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Iniciamos o segundo encontro com uma breve conversa sobre o que os estudantes entendiam por “meio ambiente”. A visão geral deles era que esse tema estava ligado às questões sobre a natureza e os animais. Sugerimos que eles pensassem no lugar onde eles estudam e moram, se esses locais também fariam parte do meio ambiente que os cercam.

Após essa conversa inicial, pedimos para que eles procurassem e lessem o informativo “O que você pode fazer para ajudar” (CEREJA; MAGALHÃES, 2012, p. 241). Em seguida, cada estudante leu uma parte desse texto do LD.

Depois da leitura, fizemos alguns questionamentos sobre: qual era o tema trabalhado, o que as imagens falavam sobre o conteúdo, qual era o formato e como as sentenças estavam dispostas. Os estudantes concluíram que se tratava de um cartaz informativo e que o uso de ordens nas frases demonstrava que o texto tinha como objetivo ensinar como ter um meio ambiente mais saudável.

Realizadas essas discussões, dispusemos no quadro da sala de aula, por meio de fichas, alguns lexemas que se relacionavam ao texto: biodegradável, consumo consciente, contaminação, descartável, desperdício, dois lados da folha, embalagem retornável, lixo seco, produto a granel e reciclar. Posteriormente, formamos cinco grupos, de modo que cada um ficou com um par de palavras (“conjunto de palavras”) para pesquisar o significado a partir do texto, do dicionário escolar ou por meio da Internet. Desse modo, a maioria dos jovens preferiu a pesquisa virtual.

Solicitamos, em seguida, que eles sugerissem um antônimo para suas palavras. Nesse momento, os estudantes encontraram muita dificuldade. Eles conseguiram expressar apenas o antônimo de consumo consciente – inconsciente; lixo seco – molhado e contaminação – descontaminação. Ao questionarmos sobre o que eles entendiam por antônimo, as suas respostas direcionavam para “coisas opostas”. Com isso, ponderamos sobre a necessidade de ampliar as noções sobre antonímia.

Nessa etapa, mostramos outras fichas com possíveis antônimos dos lexemas apresentados: bioindecompostável; consumo inconsciente, irracional, leviano; preservação, conservação, descontaminação; funcional, reciclável; aproveitamento; um lado da folha; embalagem descartável; lixo molhado, orgânico; produtos ensacados; e desperdiçar. Perguntamos se o numeral “um” poderia ser considerado o oposto de “dois”. Foi unânime a resposta negativa.

Nesse momento, explicamos que os antônimos não precisam indicar, necessariamente, somente um conjunto de “palavras” opostas, mas poderiam representar, de modo mais amplo, “palavras” que estão em contraste (LYONS, 1981; VILELA, 1994; PICOCHE, 1977). Assim, desenhamos uma linha contínua no quadro da sala de aula com as seguintes inscrições (figura 41):

Figura 41 – Registro de exemplos sobre antônimos

frio morno quente

nunca às vezes sempre

um cinco dez

Fonte: elaborada pela autora.

A partir dessa linha contínua, refletimos se as palavras eram opostas ou se distanciavam uma da outra pelo sentido. Eles concluíram que “Frio” poderia ser oposto de “Quente”, mas havia uma diferença em relação a “Morno”. O mesmo acontecia entre “Nunca” e “Sempre”. Em relação aos numerais, eles expuseram que não é uma oposição, mas uma diferença pela quantidade.

Com essas análises realizadas pelos participantes, construímos a ideia de que os antônimos são relações de contrastes e que elas podem aparecer por meio de diferentes formas, como a oposição ou a gradação, por exemplo. Após essas explicações, ainda com as fichas dispostas, cada equipe organizou no quadro as palavras com seus correspondentes antonímicos, expondo os seus significados.

Finalizadas essas etapas de pesquisas, explicações e análises, demos início ao jogo KWordQuiz. Encontramos alguns empecilhos nessa fase: mau funcionamento do aparelho de Datashow, ferramenta utilizada para operacionalização do jogo, e ausência de cabos para conexão entre o computador e o Datashow. Conseguimos contornar esses problemas com a ajuda da coordenadora pedagógica e do professor da sala de informática, que disponibilizaram a sua aparelhagem particular para que a atividade acontecesse.

Com as ferramentas materiais disponíveis, formamos dois grupos para competição. Iniciamos com a fase fácil do jogo, que consistia em mostrar a palavra e as opções de múltipla escolha para sua relação de antonímia. Os grupos escolhiam um membro da equipe para responder, enquanto os outros poderiam fazer anotações das palavras que apareciam, a fim de que, se elas fossem selecionadas novamente pelo programa, eles já teriam a resposta anotada.

A próxima fase do jogo consistiu em perguntas e respostas (sem a presença da múltipla escolha). Como o KWordQuiz embaralha automaticamente as “palavras”, coincidia de uma equipe responder uma série de questionamentos considerada pelos participantes como “mais fácil”. Essa característica do jogo fez com que houvesse uma empolgação com a atividade.

Nessa fase, não era mais permitido fazer as anotações nos cadernos. Essa regra proporcionou uma maior concentração e silêncio durante as respostas.

A última fase foi a mais difícil, pois os estudantes teriam de dizer o antônimo e digitar a palavra para depois checar no programa se a resposta estava adequada ou não. Cada membro selecionado tinha um momento de discussão com sua equipe. Entretanto, na hora da digitação ele a executava sozinho.

Realizamos muitas vezes todas as três fases do jogo a pedido dos estudantes. Eles solicitaram também que nós ensinássemos as instruções para baixar o programa no computador domiciliar e como montar as atividades, pois eles queriam continuar o jogo em suas casas. Oferecemos tais direcionamentos e orientamos que as atividades poderiam ser elaboradas tanto com a antonímia quanto com a sinonímia.

Após o jogo, os estudantes propuseram que em vez de cartaz, mostrando o que podemos “curtir” ou “não” em relação ao trato com o meio ambiente, reuníssemos dois grupos, evidenciando o que seria bom ou ruim para a natureza, a partir do texto lido. O registro dessa disposição foi feito por meio de fotos, como consta a seguir:

Figura 42 – Elaboração textual imagética

Essa atividade foi avaliada pelos participantes como divertida e sem dificuldade de compreensão. Em uma das avaliações, uma participante registrou que: “(...) não queria que acabasse porque a gente gostou (...) se fosse para ficar a tarde toda, eu ficaria”.

Os participantes afirmaram, ainda, gostar de jogos, mas reconheceram que vencer não era o mais importante, conforme o seguinte relato do participante 2 : “(...) eu aprendi que não importa se ganha ou não, mas sim se diverte”. Por fim, no momento de socialização, eles concluíram que a palavra do dia foi “bioindecompostável”, devido ao significado, tamanho e por eles nunca terem imaginado que ela poderia ser o antônimo de “biodegradável”.

Avaliamos que essa atividade permitiu que trabalhássemos com a amplitude conceitual sobre as relações antonímicas (VILELA, 1994). Além disso, o caráter lúdico do jogo contribuiu para que ocorresse uma frequência de contato com o novo vocabulário trabalhado. Segundo Biderman (2001d), essa reiteração para familiaridade com as novas “palavras” é um fator importante para a ampliação de vocabulário.