• Nenhum resultado encontrado

Antes de tratar da teoria da representação dos atores sociais, farei uma introdução acerca da Teoria das Representações Sociais (TRS) que deu origem aos estudos de Theo van Leeuwen (1997). Sendo assim, é importante destacar que a Teoria das Representações Sociais faz parte da Psicologia Social que, assim como a ADC, estuda a relação entre o indivíduo e a sociedade que o cerca.

Minayo (2011, p. 90), ao tratar da TRS, afirma que as Representações sociais são reveladas por meio de comportamentos, linguísticos ou não, que fazem parte de estruturas institucionalizadas e, dessa forma, devem ser estudadas a partir da compreensão desse ambiente estrutural, além disso, “[...] as Representações Sociais possuem núcleos positivos de transformação e de resistência na forma de conceber a realidade. Portanto devem ser analisadas criticamente.”. No que tange a essa representação da realidade, Moscovici (2017, p. 33) afirma que:

[...] nós nunca conseguimos nenhuma informação que não tenha sido distorcida por representações “superimpostas” aos objetos e às pessoas que lhes dão certa vaguidade e as fazem parcialmente inacessíveis.

O autor, em conjunto com Guareschi e Jovchelovitch (1995), teoriza acerca das representações sociais e lista duas funções dessas representações, a saber:

a) As representações sociais transformam objetos, pessoas e fatos em convenções, reduzindo esses elementos a modelos predeterminados; b) As representações são impostas à sociedade de forma irresistível.

De acordo com as funções expostas por Moscovici (2017, p. 37), podemos afirmar que, apesar de as representações sociais fazerem parte dos indivíduos e serem partilhadas por eles, elas não são construídas individualmente, elas são “[...] re- pensadas, re-citadas e re-apresentadas”. Segundo o autor:

[...] todos os sistemas de classificação, todas as imagens e todas as descrições que circulam dentro de uma sociedade, mesmo as descrições científicas, implicam um elo de prévios sistemas e imagens, uma estratificação na memória coletiva e uma reprodução na linguagem que, invariavelmente, reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informação presente (MOSCOVICI, 2017, p. 37).

Essa perspectiva que associa representações sociais a representações de mundo impostas aos indivíduos pode ser complementada com a visão de Minayo (2011, p. 90), que relaciona essas representações a grupos dominantes de uma sociedade. Nas palavras da autora:

[...] algumas representações são mais abrangentes em termos de sociedade como um todo e revelam a visão de mundo de determinada época. São as concepções das classes dominantes dentro da história de uma sociedade. Mas essas mesmas ideias abrangentes possuem elementos de passado na sua conformação e projetam o futuro em termo de reprodução de dominação.

As representações sociais, que são exteriorizadas por meio da linguagem, são parte da estrutura de poder da sociedade. Dessa forma, é imperiosa sua análise para que compreendamos esse sistema como um todo e possamos transformá-lo, uma vez que o estudo dessas representações contempla elementos tanto de dominação, quanto de resistência; assim como o estudo das representações sobre a realidade criadas pela mídia, e as pesquisas voltadas à análise crítica do discurso.

Sob essa perspectiva social e com base na TRS, van Leeuwen (1997) propõe categorias analíticas que tratam da representação dos atores incluídos ou não em determinado texto. Para o autor, atores sociais são os sujeitos incluídos ou excluídos em um texto, tendo em vista a ideologia que o perpassa. As análises que se baseiam em suas categorias desnudam efeitos das lutas de classes presentes na sociedade, visto que as representações de atores sociais são matéria-prima para uma análise social que retrata contextos em que uns grupos detêm o poder e outros grupos são marginalizados.

Diante do exposto, ressalto a relevância das categorias aventadas por van Leeuwen (1997) à minha pesquisa, diante de meu objetivo de analisar reportagens jornalísticas para refletir sobre as representações construídas, ideologicamente, pela mídia, acerca dos papéis sociais de gênero, no contexto de publicações, em diferentes momentos da sociedade brasileira, o final da década de 1970 e o início da década de 1980 e a década de 2010, que tratam de homens e mulheres que foram autores(as) e vítimas de crimes passionais. Importa ressaltar que, segundo Silva (2009, 103), “[...] essas representações passam por mudanças constantemente, processo que ocorre por meio de contínua negociação. E a ADC é um recurso Teórico-Metodológico que auxilia no exame e no entendimento dessas representações.” Diante do exposto, incluo a seguir um quadro com as principais categorias aventadas por van Leeuwen (1997).

Destaco que nem todas as categorias relacionadas no quadro abaixo serão relevantes à minha análise, entretanto é importante enfatizar que a teoria da representação dos atores sociais é bastante profícua no tipo de pesquisa empreendida no presente trabalho. Por meio da representação dos atores sociais, excluídos e incluídos, nos textos sob análise, é possível desvelar ideologias e discursos que se articulam para criar representações sociais relacionadas ao gênero, e que legitimam assimetrias de poder entre homens e mulheres na sociedade.

Quadro 03 – Categorias analíticas da representação de atores sociais

Exclusão

Supressão

Colocação em segundo plano Inclusão Ativação

Passivação Participação

Circunstancialização Possessivização

Personalização Determinação Categorização Funcionalização Identificação Avaliação Nomeação Determinação Única Sobredeterminação Inversão Simbolização Conotação Destilação Indeterminação Generalização Especificação Individualização Assimilação Coletivização Agregação Impersonalização Abstração Objetivação

Fonte: elaborado pela autora, com base em Resende &Ramalho (2011, p. 152)

Destaco que nem todas as categorias relacionadas no quadro acima serão relevantes à minha análise, entretanto é importante enfatizar que a teoria da representação dos atores sociais é bastante profícua no tipo de pesquisa empreendida no presente trabalho. Por meio da representação dos atores sociais, excluídos e incluídos, nos textos sob análise, é possível desvelar ideologias e discursos que se articulam para criar representações sociais relacionadas ao gênero, e que legitimam assimetrias de poder entre homens e mulheres na sociedade.

Ao associar os estudos de Fairclough (2016), Thompson (2011) e van Leeuwen (1997), podemos afirmar que a linguagem é essencialmente ideológica e o discurso da mídia desempenha papel importante na reprodução, legitimação e mediação de ideologias da classe hegemônica. Ademais, discursos midiáticos constroem as representações da realidade e dos atores sociais, sustentando relações de dominação dentro de determinada prática; sob essa ótica, a análise desses discursos pode trazer à

luz as ideologias acerca de papéis sociais de gênero, impostas aos indivíduos, pelas classes detentoras de poder, de forma irresistível. Sob essa perspectiva ideológica, utilizo neste trabalho os termos atores e atrizes sociais para tratar de sujeitos de diferentes gêneros representados em um texto.

Após essa explanação, passo agora ao estudo de conceitos acerca de ideologia e de poder.