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3. DESENVOLVIMENTO DA OBSERVAÇÃO

3.5. Atividades Desenvolvidas no Estágio IV

Aqui descrevo as atividades em geral, enfatizando os momentos que foram de maior relevância ou se constituíram em momentos que chamaram atenção, para,assim, dar mais fluência a descrição e tentar transmitir não só os aspectos procedimentais, mas trazer um pouco da discussão proposta. Sempre norteado pelo planejamento: sondar; apresentar; discutir; construir a aula; fazer; avaliar; discutir; trazer elementos novos e prosseguir com as vivências.

Seguindo o planejamento do professor James (Orientador de Campo) nossas aulas para as turmas dos segundos e terceiros anos, assim como para o primeiro ano, encaixaram-se na programação previamente estabelecida e dentro do conteúdo esporte, tratamos o tema vôlei. A decisão em trabalhar as cinco turmas foi em conjunto com o professor James, tendo em vista os dias das aulas a serem aplicadas combinarem com os

dias em que eu podia comparecer a escola e assim desenvolver as atividades e cumprir a carga horária do estágio em um menor tempo.

Sendo assim as aulas se desenvolveram com o objetivo de levar aqueles alunos conhecimentos sobre esse esporte (vôlei), que viessem a somar com o conhecimento por eles já adquiridos durante o percurso escolar e de acordo com a experiência de mundo de cada um.

Segundo Paulo Freire (1996. p. 12) em sua obra Pedagogia da autonomia, em que faz uma análise dos meios pelo qual a educação é promovida a uma atividade emancipadora, estabelecendo um diálogo em que a produção de conhecimento seja uma via de mão dupla, tanto entre docente para discente como também, discente para docente. Ou seja, o aluno não é uma folha em branco a ser preenchida, e a educação não é doença para que seja transmitida.

O conteúdo a ser abordado pode ser exposto e colocado em debate, tendo em vista que o aluno traz consigo informações de sua vida cotidiana, de acordo com o professor, deve-se trabalhar com estas informações para promovê-las a um conhecimento mais próximo do verdadeiro, o qual deve ser o real motivo de uma educação para a humanidade de forma ampla. Cunha (1987:108 apud Mercado, 2010) acerca do conteúdo programático da educação ensina que

[...] não é uma doação ou uma imposição, um conjunto de informações que o educador deposita no educando, mas é a devolução organizada e sistematizada daquilo que o educando deseja conhecer e entregou de forma não estruturada: conteúdo que volta ao educando já enriquecido, porque passou pelo educador e pela mediação do mundo. O conteúdo que vai ser acrescido ao educando que, por sua vez, ainda o transformará e o enriquecerá”.

De acordo com o Projeto Pedagógico proposto para o nosso curso, tendo como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) norteadores, a partir do conhecimento advindo da Cultura Corporal, para as ações pedagógicas da Educação Física como componente curricular, os conteúdos da Educação Física são organizados em três blocos que deverão ser desenvolvidos ao longo de toda a Educação Básica e que devem ser discutidos na formação de professores de Educação Física para uma adequada sintonia entre a agência formadora e a rede de ensino. E tem seu conteúdos

divididos em: esportes, jogos, lutas e ginástica, atividades rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o corpo. (BRASIL, 1998)

Essa organização tem a função de evidenciar quais são os objetos de ensino e aprendizagem que estão sendo priorizados, servindo como subsídio ao trabalho do professor, que deverá distribuir os conteúdos a serem trabalhados de maneira equilibrada e adequada. Assim, “não se trata de uma estrutura estática ou inflexível, mas sim de uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos abordado, segundo os diferentes enfoques”. (BRASIL, 2000, p. 46).

De acordo com o professor James, ele havia iniciado o ano com elementos que remetiam ao conhecimento sobre o corpo, e iria passar para o conteúdo ‘esportes’, dessa forma, sentamos entre os horários das aulas para articular a melhor maneira de aplicar o conteúdo.

