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F ATORES D E R ISCO DE V IOLÊ CIA AS R ELAÇÕES Í TIMAS E DE F EMICÍDIO

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Introdução

A violência nas relações íntimas não é um problema recente, contudo, o estudo científico desta problemática apenas assumiu maior destaque a partir dos anos 70, após a identificação da violência como um problema, tornando-se um objeto de estudo, bem como de medidas de política social. Desde então, a preocupação científica e social com a questão da violência exercida no contexto das relações íntimas, com particular ênfase na violência sobre as mulheres, conduziu à divulgação da investigação neste domínio, por parte da comunidade cientifica internacional. No contexto português a consciência sobre a gravidade e dimensão do problema assume uma maior visibilidade a partir da década de 90, assumindo um lugar de destaque no discurso científico, político e judiciário. Numa primeira fase, a comunidade científica centrou-se quase exclusivamente na violência doméstica, negligenciando o facto de este conceito abarcar diferentes realidades e diferentes dimensões da violência (e.g. abuso de crianças, idosos, mulheres). Mais tarde, numa segunda fase, é que a comunidade científica se apercebeu da extensão e da gravidade destes tipos de abuso, que tinham permanecido desconhecidos até então, emergindo um interesse empírico pelo estudo do fenómeno da violência sobre as mulheres, comummente referenciado na literatura como violência doméstica, violência conjugal e mais recentemente violência nas relações íntimas.

Resultado de uma consciência gradual da sua ampla disseminação e dos elevados custos que estão associados a esta problemática (e.g. familiares, sociais, económicos), em muito países desenvolvem-se atualmente vários debates e investigações sobre o assunto. No plano conceptual, os olhares sobre este objeto de estudo têm vindo a diversificar-se de forma expressiva. No plano prático, o interesse e investimento tem sido sobretudo visível no desenvolvimento de instrumentos de avaliação (e.g. vitimização, avaliação de risco, programas de prevenção e intervenção).

De facto, nas últimas décadas, os investigadores têm tentado desenvolver avaliações de risco de violência nas relações íntimas com um foco na identificação de fatores que contribuem para a reincidência e para o femicídio (Campbell et al., 2003b). A violência revela-se um fenómeno complexo e multidimensional que exige modelos de intervenção também eles complexos e multidimensionais, nomeadamente uma adequada compreensão e intervenção neste fenómeno exige que se tome em consideração os diferentes atores e dinâmicas envolvidas: a vítima, o agressor e as dinâmicas individuais, diádicas e socioculturais que sustentam as interações violentas.

Para além disso, o género tem sido uma das variáveis sociodemográficas mais estudadas no contexto da violência, mas também do homicídio, sendo mesmo considerada

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uma variável-chave para a explicação do crime violento perpetrado por indivíduos do sexo masculino. O fenómeno homicida com toda a sua multifatoriedade, contribui para revelar características da conduta humana, onde fatores biológicos, psicológicos e sociais influenciam todo o processo. É importante um trabalho de acompanhamento integrado destes homens e mulheres do ponto de vista educativo e psicossocial, para promover a aquisição de competências sociais e emocionais perdidas ou nunca adquiridas, como forma de prevenção da violência e do femicídio.

Na perspetiva de diversos investigadores que trabalham nesta área (e.g. Bunge, Block, & Lane, 2004; Campbell, 1992; Campbell et al., 2007; Dobash, Dobash, Cavanagh e Lewis, 2004; Frye & Wilt, 2001; Mills, 2001) é importante estudar as vítimas de femicídio separadamente de outras vítimas de homicídio, assim, como têm de ser vistos como um fenómeno separado da violência sobre as mulheres (Dawson & Gartner, 1998), já que este envolve fatores de risco e dinâmicas completamente distintas.

