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O espaço urbano é o lócus da maior concentração da produção e reprodução da força de trabalho em uma região, especificamente na área central. A informalidade também tem sido alvo de muitas discussões nesse ambiente, talvez porque seja fruto das restrições impostas pelo mercado de trabalho (Pochmann, 2000) ou ainda por se tratar de uma opção própria do trabalhador (Cacciamli, 1983) – isso porque muitos trabalhadores atualmente estão deixando de se integrar ao mercado formal. Entretanto para alguns a crescente modificação na paisagem urbana ocorre em detrimento da redução dos postos de trabalho e do aumento do desemprego, ou por uma série de vários fatores conjunturais. Não obstante, tem-se verificado que ao contrário do setor formal da economia, o setor informal vem se expandindo a passos largos e em função disso a informalidade alcançou dimensões incalculáveis nos espaços urbanos.

Uma das características mais marcantes que envolvem a questão da informalidade é a discussão que algumas categorias ocasionam quando exercem suas atividades utilizando-se dos espaços públicos – a prática do comércio exercido pelos camelôs ou pelos ambulante como queiram é uma delas.

A invasão dos espaços públicos onde aparentemente existe uma maior dinamismo nas atividades formais, vem sendo observada quase que diariamente – s avenidas, praças do centro das cidades são pouco a pouco sendo ocupados por “uma variedade infinita de ofícios, uma multiplicidade de combinações em movimento permanente, dotadas de grande capacidade de adaptação” (Santos, 1997). Outro fator importante é a presença do público consumidor, se antes estes levavam em considerações fatores como qualidade, garantia e outras particularidades das mercadorias, agora não mais. A nova atitude desse público colabora ainda mais para acirrar a disputa entre o formal e o informal, é como se fosse um espetáculo de arena.

Quase sempre o foco das discussões, entre os participantes desse ou daquele setor, é acerca das ações que o Estado deveria estar fazendo. Se por um lado, este deveria desenvolver programas no sentido de minimizar o número de pessoas que encontram nas ruas e nos logradouros públicos uma forma de garantir seu rendimento e se manter22, por outro lado deveria desenvolver programas que solucionassem de forma efetiva a situação econômica do país, no sentido de reduzir a carga tributária, propiciar melhores condições de qualificação profissional, passasse a agir de forma mais transparente e ética e enfim, apresentasse melhores perspectivas para todos os segmentos sociais.

22 O número de comerciantes ambulantes vem sendo há longa data observado como o resultado

cristalizado do desemprego urbano, é como fizessem parte do asfalto e das calçadas na origem, na subsistência (Santos, 1997).

E notório que a redução desse fenômeno não está vinculado a nenhuma política pública quer de fomento ou de erradicação, o que pode-se prognosticar é que de acordo com as políticas e programas que se tem ainda esta longe de se ter uma solução para a questão da ocupação urbana. Quem não esta nem de um lado nem de outro do conflito relacionado ao espaço urbano não possui noção exata de quão importante refletir e discutir essas questões: será justo se apropriar do espaço público para garantir a própria sobrevivência? Existe legitimidade nas relações que ali se estabelecem? Até que ponto o poder público realmente se preocupa ou, melhor dizendo se incomoda com as atividades desenvolvidas fora de um estabelecimento comercial23? Quem e como se beneficia por esse conflito? Esse benefício é real ou aparente.

Nessa discussão observa-se a colaboração de Telles (1990, p. 33-4) quando considera que os comerciantes informais geralmente aparecem nas estatísticas como supérfluos e incômodos para a sociedade, mas, que não são tudo isto quando identifica-se o vinculo que os trabalhadores desse setor estabelecem com o setor formal da economia (Pires, 1995, p. 152).

Muitas idéias são concebidas com relação à prática do trabalho desenvolvido nos espaços públicos, preferiu-se, neste estudo, contemplar a idéia que Prandi (1978) desenvolveu ao observar que o trabalhador informal, mesmo os camelôs, que desempenham o papel de amenizar um conflito maior do que aquele que se estabelece no espaço geográfico, pois ele tenta solucionar os conflitos que as contradições sociais apresentam. Nesse sentido, é importante ressaltar o que

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A concepção de estabelecimento está associada a um conjunto de bens operados pelo comerciante. Compõem-se de coisas corpóreas (Vitrines, máquinas, equipamentos etc,) e incorpóreas estão o ponto, o nome, o título do estabelecimento, as marcas, a propaganda, o segredo de empresa.

comentou Telles (1990, p. 34-5) quando afirma que no espaço público, toda ação corresponde a “dar início a um novo começo”.

Sob este aspecto, os autores não levam à frente o sentido de apropriação e utilização do espaço comum, mas, sim, o de uma desigualdade que marca o desfavorecimento na vida de muitos trabalhadores e a saída encontrada para

superá-lo. Os antecedentes históricos que tratam das relações trabalhistas no Brasil, reforçam essa idéia quando se identifica o processo de distribuição de riquezas do país, que sempre se deu de forma desigual. Para Maricato (1996), as cidades brasileiras foram desenvolvendo-se e tornando-se importantes centros industriais e comerciais para a economia do país, sem, contudo promover as reformas urbanísticas que eram exigidas nesse mesmo período.

Dessa forma, encontra-se na história um processo de exclusão da mão-de- obra que não possui ocupação (negros, pedintes, desempregados etc.). Para driblar este problema social que vem perpassando década a década, a forma que essa mão-de-obra encontrou para sobreviver e garantir legitimidade à vida vêm se adequando de várias maneiras, e uma delas esta na prática do comércio informal. Cumpre ressaltar que não existiram fóruns ou debates que tentassem resolver essa situação. De um lado os comerciantes informais vão se estabelecendo, os formais vão buscando junto ao poder público formas de combate e não de solução.