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2.2. Lugares de memória: livros, atividades escolares e monumentos

2.2.2. Atividades Escolares

O processo de produção da memória sobre Calabar em Porto Calvo, também tem sido um trabalho de investimento na educação. As iniciativas particulares, como a de Valdomiro Rodrigues, em aplicar conteúdos históricos em suas aulas, como as iniciativas públicas, de contribuir na elaboração da cartilha didática de Rodrigues (2011), ou de montar um plano pedagógico para as escolas do munícipio que deem possibilidades aos professores para o ensino de história da cidade e de Calabar, fazem parte do processo de construção e divulgação dessa memória. Como mostra Jelin, “uma vez estabelecidas estas narrativas canônicas oficiais, ligadas historicamente ao processo de centralização política na etapa de confirmação dos Estados Nacionais, se expressam e cristalizam nos textos de história que se transmite na educação formal” (2015, p. 224 – 225). Em nosso caso, essas narrativas estão vinculadas à tentativa de tornar uma perspectiva sobre nosso personagem como ‘oficial’, no sentido de que toda a população se identifique com essa história e não seja mais comum o lugar de Calabar entre os traidores da pátria. O motivo dessas atividades vinculadas à história serem incentivadas pela secretaria de educação tem parcela da contribuição individual da coordenadora pedagógica das escolas municipais, Claúdia Cunha. Ela nos apresentou81 as propostas que têm sido articuladas há algum tempo, tanto no sentido de dar aos professores direção em como tratar os assuntos históricos, como no de realizar ações com os estudantes.

Entre as atividades elaboradas no sentido de consolidar a memória sobre Calabar,

foi feita uma gincana em 201482 sobre os temas históricos de Porto Calvo com os alunos

do ensino fundamental – o município é responsável pelo ensino fundamental. Nessa gincana foram fixados os assuntos estudados e uma das atividades foi uma cruzada feita com os alunos. Foram 23 questões, com informações que podem ser facilmente encontradas no material produzido por Rodrigues (2011). Dentre elas, três fazem menção ao nosso personagem: filho ilustre de nossa terra que foi enforcado; visão de alguns historiadores sobre Calabar; povo que conquistou a confiança de Calabar fazendo com que ele mudasse de opinião.

81Em conversa na secretaria de educação do município no dia 05 de fevereiro de 2018.

82SILVA, Maurício. ‘Gincana cultural’ leva estudantes a se debruçarem sobre a história de Porto

Calvo. Alagoas Boreal, 22 de março de 2014. Disponível em

<http://alagoasboreal.com.br/noticia/592/municipios/-gincana-cultural-leva-estudantes-a-se-debrucarem- sobre-a-historia-de-porto-calvo>, acesso em 20/02/2018.

Além da gincana, tem sido produzido um guia pedagógico, para contribuir nesse trabalho de fazer, entre os estudantes, conhecida a história de Calabar. O material está em fase de atualização para ser apresentado, em 2018, ao prefeito, com a proposta de tornar obrigatório o ensino de história de Porto Calvo nas escolas municipais. Produzido sob a proposta interdisciplinar que reúne as áreas de história, geografia, artes e português, apresenta conteúdos, habilidades (objetivos), material para pesquisa e metodologia. Os assuntos propostos a serem tratados em sala pelos professores são: localização geográfica de Porto Calvo e Alagoas (mapas), história da cidade de Porto Calvo, ‘povos nativos do Brasil’, história de Calabar, Zumbi dos Palmares e Clara Camarão, hidrografia de Porto Calvo, lendas da cidade, patrimônio cultural, bandeira, hino e festas culturais da cidade, economia e atualidade política. A base desses conteúdos, como dito, é o livro Porto Calvo e sua história (2011) de Valdomiro Rodrigues. Também propõe no guia, uma atividade de dramatização para ser executada com os alunos.

Essas são as atividades desenvolvidas junto as escolas, ações também recentes que estão procurando tornar cada vez mais comum entre a população a figura de Calabar. Entretanto, como vimos, antes dessas produções não havia, em Porto Calvo, diferença no ensino de história sobre o período da narrativa consolidada como ‘oficial’ que colocava Calabar como traidor.

Há mais um material didático de ensino fundamental para nós disponibilizado que é trabalhado nas escolas, também de outros munícipios: Alagoas – geografia e história

(2000), de Celme Farias Medeiros83, que traz uma unidade sobre a ‘invasão holandesa’,

dentro dela, um capítulo sobre Calabar – “Conhecendo Calabar”. Traz ainda um box com uma pequena biografia de nosso personagem, a transcrição da ‘Carta de Calabar’, divulgada por Assis Cintra, e a constatação de que Calabar não era traidor e sim herói. Supomos que a autora tenha consultado a cópia da carta existente no Instituto Histórico Alagoano, visto que também insere o trecho final do documento, acrescentado pela pessoa que datilografou a cópia, em que se lê “assim, não podemos aceitar, sem análise e ponderação, o ponto de vista dos antigos historiadores que se fixaram na deserção de Calabar [...]” (MEDEIROS, 2000, p. 44).

Todas essas atividades e produções escolares nos permitem perceber como está sendo consolidada a memória sobre Calabar naquela cidade. As atividades escolares, as

aulas, os materiais didáticos são importantes meios de formação da cultura e da memória de um grupo social. Assim, foi importante a apresentação dessas ações para cada vez mais tornar-se compreensível a narrativa que tem sido divulgada e, através do poder público, oficializada em Porto Calvo. Os processos de seleção e enquadramento da memória, como vemos, se dão pelo conteúdo histórico que apreendem e pela identificação que proporciona uma memória capaz de ser acessada pelos ‘lugares de memória’.