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Introdução

A aplicação da técnica do perfil criminal enquanto uma ferramenta de investigação utilizada por polícias, consultores de investigação, psicólogos, entre outros, adquiriu uma grande atenção nos últimos anos, com foco em investigações promissoras e diversas revisões de literatura (Keppel & Welch, 2006).

A elaboração de perfis criminais começou por ser um trabalho de apoio da psicologia clínica e da psiquiatria à polícia de investigação criminal, principalmente em crimes sem motivação aparente, progredindo para uma abordagem mais sistematizada de análise de crimes violentos, com o objetivo de fornecer indicadores que permitissem a identificação de características que melhor definissem o agressor num determinado contexto criminal.

Ademais, esta técnica apresenta cada vez mais um interesse e impacto na comunidade científica, nomeadamente foram desenvolvidos diversos trabalhos que a transformaram numa técnica da psicologia forense associada às necessidades dos profissionais que trabalham no contexto da criminalidade violenta. Contudo, quando se analisam os aspetos relacionados com a validade desta técnica, surgem diversas críticas, nomeadamente: o grupo alvo da própria técnica, i.e., esta foi concebida, inicialmente, para ser aplicada a crimes sem motivação aparente e em crimes em série e não a outro tipo de crimes mais usuais no contexto criminal (Holmes & Holmes, 1996); o seu caráter probabilístico; a escassez de suporte científico, quer teórico, quer prático; a inexistência de operacionalização e sistematização das categorias que são utilizadas na elaboração dos perfis criminais; e o problema da precisão da técnica (Soeiro, 2009).

Mas, a técnica do perfil criminal não pretende ser a panaceia das forças policiais, nem sequer um substituto dos métodos convencionais e tradicionais do trabalho de investigação desenvolvido pelas forças policiais (Davis, 1999), em vez disso, o perfil criminal é visto como um recurso que pode ser utilizado para auxiliar a investigação criminal quando todos os métodos convencionais empregues falharam na identificação do presumível agressor (Holmes & Holmes, 1996). Inclusive, a literatura indica que o perfil criminal é mais eficaz como um apêndice às técnicas de investigação tradicionais do que como uma solução isolada para a resolução de crimes específicos (Kocsis, 2006b).

Após esta breve contextualização, este capítulo tem como objetivo apresentar os aspetos que caracterizam o contexto científico dos perfis criminais, enquanto técnica forense orientada para as necessidades de trabalho da polícia de investigação criminal. Assim, o presente capítulo é constituído por duas partes: uma teórica e uma empírica.

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A parte teórica analisa o conceito de perfil criminal e respetiva evolução história a partir do contributo das ciências humanas e comportamentais; as diferentes metodologias/abordagens que têm sido identificadas na literatura; e a discussão que existe acerca da validade e precisão da técnica dos perfis criminais. Como veremos ao longo deste ponto do capítulo, a literatura internacional tem sido muito crítica relativamente à aplicabilidade, utilidade, precisão e validade da técnica do perfil criminal.

A parte empírica analisa os aspetos que remetem para as questões de precisão da técnica do perfil criminal, já que esta ferramenta de trabalho será desenvolvida na presente tese de dissertação, como um ponto de partida para a identificação e definição das variáveis que explicam o crime de femicídio. A utilização de um instrumento de trabalho com validade e precisão científica auxiliará os profissionais que intervêm no combate deste tipo de criminalidade, quer numa perspetiva de predizer características, quer numa perspetiva de prevenção e intervenção (e.g. definição de padrões de risco de violência). Assim, foi necessário desenvolver um primeiro estudo de precisão da grelha utilizada para a recolha de informação, cujo objetivo era testar a fiabilidade da mesma.

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O Conceito de Perfil Criminal Enquanto Técnica Forense

Os perfis criminais são um instrumento de trabalho útil na investigação da criminalidade violenta (Cook & Hinman, 1999), no entanto, não existe uma definição universal para o termo do perfil criminal, este foi originalmente atribuído nos EUA, para designar uma abordagem à investigação policial na qual é feita uma tentativa para deduzir a descrição de um presumível agressor com base na avaliação minuciosa dos detalhes da cena do crime, da vítima e de outras evidências avaliáveis (Copson, 2006).

Ao contrário de outras técnicas forenses, tais como, impressões digitais ou identificação facial a partir de um retrato robot, as origens do perfil criminal derivam da investigação de crimes atípicos, fora dos padrões criminológicos e dos procedimentos de investigação policial (Kocsis, 2003a; Kocsis, 2007). De facto, a génese do perfil como técnica forense está associada indissoluvelmente aos homicidas em série, porque muitas vezes não existe uma motivação aparente, as vítimas são escolhidas ao acaso e são os agressores mais difíceis de identificar (Holmes & Holmes, 1996). Assim, usualmente, a técnica é aplicada aos crimes de homicídio, violação, incêndio, assalto à mão armada, sequestro, rapto e abuso sexual de menores (Correia, Lucas, & Lamia, 2007; Devery, 2010; Egger, 1999, 2006; Garrido, 2007; Kocsis, 2003a; Strano, 2004).

Este conceito deriva do termo “profiling”, contudo, existem outras expressões que têm surgido na literatura, que se referem à mesma prática de trabalho, mas com a utilização de metodologias diferentes (Kocsis, 2006b; Soeiro, 2009), nomeadamente perfil comportamental, perfil da cena do crime, perfil de personalidade criminal, perfil psicológico, perfil do agressor e, mais recentemente, análise da investigação criminal (Crabbé, et al, 2008; Devery, 2010; Garrido, 2007; Homant & Kennedy, 1998; Keppel, & Walter, 1999; Keppel & Welch, 2006; Kocsis, 2006b; Muller, 2000; Soeiro, 2009).

De acordo com Homant e Kennedy (1998, 2006), os conceitos são diferentes e enfatizam o facto de ser necessária uma terminologia mais precisa, principalmente nos estudos de validação. No caso do perfil psicológico, o objetivo principal é a realização de entrevistas e testes psicológicos para determinar se a personalidade do indivíduo encaixa nas características de personalidade de um grupo de agressores. Kocsis (2006b) também considera que o perfil psicológico é distinto do perfil criminal, na medida em que este se refere à avaliação e diagnóstico de indivíduos. Ao contrário do perfil psicológico, o perfil da cena do crime analisa um comportamento conhecido (e.g. o crime ou a reconstrução do crime) e infere características do agressor, enquanto o psicológico analisa um indivíduo conhecido e tenta projetar para o comportamento, mas têm em comum a tentativa de compreender e fazer

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predições acerca do comportamento desviante do indivíduo. O perfil do agressor é meramente um procedimento empírico, no qual não há assunções acerca da motivação ou personalidade do agressor, apenas é construída a descrição do tipo de indivíduo que possa ter uma maior probabilidade de ter cometido um determinado tipo de crime. O perfil da cena do crime partilha com o perfil do agressor a utilização de dados empíricos bem como as extrapolações sobre o estilo de vida do agressor. Apesar de Homant e Kennedy (1998, 2006), diferenciarem os tipos de perfis, todos têm em comum o objetivo de fazer algum tipo de inferência acerca do comportamento ou personalidade de um determinado indivíduo. Independentemente das várias definições, todas tentam descrever o mesmo conceito: o processo pelo qual os comportamentos ou ações demonstrados num crime são avaliados e interpretados para formar predições das possíveis características do autor do crime (Kocsis, 2006b).

Para Salfati e Canter (1999) assim como para outros autores (e.g. Daéid, 1997; Devery, 2010; McCann, 1992; Palermo, 2002; Torres, Boccaccini, & Miller, 2006), a técnica do perfil criminal consiste no processo de inferir características de um agressor através das suas ações na cena do crime, que podem auxiliar a polícia a reduzir o número de potenciais suspeitos do crime, facilitando a sua identificação. Mas, para Kocsis e Palermo (2007) a técnica do perfil criminal consiste num processo de observação e reflexão para responder às cinco questões que são a base do trabalho da polícia: porquê, onde, quando, como e quem? Assim, a identificação e a interpretação dos comportamentos criminais têm como objetivo predizer a personalidade do agressor, o seu modus operandi e possivelmente as suas motivações. Também para Davis (1999), o perfil consiste na identificação de características específicas de um indivíduo que cometeu um determinado crime, através de um processo de observação sistemático da análise da cena do crime, da vítima, das evidências forenses e dos factos conhecidos acerca do crime. É utilizado frequentemente por profissionais que trabalham na área comportamental e criminologistas para analisar o comportamento criminal, avaliar e possivelmente predizer as futuras ações do agressor.

Apesar da diversidade de terminologias, a mais adequada é de facto o perfil criminal (Kocsis, 2006b; Soeiro, 2009), uma vez que a técnica exige um conhecimento aplicado e integrado das ciências do crime ou investigação criminal e tem as suas raízes na Criminologia, na Psiquiatria, na Psicologia e nas Ciências Forenses (Garrido, 2007; Keppel & Welch, 2006; Soeiro, 2009), i.e., é um conceito multidisciplinar (Correia et al., 2007), como veremos em seguida.

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Evolução Histórica do Conceito da Técnica Forense do Perfil Criminal a partir do Contributo da Ciência

Os primeiros e os mais antigos marcos históricos do perfil criminal emergiram quando os profissionais de saúde mental foram requeridos para colaborarem nas investigações criminais que envolviam crimes bizarros e não resolvidos, no sentido de se conjugar os conhecimentos da psiquiatria, psicologia e criminologia. Na verdade, uma das mais antigas aplicações da simbiose entre comportamento e personalidade no contexto da investigação criminal emergiu nos trabalhos desenvolvidos por Thomas Bond, em 1866, no caso dos homicídios de Whitechappel (Jack The Ripper) e por James Brussel, em 1950, no caso do “Bombista Louco” de Nova Iorque, como veremos em seguida numa análise mais detalhada do contributo da ciência na evolução do conceito de perfil criminal enquanto técnica forense.

O Contributo da Criminologia

Na área da Criminologia, Cesare Lombroso (1835-1909, Garrido, 2007; Keppel & Welch, 2006; Kocsis, 2006b) foi um dos primeiros criminologistas a classificar os agressores e a elaborar comparações estatísticas, com base em informações sobre a idade, raça, sexo, características físicas, habilitações e área geográfica. Por outras palavras, Lombroso pretendia compreender as origens e as motivações do comportamento criminal.

Um outro contributo importante foi o criminalista Ernst Kretscher (1925), que propôs que determinadas perturbações mentais estavam associadas a características físicas específicas, i.e., explica a criminalidade a partir do tipo físico do agressor, da genética e das características físicas externas observáveis. Kretscher desenvolveu uma tipologia de agressores, argumentando que existia uma correlação muito forte entre o tipo de físico, o tipo de personalidade e a criminalidade. De facto, a investigação de Kretschmer desempenhou um papel importante na história do perfil criminal, pelo ênfase dado aos tipos de físico na identificação de presumíveis agressores (Keppel & Welch, 2006).

Apesar de a maioria da comunidade cientifica acreditar que tanto a investigação de Lombroso como a investigação de Kretschmer são dúbias e infundadas, a ideia subjacente de que as características dos agressores podem ser classificadas para desenvolver uma lista de traços que podem levar à identificação de um presumível agressor, levou alguns profissionais a acreditar que estes contribuíram para aquilo que o perfil criminal é na atualidade (Keppel & Welch, 2006).

Hans Gross (1893, Garrido, 2007; Keppel & Welch, 2006), “o pai da aplicação da criminologia na investigação criminal”, elaborou um manual prático para a investigação

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criminal, no qual referenciava vários métodos para analisar o comportamento criminal dos homicidas, incendiários, entre outros. Mais tarde, em 1968, Gross voltou a reforçar a importância do perfil criminal. Em 1935, o Inspetor-Chefe da Polícia de Nova Iorque John O’Connell e o professor Harry Soderman, conceberam perfis detalhados de diferentes tipos de crime e foram os primeiros a reconhecer a importância de analisar aspetos como a motivação do crime e o tipo de armas utilizadas. Os trabalhos da criminologia aplicados à investigação criminal foram um passo para a evolução da ciência do perfil criminal.

O Contributo das Ciências Forenses

Na área das Ciências Forenses, o caso mais conhecido é o de Jack The Ripper (Jack O Estripador), um homicida em série que matou diversas mulheres na área de Whitechapel, em Londres (Alison & Canter, 2006; Hicks & Sales, 2006; Keppel & Welch, 2006; Kocsis, 2006b; Kocsis, 2007; Warwick, 2006). O Dr. Thomas Bond (Londres, 1888), a partir da análise da cena do crime e da autópsia de uma das vítimas, forneceu algumas características do agressor, incluindo o seu perfil (e.g. todos os homicídios foram cometidos pelo mesmo indivíduo; o agressor deve ser um indivíduo fisicamente forte, solitário, sem uma ocupação regular). O perfil elaborado não é muito distante dos perfis desenvolvidos atualmente, i.e., é baseado nas evidências e na informação da cena do crime e incorpora características com base na experiência de Bond, enquanto médico legista e o seu conhecimento acerca de criminalidade violenta e da cena do crime. Mas, a eficácia deste perfil nunca poderá ser avaliada, uma vez que o homicídio continua por resolver, mas mesmo assim, o Dr. Thomas Bond recebeu o título do primeiro profiler (Keppel & Welch, 2006).

Mas o Dr. Thomas Bond não foi o único a elaborar o perfil do Jack O Estripador, George Philips analisou detalhadamente as feridas que as vítimas apresentavam, uma vez que a partir destas se pode mostrar a interação entre a vítima e o agressor. Por exemplo, Philips analisou uma das vítimas e concluiu que o agressor deveria ter conhecimentos profissionais devido à precisão com que extraiu os órgãos das vítimas. Deste modo, a mutilação foi considerada um comportamento que se deve relacionar com as características psicológicas do presumível agressor. Outros autores foram demonstrando a importância do papel das evidências físicas e da reconstrução da cena do crime na construção do perfil criminal, por exemplo, Paul Kirk referiu que se o laboratório de polícia científica, a partir das evidências físicas, puder descrever as roupas, dar uma ideia da estatuto, idade, cor do cabelo ou outras informações similares, poderá ser uma mais-valia para a investigação policial. A partir da reconstrução da cena do crime, por vezes, também é possível indicar uma provável profissão,

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O Contributo das Ciências Comportamentais

Na área das Ciências Comportamentais, o psiquiatra americano James Brussel, em 1957, foi considerado um marco no reconhecimento do perfil criminal como uma ferramenta útil na investigação criminal (Alison & Canter, 2006; Douglas, et al., 1986, 2006; Egger, 1999, 2006; Hicks & Sales, 2006; Keppel & Welch, 2006; Kocsis, 2006b; Torres, et al., 2006). Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, Brussel fazia inferências das características pessoais do presumível agressor a partir das condutas criminais que observava nos pacientes que acompanhava regularmente. O Departamento de Polícia da Cidade de Nova Iorque, convidou James Brussel para acompanhar o caso do “Bombista Louco” (Mad Bomber) que entre os anos 40 e 50, colocou, pelo menos, 37 bombas nas estações de comboios em Nova Iorque, durante um período de cerca de 15 anos. Brussel desenvolveu o perfil do bombista a partir dos trabalhos desenvolvidos por Kretschmer, i.e., com base na cena do crime e nas cartas que o bombista enviava para os jornais, determinou que, entre outras características, o presumível agressor era um homem gordo, eslavo, católico-romano, vivia em Connecticut, sofria de paranoia, tinha conhecimentos sobre eletricidade, metalurgia e hidráulica, tinha habilitações, era solteiro (provavelmente virgem), vivia com um(a) irmão(ã) e vestia roupa típica da época. A partir deste perfil, a polícia, investigou os atuais e os ex- empregados da companhia de eletricidade da cidade e em 1957, quando George Metesky foi capturado, comprovou-se que o perfil tinha sido muito preciso e eficaz (Douglas, et al., 1986, 2006; Egger, 1999, 2006; Garrido, 2007; Keppel & Welch, 2006; McGrath, 2000; Torres, et al., 2006).

