• Nenhum resultado encontrado

PARTE II – ÁREAS DE INTERVENÇÃO

Capítulo 4 – Avaliação de atividades com TIC

3.1 Atividade “Silêncio Instantâneo!”

A primeira atividade a ser implementada foi a atividade “Silêncio Instantâneo!” que se centra numa ferramenta digital, e tem como principal objetivo controlar o comportamento das crianças em sala de aula, diminuindo o seu ruido. Para tal é necessário um software chamado “Bouncy Balls” que reage ao ruído. Na aplicação é possível ver diversas bolas coloridas, ou ainda outros elementos à escolha como, bolhas de sabão, olhos coloridos e emoticons. O software necessita de aceder ao microfone do aparelho para controlar os níveis de ruído, e quanto mais elevados estes forem mais as bolas se movimentam. Quando há silêncio as bolas ficam paradas no fundo do ecrã. É possível aplicar esta atividade numa abrangente faixa etária, que pode ir dos 3 aos 12 anos de idade.

A turma em questão tem crianças com idades entre os 3 e os 5 anos e pertence ao ensino pré-escolar. A sala de aula está bem equipada, com computador, microfone, colunas e quadro interativo, pelo que foi possível ter acesso a todos os recursos necessários para a realização da atividade. A atividade “Silêncio Instantâneo” foi introduzida num dia normal de aulas, com o objetivo de monitorizar e diminuir o ruído feito pela turma, no decorrer habitual das suas atividades letivas.

A educadora decidiu introduzir esta atividade como sendo um jogo, pelo que no início do dia reuniu a sua turma e explicou as regras do mesmo. A educadora projetou na tela de projeção o software “Bouncy Balls” e explicou aos alunos que as bolas reagiam ao ruído e que se houvesse silêncio elas permaneceriam sossegadas. Para que os alunos pudessem constatar a reação das bolas, a educadora pediu para irem, individualmente, ao computador gritar no microfone.

De um modo geral, todos os alunos gostaram de ter ido gritar ao microfone e de ver as bolas coloridas a saltar. Enquanto um colega estava no computador, os restantes observavam as bolas, visivelmente entusiasmados. Quanto maior o nível de ruído mais alto e mais rápido as bolas se movimentam. Os alunos pareciam gostar bastante desse estímulo visual, uma vez que chegavam mesmo a incentivar-se uns aos outros ao pedirem para gritarem o mais alto que conseguissem. Por fim, a educadora sugeriu que fossem todos em conjunto dar um último grito ao microfone para que depois disso as bolas pudessem descansar.

56

Após a introdução da atividade “Silêncio Instantâneo” os alunos retornam ao normal funcionamento das aulas. A educadora e a auxiliar pedem à turma para fazerem silêncio de modo a que as bolas pudessem descansar e começam a dar a aula como habitualmente, deixando a aplicação “Bouncy Balls” projetada em plano de fundo na tela de projeção.

Iniciou-se a apresentação teórica do tema a ser trabalhado naquele dia, e de um modo geral a turma manteve-se em silêncio, mas pontualmente quando eram chamados a intervir exaltavam-se um pouco, falando vários alunos ao mesmo tempo e desencadeando um ruído incómodo na sala de aula. Sempre que tal acontecia os alunos eram chamados à atenção, tendo como justificação o facto de não deixarem as “bolinhas” descansarem. Com as chamadas de atenção, momentaneamente, a turma acalmava-se e ficava em silêncio, no entanto, este comportamento não se mantinha por muito tempo uma vez que rapidamente os alunos se voltavam a esquecer da aplicação “Bouncy Balls” e retornavam à conversa.

Logo que começou a parte prática da aula, os alunos dirigiram-se para as mesas e ficaram a aguardar instruções da educadora e auxiliar. Enquanto não começavam a trabalhar havia muita conversa e ruído, chegando mesmo alguns alunos a bater com as mãos na mesa para que as bolas projetadas na tela saltassem ainda mais. Sempre que um aluno iniciava um comportamento deste género, vários colegas o seguiam. Nesse momento da aula apesar dos alunos terem sido chamados à atenção pela reação que o ruido estava a desencadear nas bolas, o mau comportamento manteve-se, chegando até alguns dos alunos a intensificar o ruído para um maior efeito.

A educadora afirma que esta atividade resulta mais como um jogo uma vez que ao pedir aos alunos para fazerem silêncio e deixarem as bolas descansar eles acalmam- se. De outra forma, os alunos dispersam e acabam mesmo por se esquecer do que está a ser projetado na tela.