Já na primeira semana tivemos a iniciativa frustrada para a turma do Primeiro Ano, tendo em vista que a escola iria participar do Projeto de Inovação Pedagógica – PIP, da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC), que tem como alvo a turma citada, para ser aplicada uma vivência sobre o xadrez.

Na quinta-feira (28/09/2017), junto ao professor James, expusemos, em uma aula dialogada, a temática estabelecida. Levamos diversos tabuleiros para a sala de aula, questionamos sobre o conhecimento dos alunos sobre o jogo e lançamos as bases históricas do xadrez. Dentro dessa perspectiva, histórica, fomos aos poucos colocando as peças no tabuleiro, dispondo-as conforme a regra estabelece. Explicar a origem do jogo, o porquê das peças, seus movimentos variados, foi um exercício bastante enriquecedor, inclusive para mim, pois não sou praticante e desconhecia a maior parte das regras.

A aula culminaria com uma partida entre os alunos que se voluntariassem a jogar, mas o tempo curto da aula nos impediu e tudo ficou para depois.A impressão que ficou foi de certo descompasso entre a coordenação pedagógica e o professor. Este me ligou a noite para informar que a aula do dia seguinte não seria sobre o vôlei e sim sobre o xadrez, alterando assim o conteúdo e claro o planejamento, fazendo-nos buscar conhecimentos e uma metodologia diferente da que inicialmente havíamos programado.

Dentro da programação do PIP estava previsto que no encerramento haveria um campeonato entre os alunos, comandado pelo professor James, mas não ocorreu.

O projeto seria de grande valia caso fosse executado integralmente, e, para todos os alunos, mas a coordenadora explicou que esse projeto prevê apenas a participação dos primeiros anos em cada escola, tendo em vista que esse aluno ficará por mais dois anos dentro da instituição.

Na sequência das aulas, sobre o vôlei, planejamos um total de cinco encontros para cada turma, de forma que teríamos um primeiro momento para apresentarmos o vôlei enquanto esporte e “brincarmos”, (na precária quadra, com a bola levada pelo professor, e uma rede quase que totalmente destruída), abordaríamos também a história, regras e peculiaridades, outros três encontros para vivenciarmos e aplicarmos alguns conhecimentos adquiridos em relação às regras e a gestos técnicos e posicionamento tático, um último encontro para avaliarmos e refletirmos sobre o que vivenciamos. A minha participação enquanto professor e o valor da Educação Física escolar para eles enquanto alunos do Ensino Médio.

Esses encontros foram marcados por muita diversão e participação. No decorrer dos estágios o quadro quase sempre foi o mesmo: timidez e pouca participação no início e depois adesão e participação. Com os alunos do Ensino Médio não foi diferente. A desconfiança inicial deu lugar a entrega nas atividades, o clima de brincadeira se instalou, necessitando por muitas vezes a intervenção para manter a ordem e a disciplina.

Destacamos aqui a atividade experenciada para atumra do segundo ano “B”: propomos que a turma se dividisse em dois blocos, iguais em relação ao número de participantes, cada equipe possuía dez balões, as equipes tentariam de todas as formas passar os balões sobre a rede para o lado oposto, ao final de um minuto veríamos quem estava com menos balões, essa equipe somaria a quantidade pontos tantos quantos fossem os balões que estivessem na quadra adversária.

Numa melhor de cinco sets, assim como o vôlei, essa atividade lúdica, introdutória, serviu como aquecimento e verificação das diversas possibilidades de passar a bola ao outro lado. Também oportunizou para cada aluno a chance de se divertir durante o horário da disciplina, abrindo uma discussão sobre competitividade e entretenimento no esporte e nas próprias brincadeiras escolares, dessa forma tentamos abrir espaço para experimentação de diversas formas de aprendizagem e estímulo a criatividade, sem perder o foco do jogo coletivo, da cooperação e da diversão:

Os objetivos em relação aos conteúdos atitudinal de respeito e cooperação foram alcançados, e conceitualmente iniciamos as discussões acerca da altura dos jogadores, o condicionamento para dar inúmeros saltos como eles fizeram brincando e a importância da soma dos esforços para alcançar um objetivo comum quando se joga em equipe.

