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Capítulo 5: Caracterização das comunidades em estudo

5.2 Atividades económicas

A ocupação destas duas comunidades remonta a tempos imemoráveis, pois existiu sempre uma atração do homem pelo mar. As condições costeiras e o facto de serem povoações indefesas propícias a assaltos fez com que fossem construídas fortificações, mais concretamente um castelo no cimo do monte, em Castelo do

Neiva, e o Forte da Lagarteira, junto ao portinho de Vila Praia de Âncora. Ambas as localidades sempre foram terra de pescadores e lavradores (http://www.vpancora.com;http://jf_vpancora.com/).

Em Castelo do Neiva, o Rio Neiva e o Oceano Atlântico influenciam fortemente o modo de vida da população. Devido às potencialidades da freguesia a componente turística poderá ter grande importância na economia local. O desenvolvimento turístico é algo desejado pela Junta de Freguesia, tendo-se iniciado já o processo, no entanto, a oferta turística ainda é muito incipiente. Nesta freguesia a atividade piscatória ocupa uma posição importante na economia local, e de acordo com o Presidente da Junta de Freguesia o portinho da freguesia (Portinho da Pedra Alta), apesar das más condições, é o terceiro portinho a nível nacional em termos de faturação. A atividade piscatória está intimamente ligada ao turismo, quer pela faina ser um atrativo turístico, quer pelo peixe e marisco daquela costa ser utilizado na gastronomia local. De acordo com o presidente da Junta de Freguesia de Castelo do Neiva nesta freguesia destacam-se, em termos de atividades económicas, a pesca e a agricultura de subsistência. Além destas atividades há a referir a construção civil, carpintarias e outras oficinas, pequeno comércio, apanha de sargaço, estabelecimentos de restauração e uma unidade de alojamento (http://www.jf-castelodoneiva.com/site/).

Vila Praia de Âncora tem como atividades económicas a pesca, a agricultura e pecuária, o comércio, a

hotelaria e restauração e serviços. A tendência para uma evolução rápida e positiva do sector terciário nesta freguesia assenta fundamentalmente no turismo. Atualmente, Vila Praia de Âncora é considerada uma terra cosmopolita, com importância turística que, simultaneamente, associa o sector piscatório ao agrário (http://www.vpancora.com;http://jf_vpancora.com/).

A pesca tem uma grande importância na economia e na gastronomia local, sendo a maioria dos pratos disponíveis nos restaurantes à base de peixe e marisco local (caldeirada, parrilhada, arroz de marisco e sardinhas).

Em Vila Praia de Âncora não existia uma comunidade piscatória até finais do século XVIII, os barcos pertenciam aos lavradores, no entanto, a fixação de pessoas vindas de outros portos, incluindo da Galiza, levou ao aparecimento da comunidade piscatória, que foi crescendo e ganhando importância. Em Castelo do Neiva sempre houve uma grande ligação entre o mar e a agricultura, mais concretamente a apanha de sargaço para adubar as terras agrícolas. Nesta freguesia, o núcleo piscatório é um tanto ou quanto desordenado devido à existência de moradias, armazéns de aprestos e restaurantes (http://www.jf-

castelodoneiva.com/site/). A comunidade piscatória de Vila Praia de Âncora é maior do que a de Castelo do

Neiva e estão mais organizados. Só recentemente é que Castelo do Neiva constituiu uma associação de pescadores, a qual é presidida por uma mulher, a única mulher cuja profissão é pescadora nas duas comunidades piscatórias.

Os pescadores referem-se frequentemente a si próprios como grupo, classe, muitas vezes adjetivam-se como pobres e sentem que são uma comunidade, pois quando alguém necessita de algo unem-se e entreajudam-se. Cole (1994) refere que a cultura dos pescadores é uma cultura popular, de classe ou uma contracultura. É uma contracultura pois trata-se da cultura de um grupo dominado por oposição à cultura dominante, assente no valor e posse da terra como critério determinante de prestígio e poder.

Os pescadores de Castelo do Neiva e de Vila Praia de Âncora enquadram-se num tipo de pesca artesanal, onde o uso de tecnologias de apoio, nomeadamente sondas e rádios, é diminuto. O barco é para o pescador mais do que uma simples ferramenta de trabalho, ele é uma entidade com nome, daí possuir uma identidade própria (Mano, 1996). Ser pescador é, não só dedicar-se à arte da pesca, mas, também, pertencer a um espaço, a uma rede de parentesco, onde as ligações afetivas confirmam relações profissionais (Mano, 1996). Em termos de condições o portinho de Vila Praia de Âncora sofreu alterações neste século, tendo, atualmente, as condições mínimas, inclusive alguns barcos de recreio de pequeno porte atracam neste portinho. No entanto, o assoreamento é um problema que vai persistindo devido ao Rio Âncora desaguar na praia contígua.

