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2.3 AS FUNÇÕES DOS PARQUES URBANOS

2.3.2 Função Social

2.3.2.1 Atividades associadas à função social e qualidade de vida

Não existe hoje um padrão seguido pelos parques urbanos. Eles se diferenciam em seu tamanho, suas funções, equipamentos e espaços oferecidos, em seu espaço de preservação ambiental, de socialização, e mais. Sendo assim, assumem diferentes papeis na historia, seguindo a influência da estrutura urbana, do fenômeno social e da preservação de áreas verdes (MELO, DIAS. 2012).

Além das principais funções desempenhadas pela área verde dos parques urbanos e pelo seu espaço de socialização disposto à comunidade, ainda é possível que inserido nesse espaço haja uma enorme diversidade de usos e atrações que podem reforçar esses aspectos e agregar qualidade e funcionalidade ao ambiente. A função principal dessa diversidade de usos estaria também diretamente relacionada com a qualidade de vida dos habitantes.

Uma das principais atividades relacionadas a ambientes como os parque urbanos é a prática de exercício físico. Segundo Pucci et al. (2010) a prática regular de atividade física proporciona benefícios para a qualidade de vida em diversas faixas etárias. Segundo os autores, atualmente existe uma carência de estudos que correlacionem atividade física e qualidade de vida realizados em países de renda baixa ou média, como é o caso do Brasil. Contudo, através de análise de uma série

de estudos sobre esse assunto o autor encontrou concordância entre a associação positiva entre a prática de atividades físicas em alguns domínios, como principalmente: (a) vitalidade; (b) saúde mental; (c) função física; (d) papel físico; (e) papel emocional; (f) saúde geral; entre outros.

Conforme Nahas (2003 apud Aleixo 2003) a atividade física, uma vez que praticada regularmente, ainda que seja em baixa intensidade, provoca efeitos positivos em diversas áreas do corpo humano, e isso esta diretamente associado a inúmeros benefícios como o decréscimo de mortalidade; diminuição dos riscos de doenças coronárias e hipertensão, devido a redução da pressão arterial em repouso; combate à diabetes, devido à melhora do metabolismo da glicose. Ou seja, provoca efeitos que acabam por melhorar a saúde e consequentemente a qualidade de vida das pessoas.

Para Assumpção, Morais e Fontoura (2002) a realização sistemática de atividades corporais é fato determinante na promoção da saúde e da qualidade de vida. Ao analisar estudos de comparação entre indivíduos ativos e moderadamente ativos com indivíduos menos ativos, os autores trazem que a expectativa de vida é maior para aqueles cujo nível de atividade física é mais elevado. Além disso, os autores citam Matsudo e Matsudo (2000) que afirmam que entre os principais benefícios advindos da prática de atividade física estão inclusos os aspectos psicológicos. Esses aspectos seriam: a melhoria na da autoestima; do auto conceito; da imagem corporal; das funções cognitivas e de socialização; na diminuição do estresse e da ansiedade; e inclusive na diminuição do consumo de medicamentos.

Uma das formas para agregar usos e funções ao parque seria a de implantar estruturas para a prática de exercícios físicos que se vincularia ao papel social de agregar qualidade de vida pras pessoas. Além dos benefícios à saúde que poderiam ser gerados a partir da prática regular de exercícios físicos, é possível também vincular outros usos e funções quais trariam outro foco, mas ainda, seriam meios de gerar tal qualidade, uma vez que podem agregar outros valores e gerar espaços propícios para a socialização, por exemplo.

Uma abordagem que pode ser inclusa nesse contexto também é a da implantação de estruturas voltadas à disseminação da cultura, quais dariam oportunidade a existência de um espaço em que possam ocorrer atividades

culturais. Esse exercício cultural põe em foco o ser humano, suas sociabilidades e celebra as suas diferenças. Para Teixeira Coelho (2008) a cidade pode ser considerada a primeira e decisiva esfera cultural do ser humano. Com o tema da globalização em foco, nesse momento em que se vive com intensas relações globais entre os diferentes atores sociais, a cidade encara o papel de protagonista no assunto. Para os autores, surgem alguns vetores a partir da discussão da tradução da cultura em vetor da vida cotidiana da cidade:

a) a renovação e expansão dos recursos culturais da cidade; b) o apoio às instituições culturais centrais;

c) a criação de recursos culturais de porte cotidiano criando uma malha cultural sólida;

d) a definição de modos culturais criativos de relacionamento com os equipamentos e problemas urbanos;

e) o estímulo à cidade culturalmente diversa;

f) a opção pelo desenvolvimento humano ainda mais que pelo desenvolvimento econômico;

g) o cuidado no respeito e na multiplicação dos direitos culturais, renovados com criatividade;

h) o apoio à ideia de uma nova cidade transformada que com seu exemplo possa mover o mundo;

i) a nova institucionalidade da cultura solicitada pelos novos desafios; j) a sustentabilidade do processo cultural; e

k) o papel da sociedade civil no novo arranjo da cultura na cidade que deve se tornar realidade uma política cultural de proximidade

