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Atividades de leitura desenvolvidas pela professora da turma com os alunos

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1. Atividades de leitura desenvolvidas pela professora da turma com os alunos

Era nosso objetivo, com a realização da pesquisa, compreender como as atividades envolvendo a leitura e interpretação de textos jornalísticos, matemáticos e literários na sala de aula poderiam contribuir para que o aluno estabelecesse uma nova relação com a Matemática em sua experiência escolar. Era nosso objetivo, igualmente, identificar quais desses textos mais contribuem para que essa nova relação possa ser estabelecida, e como essas atividades podem se configurar numa prática nas aulas de Matemática, tomando como referência alguns pressupostos da aprendizagem situada. Considerei imprescindível, portanto, logo nas primeiras observações no campo de pesquisa, conhecer a que tipos de leituras os alunos tinham acesso durante as aulas de Matemática.

Com o desenvolver das aulas, tornou-se bem claro para nós que as situações de leitura proporcionadas aos alunos tinham, como único suporte, o livro adotado pela escola. Nessas atividades de leitura, o que prevalecia era a exploração de textos didáticos e os enunciados dos exercícios. A professora solicitava a um aluno ou aluna que lesse, em voz alta, as definições, os conceitos e os procedimentos que deveriam ser seguidos por eles para assimilação de determinado conteúdo. Sempre que surgia alguma

dúvida, ela interrompia a leitura que o aluno ou a aluna estava fazendo, e procurava, de forma expositiva, usando o quadro, saná-la, para dar continuidade à aula que estava ministrando.

A constatação de que o livro-texto adotado pela escola se constituía no principal recurso didático utilizado para promover o desenvolvimento das atividades nas aulas de Matemática foi fruto não apenas de nossas observações. De fato, a própria professora, em determinado momento da aula, chamou a atenção de alguns alunos durante a leitura do livro didático.

Olha, meninos! Procurem focalizar bem o olhar para o livro de vocês, porque ele é uma fonte importante para que vocês aprendam. Ele é nosso objeto de estudo. Deixar de acompanhar suas instruções vai impedir de aprender a matéria que está sendo dada.

O valor atribuído pela professora ao livro didático era tão grande que, em sua prática, ela explicitou aos alunos que o livro representava uma das fontes mais seguras na aprendizagem da Matemática. Assim, em suas aulas, de maneira bem linear, a professora, buscando explorar intensamente os conteúdos previstos para a etapa de escolarização na qual os alunos se encontravam, procurava seguir, na ordem, apresentada, o que era proposto pelo livro.

Em algumas aulas, a professora, buscando se apropriar de textos complementares, sempre colocados no final do capítulo do livro, permitia aos alunos desenvolverem atividades relacionadas a esses textos que, na maioria informativos e fortemente caracterizados pela presença de dados numéricos, se restringiam a abordar conteúdos vistos anteriormente pelos alunos. Além disso, as atividades que eram propostas aos alunos a partir da leitura e interpretação desses textos faziam com que alguns deles, até certo ponto interessantes para expandir o papel da leitura nas aulas de Matemática, se configurassem, apenas, como textos ricos em informações matemáticas para serem diretamente utilizadas na resolução de questões já exaustivamente trabalhadas pela professora (BORASI; SIEGEL, 2000).

Em nossas observações, além de constatarmos que as atividades de leitura nas quais os alunos estavam envolvidos nas aulas de Matemática dependiam excessivamente do que lhes era oferecido pelo livro didático, percebemos, também, que, em nenhum momento, essas atividades permitiam interações entre os alunos. Em todas as atividades de leitura desenvolvidas, verificamos que prevalecia apenas uma relação

entre leitor e texto (LEFFA, 2009), em que o aluno, diante do livro, a sua maior fonte de informação, procurava extrair o máximo de dados possível para prontamente aplicá-los na resolução das questões que lhe eram propostas.

Mesmo que saibamos que os livros didáticos desempenham um papel importante nos rumos das políticas públicas em educação no país, tendo em vista os esforços empreendidos pelo Governo Federal com a implementação e execução do Programa Nacional do Livro Didático-PNLD, e que, através desse Programa, tem se procurado produzir livros didáticos que favoreçam ao máximo o ensino e a aprendizagem, para tornar os conteúdos escolares acessíveis a um número cada vez maior de pessoas, compartilhamos da posição de Carrasco (2001) e Lopes (2005) a respeito dos livros didáticos.

Para esses autores, os livros didáticos não conseguem dar conta de etapas importantes do processo de produção do conhecimento.

A matemática como é considerada normalmente, ou seja, a matemática formalizada que se encontra em livros didáticos e manuais escolares, é bastante rígida e abstrata. Dentro de uma teoria formalizada não se vê a história da descoberta, não se percebe os erros, nem se pode fazer novas descobertas (CARRASCO, 2001, p. 200).

O processo de produção de conhecimento necessita de recursos que o livro didático não está sendo capaz de oferecer; significa que outras tecnologias educacionais se fazem presentes, sendo algumas vezes, mais motivadoras e até mais eficientes em algumas práticas escolares do que o livro didático (LOPES, 2005, p.59).

Nesse sentido, pretendendo conhecer as potencialidades das práticas de leitura na sala de aula para uma abordagem da Matemática no Ensino Fundamental à luz de uma perspectiva de aprendizagem situada, consideramos impossível alcançar nossos objetivos adotando apenas o livro didático como suporte para o desenvolvimento das atividades de leitura que pretendíamos realizar em cada intervenção. Foi por isso que, em nossas intervenções no campo de pesquisa, procuramos oferecer aos alunos a oportunidade de explorarem textos extraídos de outras fontes, que foram por nós denominados textos jornalísticos, textos matemáticos e textos literários.

4.2. A primeira experiência dos alunos com a leitura de um texto nas aulas de