a todos os estabelecimentos de educação e ensino, mas que concretiza em modalidades específicas”.

J. Formosinho e J. Machado referem que a importância do decreto-lei n.º 172/91 lhe advém da sua concepção pluridimensional de escola, que […] se associa a uma intencionalidade de intervenção substantiva da comunidade local na definição e contextualização das políticas educativas, e que é corporizada nos princípios da representatividade, democracia e integração comunitária. Nessa conjuntura, propõe um órgão de direcção, integrando representantes da comunidade, e um órgão de gestão de topo25, constituído por professores e outros de gestão intermédia26. Comporta, do nosso ponto de vista, a concretização do preceituado pelo artigo 77.º da CRP:

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O órgão de gestão de topo é unipessoal coadjuvado por adjuntos. Assumindo este órgão competência técnica, limitando-se a gerir a escola de acordo com as directrizes do Conselho de Escola, é de alguma forma paradoxal a sua designação – Director Executivo.

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“1. Os professores e alunos têm o direito de participar na gestão democrática das escolas, nos termos da lei.

“2. A lei regula as formas de participação das associações de professores, de alunos, de pais, das comunidades e das instituições de carácter científico na definição da política de ensino.”

A composição do órgão de direcção da escola – Conselho de Escola – contempla representantes de todos os sectores da comunidade educativa procurando, assim implementar um modelo representativo e democrático. As competências deste órgão também vão no sentido da ampla integração comunitária da escola, como se pode ler no art.º 8.º da alínea j,

“Definir os princípios que orientam as relações da escola com a comunidade, com as instituições e organismos com responsabilidades em matéria educativa e com outras escolas, nacionais ou estrangeiras”.

O Conselho de Escola é um órgão que define os princípios fundamentais da escola, com a participação de representantes de todos os sectores interessados na educação, sendo ainda o principal promotor da integração da escola no meio envolvente.

O órgão de administração e gestão deve seguir as orientações do conselho de escola e agir em conformidade com a definição e prioridades da escola, conforme nos é referido pelo art.º 16.º, n.º1, […] “compatibilizando com as políticas educativas, tendo em vista níveis de qualidade de ensino que satisfaçam as aspirações da comunidade escolar”.

De facto, é referido no art.º 17.º, n.º 2, da alínea a), que ao director executivo compete “executar e fazer executar as deliberações do Conselho de escola”, devendo também submeter a aprovação por este órgão de documentos estruturantes que constam no art.º 8.º nas alíneas c), d) e e) respectivamente, Regulamento Interno27, Projecto Educativo28 e Plano Anual de Actividades29 e ainda conforme alínea g) apreciar relatórios trimestrais das actividades desenvolvidas. Também dependem da aprovação

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Cada escola deve ter um regulamento interno próprio, que constitui um conjunto de normas internas de procedimentos que define o regime de funcionamento da escola, dos seus diversos órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação educativa e dos serviços de apoio educativo, bem como dos direitos e deveres dos membros da comunidade.

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Constitui um dos principais instrumentos da autonomia das escolas, conjuntamente com o regulamento interno e o plano anual de actividades. Cada escola deve ter o seu projecto educativo, que configura o programa educativo da escola através da definição de estruturas de orientação educativa, da explicitação dos princípios, valores, metas e estratégias que a escola pretende atingir. O projecto educativo é implementado através do plano curricular de escola, do plano anual de actividades e do regulamento interno de escola.

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Cada escola deve produzir o seu próprio plano anual de actividades que é um documento onde estão plasmadas, através de uma planificação, todas as actividades da escola para cada ano lectivo, tendo por base na sua elaboração os objectivos do projecto educativo, não se podendo portanto dissociar deles.

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do Conselho de Escola os projectos de orçamento (alínea f), as contas de gerência (alínea i), bem como a definição dos “princípios que orientam as relações da escola com a comunidade” (alínea j).

A criação de alguns órgãos novos como este Conselho de Escola apresenta aspectos positivos, uma vez que detém competências muito superiores às dos anteriores conselhos directivos, permitindo assim uma abertura para uma crescente e gradual autonomia da instituição. Também queremos aqui salientar a criação de departamentos curriculares30 cuja medida poderia tornar-se determinante para a integração dos saberes dos alunos e permitir coerência na sua formação.

A designação do director executivo por parte do conselho de escola, a que alude o art.º 18.º, n.º 1, é de alguma forma dúbia, e o processo de selecção é, em nosso entender, ambíguo, porque acaba por não ser um método de eleição nem um método de selecção profissional, mas um misto dos dois. Se, por um lado, a gestão deve ser de cariz técnica, mencionando a formação especializada em gestão pedagógica e administração escolar, atendendo a este perfil, por outro, o director executivo é seleccionado de entre os candidatos de um concurso promovido pelo Presidente do Conselho de Escola, como é referido no ponto 2 do art.º 18.º. Segue as recomendações do Conselho Nacional de Educação31, que deu parecer favorável ao projecto do modelo de administração e gestão escolar em 13 de Dezembro de 1990. No entanto, esse parecer integra recomendações significativas. Por exemplo, sugere que os presidentes dos conselhos de escola e do pedagógico sejam docentes, não o devendo ser o director executivo, para que as funções de consulta e de execução não se tornem ambíguas.

Foi recomendado, ainda, a criação de um órgão colegial, evitando assim a unipessoalidade excessiva na gestão e os perigos de conflitualidade com os órgãos de direcção, admitindo a possibilidade de este órgão colegial substituir o Conselho Administrativo32. E o Conselho de Escola desempenhou, na prática, um papel pouco mais que simbólico, dadas as responsabilidades do director executivo perante a

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Composto por todos os professores que leccionem a mesma disciplina ou área disciplinar ou façam parte do mesmo grupo de docência, conforme o estipulado no art.º 37.º que nos dá a definição de departamento Curricular.

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Criado em 1982, pelo Decreto - Lei nº 125/82, de 22 de Abril, como órgão superior de consulta do então Ministro da Educação e das Universidades, com o objectivo de propor medidas que garantissem a adequação permanente do sistema educativo aos interesses dos cidadãos Portugueses; alterado pela lei n.º 31/87, de 9 de Julho; pelo Decreto - Lei n.º 89/88 de 10 de Março e pelo Decreto-Lei nº 423/88, de 14 de Novembro. Sofreu ajustamentos em 1991, 1996, 2005 e 2009, mas sem que tivessem alterado a matriz de 87, instituída pela Assembleia da República.

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O chefe dos Serviços de Administração escolar passava a ter direito de participação neste órgão, mas sem direito a voto.

administração central. Este modelo, em nosso entender, retira aos professores o direito de elegerem o órgão de administração da sua escola e sobretudo desvaloriza os órgãos de natureza pedagógica, já que o director executivo passa a exercer um controlo directo, e tido como eficaz, da escola. Acaba por gerir a seu critério e pretender alcançar os objectivos definidos por pessoas alheias à realidade da escola.

Embora possamos entender que a implementação experimental deste modelo possa ter sido pouco significativa e até ter apresentado pouca visibilidade, consideramos, apesar das críticas que lhe são feitas, ter-se revelado um marco notável ao nível da participação de outros actores educativos, que não só os membros da comunidade escolar, num órgão de direcção da escola e do alargamento da autonomia às escolas de todos os níveis de educação e ensino.

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