Assim sendo e dada a escassez de estudos em Portugal sobre o crime de femicídio, o estudo proposto no âmbito desta dissertação pretende responder à necessidade de produzir um conhecimento integrado e aprofundado sobre esta problemática. Mais do que um estudo sobre o crime ou um estudo sobre mulheres, este estudo pretende ser um ponto de partida para uma melhor compreensão dos indicadores de risco e por conseguinte contribuir para medidas de prevenção e intervenção mais adequadas em casos de risco elevado, já que as investigações sobre o femicídio têm encontrado uma ligação entre formas de violência letais e não letais (Jordan et al. 2010). Este tipo de crime é muitas vezes precedido de história de violência física e outras formas de violência, e por uma recente separação ou tentativa de separação solicitada pela vítima (Campbell et al., 2003b; Ellis & DeKeseredy, 1997; Moracco, Runway, & Butts, 1998).

Para além disso, uma contribuição importante é a definição e utilização de tipologias de agressores que fornecem importantes insights sobre a natureza heterogénea da violência nas relações íntimas e do femicídio que focam a importância das características psicopatológicas e de personalidade e das variáveis explicativas dos atos criminais na compreensão do fenómeno. A opção pelo objeto de estudo é marcada por dois aspetos fundamentais: as reflexões sobre as questões de género inerentes à vitimização da mulher e à preocupação social e política que o fenómeno acarreta e as reflexões sobre as avaliações e intervenções em agressores.

O presente capítulo está organizado em três partes. A primeira parte diz respeito ao enquadramento conceptual sobre as temáticas da violência, da avaliação de risco, do

67 homicídio no contexto das relações íntimas, do femicídio e das respetivas tipologias de violência, homicídio e femicídio. A segunda parte integra o estudo empírico sobre a tipologia do crime de femicídio e a terceira parte integra o estudo empírico sobre os fatores de risco associados aos crimes de violência nas relações íntimas e femicídio.

O Conceito de Violência

Ao longo do tempo, a comunidade científica tem-se debruçado sobre o problema da violência, no entanto, parece não haver consenso relativamente à sua definição, aparecendo aceções diversas. O conceito de violência está relacionado com os conceitos de agressão (ação) e de agressividade (capacidade de agir), i.e., a violência é a forma mais primária de manifestação da agressão e da agressividade, já que todo o tipo de violência é uma forma de agressão e de agressividade (Anderson & Bushman, 2002). Assim, quando se fala de violência e agressão há uma relação direta entre um termo e outro, como se a violência fosse a agressão em potência e a agressão a violência em ato. Assim sendo, a agressão humana pode ser definida como qualquer comportamento direto exercido contra outro indivíduo com a intenção de o prejudicar física ou psicologicamente, i.e., o perpetrador acredita que esse comportamento prejudicará o alvo e que este último está motivado para evitar esse comportamento (Berkowitz, 1993; Bushman & Anderson, 1998; Bushman & Anderson, 2001; Anderson & Bushman, 2002). Esta definição é consensual e adotada por vários investigadores, contudo, não é universalmente aceite, já que apresenta diferentes interpretações (Bushman & Anderson, 2001), cada sociedade tem a sua própria definição, varia em função dos contextos e pode não ser partilhada por todos (Lisboa, Vicente, & Barroso, 2005), mas é perspetivada como uma transgressão aos sistemas de normas e valores definidos em determinado momento social (Pais, 1998). Na psicologia, a agressão também é definida de dissemelhantes formas, incluindo ou não a intenção do agente da agressão (Bushman & Anderson, 2001).

Por exemplo, Buss (1961, citado por Bushman & Anderson, 1998) definiu agressão como sendo uma resposta que emprega um estímulo nocivo a outro organismo. A agressão como uma ação implica a assunção de que os humanos têm livre arbítrio, consequentemente têm responsabilidade pelo seu próprio comportamento (Montada, 2007). A um nível puramente comportamental, a agressão pode ser definida como algo que prejudica um determinado alvo (Montada, 2007). No entanto, esta definição não corresponde ao significado real de agressão, que a concebe como algo intencional, ilegítimo, injustificado. Assim, a agressão é percebida como uma ação que pode ser condenada, justificada ou mesmo admirada

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dependendo dos motivos (e.g. legítima defesa, defesa da honra). Os diferentes motivos associados à agressão demonstram que esta não é um constructo psicológico homogéneo. Ao se considerar as várias hipóteses, cada caso de agressão pode ser compreendido como uma ação, tendo uma função específica ou objetivo por parte do agressor, em vez de uma reação involuntária que funcione como determinante. Ao se considerar a agressão como uma ação implica a atribuição da responsabilidade do ator/agente da agressão.

