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FOTO 2- Prédio atual onde funciona a Escola Estadual Dom Benevides

3. DIÁLOGO ENTRE OS DADOS DA PESQUISA E OS APORTES TEÓRICOS

3.2 Atividades extraclasse realizadas na Escola Estadual Dom Benevides

Para a seleção e análise das atividades extraclasse tivemos respaldo na ficha de observação para a 1º série, estas atividades estão relacionadas à sondagem de interesses e aptidões. A escolha deu-se por ser a 1ª série do ensino de 1º grau e pelas demais fichas serem semelhantes quando se trata dos anos iniciais do ensino de 1º grau. Com relação às outras atividades, as fichas apresentam conteúdos diferentes para cada disciplina (Comunicação e Expressão, Matemática, Ciências e Estudo Sociais) e a série. Já as atividades extraclasse, são as mesmas para todas as séries da 1ª a 4ª.

QUADRO 08 – Ficha de observação individual

ATIVIDADES EXTRACLASSE

CONCEITOS

Participa com interesse de: 1. Recreações:  Xadrez

 Outros jogos de mesa

Sempre Quase

sempre Ocasionalmente Nunca Não pude observar

SOMA 2. Esporte:  Pingue-pongue  Natação  Voleibol  Basquete  Futebol  Hand boll  Tênis  Judô  Outros esportes  Gincanas  Torneios esportivos SOMA 3. Excursões ao ar livre:  Zoológico  Colônia de férias  Parques SOMA 4. VISITAS  Estabelecimentos industriais  Obras sociais  Exposições SOMA

ATIVIDADES EXTRACLASSE CONCEITOS 5. Atividades literárias, artísticas e culturais  Jornal escolar  Grêmios literários  Bandinha Escolar  Conjunto escolar  Coral

 Visitas a museus de arte  Visita a exposições de trabalhos escolares  Filmes recreativos  Filmes educativos  Espetáculos teatrais escolares  Biblioteca escolar  Museu escolar  Feira de ciências  Concursos interescolares Sempre Quase

sempre Ocasionalmente Nunca Não pude observar

SOMA

6. Atividades cívico- econômico-sociais  Visitas a locais e

monumentos históricos  Concurso sobre temas

cívicos  Participação em campanha da comunidade escolar  Banco escolar  Conselho escolar SOMA 6. Excussões ao ar livre:  Zoológico  Colônia de férias  Parques SOMA 7. Clubes  Escolar  Agrícola  Saúde  De leitura  Cine-clube  Fotografia SOMA

 Que profissão o aluno deve seguir?

 Que profissão os pais do aluno gostariam que ele seguisse?  Observações:

Fonte: MINAS GERAIS, 1975, p.29

Como podemos perceber, as atividades extraclasse destacadas na ficha de observação contemplam a recreação, o esporte, as excursões, as atividades literárias, artísticas e culturais, as atividades cívico-econômico-sociais e clubes, como visto no quadro 7.

Com relação ao aprendizado dos alunos, as atividades propostas nas fichas propiciavam o contato dos alunos com diversas áreas do conhecimento, especialmente, no que diz respeito às atividades artísticas e culturais. Ressaltamos que a cidade de Mariana está inserida em um contexto cultural muito rico da história do país e da construção da própria cidade. Já para algumas das atividades propostas como o esporte, identificamos que o espaço físico da escola não proporcionava a efetivação total destas práticas, visto que as atividades esportivas sugeridas demandam espaço, formação especializada e material apropriado, o qual a escola não tinha condições econômicas para adquiri-lo.

O currículo para os anos iniciais do ensino de 1º grau consistiu, conforme descrito na Lei nº 5.692/1971, artigo 4º, em um núcleo comum, obrigatório ao sistema de ensino em âmbito nacional e outra parte diversificada de modo a atender às peculiaridades locais. As atividades propostas no currículo oficial já estavam previstas desde a LDB de 1961. Mas foi com as reformas educacionais no período pós golpe de 1964, é que se tornaram mais relevantes.