Essa dinâmica foi repetida para as outras turmas, tendo uma variável em das turmas do segundo ano em que os balões se diferenciavam pelas cores azul e vermelha.

Na sequência discutimos sobre as

estratégias do jogo e melhor maneira de inicializar os jogadores. Como usávamos apenas uma bola, dispomos as turmas em sempre em dois blocos, e fazíamos a passagem da bola pelos dois, orientando a forma usual dos fundamentos, partindo do gesto do aluno para o gesto usualmente ensinado. Não demos ênfase ao gesto em si, propusemos um antes e depois: primeiro do jeito que eles sabiam e praticavam, depois com a orientação. Muitos preferiram a forma como já estavam habituados, então partíamos para o “jogo” em si.

Por ocasião dessa aula, fizemos a disposição dos alunos nas posições e usando o esquema 6-02, em que todos os alunos têm a oportunidade de passar por todas as posições e fazer parte do rodízio3. Porém foi de consenso geral que o melhor mesmo era cada um permanecer aonde mais se adaptava. Na discussão os alunos se posicionaram contra o sistema de rodízio e disseram ter dificuldade para fazê-lo. Os fundamentos também forma ignorados por completo: caso fôssemos arbitrar, certamente o “jogo” não fluiria com tanta condução e dois toques.

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É o sistema mais elementar do voleibol. Nele, todos os jogadores executam todas as funções dentro da equipe, não havendo nenhum indício de especialização. Disponível em:< https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/sistema-de-jogo-6-x-0-de-voleibol/41123 >Acesso em 13 NOV. 2017.

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O rodízio é realizado no sentido horário e acontece todas as vezes que a equipe que recebeu o saque recupera a posse de bola, ganhando o direito de efetuar o saque. O rodízio tem por finalidade fazer com que todos os jogadores passem por todas as posições dentro da quadra. Disponível em:< https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/rodizio-durante-o-jogo-de-voleibol/40920 > Acesso em 13 NOV. 2017.

Imagem 02 -Vôlei com balões

A turma que “melhor” (esse “melhor” representa o esforço na tentativa em fazer o gesto técnico e o posicionamento) se portou e tentou realizar os fundamentos e posicionamento foi a turma do 2º Ano B. Esse grupo observou atentamente a disposição mostrada em sala de aula (desenho da quadra e disposição dos atletas), questionou e trouxe para o diálogo questões sobre a altura e mobilidade dos jogadores.

Seguindo com as práticas na quadra e aproveitando a discussão anterior sobre altura e mobilidade, trouxemos paras as turmas informações sobre a posição de líbero4, introduzida pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) em 1998, com a intenção de permitir disputas mais longas de pontos, tornando o jogo mais emocionante e atraente ao público.

Com a inserção desse novo integrante, as quadras de vôlei, passaram a oportunizar para atletas não tão altos a possibilidade de participar com destaque de um jogo oficial, como consequência dessa discussão, veio à tona as questões sobre inclusão. Desse modo aproveitamos para abordar o vôlei sentado paralímpico e outros esportes que oportunizam a participação de todos.

Falando um pouco da minha experiência sobre o vôlei, contei para eles que antigamente uma partida de vôlei bem disputada, entre equipes equilibradas poderia durar horas, chegando a 4, 5, e isso não favorecia o esporte comercialmente falando, pois tomava o tempo da programação das tevês e o tornava cansativo, então as mudanças no sentido de torná-lo mais dinâmico começaram por retirar a tomada de saque (o ponto não era direto, havia a vantagem, que se dava quando o adversário ao colocar a bola no chão da quadra adversária, ganhava o direito ao saque, só pontuando caso colocasse a novamente a bola no chão enquanto de posse do saque), e então toda vez que a bola toca o solo da quadra é marcado um ponto para equipe que consegue fazê-lo.

Os encontros estavam chegando ao final, porém em dois dias de aula para os terceiros anos, não pude dar continuidade, pois eles estavam respondendo a Prova Brasil, em outra oportunidade um grupo de representantes da Faculdade Maurício de Nassau estiveram na escola e foram autorizados a aplicar um simulado para os alunos

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O líbero é um atleta especializado nos fundamentos que são realizados com mais frequência no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função foi introduzida pela FIVB em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pontos e tornar o jogo deste modo mais atraente para o público. Disponível em:< http://www.volei.org/2010/10/funcao-do-libero-no-voleibol.html> Acesso em 13 NOV. 2017.

que estavam inscritos no ENEM 2017. Também distribuíram brindes para os participantes e prometiam um desconto na faculdade dependendo da nota do ENEM.

Durante a sequência houve uma pausa na programação das aulas para aplicação das provas. O professor precisou viajar e contou comigo para aplicar a avaliação nas 5 turmas. Passou-me as provas (Anexo, p. 54), e para minha surpresa elas continham o mesmo conteúdo para as 5 turmas, sem gradação de dificuldade ou qualquer distinção. Isso trouxe à discussão sobre como se faz necessário uma sistematização dos conteúdos para a Educação Física no tocante a uma sequência, um encadeamento de ideias que mediei os conteúdos de forma que ajude aos alunos a compreender a disciplina enquanto disciplina escolar organizada com critérios de apresentação que gradativamente passam a exigir maior conhecimento e estudo.

Para finalizar os encontros havíamos planejado um torneio de vôlei entre as turmas, mas devido a falta de horário disponível para realizá-lo, não foi possível, então optamos por aplicar uma avaliação escrita paras as turmas e após íamos para a quadra aproveitar o restante do tempo e eles estavam livres para usar aquele tempo do jeito que quisessem. Esta se baseava em duas questões: o que as aulas de Educação Física representavam para eles e pedi-lhes que representassem esse pensar num desenho ou frase resumo. As questões foram introduzidas a partir da discussão sobre a educação física no ensino médio, seu valor, contexto, o que eles pensavam sobre a disciplina, o papel do professor enquanto educador, formador de opinião, a participação da educação física no ENEM, a cultura do aluno em associar a educação física prática de esporte ou a quadra/bola.

Ler todas as respostas poderia ser um ato cansativo, mas a criatividade dos alunos e a respostas inusitadas tornaram esse momento muito agradável e por vezes engraçado.

Transcrevo algumas respostas ao questionamento quanto ao pensamento dos alunos sobre a educação física no Ensino Médio. Respostas (na íntegra), preservando o nome do (a) aluno (a):

“A prática de educação física nas escolas é algo muito importante, pois é uma forma de disciplinar e até impor uma filosofia de vida como no caso das artes marciais, educando de uma forma diferente, que ao invés de uma aula teórica, temos uma aula prática que desenvolve nosso caráter.” (2º Ano)

“As aulas de educação física são muito boa nos alegra agente se diverte, Brinca, muito uma vez por semana é fundamental termos essas aulas.” (1º Ano)

“Traz vários benefícios na vida do estudante, principalmente garantir uma boa saúde e forma.” (3º Ano)

“Essenciais, a educação física é primordial no desenvolvimento motor dos alunos.” (3º Ano)

“Acho fundamental para estimular o aprendizado sobre essa matéria, pois a educação física não é só ir para a quadra praticar algum esporte ou alguma brincadeira. Além de estimular a prática de educação física fora da escola.” (3º Ano)

Durante o último encontro com a turma do 3º ano B me surpreendi positivamente, com o comportamento da turma, pois escolheram brincar de bandeirinha, com grande participação e envolvimento. Traçaram as regras e me pediram para arbitrar. Foi uma experiência muito interessante, demonstrando um nível de amadurecimento deles e acendendo um alerta na minha formação para não ter receio de propor qualquer tipo de prática, principalmente para o nível médio. Propor não é impor, e os alunos além de direito a utilizar o horário reservado à Educação Física com as práticas corporais, têm que receber autonomia para fazerem algo que lhes traga prazer.

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