A partir dessa leitura da dinâmica ocorrida entre a cidade e a cultura, vê-se a real necessidade de fomentar um meio em que o ambiente cultural seja amplificado e debatido. Através de uma abordagem que foca no comportamento do ser humano e da à oportunidade de “ser cultural”, seria outro uso proposto para agregar às funções sociais do Parque Urbano. Este, ainda, poderia abranger alguma(s) da(s) meta(s) do programa do Ministério da Cultura - Programa 2027 Cultura - Preservação, Promoção e Acesso. Seriam os objetivos do programa:

1. Promover, preservar e difundir o patrimônio e as expressões culturais afro- brasileiras;

2. Promover cidadania e a diversidade das expressões culturais e o acesso ao conhecimento e aos meios de expressão e fruição cultural;

3. Promover a economia criativa contribuindo para o desenvolvimento econômico e sociocultural sustentável;

4. Promover o acesso ao livro e à leitura e a formação de mediadores, no âmbito da implementação do Plano Nacional do Livro e Leitura e do fomento à criação de planos correlatos nos estados e municípios; 5. Promover o direito à memória dos cidadãos brasileiros, preservando,

ampliando e difundindo os acervos museológicos, bibliográficos,

documentais e arquivísticos e apoiando a modernização e expansão de suas instituições, redes, unidades e serviços;

6. Implantar, ampliar, modernizar, recuperar e articular a gestão e o uso de espaços destinados a atividades culturais, esportivas e de lazer, com ênfase em áreas de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras; entre outros.

Além das funções já mencionadas, haveria ainda, um leque de outras sugestões que se conectam com a função de lazer dos Parques Urbanos, como por exemplo, parques voltados para o lazer infantil com foco nos playgrounds e na transformação do olhar sobre o espaço que coloca a infância em evidência. Pode-se citar como exemplo o Pavilhão Korogaru (Quadro 02), localizado no Japão, e projeto por Megumi Matsubara e Hiroi Ariyama. Neste projeto nota-se o pensamento centrado no desenvolvimento das crianças nas brincadeiras, que são seus momentos de lazer.

Quadro 02 – Pavilhão Korogaru

Fonte: YCAN em Archdaily (2017). Disponível em: <https://www.archdaily.com/868016/korogaru- pavilion-assistant/58d9729fe58ecefaa7000079-korogaru-pavilion-assistant-photo>.

Isso é alcançado no momento em que se propõe um espaço diferenciado que anima as crianças a abandonar o contexto dos meios de comunicação e interagir

com o entorno e elementos como a luz natural, o vento, o solo, as plantas, como pode-se perceber na figura 06. Um meio onde as crianças são levadas a enxergar elementos do cotidiano de uma óptica diferenciada.

Outro parque que coloca em evidência a valorização do lazer infantil é o Parque Recreativo Venecia, localizado no Chile, projetado por Jaime Alarcón Fuentes, figura 06. O projeto tem como um de seus objetivos incentivar a cultura e as tradições através do parque, como ilustra a figura 07 que pode destacar as tradições chilenas onde integram-se diferentes jogos locais como o pau de sebo, a bocha e áreas para amarelinha.

Figura 06 – Parque Recreativo Venecia

Fonte: Rodrigo Mezza em Archdaily (2015). Disponível em:

<https://www.archdaily.com.br/br/767205/parque-recreativo-venecia-jaime-alarcon- fuentes/55426bb1e58ece706c0003c1-venecia-recreational-park-jaime-alarcon-fuentes-photo>.

Figura 07 – Equipamentos tradicionais chilenos

Fonte: Rodrigo Mezza em Archdaily (2015). Disponível em:

<https://www.archdaily.com.br/br/767205/parque-recreativo-venecia-jaime-alarcon- fuentes/554275ace58ece706c0003d9-venecia-recreational-park-jaime-alarcon-fuentes-photo>.

É fato que trazer outros usos aos Parques Urbanos é uma estratégia para melhorar a qualidade do espaço e de trazer mais benefícios à população que usufrui do mesmo. Para garantir sucesso e utilização efetiva do parque através também da implementação desses usos, é sempre um bom caminho que os mesmos sejam definidos a partir da consulta da comunidade local, pois dessa forma garante-se o sucesso por meio da apropriação que fica assegurada pelo fato dos usos serem definidos pelos próprios usuários e beneficiados do projeto.

2.4 APROPRIAÇÃO DOS PARQUES URBANOS E SUAS CONDICIONANTES

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