O regime militar visou a formação técnica para atender às necessidades do país que se encontrava sob o discurso de desenvolvimento econômico. Assim, foram reestruturados os cursos de formação superior pautados na reforma universitária de 1968 e a reforma de ensino de 1º e 2º graus. Para a presente investigação, focamos na reforma de 1º grau, especificamente nos quatro primeiros anos.

Conforme mencionado anteriormente, as atividades que fizeram parte do currículo comum não sofreram alterações com a promulgação da Lei nº 5. 692/1971. A proposta dessa lei foi dar continuidade ao que vinha sendo desenvolvido, com exceção das disciplinas Moral e Cívica e Educação Física que se tornaram obrigatórias. As mudanças maiores ocorreram no âmbito das atividades extraclasse, no caso de Minas Gerais foram delimitadas pelo documento “Sondagens de interesses e aptidões no currículo de 2º grau” (1975).

O Parecer nº 45/1972, as matérias relacionadas à formação especial do currículo nos anos iniciais do ensino de 1º grau tinham o objetivo de explorar aptidões e descoberta de vocações, “com o fim último de ajudar e orientar o educando na escolha de oportunidade de trabalho ou mesmo de estudos ulteriores, não devem comportar programas rígidos e sistematizados”. (BRASIL, 1972). O parecer esclarecia que a iniciação para o trabalho deveria conter atividades desenvolvidas pelo educando no ensino de 1º grau, na escola e na comunidade, a fim de

Orientá-los no sentido de conhecerem os diversos campos de trabalho existentes na localidade, na região e no país, os diversos sistemas de produção e prestação de serviços, a aplicação de materiais e instrumentos e a prática inicial na execução de tarefas que envolvam os aspectos de criatividade, utilidade, organização, experimentação de técnicas básicas e avaliação da qualidade (BRASIL, 1972).

Tratava-se de orientar o educando mais do que ensiná-lo. Por meio da experimentação, o aluno vive experiências, “enfrenta situações-problema, aprende a escolher meios para dar soluções, sem, entretanto, chegar à condição de um profissional qualificado tal como o conhecem ‘stricto sensu’ a agricultura, a indústria, o comércio e os serviços” (BRASIL, 1972). No que tange a este processo, está o desenvolvimento da noção, da estima, do gosto pelo trabalho “elementos indispensáveis à formação geral e à orientação profissional ulterior” (BRASIL, 1972).

Nesta direção, o ensino público foi pensado para formar as classes populares para a mão-de- obra. Desta maneira, o Parecer nº 339/1972, criado no contexto de reformas educacionais e tendências pedagógicas pautadas no tecnicismo, teve o objetivo de esclarecer a Lei nº 5. 692/1971 quanto à formação para o trabalho em todos os anos do ensino de 1º grau. Conforme Parecer nº 339/1972 a expressão “qualificação para o trabalho” assumiu diversas significações, haja vista os objetivos propostos pela Lei nº 5.692/1971, quando afirma:

A expressão "qualificação para o trabalho" assumirá conotações as mais diversas, conforme se refira a objetivos de ensino de 1º ou de 2º grau. A própria Lei nº 5.692/71 é significativa quando diz, no § 29 do artigo 59, que: "§ 29 - A parte de formação especial do currículo: a) terá o objetivo de sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho, no ensino de 1º grau, e de habilitação profissional, no ensino do 2º grau" (PARECER, Nº 339). (BRASIL, 1972,