Tal como referido anteriormente, uma das formas de agressão é a violência, sendo que esta está associada à criminalidade e é, muitas vezes, usada para expressar o que ocorre no espaço público, quando é cometida por desconhecidos/estranhos e no espaço privado, quando é cometida por conhecidos, membros da família ou parceiros íntimos, designadamente a violência doméstica. Não há propriamente uma única definição de violência (Lisboa, et al., 2005), apenas, nos últimos 25 anos, se definiu o conceito de violência como uma ofensa criminal, como sendo uma agressão (e.g. física, emocional e/ou sexual) efetiva, tentativa ou ameaça contra outra pessoa, que é deliberada e não consensual (Olson & Stalans, 2001).

Esta nota introdutória sobre o conceito de violência e agressão fornece um ponto de partida para a definição dos conceitos de violência doméstica, violência conjugal e violência nas relações íntimas utilizados muitas vezes como sinónimos, mas que na realidade não o são, como se poderá constatar ao longo do presente capítulo.

O Conceito de Violência Doméstica

A violência doméstica representa um grave problema social e de saúde pública em todo o mundo, não apenas no contexto português. Esta temática não é recente, tem feito parte da nossa sociedade ao longo de várias gerações, desde os tempos ancestrais. É um grave problema que afeta a sociedade contemporânea atingindo, na sua maioria, crianças, adolescentes, idosos e mulheres. Trata-se de um problema que abrange ambos os sexos e não está associado estritamente a nenhum nível socioeconómico, religioso ou cultural específico.

A sua importância é relevante sob dois aspetos; primeiro, devido ao sofrimento indescritível que imputa às suas vítimas, muitas vezes, de forma silenciosa e dissimulada, em segundo, porque, comprovadamente, a violência doméstica, pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental da(s) vítima(s).

A violência doméstica refere-se aos comportamentos perpetrados com intenção de infligir dor ou injúrias em membros da família (Krahé, 2001). Uma das características destes comportamentos é que tendem a ocorrer de forma repetida e continuada ao longo do tempo (Bender & Roberts, 2007).

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O conceito de violência doméstica surgiu na década de 70, assim como o seu conhecimento empírico, quando os investigadores nesta área conduziram trabalhos teóricos e empíricos, nomeadamente sobre as características dos agressores e das vítimas (Bender & Roberts, 2007).

Assim, a violência doméstica é definida como qualquer ato, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou económicos, de modo direto ou indireto (por meio de ameaças, enganos, coação ou qualquer outro meio), a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas – crianças, jovens, mulheres adultas, homens adultos ou idosos – a viver em alojamento comum) ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital (Antunes, 2002), assim, no contexto da violência doméstica podem ocorrer diversas formas de agressão, nomeadamente abuso físico, sexual e emocional de crianças, abuso e negligência de idosos e violência conjugal.

De acordo com o Código Penal Português (BDJUR, 2011), a violência doméstica enquadra-se nos crimes contra a integridade física, previsto no artigo 152º3. Portugal, tem vindo a definir um percurso integrado e sistemático no combate à violência doméstica, através da adoção e implementação de planos nacionais contra a violência doméstica (Presidência do Conselho de Ministros, 2007), mas, para uma maior visibilidade do fenómeno foram determinantes as mudanças legislativas (Tabela 4) que ocorreram nos últimos anos.

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1. Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais: a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge; b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação;

c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; ou d) A pessoa particularmente indefesa, em razão de idade,

deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite; é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.

2. No caso previsto no número anterior, se o agente praticar o facto contra menor, na presença de menor, no domicílio comum ou no domicílio da vítima é punido com pena de prisão de dois a cinco anos.

3. Se dos factos previstos no n.º 1 resultar: a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de dois a oito anos; b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos.

4. Nos casos previstos nos números anteriores, podem ser aplicadas ao arguido as penas acessórias de proibição de contacto com a vítima e de proibição de uso e porte de armas, pelo período de seis meses a cinco anos, e de obrigação de frequência de programas específicos de prevenção da violência doméstica.

5. A pena acessória de proibição de contacto com a vítima pode incluir o afastamento da residência ou do local de trabalho desta e o seu cumprimento pode ser fiscalizado por meios técnicos de controlo à distância.

6. Quem for condenado por crime previsto neste artigo pode, atenta a concreta gravidade do facto e a sua conexão com a função exercida pelo agente, ser inibido do exercício do poder paternal, da tutela ou da curatela por um período de um a dez anos.

70 Tabela 4

Mudanças legislativas ocorridas em Portugal relativamente ao crime de violência doméstica

Data Mudança Legislativa

1867 O código civil consagra a subalternidade da mulher em relação ao marido 1952 A lei portuguesa autoriza o homem a bater na mulher

1976

Após o 25 de Abril ocorreram mudanças legislativas, com a entrada em vigor na nova Constituição, que estabelece a igualdade entre homens e mulheres

1978 Desaparece a figura de chefe de família

1982 De acordo com o artigo 153º passa a ser crime de maus tratos entre cônjuges ou contra menores ou subordinados

1995 No Código Penal Português, o crime de violência doméstica passa a ser designado no artigo 152º

2000 Assume a natureza de crime público

2007

Foram introduzidas alterações legislativas, tornando-o o crime de violência doméstica mais abrangente, uma vez que passou a abranger ex-cônjuges e pessoas de outro ou do mesmo sexo, com quem a vítima mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, mesmo que sem coabitação

2009

Paralelamente a esta nova designação legal, a lei nº 112/2009 de 16 de Setembro configurou o estatuto de vítima, como um importante dispositivo legal às vítimas de violência doméstica.

Numa análise mais aprofundada à evolução legislativa portuguesa, mas também ao nível internacional, verifica-se que historicamente o crime de violência doméstica esteve quase sempre relacionado com a violência conjugal, já que este tipo de violência era um aspeto comum do casamento nos tempos medievais e no princípio da industrialização (Dias, 2007).

De facto, as desigualdades entre os sexos estão intimamente enraizadas na história e na tradição da sociedade ocidental, constituindo a família patriarcal uma das principais instituições em que se refletem (e.g. o casamento é a estrutura patriarcal que permite ao homem a manutenção do poder sobre a mulher e as crianças). A violência surge como consequência da dominação masculina, cujas raízes radicam na tradição histórico-cultural do casamento, da família, da mulher e do homem e não apenas no tipo de interações desenvolvidas entre os membros da família (Dias, 2007). A causa da violência doméstica

71 reside na posição de subordinação que a mulher ocupa na estrutura social, que é vista como um legado cultural da família tradicional (Taylor & Jasinski, 2011) e é sobretudo no âmbito das relações íntimas que a diferença de poder entre os sexos se manifesta, se reforça e reproduz.

Assim, a análise da violência doméstica passa necessariamente pela consideração do contexto social e pelas diferenças em termos de género e de poder, já que as sociedades estão estruturadas com base no género, por essa razão, o homem exerce o poder sobre a mulher (Radford, 1992). Por um lado, os homens usam, potencialmente, a violência como um meio poderoso de subordinação da mulher, ou seja, esta é, para os homens, o meio mais eficaz de controlo social. Por outro, a violência de que as mulheres são vítimas não só limita as suas vidas, como reforça a sua passividade e dependência face ao homem. As relações de género são identificadas como relações de poder, que são definidas estruturalmente pela construção social da masculinidade como ativa e agressiva e pela construção social da feminilidade como passiva (Brookman, 2005; Wilson, Jocic, & Daly, 2001).

Até finais do século XX não existiam leis que proibissem um homem agredir fisicamente a sua mulher, desde que não existissem danos físicos graves ou homicídio. No final dos anos 60 e início dos anos 70 o movimento feminista, veio chamar a atenção para a violência praticada sobre as mulheres, enquanto componente problemática do comportamento familiar dos nossos tempos. A partir dos anos 80, houve, finalmente, um reconhecimento social da violência sobre a mulher na família como um fenómeno global e de graves consequências para a mulher, para a família e para a sociedade, no fundo um grave problema de saúde pública, de direitos humanos e de paz social (Azziz-Baumgartner et al., 2010; Samandari, Martin, & Schiro, 2010). Ainda na década de 80, as leis começaram a ser escritas e reescritas e foram implementados inúmeros programas de prevenção e intervenção quer em vítimas, quer em agressores, foram construídas casas de abrigo e centros de aconselhamento familiar (Bender & Roberts, 2007).

O crime de violência doméstica deixou de ser um objeto de direito para se tornar num crime de natureza pública, devido aos processos de emancipação económica das mulheres e de redefinição do papel da mulher na família e na sociedade; da democratização da sociedade; de uma maior consciencialização dos direitos da mulher enquanto indivíduo; da proliferação dos debates públicos sobre os direitos das mulheres, nos quais os movimentos feministas tiveram um papel decisivo, conferindo crescente visibilidade a um problema diariamente vivido por muitas mulheres que até então permanecia silenciado; das ações e comemorações preconizadas pelas políticas internacionais (e.g. ano internacional da mulher e da família); das

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campanhas de sensibilização; dos planos nacionais contra a violência doméstica e de muitas outras iniciativas que têm sido preconizadas quer a nível nacional, quer a nível internacional.

A violência doméstica identifica várias pessoas vítimas coabitantes ou não, sejam adultas ou crianças, do sexo masculino ou feminino. Os paradigmas feministas ancorados na luta e nas experiências das mulheres maltratadas, apelam à necessidade de tratar de forma diferente o que é diferente. O padrão de comportamentos abusivos, através do qual o agressor pretende controlar e exercer poder sobre a vítima que com ele coabita ou não, diverge na sua dimensão teórica e empírica conforme estejamos perante vítimas adultas ou menores, do sexo feminino ou do sexo masculino.

Contudo, apesar da violência doméstica atingir igualmente as crianças, os idosos, pessoas dependentes e pessoas com deficiência, a realidade comprova que as mulheres continuam a ser o grupo onde se verifica a maior parte das situações de violência doméstica, que neste contexto se assume como uma questão de violência de género. Isto não significa que todas as vítimas de violência doméstica sejam do sexo feminino e que todos os autores de atos violentos neste contexto sejam homens. A pertinência de uma representação não neutral do género nesta criminalidade reside no facto do sexo da vítima e do agressor influenciarem o comportamento de ambos. Independentemente da forma que possa assumir, a violência sobre as mulheres no contexto doméstico raramente se consolida em apenas uma situação ou incidente. Geralmente reúne um conjunto de comportamentos que se traduzem num padrão comportamental de abuso e controlo, em que o agressor tem como objetivo último, o exercício de poder sobre a vítima.

O Conceito de Violência Conjugal vs. Violência nas Relações Íntimas

Tal como referido anteriormente, uma das formas de violência doméstica - é a violência conjugal – abrange uma série de atos agressivos com diferentes níveis de gravidade (e.g. físicos, psicológicos, sociais ou económicos, até à morte da vítima), que são perpetrados por um elemento do casal (geralmente o homem) sobre o outro (geralmente a mulher), de forma consciente.

O conceito de violência conjugal distingue-se de outros mais abrangentes, como é o caso da violência doméstica, violência familiar, entre outros, que incluem outros membros da família que não apenas a dinâmica íntima. O conceito de violência conjugal inclui ainda relações íntimas antes e após a vivência em conjunto, quer seja matrimonial ou de união de facto (Gonçalves, 2004). De facto, a violência conjugal refere-se à coação entre parceiros num

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