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Fatores que influenciam a adoção de práticas de turismo sustentável

Capítulo 2: Turismo sustentável

2.2 Desenvolvimento do turismo sustentável

2.2.3 Fatores que influenciam a adoção de práticas de turismo sustentável

Apesar de se dizer que os números não são uma medida totalmente satisfatória, a realidade é que há um número máximo de visitantes que podem ser recebidos num destino, se o número é excedido ocorrerão efeitos negativos e por vezes irreversíveis, podendo os seus impactes serem ou não imediatos. Se o uso abusivo e sobredesenvolvimento continuarem a ocorrer seja qual for a forma de turismo esta será insustentável naquele destino (Butler, 1999; Choi e Sirakaya, 2005).

Butler (1999) alerta que o turismo de massas (turismo habitualmente associado ao Sol e Praia, bem como a centros de maior concentração turística, que tem como características principais a compra de pacotes por um grande número de turistas que, regra geral, faz férias na época alta, contribuindo, assim para a sazonalidade da atividade) é extremamente popular e não vai desaparecer ou ser substituído pelo turismo alternativo (turismo realizado por grupos pequenos em que há uma motivação específica e pode-se realizar fora da época alta, muitas vezes designado na literatura como ecoturismo, turismo verde, turismo responsável, turismo de natureza). Butler (1999) refere ainda que o turismo teve um grande crescimento ao longo das décadas e que a maioria desse crescimento se deve ao turismo de massas. Butler (1999) escreve no seu artigo que estas formas de turismo ao aumentarem a popularidade poderão tornar-se em turismo de massas

também leva ao desenvolvimento de infraestruturas e mudanças nos destinos para receber os turistas, o que pode ter impactes negativos se forem construídas em áreas frágeis ou se a sua construção não tiver em atenção as dimensões social e cultural do destino (Butler, 1999). Por seu lado, Simpson (2001) refere que o desenvolvimento do turismo de nichos, por oposição ao turismo de massas, não é uma garantia de sustentabilidade das atividades e destinos turísticos. Hunter (1997), numa das abordagens mais economicista e virada para os produtos turísticos, afirma que nos destinos onde o turismo está enraizado, a prioridade pode passar pelo desenvolvimento de novos produtos turísticos, pois a população sem a riqueza gerada pela atividade turística vai perder qualidade de vida e o seu bem-estar diminuirá, o que poderá originar a médio e longo prazo uma espiral de pobreza e de degradação ambiental.

A gestão sustentável dos recursos turísticos e o planeamento sustentável desses recursos implicam um amplo conhecimento das condições da área destino sendo para isso necessário realizar um diagnóstico das características do destino (Careto, 2006). O sucesso do diagnóstico depende de três fatores chave: da participação de todos; da interdisciplinaridade da equipa técnica e da continuidade, ou seja, da possibilidade de se fazerem alterações de acordo com as mudanças que ocorram (Careto, 2006).

Para que as práticas sustentáveis adotadas pelos responsáveis do sector do turismo e pelos turistas mais sensíveis a estas questões sejam uma realidade deve haver, em primeiro lugar, uma consciencialização da sustentabilidade na verdadeira aceção do conceito. Além disso, é necessário apostar-se na regulamentação do sector, pois a atividade turística é das menos regulamentadas o que traz sérias implicações para os ecossistemas, comunidades locais e culturas de todos os destinos turísticos (Careto e Lima, 2006).

Conclusão

Ao longo deste capítulo procurou-se apresentar um quadro conceptual do turismo sustentável, bem como as dimensões que o integram. Dada a importância de existência de indicadores para avaliar o desenvolvimento sustentável de destinos turísticos também se apresentaram algumas propostas de indicadores.

Como se verificou neste capítulo, o aparecimento do conceito desenvolvimento sustentável em 1987 levou à adoção deste conceito em muitas áreas, entre elas a atividade turística, tendo surgido assim o conceito de turismo sustentável. O turismo sustentável está cada vez mais em voga e muitos são os que procuram este tipo de turismo, sendo mais, ainda, os que utilizam este termo para captar turistas, quando na realidade não passa de um slogan e a sustentabilidade no destino é inexistente, o que leva ao descontentamento da população. A crescente preocupação com a sustentabilidade no sector turístico levou a que fosse criada a Agenda 21 para a Indústria de Viagens e Turismo, na qual se estabeleceram as áreas prioritárias de ação para as autoridades governamentais e para as empresas do sector.

