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PARTE II – ÁREAS DE INTERVENÇÃO

Capítulo 5 – Formação de professores em TIC

1.2 Formação de professores em TIC

Tendo em conta o objetivo da presente área de intervenção, desenhar e planificar uma oficina de formação destinada a professores para o uso das tecnologias, é importante compreender que competências estes deverão possuir de forma a serem capazes de

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interpretar e interiorizar o lugar e o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação na escola.

A Portaria n.º 731/2009 de 7 de Julho estabelece o sistema de formação e de certificação em competências no domínio das tecnologias de informação e comunicação, TIC, a aplicar aos docentes em exercício de funções nos estabelecimentos de ensino pré- escolar e dos ensinos básico e secundário.

De acordo com Costa, Cruz, Fradão & Rodriguez (2012) a competência TIC é considerada como “a possibilidade de mobilização de capacidades, conhecimentos e atitudes em situações de ensino e aprendizagem, em que o uso das tecnologias é relevante para resolver com sucesso os problemas aí suscitados tomando como objeto de trabalho as quatro competências transversais em TIC (…) ou seja, Informação, Comunicação, Produção e Segurança” (p. 87). Os autores acrescentam, ainda, que a decisão individual de cada professor constitui o fator determinante para a utilização efectiva das tecnologias nas atividades letivas, “pelo que se torna particularmente relevante incidir sobre as formas de adquirir as competências indispensáveis e de as mobilizar, para que se tornem agentes de transformação do processo de ensino-aprendizagem” (id., p. 88).

É fundamental que o professor seja capaz de interpretar o seu currículo, o papel dos alunos no processo de ensino-aprendizagem e a compreensão e o conhecimento acerca do potencial pedagógico das tecnologias. O aluno deverá desempenhar um papel ativo utilizando as tecnologias de um modo relevante, muito para além do que apenas a transmissão de informação, de forma a originar uma aprendizagem significativa e profunda. Para que o professor se sinta confiante na utilização pedagógica das tecnologias deve, em primeiro lugar, conhecer as competências necessárias para tal e assumir uma postura ativa relativamente ao percurso formativo a percorrer.

Foi concebido um Referencial de Competências TIC para Professores que apresenta um conjunto de dez macro competências fundamentais para uma utilização adequada e consciente das tecnologias na educação. O professor: “detém conhecimento actualizado sobre recursos tecnológicos e seu potencial de utilização educativo; acompanha o desenvolvimento tecnológico no que implica a responsabilidade profissional do professor; executa operações com Hardware e sistemas operativos (usar e instalar programas, resolver problemas comuns com o computador e periféricos, criar e gerir documentos e pastas, observar regras de segurança no respeito pela legalidade e princípios éticos,…); acede, organiza e sistematiza a informação em formato digital (pesquisa, selecciona e avalia a informação em função de objectivos concretos…);

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executa operações com programas ou sistemas de informação online e/ou off-line (aceder à Internet, pesquisar em bases de dados ou directórios, aceder a obras de referência,…); comunica com os outros, individualmente ou em grupo, de forma síncrona e/ou assíncrona através de ferramentas digitais específicas; elabora documentos em formato digital com diferentes finalidades e para diferentes públicos, em contextos diversificados; conhece e utiliza ferramentas digitais como suporte de processos de avaliação e/ou de investigação; utiliza o potencial dos recursos digitais na promoção do seu próprio desenvolvimento profissional numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida (diagnostica necessidades, identifica objectivos); e, compreende vantagens e constrangimentos do uso das TIC no processo educativo e o seu potencial transformador do modo como se aprende” (Costa, 2008, p. 18).

Segundo Costa, Cruz, Fradão & Rodriguez (2012) este referencial constitui “não apenas um bom ponto de partida para ajudar cada um a situar-se relativamente ao uso das tecnologias, como também poderá servir de base de autodiagnóstico de necessidades de formação nessa área e à tomada de decisão sobre o seu percurso formativo” (p. 90).

No entanto, esta apropriação do uso pedagógico das tecnologias acontece de forma lenta e gradual, tal como sugerem os resultados alcançados no projeto Apple Classrooms of Tomorrow (ACOT) que identificam cinco estádios evolutivos para a integração efectiva das ferramentas digitais nas praticas pedagógicas: no primeiro estádio, Exposição ou Entrada, “o professor inicia o processo de exploração das tecnologias e desenvolve algumas competências técnicas essenciais ao seu uso”; no segundo estádio, Adoção, “o professor passa a usar algumas das tecnologias disponíveis ao serviço de práticas de ensino tradicionais”; no terceiro estádio, Adaptação, “o professor integra o uso das tecnologias nas suas práticas como forma de ampliar o potencial produtivo dos alunos”; no quarto estádio, Apropriação, “o professor já domina suficientemente determinadas tecnologias, avalia criteriosamente o seu potencial do ponto de vista pedagógico e passa a utilizar algumas delas no desenvolvimento de projeto interdisciplinares e colaborativos”; e, por fim, no quinto e último estádio, Inovação ou Invenção, “o professor explora novos contextos do uso das tecnologias tendo sempre como objetivo a articulação e a adequação do seu potencial a objetivos mais ambiciosos de aprendizagem dos alunos” (Costa; Cruz; Fradão; Rodriguez, 2012, p. 91).

Tendo em conta a existência de estádios de desenvolvimento é possível definir três níveis de certificação para o desenvolvimento profissional do professor. O projeto Competências TIC elaborou um Referencial de Competências em TIC para Professores e

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definiu estes três níveis em: 1. Competências Digitais; 2. Competências pedagógicas em TIC; e 3. Competências pedagógicas em TIC de nível avançado. O primeiro nível, relaciona-se com o domínio do uso das TIC e é onde o professor apenas “utiliza instrumentalmente as TIC como ferramentas funcionais no seu contexto profissional”; o segundo nível relaciona-se com o domínio do uso das TIC para uso pedagógico e didáctico e é onde o professor “integra as TIC como recurso pedagógico, mobilizando-as para o desenvolvimento de estratégias de ensino e de aprendizagem, numa perspectiva de melhoria das aprendizagens dos alunos”; por fim, o terceiro nível relaciona-se com a inovação e criação no uso das TIC e é onde o professor já “inova práticas pedagógicas com as TIC mobilizando as suas experiências e reflexões, num sentido de partilha e colaboração com a comunidade educativa, numa perspectiva investigativa” (Costa, 2008, p. 73).

De acordo com Costa, Cruz, Fradão & Rodriguez (2012), analisando estes três níveis de apropriação das competências TIC é possível distinguir três etapas, uma primeira em que as TIC constituem um objeto de aprendizagem em separado e que incide nos saberes tecnológicos, uma segunda em que as TIC se encontram ao serviço das aprendizagens curriculares o que não implica necessariamente mudança nos objetivos definidos e nos resultados; e, uma terceira etapa em que as TIC se encontram ao serviço de competências transversais e que inclui essencialmente aprendizagens que não podem ser adquiridas sem recurso às TIC.

De modo a alcançar o terceiro nível em que o professor é capaz de demonstrar amplo conhecimento das ferramentas TIC e compreender o seu potencial no desenvolvimento profissional e na inovação pedagógica, é fundamental desenvolver cursos de formação em que o domínio da técnica não esteja dissociado do domínio do conteúdo disciplinar e da prática pedagógica.

Costa, Cruz, Fradão & Rodriguez (2012) consideram que “se, por um lado, o professor precisa de dominar os conteúdos da sua área disciplinar, por outro, é a sua competência pedagógica que o torna um bom profissional da educação. São estes dois domínios que, quando devidamente articulados, constituem o saber específico do professor e o distinguem de um pedagogo ou de um especialista da área” (p. 94).

É, igualmente essencial desenvolver tipos de formação que assentem na colaboração entre pares e em problemas da realidade profissional que conduzam os professores à reflexão, questionamento, aprendizagem, partilha e desenvolvimentos de novos métodos de ensino envolvendo as tecnologias digitais, sendo que só desta forma os

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professores podem compreender o potencial das tecnologias para o ensino e aprendizagem.

Independentemente da estratégia de formação escolhida, a visão limitada das tecnologias enquanto estratégia de transmissão do saber só será ultrapassada se o professor articular o conhecimento tecnológico com o conhecimento didáctico- pedagógico que possui, conduzindo desta forma a uma aprendizagem significativa e profunda.