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CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO

1.2 Ensino Desenvolvimental: a relação entre desenvolvimento e

1.2.2 Atividades de estudo e formação de conceitos

Segundo Davidov (1999), tudo o que foi dito sobre atividade ―refere-se diretamente àquilo que deve ser chamado de atividade de estudo do aluno de escola‖. Para o autor, a atividade de estudo contém todos os componentes enumerados do conceito geral de atividade; esses componentes têm um conteúdo de objeto específico, além do princípio criativo transformador que, necessariamente, deve estar presente. Assim, o estudo escolar, posto corretamente, é exatamente a atividade de estudo das crianças. ―A demanda da criança por ensinamento é exatamente a aspiração de obter conhecimento sobre o geral no objeto, ou seja, conhecimentos teóricos sobre alguma coisa por meio da experimentação com o objeto.‖ (DAVIDOV, 1999, p. 2).

Lá onde o mestre cria sistematicamente na sala de aula as condições que exijam dos alunos a obtenção de conhecimentos sobre o objeto por meio da experimentação com este, é onde as crianças deparam com as tarefas que exigem delas a realização da atividade de estudo. (DAVIDOV, 1999, p. 2).

Davidov (1999) cita que ―Leontiev e seus alunos, ao investigarem a construção concreta da atividade humana, determinaram seus componentes, que são as necessidades e os motivos, os objetivos, as condições e meios de seu alcance, as ações e operações‖. A partir do conceito filosófico-pedagógico de atividade, Davidov desenvolveu a Teoria da Atividade de Estudo.

O conceito filosófico-pedagógico de ―atividade‖ significa transformação criativa pelas pessoas da realidade atual. A forma original desta transformação é o trabalho. Todos os tipos de atividade material e espiritual do homem — são derivados do trabalho e carregam em si um traço principal — a transformação criativa da realidade, e ao final também do próprio homem. (DAVIDOV, 1999, p. 1).

Moura (2010) caracteriza a atividade de ensino como sendo ―[...] um modo de realização da educação escolar, que evidencia a semelhança dessa atividade com os processos de formação das funções psíquicas superiores, que se dão na relação mediada por

instrumentos culturais, dos sujeitos com os objetos.‖. O autor enfatiza que é necessário organizar o ensino com atividades adequadas para a formação do pensamento teórico do aluno. Para o autor, ―a atividade de ensino do professor deve gerar e promover a atividade do aluno. Ela deve criar nele um motivo especial para a sua atividade: estudar e aprender teoricamente sobre a realidade.‖. Davidov (1999) explica que a atividade de estudo do aluno deve conter três elementos essenciais:

1) todos os componentes enumerados do conceito geral da atividade;

2) o conteúdo do objeto específico que os distingue de qualquer outra atividade; 3) a identificação do princípio criativo ou transformador.

Se faltar um desses elementos, segundo Davidov (1999), os alunos não estão realizando a atividade de estudo propriamente dita ou a estão realizando de forma incompleta. Segundo o autor, a criança assimila certo material sob a forma de atividade de estudo somente quando ela tem uma necessidade para tal assimilação. ―As necessidades e os motivos educacionais direcionam as crianças para a obtenção por eles de conhecimentos como resultados da transformação do material dado.‖ (DAVIDOV, 1999, p. 2). O motivo da atividade de aprendizagem, segundo Moura (2010), ―deve ser, por parte dos alunos, a aquisição de conceitos teóricos, mediante ações conscientes que permitam a construção de um modo generalizado de ação‖. A atuação do professor, segundo ele, como mediador da relação dos alunos com o objeto de conhecimento é fundamental para que a aprendizagem se concretize. Assim, cabe ao professor a tarefa de selecionar o material, organizar e desenvolver a atividade com os alunos, de forma a despertar neles a motivação, a vontade de aprender. A motivação está na esfera afetivo-voluntária e pode vir de influências externas, como a educação familiar; a influência de parentes ou dos colegas. Davidov explica ainda que ―[...] a correta organização da atividade de estudo começa com a formação gradual, porém constante desta necessidade no aluno.‖. Sem esta necessidade – seu principal componente – ela simplesmente não pode existir. Para ele, a atividade de estudo, incluindo em si os processos de aprendizagem, ―[...] só se realiza quando esses processos transcorrem sob a forma de uma transformação objetiva deste ou daquele material.‖. O autor afirma, ainda, que ―os conhecimentos, que refletem a interligação do interno com o externo, da essência com o fenômeno, do primitivo com o derivado, são chamados de conhecimentos teóricos.‖ (grifo do autor). O único meio no qual os alunos podem acompanhar a interligação do interno

com o externo no conteúdo do material assimilado é através do caráter criativo da experimentação de estudo (DAVIDOV, 1999, p. 3).

