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4. O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

4.3. Atividades por Segmento de Atuação

4.3.4. Atividades de Comercialização

O mercado de comercialização de energia foi instituído pela Lei nº. 9.648, de 27 de maio de 1998, a qual definiu e autorizou a atividade de compra e venda de energia junto ao SIN e criou a figura do consumidor livre de energia; com isso, as empresas de comercialização de energia passaram a atuar no regime de livre negociação. (TOLMASQUIM, 2011).

Este mercado foi desenvolvido com o objetivo de reduzir os custos de transação e permitir o atendimento dos consumidores, de acordo com a sua demanda de aquisição de energia, e com o proposito de estabilizar o preço da energia no mercado.

A partir do Novo Modelo, os agentes de comercialização passaram a participar tanto do mercado regulado (através de leilões de energia existente), como do mercado livre de energia, atuando como vendedores ou compradores. No Ambiente de Contratação Regulada (ACR) os consumidores denominados cativos, pactuam contratos de adesão com o distribuidor que opera na região, mas, podem negociar as cláusulas desses contratos. Os consumidores livres operam no Ambiente de Contratação Livre (ACL) e podem escolher seu fornecedor de energia, negociar preços e condições. Todos os dois mercados são regulamentados pela ANEEL e, especificamente, o mercado de curto prazo é administrado e operacionalizado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), órgão instituído pela Lei nº. 10.848/04 e pelos Decretos nº. 5.163/04 e nº. 5.177/04). (TOLMASQUIM, 2011).

São denominados de consumidores especiais, aqueles que se tornam livres adquirindo energia de fontes incentivadas, conforme regulamentação específica. Do mesmo modo, tem-se a figura do consumidor potencialmente livre que optam por operar no ACR, embora preencham os requisitos para se tornarem consumidores livres. Portanto, o Novo Modelo definiu os seguintes ambientes de comercialização de energia: Consumidores Livres; Consumidores Potencialmente Livres; Consumidores Especiais; Consumidores Cativos.

A CCEE tem função importantíssima no mercado de comercialização de energia, uma vez que este órgão funciona como um clearing house, pois todas as relações comerciais entre agentes vendedores e compradores de energia são regidas, predominantemente, por contratos de compra e venda de energia, e todos os contratos no âmbito do SIN devem ser registrados na CCEE, sem prejuízo de seu registro, aprovações ou homologação pela ANEEL. (TOLMASQUIM, 2011).

Para o autor, no processo de contabilização, as diferenças entre os volumes contratados e os efetivamente movimentados são contabilizadas pela CCEE e liquidadas no mercado de curto prazo. Isto permite que as partes “zerem” suas posições, por meio de compra ou venda de energia elétrica, em base mensal, pelo preço de mercado de curto prazo, ou pelo Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), onde esta liquidação é compulsória e se dá no mercado de curto prazo definido pela CCEE.

Visando garantir o planejamento e a expansão da oferta de energia, o governo instituiu a contratação obrigatória, antecipada e integral da demanda projetada dos distribuidores e segmentou o mercado de demanda em dois ambientes (ACR e ACL). Com isto, conseguiu concretizar o princípio da modicidade tarifária e a maior transparência nas licitações pelo menor preço e referência de preços aos consumidores livres.

O ACR abriga os distribuidores e os consumidores cativos, atendidos exclusivamente pelo distribuidor local, com tarifas e condições de fornecimento reguladas pela ANEEL. O ACL abriga os consumidores livres, aptos a comprar energia de qualquer fornecedor, com exceção dos distribuidores, e os comercializadores, que podem comprar energia de qualquer fornecedor e vendê-la a qualquer comprador, exceto consumidores cativos.

O processo de comercialização é regido por regras e procedimentos de comercialização regulamentados pela ANEEL e controlado pelo processo de

contabilização e liquidação pela CCEE. Fora deste ambiente, existem leilões organizados pela ANEEL ou por meio da CCEE, a fim de adequar a oferta de energia de usinas em operação e de novos empreendimentos (hídricos, térmicos e eólicos) através das seguintes formas de leilão: - de Energia Existente; - de Ajustes; - de Energia Nova; - de Projetos Estruturantes; - de Fontes Alternativas; - de Energia de Reserva. Também há Contratação de Energia Reserva. (TOLMASQUIM, 2011).

Os prazos de venda da energia dependem do tipo de leilão. Para os leilões de novos empreendimentos tem-se: energia nova, projetos estruturantes, fontes alternativas e energia reserva. Os prazos de 15 a 30 anos são para as usinas existentes; o prazo de 03 a 12 meses para os leilões de ajustes e o prazo de 03 a 08 anos para os leilões de energia existente.

Com relação ao novo modelo do setor elétrico, até hoje não há um consenso sobre o seu êxito ou não, mas, não se pode esquecer que ocorreram significativas melhoras na sua capacidade de geração (quase 40%) nos últimos anos, com um consumo que cresceu 23%, o que demonstra que o planejamento e a contratação de energia de longo prazo acontecem, de forma organizada, conforme mostra o Quadro 11.

Os números do Novo Modelo Evolução do setor elétrico em dez anos

Indicadores 2004 2013 Variação

Capacidade Instalada do sistema (em MW) 90.679 126.755 39,8% Mercado de distribuidoras (em mil MWh) 266.276 327.867 23,1% Faturamento das distribuidoras (em R$ milhão) 56.672 83.551 47,4% Duração média de interrupções no fornecimento (em horas/ano) 15,81 18,65 18,0% Frequencia média de interrupções no fornecimento (ocorrências/ano) 12,12 11,10 -8,4%

Quadro 11 – Evolução do Setor Elétrico em 10 Anos

Fonte: ANEEL (2008a)

Um dos grandes problemas postergados na introdução deste modelo é o tratamento da renovação das concessões que venceriam entre 2015 e 2017. Para tratar esta questão, o Governo antecipou a discussão deste tema com a implantação da Medida Provisória nº. 579, que forçava aos players interessados na renovação uma redução tarifária, em nome de uma possível redução dos custos de produção e distribuição de energia ao consumidor final, sendo que os seus maiores críticos

políticos argumentavam que esta estratégia era um processo inicial e demagógico na disputa eleitoral.

Segundo Ildo Sauer, Diretor do Instituto de Energia Elétrica e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) e Diretor da Petrobrás durante os anos de 2003 e 2007 declarou: “Ao publicar a MP 579, a presidente Dilma decretou que o modelo criado pela ministra Dilma foi um fracasso”. (POLIDO, 2014).

Para melhor entender o que trazia esta Medida, que foi transformada em Lei posteriormente, seus impactos no segmento de energia elétrica e os riscos introduzidos no ambiente setorial, descreve-se e se faz análise, no próximo tópico, de como foi a reação do mercado.