Observou-se que as tendências da indústria turística demonstram uma cada vez maior segmentação do mercado, originada pelo aparecimento de novas formas de turismo, regra geral relacionadas com a natureza, a vida selvagem, o turismo rural e cultural, as quais se justificam pelos turistas serem cada vez mais seletivos

e exigentes e pretenderem contribuir para a sustentabilidade do território visitado (Careto e Lima, 2006). Esta é uma realidade que muitos destinos poderiam aproveitar para desenvolver de forma sustentável a região e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população. No entanto, para que isto suceda tem-se de ter em atenção as várias dimensões do turismo sustentável, sobretudo a social, a cultural, a económica e a ambiental, bem como incentivar a participação da comunidade local.

Como se referiu neste capítulo, designar uma forma de turismo de “turismo sustentável” não implica que a mesma seja efetivamente sustentável, daí ser extremamente importante monitorizar os impactes para se verificar se, de facto, esta é sustentável. De acordo com Butler (1999) este processo é complexo porque é necessária uma análise multisectorial e não se deve apenas estimar os impactes diretos do turismo no ambiente físico e humano do destino, para que isto aconteça é importante que todos os intervenientes estejam interessados em participar realmente no processo. Neste processo, o sector público, assume um papel muito importante, pois é o responsável por delinear uma estratégia e regulamentar o sector com o intuito de tornar esta atividade realmente sustentável. Em termos de indicadores o destaque vai para a compilação de indicadores para avaliar o desenvolvimento sustentável do turismo publicada pela OMT, em 2004, e para o trabalho de Choi e Sirakaya (2005) que definiram uma listagem de indicadores para cada uma das dimensões que integram o conceito de desenvolvimento sustentável do turismo. Estes indicadores permitem monitorizar a atividade turística e os seus impactes sobre a área destino.

Com este capítulo conclui-se que o desenvolvimento sustentável do produto turístico é fundamental, pois uma maior consciencialização resultará na procura de destinos sustentáveis, nos quais a natureza e as comunidades locais desempenham um papel de destaque, devendo o preço que o cliente final paga integrar os custos da sustentabilidade (Careto e Lima, 2006).

O conceito turismo sustentável é apreciado e elogiado por muitos, no entanto, a adoção por parte de todos e o sucesso das atividades e/ou empreendimentos nunca serão uma realidade, a menos que os atores do sector turístico unam esforços e realmente implementem atividades/empreendimentos sustentáveis, pois não basta utilizar o termo “sustentável”, tem-se de agir e seguir diretrizes rumo à sustentabilidade. Na ausência de dados concretos e fidedignos e de uma monitorização eficiente não se pode dizer se a atividade de uma empresa do sector do turismo é sustentável no imediato. Esta avaliação apenas é possível anos depois, após uma comparação entre o que existia e o que passou a existir, bem como através de uma análise dos seus impactes no destino.

Ao contrário do que seria de esperar, ainda não existe uma definição consensual de turismo sustentável. Este facto, de certa forma, justifica a ausência de monitorização da atividade turística e da sua sustentabilidade, pois ao adotar-se uma definição que incida maioritariamente sobre uma das dimensões, as restantes dimensões podem ser negligenciadas e, consequentemente, algo que supostamente seria sustentável pode destruir elementos que tornam uma região única. Apesar da resistência de muitos agentes

sua adoção é uma necessidade para o sucesso dos destinos a longo prazo, para a sua preservação, bem como para a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais, sem as quais um destino perde parte da sua alma.

Pode-se concluir que o turismo sustentável pode ser o futuro, desde que esta atividade preserve os valores, costumes e demais aspetos relacionados com a comunidade recetora, o ambiente em que a comunidade se insere e os recursos endógenos da região. Para existir sustentabilidade é, também, necessário que haja um equilíbrio entre as diversas dimensões que integram o turismo sustentável e se canalize as receitas para a área destino e em prol desta, devendo os benefícios serem distribuídos equitativamente. De referir, ainda, que o sucesso e competitividade dos destinos depende da capacidade de adaptação dos mesmos às exigências dos turistas, que se preocupam com a sustentabilidade dos destinos e procuram este tipo de destinos, mas nunca esquecendo o desenvolvimento sustentável do destino.

Das diversas dimensões mencionadas neste capítulo o destaque nesta dissertação vai para a dimensão sociocultural, pois sem a comunidade recetora, sem o envolvimento de todos os atores e a satisfação dos mesmos, o turismo, independentemente de ser sustentável nas outras dimensões, ou não, nunca terá sucesso. Neste sentido, é fundamental monitorizar e avaliar o grau de satisfação da comunidade, as suas atitudes e a perceção que a mesma tem dos impactes da atividade turística no seu território.

Uma vez que a monitorização da sustentabilidade turística só é possível se o destino estiver devidamente identificado e caracterizado o terceiro capítulo desta dissertação pretende definir destinos turísticos piscatórios e caracterizar o desenvolvimento sustentável neste tipo de destinos.