Figura 5.4 – Portinho de Vila Praia de Âncora

Fonte: Grupo de Acção Costeira do Litoral Norte

Castelo do Neiva não tem condições nem para os pescadores, barcos e aprestos, nem para a venda de peixe, no entanto, com o Programa Polis a situação deste portinho será melhorada. As condições de acesso a ambos os portinhos são difíceis e perigosas quando o mar se encontra agitado devido à existência de rochas, inclusive, quando os invernos são rigorosos a frota pesqueira fica em terra por falta de condições de segurança mínimas. Outra das dificuldades sentidas pelos pescadores é a varagem, sobretudo nos de Castelo do Neiva, pois em Vila Praia de Âncora construíram uma rampa de varadouro em betão. A varagem consiste em levar o barco para seco, ou seja, tirá-lo do mar, em Castelo do Neiva esta situação ainda é difícil por se ter de passar com o barco por uma extensão de areal, apesar dos barcos serem puxados por um guincho ao longo de uma rampa de cimento até uma elevação em terreno natural que serve de local de abrigo dos barcos.

As embarcações de ambas as comunidades piscatórias são essencialmente de pesca costeira, ou seja, são embarcações de pequeno porte, mas com condições para passarem uma noite em alto mar a pescar. Com os apoios para a motorização dos barcos, a maioria da frota de pesca artesanal possui motor, o que diminui o tempo de deslocação até aos locais de captura de pescado.

Figura 5.5 – Portinho da Pedra Alta (Castelo do Neiva)

A pesca é uma atividade predominantemente masculina, são os homens quem pescam, quer como proprietários dos barcos ou empregados. As mulheres vendem o peixe, ajudam a remendar as redes e ocupam-se da casa e dos filhos, quando estes ainda estão sob a sua alçada, e, por vezes, fazem limpezas em casas particulares (Yodanis, 2000). De facto, assim acontece nestas comunidades piscatórias, com uma

faina. Os homens do mar vivem do peixe que pescam, a maioria é vendida para obter dinheiro para poderem adquirir produtos e pagar as despesas e uma pequena parte é para consumo familiar. No fundo, o que pescam é a fonte de receitas do agregado familiar das famílias de pescadores (Béné, 2009). No entanto, devido à sazonalidade da pesca alguns pescadores têm atividades complementares, por exemplo, na construção civil, para fazerem face às despesas durante os meses de inverno.

A pesca assume há décadas uma relevância económica e social na vida nestas duas freguesias, o que se traduziu na fixação de populações e na criação de emprego direto na atividade e em outras dela dependentes, como são o caso da comercialização de pescado fresco e o abastecimento do mercado local, a indústria transformadora, o fabrico e comercialização de apetrechos de pesca e o turismo. Paralelamente, a pesca sustenta a manutenção de importantes tradições locais relacionadas com os homens do mar como é exemplo a Festa de Nossa Senhora da Bonança em Vila Praia de Âncora.

À semelhança da Nazaré, o ritmo de vida da comunidade de Vila Praia de Âncora passa a ser determinado pelo forte contraste entre a azáfama de verão, com a atividade piscatória, dando à praia um colorido e uma agitação permanentes, com as mulheres a venderem o peixe, nalguns casos ajudadas pelos maridos, e os homens a prepararem a próxima faina remendando as redes e acondicionando os anzóis (Trindade, 2008). À agitação da pesca junta-se as centenas de turistas, que com o fim do verão partem e as saídas para o mar tornam-se mais irregulares (Trindade, 2008).

A maioria do desenvolvimento económico das comunidades é realizado por entidades sem fins lucrativos que ajudam ao desenvolvimento das comunidades mais necessitadas. Um exemplo disso é a Comunidade Intermunicipal do Minho Lima (CIM Alto Minho), com o recém-criado Grupo de Acção Costeira do Litoral Norte (GAC Alto Minho), o qual tem como fim ajudar o desenvolvimento das comunidades piscatórias do território, apoiando-os na apresentação de candidaturas ao Eixo 4 do Programa Operacional das Pescas (PROMAR) com o intuito de melhorar a qualidade de vida dessas comunidades. O GAC Alto Minho, apesar de estar sujeito às regras da Direcção-Geral de Pescas e Aquicultura (Lisboa), pretende que os fundos disponíveis para o desenvolvimento das comunidades piscatórias sejam utilizados de facto para a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades.