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Economia e Setor Informal – Aspectos Conceituais

A crise econômica no cenário nacional marcou nesta, última década, o funcionamento do mercado de trabalho e uma das alterações mais observadas nas duas últimas décadas foi a expansão da chamada Economia Informal. A literatura

12 A idéia de empresas terceirizadas refere-se à contratação de mão-de-obra sem vínculo

especializada na área de economia do trabalho ainda aponta não raramente a associação entre a pobreza e o setor informal. Em decorrência disso, e das particularidades que o país enfrenta para se desenvolver, o tema “Informal” vem adquirindo cada mais relevância nos debates das ciências sociais e pode apresentar aspectos distintos que vão desde a evasão fiscal, e do sistema público de seguridade social, até meras atividades de sobrevivência.

A primeira definição oficial de Setor Informal, surgiu em 1972 na publicação de um estudo da OIT. Neste documento dois tipos de mercado trabalhavam concomitantemente, o primeiro formal, com presença de capital, processos de produção e tecnologia modernos, produção em grande escala, mão de obra qualificada e amparada por aspectos legais, um segundo setor não menos importante funcionava com capital escasso, processos e tecnologias rudimentares, produção em escala reduzida e ainda com mão de obra desqualificada e totalmente desamparada dos aspectos legais da legislação trabalhista e previdenciária.

A discussão posterior foi muito diversificada, e polemizou questões relevantes, mas todavia não alcançou consenso entre os pesquisadores desta temática. “O setor informal enquanto categoria abstrata, é menos objeto científico e mais uma mercadoria, objeto de transações entre agentes institucionais (...) “ (Miras, 1991,Tradução livre). Nesse contexto, Tokman (1978, p.103 tradução livre) observa que: “não existe uma definição (para o setor informal” que seja aceita por todos os autores pois (...) diferentes hipóteses sobre seu funcionamento são adotadas pelos diversos autores”.

Com o decorrer do tempo, mesmo sem uma conceituação precisa, o termo informal passou a ser utilizado significando, economia subterrânea, economia submersa entre outros. Tais termos não prosseguiram e dada a imprecisão

conceitual convencionou-se chamar de informal tudo o que não era formalizado. Dessa abordagem surgiu a classificação que a informalidade baseava-se na “produção de bens e serviços baseados no mercado, legal ou ilegal, que escapa da

detecção das estimativas oficiais do Produto Interno Bruto”. (Feige, 1994). Em outra

definição “toda atividade que contribui para o cálculo oficial ou observado do Produto

Interno Bruto mas são correntemente registradas” (Feige, 1994) e (Schneider,1994),

é uma atividade informal. Em outro ensaio apresenta-se que a informalidade esta relaciona a “toda atividade que geralmente seria tributada se fosse reportada às

autoridades tributárias” (Schneider e Enste, 2000). Em mais uma abordagem a

economia informal relaciona-se a “um conjunto de unidades econômicas que não

cumprem as obrigações impostas pelo Estado, no que se refere aos tributos e à regulação.” (De Soto, 1994).

Se existe uma dificuldade teórica na conceituação da informalidade, em termos práticos a imprecisão foi posta de lado, e convencionou-se classificar de informal a ocupação ou o trabalhador que estivesse desempenhando sua função sem o devido registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS13.

Diante dessa imprecisão conceitual os teóricos que abordam a economia informal analisam o quanto é difícil mensurá-la, essa dificuldade para a maioria dos estudiosos no assunto, deve-se ao caráter dinâmico da própria economia. Pode-se mencionar que os principais fatores econômicos que ocasionam o crescimento da economia informal estão relacionados ao crescimento da carga tributária (impostos, taxas, contribuições sociais etc.), ao aumento da regulação na economia oficial,

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A CTPS, ou Carteira de Trabalho e Previdência Social constitui-se em um documento personalíssimo de identificação profissional, indispensável para que o empregado exerça uma atividade laboral. Registra tempestivamente a vida profissional de seu portador, garantindo-lhe por lei o acesso aos direitos trabalhistas e previdenciários,

especialmente do mercado de trabalho (redução forçada do tempo do trabalho, aposentadoria precoce etc.), ao desemprego e à inflação. Somam-se aos anteriores, os fatores de natureza sociológica e psicológica, tais como o declínio da percepção da justiça e lealdade para com as instituições públicas, a redução do índice de moralidade e a redução do índice de percepção da corrupção, atuam complementarmente aos fatores econômicos na medida em que diminuem o custo de oportunidade da escolha dos indivíduos para atuar na informalidade.