Quanto aos objetivos para a sondagem e iniciação para o trabalho em todo o ensino de 1º grau, a Recomendação nº 57, da Conferência Internacional do Trabalho de 1939, discutida no Parecer nº 339 de 197221 ressalta:

a) Interesse pelas profissões: - Desenvolver, no aluno, acentuado interesse pelos assuntos relacionados com o mercado de trabalho, das áreas econômicas (primária,' secundária e terciária), processos de produção, ocupações e outros aspectos concernentes à função desempenhada pelo fator humano no desenvolvimento econômico do país; b) Apreciação ou critica: - Desenvolver no jovem a capacidade de apreciar, selecionar, criticar e julgar os produtos que adquire ou os serviços que lhe são prestados, como consumidor ou cliente; c)

Desejo de cooperação: - Desenvolver no educando o espírito de trabalho em

grupo, de colaboração, bem como o reconhecimento da importância de função que desempenha como membro da equipe e de sua responsabilidade para o êxito dos resultados finais; d) Interesse pelo trabalho útil: Desenvolver, no aluno, o sentimento de orgulho pelo trabalho útil e bem feito e a consequente preocupação de empregar seus momentos de lazer em atividades sadias[...] (BRASIL, 1972).

Os documentos apresentados dialogam entre si, mostrando que, por parte do governo, houve a intenção e o interesse em formar o educando no sentido de instigá-lo e ajudá-lo a descobrir sua vocação e aptidão para uma futura profissão. Sabemos que a formação para o trabalho não foi somente característica do governo militar, uma vez que o pensamento produtivista de educação já vinha sendo desenvolvido. Porém, foi no governo militar que ganhou maior destaque, desde os acordos (MEC-USAID) firmados entre o governo brasileiro e norte-americano, cujo principal objetivo foi adequar o sistema educacional ao capitalismo.

Em vista disso, o referido parecer é relevante para este estudo no sentido de discutir e aclarar a Lei nº 5.692/1971, quanto ao ensino de 1º grau, especificamente quando menciona: “despertar o interesse pela profissão, pelo trabalho útil, desejo de cooperação”. São aspectos propostos desde os anos iniciais do ensino de 1º grau, no qual trabalhou-se com a ideia de iniciar, introduzir a sondagem de aptidões, características de uma educação pautada no produtivismo.

Ainda no referido Parecer:

[...] e) Espírito de ordem e método de trabalho: Formar no educando, o hábito de planejar o trabalho antes de iniciar sua execução, de realizá-lo racionalmente obedecendo a sequência de fases ou cronogramas previamente fixados; f) Hábitos

sensoriais-motores e conhecimentos técnicos: Desenvolver no aluno, hábitos

sensoriais-motores e atitudes requeridos para a utilização adequada de equipamentos simples ou execução de serviços e proporcionar-lhe, simultaneamente, conhecimentos técnicos concernentes a materiais e a processos

21 BRASIL. Recomendação n. 57, da Conferência Internacional do Trabalho, de 1939. In: AGUIAR, José Márcio

de trabalhos utilizados nas tarefas que deverá efetuar nos laboratórios (Oficinas) da escola e no decorrer de sua vida profissional futura. g) Orientação profissional: - Oferecer oportunidade ao aluno de realizar diferentes tipos de atividades que lhe permita evidenciar aptidões, vocação e interesses, para assim escolher, com mais acerto, a profissão que mais se coadune com suas aptidões e traços de personalidade[...]

[...]h) Desenvolvimento físico e mental: Possibilitar o desenvolvimento físico e mental do educando mediante a execução de trabalhos que permitam a ação muscular, a coordenação visual e motora, a utilização dos órgãos dos sentidos, o controle neuromuscular e a atividade do cérebro, Ao mesmo tempo, levar o educando a compreender que atividades manuais e mentais constituem um todo único, harmônico, fazendo desaparecer os preconceitos existentes contra o trabalho manual; i) Matéria auxiliar: - O conteúdo das Artes Práticas e das matérias que podem concorrer para a "iniciação ao trabalho", serve para integrar as demais matérias do currículo em "áreas de estudo" possibilitando, através das tarefas próprias ao mencionado setor de conhecimento, a concretização de projetos pertinentes às outras matérias, ilustrando-as e vitalizando-as (BRASIL, 1972).