No decorrer das atividades práticas os alunos conversavam entre si num tom alto até que a certa altura um aluno se levanta e vai ao microfone fazer barulho para ver as bolas a movimentarem-se mais. Este parece ser um comportamento que agrada aos alunos pois apesar da chamada de atenção da Educadora afirmando que assim as bolinhas se iriam cansar, vários colegas seguiram o mesmo comportamento do primeiro aluno e juntaram-se a ele no computador.

Após poucos minutos a educadora decide chamar a atenção da turma para a aplicação ao alterar os elementos projetados de bolas para olhos coloridos. A turma ficou

57

surpreendida e agradada com esta mudança e alguns alunos quiseram logo correr para o microfone para testar a sensibilidade destes novos elementos. Um pequeno grupo juntou- se no computador e ao constatarem que os olhos se movimentavam mais do que as habituais bolas gritaram em coro para um maior efeito visual.

A educadora depois de ter mostrado as novas opções do software aos seus alunos e de ter permitido que os mesmos testassem o ruido tenta encorajá-los a voltarem à atividade que estavam a realizar anteriormente, dizendo que os olhos também ficam cansados, no entanto, alguns alunos permanecem ainda assim junto ao computador e conseguem até perceber como se alteram os elementos. Um dos alunos altera os olhos coloridos para bolas de sabão, entusiasmando os restantes colegas que observam as mudanças através da tela de projeção. Os alunos permanecem por mais uns minutos junto ao computador a explorar as funcionalidades da aplicação “Bouncy Balls” e em seguida voltam para os seus lugares.

Após a conclusão da atividade prática e a arrumação da sala de aula a turma encontra-se novamente reunida junto à tela de projeção à espera da presença da educadora e auxiliar que ainda circulam pela sala. Os alunos conversam entre si e a educadora pede que façam silêncio, no entanto, poucos segundos depois volta a haver ruido na sala pois os alunos começam a gritar para verem os elementos em movimento. A educadora repreende os alunos perguntando-lhes porque estão a gritar ao qual os mesmos respondem, de forma natural, que é para verem as bolas a saltar.

Posto isto a educadora senta-se junto aos alunos e decide fazer-lhes algumas perguntas sobre a aplicação “Bouncy Balls”, tais como de que elementos eles gostaram mais e porquê bem como se tinham gostado do “jogo”. De um modo geral toda a turma gostou muito do “jogo” e do que mais gostaram foi de ver as bolas a saltar. Vários alunos perguntam se podem voltar a fazê-lo. A educadora responde que nesse caso teriam de fazer mais silêncio, no entanto os alunos querem repetir o “jogo” para poderem voltar a ver aquele estímulo visual.

Por fim, os alunos descobrem que também é possível rebentar as bolas e com a supervisão da educadora e da auxiliar dirigem-se individualmente ao computador para cada um rebentar uma bola, clicando sobre a mesma com o rato. A atividade termina com a educadora a sugerir, tal como no início, que toda a turma vá em conjunto gritar ao microfone.

Após a implementação da atividade “Silêncio Instantâneo” numa turma de pré- escolar foi possível concluir que os seus objetivos não foram alcançados da forma

58

esperada. Esta atividade prometia, tal como o título indica, “silêncio instantâneo”, no entanto, neste caso em particular, isso nem sempre se verificou dado que os alunos acabavam por ter o comportamento oposto.

Tal como descrito no início, esta atividade tinha por base um software que reagia ao barulho mostrando vários elementos em movimento sempre que detetasse ruído. O objetivo era que os elementos permanecessem inertes o que significaria que os alunos estavam em silêncio. Na turma em que a atividade foi implementada o efeito foi o oposto uma vez que os alunos faziam ruido propositadamente para verem as bolas a saltar.

É possível concluir, através da análise dos comportamentos dos alunos, que o objetivo dos mesmos não era terem um mau comportamento, mas sim poderem ver as bolas em movimento. Os alunos nitidamente gostavam do estímulo visual que a aplicação lhes proporcionava e agiam de acordo com isso. A educadora chamava regularmente a atenção dos alunos usando como argumento o facto de as bolas ficarem agitadas e cansadas mas, ainda assim, o silêncio era breve dado que os alunos ou se esqueciam da aplicação e voltavam ao ruido habitual, ou faziam barulho de forma propositada por desejarem ver o movimento dos elementos.

Torna-se fundamental perceber o que levou o comportamento dos alunos a desviar-se do objetivo principal desta atividade.