A presença da economia informal em países considerados de alta renda são relativamente inferiores aos países subdesenvolvidos, porque geralmente estes apresentam uma carga tributária relativamente menor, poucas leis e regulações, e ainda um índice menor de suborno, contudo a informalidade está presente na maioria dos países europeus.

Com relação a seus efeitos, existe uma corrente doutrinária que identifica um resultado não satisfatório caso a economia informal se sobreponha à economia formal, pois isso implicaria em uma redução na receita tributária e conseqüentemente um desfavorecimento no volume de bens e serviços públicos destinados à sociedade14. Em contraposição uma outra corrente admite uma correlação positiva entre o crescimento da economia informal e a oficial, a partir do momento em que a entrada na informalidade é feita sem as imposições e restrições comumente observadas no setor oficial15. Dessa forma, nos países em desenvolvimento, a economia informal pode se manter em constante evolução, haja vista que o aumento do produto e da renda acaba facilitando o ingresso de parcelas

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Ocorrendo essa peleja entre a economia formal e não formal, e havendo uma sobreposição desta última sobre a primeira, apresentar-se-á um estado de declínio para o poder público, já que este não será capaz de provisionar a infra-estrutura essencial para o crescimento econômico.

desprovidas de recursos monetários a se integrarem na produção de bens e serviços capazes de gerar renda.

Não se pode mensurar o produto da economia informal, pois as informações sobre esta raramente estão disponíveis já que se processam de forma extremamente dinâmica.

No Brasil, após várias décadas de crescimento industrial, a economia vem tendo que se adaptar aos novos paradigmas de produção impostos pela globalização. A internacionalização da economia vem estimulando profundas mudanças e/ou evoluções nas estruturas das cadeias produtivas e nas organizações das empresas. Tanto na esfera administrativa como na operacional verifica-se uma transformação drástica nos níveis hierárquicos e postos de trabalho, a ponto de colocar em destaque à “questão da ocupação” elevando este tema a ser amplamente discutido nas esferas econômica, política e social do país. Dessa forma o crescimento da economia informal no Brasil, ainda não é mensurado com precisão, mas seus resquícios podem ser amplamente observados.

Para as empresas que oferecem postos de trabalho informais, no Brasil, trata- se da evasão fiscal, de fuga dos chamados encargos trabalhistas, para os trabalhadores além de representar uma opção a curto prazo, ou ainda significa também uma alternativa de sobrevivência16. Para o Estado significa, um declínio de receitas advindas dos encargos legais.

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Contudo, é importante destacar que esse ponto de vista pode conduzir à formulação de políticas públicas de emprego enviesadas. Por não se combater os aspectos prejudiciais ao trabalhador que a informalidade possa vir a trazer, conforma-se no sentido de que esta resolve o que o estado é incapaz de solucionar.

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Se o setor informal pode ser considerado uma estratégia de sobrevivência, isso ocorre a medida em que o trabalhador não encontra postos de trabalho no setor formal passa a desenvolver alguma atividade nesse setor, mesmo em condições precárias e não favoráveis, sem qualquer regulação nas relações de trabalho.

“Crise cambial, sobe e desce do dólar, inflação crescente, recessão,

alta dívida. São os ingredientes que fazem a cara do Brasil nessa transição de século e milênio. Tudo isso agravado por um tempero explosivo: desemprego. Para uma população economicamente ativa que representa 3% da mundial, o Brasil ostenta 6% do desemprego do planeta. Não é pouco, sobretudo se considerarmos o tamanho das nossas carências. Nesse contexto vão murchando os empregos com carteira assinada e cresce o trabalho informal, que muitos celebram como fato positivo”. (Pochmann, 2000, p. 16).