Com base na interpretação deste parecer, podemos entender que a formação pretendida na década de 1960 e 1970 para o ensino de 1º grau foi a de oferecer ao educando uma preparação com maior segurança para a escolha de uma profissão futura. Desde os anos iniciais, foi preocupação da escola despertar o espírito de ordem, método do trabalho, hábitos sensoriais, motores, orientação profissional, desenvolvimento físico e mental, ofertando conteúdos que propiciavam o contato e a iniciação para o trabalho como as artes plásticas. Entretanto, a sondagem e iniciação para o trabalho nem sempre conduziam à formação profissionalizante do educando.

3.2.1 O Clube Agrícola: a horta escolar

No Livro de Atas 1970-1975 encontramos muitos registros sobre o Clube Agrícola, atividade prevista no programa de ensino dos anos iniciais do Ensino de 1º grau, esta atividade compreendia a horta escolar. Em reunião do dia 22 de maio de 1970, encontramos:

Finalidade foi apresentar às professoras instruções sobre a organização do “Clube Agrícola”. Falou sobre a finalidade do mesmo e como organizá-lo e mantê-lo. Foi combinado também nesta reunião a fundação de um “Clube Agrícola” no estabelecimento (LIVRO DE ATAS, 1970-1975, REUNIÃO 22/05/1970, p.06).

Observamos que em 1970, na escola pesquisada, houve reunião entre professoras e diretora com o intuito de criar o Clube Agrícola. No dia 17 de março de 1973 ainda se discutia a tentativa

de criar um Clube Agrícola que além de ajudar na alimentação das crianças, seria uma atividade que constava no programa de ensino e deveria ser realizada. Para tal, as professoras teriam o apoio de uma apostila22 abordando questões agrícolas.

Na oportunidade disse a diretora, que gostaria que tentássemos novamente criar a hortinha escolar, que tão grande ajuda à cantina. Também ao desenvolvimento da criança, para isto poderíamos pegar no gabinete aquela apostila de orientação sobre “Clube Agrícola”, que aliás já fora apresentada numa das reuniões de professores (LIVRO DE ATAS, 1970-1975, REUNIÃO 17/03/1973, p.23).

Entendemos que a atividade do Clube Agrícola não ocorreu nos anos entre 1970 a 1973. Verificamos por meio dos relatos a tentativa da diretora em fazê-lo funcionar, inclusive mencionando o material de apoio para que as professoras pudessem utilizar. No relato do dia 02 de março de 1973, a diretora novamente solicitou a fundação do Clube Agrícola o mais breve possível:

[...] a diretora Darcy Dias Betônico ressaltou: “Fundar o Clube Agrícola em nosso grupo o mais breve possível” (LIVRO DE ATAS, 1970-1975, REUNIÃO 02/05/73 p. 26).

Conforme o exposto, constatamos que a diretora, ao longo de três anos, continuou solicitando a criação e o funcionamento do Clube Agrícola. Diante dessas informações, podemos concluir que nesta escola, entre os anos de 1970 e 1973, houve a tentativa de cumprir, parcialmente, as exigências do currículo referente à parte diversificada, em especial o Clube Agrícola. Porém, na narrativa de algumas professoras, quando questionadas a respeito das atividades que faziam parte de suas práticas educativas, observamos que as tarefas descritas no Livro de Atas não ocorreram igualmente com todas as turmas.

A professora Gabriela do 1º ano relatou: “Tinha uma turma que, de vez em quando, mexia lá (horta). É tudo no horário de aula. Tinha uns minutinhos para ir lá”. Deste modo, constatamos que no 1º ano da referida professora a atividade agrícola não ocorreu. Entendemos que a não realização da atividade agrícola esteve relacionada à formação das professoras.

