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3. TRABALHO DE CAMPO

3.2. Procedimentos adotados

Para o desenvolvimento de cada intervenção que foi realizada durante a pesquisa de campo, sempre me reunia com a supervisora pedagógica da escola e a professora da turma em que estavam inseridos os sujeitos da pesquisa. Nesses encontros, que aconteciam sempre na segunda-feira que antecedia cada intervenção, apresentava-lhes o texto e as questões que seriam exploradas pelos alunos. Ouvia atentamente suas críticas e sugestões. Procurava deixá-las sempre inteiradas sobre os nossos objetivos em cada etapa do trabalho que estava sendo realizado. Em minha opinião, esses encontros foram determinantes para estreitar as relações entre pesquisador, escola e professora, o que contribuiu decisivamente para o bom andamento de todo o trabalho de campo.

Num contexto em que sempre podíamos contar com a colaboração da professora, realizamos sete intervenções no campo de pesquisa. Durante o seu transcorrer, os alunos, em grupos, foram estimulados a participar de atividades envolvendo a leitura e interpretação de textos. No decorrer das intervenções, utilizamos oito textos, dos quais sete se encaixavam em uma das categorias a que nos referimos anteriormente. Apenas na última intervenção optamos por oferecer aos alunos a oportunidade de explorarem um texto que apresentava características que nos permitiam classificá-lo em mais de uma das categorias.

Ao realizarmos esse trabalho, buscamos coletar material empírico que considerávamos promissor no sentido de responder às indagações que deram origem a essa pesquisa. Procurávamos, então, descobrir como as atividades envolvendo a leitura de textos jornalísticos, literários e matemáticos nas aulas de Matemática despertariam os alunos para uma maior interação com os pares, provocando uma mudança na sua forma de participar das atividades promovidas na sala de aula, com a expansão da prática de leitura. Desejávamos saber, também, quais desses textos se constituiriam em instrumentos mais eficazes para promover tal transformação, aproximando-nos, assim, de uma perspectiva de aprendizagem situada. O quadro a seguir mostra as datas das intervenções, os textos utilizados em cada intervenção e suas categorias.

Quadro 1 – Cronograma das intervenções.

Data Texto utilizado para leitura e resolução das questões. Categoria do texto. 08/05/2009 Trabalho infantil no Brasil cai pouco e ainda há 1,2

milhões de crianças vítimas de exploração Jornalístico

15/05/2009 A matemática e o caipira Matemático

05/06/2009 O diabo dos números: capítulo 1 Literário

26/06/2009 O diabo dos números: capítulo 3 Literário

14/08/2009 Com o mundo nas mãos Matemático

20/08/2009 e 21/08/2009

1-Amazônia perde 754 mil km2 de floresta em 3 meses, diz INPE.

2- Estiagem deixa mais de 400 municípios em situação de emergência no Nordeste.

Jornalísticos

04/09/2009 O poder da sociedade Híbrido10

Procurando respostas às nossas questões, poderíamos optar por trilhar diferentes percursos metodológicos, mas, dada a natureza de nosso objeto de estudo – as práticas de leitura e a abordagem da Matemática no Ensino Fundamental à luz de uma perspectiva de aprendizagem situada –, escolhemos tratá-lo em uma abordagem qualitativa (FIORENTINI; LORENZATO, 2006).

A opção por essa concepção de pesquisa deve-se, também, ao fato de ela permitir ao pesquisador observar o objeto de estudo e os sujeitos da pesquisa a partir de uma visão holística (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSNAJDER, 2004). E essa visão holística é fundamental para uma melhor interpretação e compreensão dos fenômenos observados, o que, segundo D’Ambrósio (2004), constitui-se o foco da pesquisa qualitativa.

Ancorados nessa perspectiva de pesquisa, procuramos desenvolver o trabalho de campo observando aulas de Matemática de março a setembro de 2009. Durante o transcorrer das aulas, num primeiro momento, limitamos nossas ações a observar atentamente a sua dinâmica e a fazer o registro de todos os acontecimentos em nosso diário de campo. Depois de observar aproximadamente vinte aulas é que iniciamos a realização das intervenções e, além de continuar observando as aulas, procuramos, num trabalho colaborativo com a professora da turma (FIORENTINI, 2006), coordenar todas as atividades que aconteciam durante as aulas.

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Nesta intervenção, utilizei um texto que apresentava características que nos permitiram reunir, numa só atividade, as três categorias de textos exploradas nas intervenções anteriores. Ver Pagano (2001, p. 87).

Para a realização de cada intervenção, os trinta e um alunos que compunham a turma foram divididos em oito grupos. Sete desses grupos foram formados por quatro alunos, e um grupo foi formado por apenas três alunos. Ao iniciar cada atividade, eles estavam um pouco agitados, pois vinham de aulas que aconteciam em outro ambiente da escola. Assim, a professora organizava a turma da maneira como eles ficavam na maioria das outras aulas, para a seguir, passar-me a palavra, a fim de que eu pudesse dar continuidade aos trabalhos que estavam previstos. Depois de apresentar para a turma a proposta de trabalho que havíamos planejado para cada intervenção, com o apoio da professora organizávamos os grupos e distribuíamos o material que seria utilizado pelos alunos.

Embora a observação nos permita um contato pessoal e estreito com o fenômeno pesquisado (LÜDKE; ANDRÉ, 1986)11 e se constitua numa das fontes mais importantes em pesquisas qualitativas em educação (VIANNA, 2003), durante a realização do trabalho de campo não nos limitamos à observação participante. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsnajder (2004, p.163), as pesquisas qualitativas ―(...) são caracteristicamente multimetodológicas, isto é, usam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados.‖

No sentido de garantir aos resultados da pesquisa relatada nesta dissertação maior credibilidade junto aos leitores e à comunidade científica, procuramos, não só observar todos os fatos ocorridos durante as aulas, mas, também, transcrever no diário de campo todos os registros escritos produzidos pelos alunos. Preocupamo-nos, igualmente, em fotografar, gravar em áudio e vídeo as interações que ocorriam entre os alunos ao realizarmos as atividades envolvendo a prática de leitura e interpretação de textos. Depois de encerradas as gravações em áudio, nós as transcrevemos na íntegra, anexando-as ao relatório do trabalho de campo.

Ao permanecermos por seis meses no campo de pesquisa, esses instrumentos de coleta do material empírico se constituíram nas fontes de informações para nossa análise quanto às potencialidades das atividades envolvendo a leitura e a interpretação de textos jornalísticos, matemáticos, literários e híbridos para uma abordagem da Matemática no Ensino Fundamental à luz de uma perspectiva de aprendizagem situada.

11―... a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado,

o que apresenta uma série de vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno. ―Ver para crer‖ como diz o ditado