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Destino turístico: conceito e características

Capítulo 3: Desenvolvimento sustentável dos destinos piscatórios

3.1 Destino turístico: conceito e características

A definição de destino não é consensual devido à diversidade de destinos que existe em termos de características, problemas e oportunidades (Eusébio, 2006)

Silberberg (1995) define destino simplesmente como sendo um local que as pessoas planeiam visitar. Por seu lado Buhalis (2000) e Fyall e Garrod (2005) definem destino como uma amálgama de produtos turísticos que oferecem de forma integrada experiências aos consumidores.

Eusébio (2006) alerta para a existência de dois elementos-chave nas inúmeras definições de destino: a existência de vários elementos (físicos e humanos) e a sua interligação. Assim um destino é: “um espaço geográfico onde existem elementos naturais (clima e paisagem), construídos (atracções construídas, infra- estruturas de apoio e serviços turísticos) e elementos sócio-culturais (cultura e hospitalidade dos residentes) que interagem uns com os outros e que se encontram em constante mutação.” (Eusébio, 2006: 24)

De facto, os destinos são uma das entidades mais difíceis de gerir devido à diversidade de atores que integram e à complexidade de relacionamentos entre os diferentes atores (Buhalis, 2000).

Eusébio (2006) afirma que apesar de existirem diversas classificações dos destinos turísticos, a maior parte delas utiliza o tipo de atrações turísticas oferecidas pelo destino como critério de classificação.

Ko (2005) define destino turístico como uma atração turística (natural ou construída), incluindo o sistema humano e o ecossistema, influenciada pelas atividades turísticas nela desenvolvidas. Em termos de atrações turísticas, os destinos podem ser de dois tipos: naturais e construídos. A maior parte dos destinos, quer sejam naturais ou construídos, são geridos de alguma forma. Por exemplo, um parque nacional, apesar de ser deixado, o mais possível, no seu estado natural, é gerido com o intuito de o preservar e, simultaneamente, desenvolver infraestruturas e equipamentos (como por exemplo acessos, parques de estacionamento, parques de campismo ou caravanismo, caixotes do lixo) que permitam usufruir do espaço de forma sustentável (Holloway, 2006). Os destinos necessitam de atrações, instalações e acessibilidades adequadas para atrair visitantes. Quantas mais atrações um destino possuir mais fácil será colocá-lo no mercado (Holloway, 2006; Prideaux, 2009). Muitas das atrações que um destino possui baseiam-se nas suas características físicas como a beleza das montanhas; a brisa num resort costeiro e as qualidades de uma determinada praia; a arquitetura histórica; a existência de oportunidades de entretenimento e “atmosfera”. A estas atrações podem-se juntar inúmeras atrações construídas, como por exemplo um museu, um casino e/ou um centro de conferências (Holloway, 2006).

Um destino também pode ser classificado de acordo com as suas características geográficas: turismo costeiro; turismo rural e turismo urbano (Holloway, 2006). No turismo costeiro incluem-se entre outros os resorts à beira-mar e as praias naturais. O turismo rural inclui, por exemplo, o agroturismo e os parques nacionais, por seu lado, o turismo urbano engloba visitas a centros urbanos (Holloway, 2006).

Middleton e Hawkins (1998) consideram que se pode definir como destino turístico resorts costeiros, lacustres ou nas montanhas, bem como cidades, vilas históricas ou áreas geográficas, como os já referidos parques nacionais. Ainda de acordo com Middleton e Hawkins (1998) alguns destinos são fechados como a Disneyland Paris, mas a maioria integra os residentes, as atividades económicas desenvolvidas, incluindo o turismo, e os visitantes. De referir que para o destino ser sustentável o sistema humano e o ecossistema têm de ser sustentáveis simultaneamente. Num destino existem várias questões que não podem ser explicadas por dados quantitativos, mas pela sabedoria e experiência dos interessados (Ko, 2005). De facto, alguns dos recursos consumidos pelos turistas são intangíveis (cultura local, sons, cheiros, …) e estes diferem de comunidade para comunidade e tornam um destino único (Briassoulis, 2002). Um destino deve possuir sentido de identidade e é importante que possua características únicas (Schianetz et al, 2007).

Os destinos turísticos diferem na sua dimensão, um destino pode ser um país, um estado, uma região, uma localidade ou um simples resort (Schianetz et al, 2007). Holloway (2006) corrobora esta ideia afirmando que um destino pode ser um resort, uma localidade, uma região dentro de um país, o país na sua totalidade ou

abranger uma área ainda maior. Atualmente, existem pacotes que abrangem visitas a países cujas atrações sejam distintas, por exemplo que englobe num país visita a monumentos, num segundo compras e vida noturna e no último país consista em passar uns dias na praia. Esta abordagem “escolhe e mistura” uma variedade de destinos com atrações diferentes está a tornar-se comum (Holloway, 2006).