22 A apostila de orientação sobre o Clube Agrícola não foi encontrada na escola. Foi realizada a pesquisa por este

Em 02 de junho de 1973, verificamos novamente a solicitação da diretora sobre a fundação do Clube Agrícola. No Livro de Atas não encontramos registro de como deveria funcionar, nem as estratégias de ensino ou os conteúdos abordados, apenas a referência ao material de apoio. Assim, assinalamos que as professoras da escola pesquisada não estavam preparadas para atuar nesse campo de conhecimento e não tinham familiaridade com as práticas agrícolas.

No dia 10 de setembro de 1974 identificamos mais um relato:

Quanto a horta escolar já foi dito na reunião anterior. O problema agora é somente de vocês. Vou dividir a mesma e deixar marcado com tábuas o nome da professora assim saberemos quem está trabalhando. Procurar um horário sem perda de tempo para o aluno ir a horta e capinar, plantar, porque isto também faz parte do programa. Para capinar e molhar o jardim fica escalado as turmas da manhã e tarde[...] (LIVRO DE ATAS, 1970-1975, REUNIÃO 10/09/1974, p.30 - 31).

Como vemos, ainda no ano de 1974, o Clube Agrícola apareceu no registro de atas como atividade em construção. Entendemos que a solicitação e o apelo descrito no trecho anterior reforçaram a tentativa da diretora em criar o clube que já vinha sendo mencionado nos anos anteriores. Observamos também que a diretora relembrou que a atividade deveria ser cumprida como parte do programa, contudo, não foi discutido como seria desenvolvida. A diretora solicitou o funcionamento do Clube Agrícola sem estratégias para solucionar as possíveis dificuldades, como compreender o plantio, preparação do solo, técnicas de plantio, encontradas pelas docentes. Nas atas de reuniões não há registros de argumentação por parte das professoras para a não realização da atividade.

A insistência por parte da diretora com relação ao funcionamento do Clube Agrícola nos chamou a atenção, pois, na maioria das reuniões registradas no Livro de Atas, há menção ao clube. Nossa hipótese para a insistência na realização da referida atividade consiste no fato de que a economia local se baseava na agricultura. A escola recebia crianças de baixa renda e pais que, possivelmente, trabalhavam no campo. Em vista disso, a insistência da diretora para o funcionamento do clube estaria relacionada com a vida rural das famílias. Por outro lado, não podemos descartar a importância da produção da horta para a alimentação dos próprios alunos.

Como sabemos, os objetivos da Lei nº 5. 692/1971 para o ensino de 1º e 2º grau, presentes no artigo 5º, inciso 2º, eram:

a) terá o objetivo de sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho, no ensino de 1º grau, e de habilitação profissional, no ensino de 2º grau; b) será fixada,

quando se destina a iniciação e habilitação profissional, em consonância com as necessidades do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos periodicamente renovados (BRASIL, 1971).

O Parecer nº 339/1972 de 06 de abril de 1972, elaborado para complementar e esclarecer a Lei nº 5. 692/1971, tratou da parte de formação especial do currículo para o ensino de 1º grau, ao aclarar o que se entendia por sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho.

Tanto quanto se possa estar de acordo com as verdadeiras intenções da Lei n. 5.692/71, deve-se considerar que, dada a vocação generalista do ensino de 1º grau, em nenhum momento a qualificação para o trabalho significará um esforço de qualificação profissional do educando (BRASIL, 1972).

O mesmo parecer destaca ainda os aspectos relevantes para esta análise como a parte de formação especial do currículo do ensino de 1º grau:

Os estudos da parte especial do currículo devem visar principalmente ao desenvolvimento das aptidões para o futuro exercício de uma profissão, da capacidade de discernir e conscientizar aptidões, interesses e exigências ligadas a uma (...) atividade profissional, de hábitos capazes de conduzir à autossuficiência econômica, de atitudes de valorização do trabalho como imperativo econômico e moral da existência (BRASIL, 1972).