A atividade de ensino organizada de forma correta envolve: finalidades, tarefas, ações e operações. A atividade deve estar sempre relacionada com uma necessidade – motivo; as ações, com os objetivos; e as operações, com as condições. Nesse sentido, a tarefa do professor de organizar atividades de estudo torna-se complexa, uma vez que exige dele certo conhecimento sobre comportamento e funções psicológicas dos alunos. As ações propostas devem exigir dos alunos mais que memorização, representação e reprodução; é necessário que produzam alterações mentais.

Para Moura (2010), é necessário criar nos alunos a necessidade de se apropriar dos conceitos para que a aprendizagem seja concretizada. Na visão do autor, o objetivo principal dessa necessidade é mobilizar o aluno para a atividade de aprendizagem, a apropriação do conceito e, consequentemente, dos conhecimentos.

Esse modo de conceber o ensino pressupõe também que seja criada nos estudantes a necessidade de se apropriar de conceitos, o que se concretiza na situação desencadeadora da aprendizagem. O objetivo principal desta é proporcionar a necessidade de apropriação do conceito pelo estudante, de modo que suas ações sejam realizadas em busca da solução de um problema que o mobilize para a atividade de aprendizagem - a apropriação dos conhecimentos. (MOURA, 2010, p. 101).

Na figura a seguir, Moura (2010) expressa a relação entre atividade de ensino e atividade de aprendizagem. A cada atividade de ensino elaborada pelo professor corresponde uma atividade de aprendizagem do aluno.

Figura 1: AOE: relação entre atividade de ensino e atividade de aprendizagem. Fonte: MOURA, 2010, p. 98.

A atividade orientadora de ensino, segundo Moura (2010), é uma unidade entre ensino e aprendizagem, em que ―[...] estão presentes os conteúdos de aprendizagem, o sujeito que aprende, o professor que ensina e, o mais importante, a constituição de um modelo geral de apropriação da cultura e do desenvolvimento do humano genérico.‖ (MOURA, 2010, p. 94).

Assim, a AOE, como mediação, é instrumento do professor para realizar e compreender seu objeto de estudo: o processo de ensino de conceitos. E é instrumento do estudante, que, por meio dela, pode apropriar-se de conhecimentos teóricos. (MOURA, 2010, p. 109).

Na composição das ações de estudo, Davidov explica que há ainda as ações de controle e avaliação. O controle garante ao aluno uma execução correta das ações de estudo e a avaliação lhe permite determinar se assimilou ou não a forma geral de solução da tarefa de estudo dada. O autor atribui ao professor a tarefa de organizar a atividade de estudo a partir das necessidades dos alunos.

Deste modo, uma correta organização da atividade de estudo consiste em que o professor, baseando-se na necessidade e disposição dos alunos de dominar os conhecimentos teóricos, sabe colocar para eles em um determinado material uma tarefa de estudo [...] com isto o professor, usando de determinados recursos, forma nos alunos a necessidade apontada, e a capacidade de receber uma tarefa de estudo e executar as ações de estudo. (DAVIDOV, 1999, p. 5).

Cada atividade tem sua tarefa de estudo específica; a atividade de estudo tem como principal objetivo proporcionar mudanças internas no sujeito. Conforme Repkin (2003), a atividade de estudo deve ser entendida como atividade para autotransformação do sujeito: a pessoa se desenvolve como personalidade quando se desenvolve como sujeito.

Assim, a Educação Desenvolvente é o desenvolvimento do sujeito. Pode-se julgar o tipo de ensino por um único critério – a criança é um sujeito no processo de ensino? Se ela é um sujeito, então temos uma Educação Desenvolvente; se ela é um objeto no processo de ser ensinada, então não temos uma Educação Desenvolvente. (REPKIN, 2003, p. 5).

Segundo a teoria de Leontiev (1983), na análise da estrutura da aprendizagem como tipo de atividade, é importante definir: o papel do aluno no processo de aprendizagem, seus motivos, interesses, necessidades e habilidades; as características do objeto de estudo; os procedimentos a serem utilizados; os recursos ou meios para a realização da atividade; os objetivos e metas; o contexto escolar e do aluno e os resultados alcançados.

Repkin (2003) afirma que o ensino desenvolvimental é a saída para a ineficácia da educação tradicional, que se limita a realizar tarefas puramente funcionais, que não impulsionam o desenvolvimento humano. Conforme nos explica Moura (2010), a atividade de ensino do professor é que deve gerar e promover a atividade do aluno. É dela que nasce o motivo especial para essa atividade, que deve ser estudar e aprender teoricamente sobre a realidade.

A partir da abordagem histórico-cultural e da Teoria da Atividade, foi possível entender melhor a relação entre aprendizagem e desenvolvimento. Podemos concluir que, para haver ensino desenvolvimental, é necessário que o professor organize e desenvolva com os alunos atividades devidamente elaboradas, envolvendo motivos, objetivos, tarefas, ações e operações. Somente quando o aluno se envolve na atividade, tem um motivo para realizá-la, um objeto a ser estudado, tem tarefas relacionadas com esse objeto a serem cumpridas, age e realiza operações para atingir a meta definida da atividade é que se pode afirmar que realmente ocorreu a aprendizagem.