De referir, ainda que, por vezes, o destino é definido através das perceções que os turistas possuem das atividades que podem praticar no destino, sendo essas perceções influenciadas pelo itinerário, bagagem cultural, propósito da viagem, nível de educação e experiência passada dos visitantes (Buhalis, 2000; Middleton e Hawkins, 1998; Kastenholz, 2002).

Após estas definições de destino turístico importa referir quais são os elementos que integram um destino, os quais estão identificados na Figura 3.1.

Figura 3.1 – Destino Turístico

Fonte: elaborado com base em Briassoulis (2002)

Esses elementos são o ambiente natural, sociocultural e/ou construído onde as atividades turísticas e não turísticas são desenvolvidas utilizando toda uma série de infraestruturas, as quais foram criadas para serem

Destino Turístico

Ambiente

(natural, sociocultural e construído)

Atividades

Atividades turísticas

Atividades não turísticas

Comunidades/Residentes locais Visitantes Infraestruturas

Turísticas

Outras infraestruturas

usufruídas pelas comunidades e/ou visitantes. Ambos os grupos vão interagir com o ambiente e com os prestadores dos vários serviços (turísticos ou não) existentes no território.

Como se pode verificar pela figura 3.1 existem várias relações e ligações num destino turístico, logo este não é estático, os destinos turísticos são dinâmicos. Schianetz et al (2007) corroboram esta ideia ao referirem no seu artigo que um destino turístico regra geral desenvolve-se dinamicamente, ou seja, durante o ciclo de vida do destino a maioria dos interessados envolvidos no desenvolvimento da atividade turística vão mudando contínua e drasticamente de proprietários de pequenas unidades de alojamento e de negócios no sector turístico que constituem uma segunda fonte de rendimento para negócios turísticos altamente competitivos e especializados que passam a ser a principal fonte de rendimento.

Os destinos podem encontrar-se em diferentes níveis do ciclo de vida e, como é óbvio, as estratégias adotadas diferem do mesmo: um destino no início de crescimento preocupa-se com o desenvolvimento de infraestruturas apropriadas e com a definição dos mercados, por seu lado, um destino na fase de maturidade ou na fase de estagnação desenvolve estratégias para manter os mercados ou explorar novos segmentos de mercado (Schianetz et al, 2007).

As estratégias adotadas devem também ter em atenção toda uma série de problemas que surgem com o desenvolvimento turístico. No que se refere aos fluxos de pessoas ocorre, em muitos destinos, um grande fluxo de turistas e empregados sazonais. Estas pessoas estão no destino transitoriamente, ou seja, estão por um curto período de tempo e, durante o mesmo, a capacidade de carga aumenta e a qualidade de vida no destino diminui. Este superpovoamento do destino, que é regra geral acompanhado de impactes a nível social e ambiental, destrói a base do destino turístico (Schianetz et al, 2007). De facto, todos os destinos podem sofrer uma utilização excessiva e para os destinos mais populares este é um problema crescente (Holloway, 2006).

Quando a quantidade e qualidade de recursos diminui a capacidade de atração de um destino diminui (Briassoulis, 2002). A sobreutilização dos recursos diminui as receitas, aumenta os custos, diminui o emprego, o rendimento e a satisfação turística. A competição torna os destinos mais vulneráveis e menos procurados devido à exploração de que foram alvo os seus recursos (Briassoulis, 2002). A perda de valor estético de destinos é algo que ocorre na costa mediterrânica, a este problema destes destinos populares há a juntar a sazonalidade e a sobreutilização de recursos. Estes dois aspetos estão relacionados, pois há extremos no uso dos recursos: ora são pouco usados, ora estão congestionados (Briassoulis, 2002).

Além da sazonalidade e excesso de capacidade de carga e dos impactes que estão inerentes a estes dois aspetos, os destinos têm outros problemas a ultrapassar tais como: recursos limitados; troca de informações/dados limitada; barreiras linguísticas e culturais; inveja e desconfiança entre instituições e empresários (Yuksel e Yuksel, 2005). De acordo com Dyer et al (2003) e Ryan e Aicken (2005) nos destinos turísticos a conservação da diversidade cultural é uma prioridade, pois o turismo pode ter um impacte negativo na cultura e tradições locais, os quais são parte integrante do destino.

Os elementos base (como a costa e os artefactos culturais) são os inputs mais importantes para o turismo, pois caracterizam o mesmo, sendo consumidos quer por residentes locais quer por turistas (Briassoulis, 2002). No entanto, muitas vezes esquece-se que o consumo por parte dos residentes pode ter maior impacte do que o consumo por parte dos turistas. Um exemplo disso é a Costa Mediterrânica que sofre pressão de inúmeras atividades económicas e não apenas da atividade turística (Briassoulis, 2002).

Os destinos turísticos também são influenciados pelas mudanças globais, talvez a um nível bastante elevado, daí necessitarem de se desenvolverem de forma adaptativa e flexível para manterem a capacidade de competitividade (Schianetz et al, 2007). De referir que há casos em que a natureza e sensibilidade de um destino podem indicar que o turismo não é uma opção para o desenvolvimento sustentável da região em causa (Briassoulis, 2002).