Os Conselhos de Educação, responsáveis pela parte diversificada que incluía a formação especial do currículo, atentou-se para as exigências locais e regionais. Desta forma, os municípios teriam autonomia para escolher as atividades conforme a peculiaridade local:

a) Área Econômica Primária: Agricultura, Pesca, Criação de Animais, Produtos agrícolas e Animais, Mecanização Agrícola, Economia Doméstica, Rural. etc.; b) Área Econômica Secundária: Organização Industrial, Economia Industrial, Mecânica, Metalurgia e Siderurgia, Mineração, Madeira, Artes Gráficas, Cerâmica, Couro, Plástico, -Tecelagem, Eletricidade, Eletrônica, Construção Civil. Química, Alimentação, Vestuário, etc.; c) Área Econômica Terciária: Comércio, Administração, Contabilidade, Turismo, Hotelaria, Publicidade, Bancos e Valores, Transportes, Comunicações, Alimentação, Administração Doméstica, Habitação e Decoração, Enfermagem, Puericultura, Vestuário, Estética Corporal, Higiene e Saúde, Datilografia, Estenografia, Taquigrafia, etc. (BRASIL, 1972).

Nos anos iniciais do ensino de 1º grau da Escola Estadual Dom Benevides não foi possível verificar todas as práticas descritas, porque a parte de formação especial deveria compor as

necessidades locais e regionais. No caso da cidade de Mariana-MG, nos anos de 1971 a 1985, a economia girou em torno da agropecuária (MARIANA, 2015).

Retomando a discussão feita anteriormente, no ano de 1975 ocorreu mais uma mobilização referente ao Clube de Agrícola:

Foi feita a leitura do Estatuto do clube Agrícola “Coelhinho Branco” da Escola Estadual Dom Benevides. Terminada a leitura entregou este trabalho para as professoras do 4º ano. Pediu que reunissem e fizessem a votação, elegessem os elementos necessários, verificassem o que plantar, como plantar, etc. p. Concluiu que o trabalho fosse feito este mês (LIVRO DE ATAS, 1970-1975, REUNIÃO 04/04/1975, p. 43).

Disse que mandou capinar a horta e o jardim por este serviço ser pesado para as crianças, para em seguida cuidar plantando, semeando, enfim, cuidando do mesmo, mas ao que parece não fizeram nada disto e tanto a horta como o jardim encheram de mato novamente. Espero que voltem a cuidar do jardim para evitar comentários piores (LIVRO DE ATAS, 1970-1975 REUNIÃO, 17/06/1975, p. 47).

No trecho da reunião do dia 04 de abril de 1975 observamos a leitura do estatuto do Clube Agrícola que nas reuniões anteriores não havia sido mencionado. Esta atividade deveria ocorrer em todas as turmas (1º ao 4º), entretanto, ocorreu de forma lenta, com a turma do 4º ano. No mês de junho conforme descrito no trecho da ata, a horta e o jardim já haviam sido capinados, mas estavam cheios de mato novamente. Diante dessas informações, podemos concluir que a fundação do Clube Agrícola não aconteceu conforme previsto no programa de ensino.

A formação docente das professoras entrevistadas

O estudo desenvolvido por Selma Garrido Pimenta (1995) afirma que a formação de professores primários no Magistério não era considerada uma profissão e sim uma ocupação exercida pelas mulheres “oriundas dos seguimentos economicamente favorecidos da sociedade e cuja a característica marcante era ser [a escola] uma extensão do lar, do papel do lar e coerente com a esposa” (PIMENTA, 1995, p.59), embora não fosse proibida aos homens. A reflexão feita pela autora entre teoria e prática nos cursos de Magistério tornou-se relevante para nossas análises, por nos ter apontado para a questão da formação das professoras como um fator que pode ter interferido na não realização do Clube Agrícola.

Para Pimenta (1995), a prática nesse curso de formação foi tornando-se mais teórica. Assim,

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