Outro exemplo, é o caso do Estrangulador de Boston, que matou e violou brutalmente 13 mulheres, entre 1962 e 1964. Foi criada uma equipa composta por um psiquiatra, um ginecologista, um antropólogo e outros profissionais para traçar o perfil do presumível agressor, que chegou à conclusão de que os homicídios eram cometidos por dois indivíduos diferentes, porque a escalada de violência, o grau de agressões sexuais e o modus operandi eram diferentes e existiam dois grupos de mulheres vítimas claramente diferentes: um constituído por mulheres mais jovens (o presumível agressor era um homem, homossexual, provavelmente alguém conhecido das suas vítimas) e outro por mulheres mais velhas (era um homem que foi criado por uma mãe sedutora e dominante, como era incapaz de expressar o ódio que sentia pela mãe, vingava-se noutras mulheres; vivia sozinho e se tivesse sido capaz

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de se impor à sua mãe dominadora, nunca teria tido problemas em expressar o seu amor com uma pessoa “normal”), ambos os tipos de vítimas pareciam relacionar-se com diferentes necessidades psicológicas. Entretanto, Brussel não concordava com este perfil, referindo que o presumível agressor era o mesmo em todos os casos e utilizou a mesma técnica que havia utilizado anteriormente no caso do Bombista, i.e., a interpretação do comportamento bizarro a partir do seu conhecimento psiquiátrico, aplicando à realidade policial. Em 1964, foi capturado Albert DeSalvo acusado de outros crimes, mas que confessou ser o estrangulador, encaixando assim com o perfil produzido por Brussel. No entanto, este nunca foi julgado pelos crimes cometidos pelo estrangulador, resultando a impossibilidade de confirmar qual dos perfis estava correto (Egger, 1999, 2006; Keppel & Welch, 2006; Kocsis, 2006b; Kocsis, 2007; Garrido, 2007; McGrath, 2000).

De facto, as ciências comportamentais deram grandes contribuições no desenvolvimento da técnica do perfil criminal. Os perfis criados pelos profissionais de saúde mental têm uma forte componente clínica, nomeadamente nas teorias da personalidade e da psicopatologia (Torres, et al., 2006). Estes perfis tinham um foco no provável funcionamento interpessoal e psicopatológico do indivíduo responsável pelo cometimento do crime (Wilson, Lincoln, & Kocsis, 1997).

O Contributo do Federal Bureau Investigation (FBI)

A técnica do perfil criminal está, indissociavelmente, associada ao trabalho desenvolvido, nos anos 70, pelo agente do FBI, Howard Teten, aluno do famoso Psiquiatra Forense James Brussel. A técnica utilizada por Teten tinha como objetivo descrever os comportamentos e características dos presumíveis autores de homicídios desconhecidos ou não resolvidos a partir da análise da cena do crime (e.g. Alison & Canter, 2006; Alison, et al., 2003; Cook & Hinman, 1999; Davis, 1999; Devery, 2010; Douglas, et al., 1986, 2006; Egger, 1999, 2006; Hicks & Sales, 2006; Keppel & Welch, 2006; McGrath, 2000; Pinizzotto & Finkel, 1990; Strano, 2004), uma vez que nas décadas de 60 e 70 houve um aumento exponencial de homicídios e violações em série nos Estados Unidos da América (EUA) (Alison, et al., 2003).

Em 1971, Teten juntou-se ao agente da Polícia de Nova Iorque Pat Mullany e em 1972 foi criada a Unidade de Ciências do Comportamento (Behavioral Science Unit - BSU), em Quântico (Estado de Virgínia), nos EUA, sob a direção do agente do FBI Jack Kirsch. Em 1982, a BSU recebeu um prémio do Instituto Nacional da Justiça – Departamento da Justiça, para expandir a técnica do perfil criminal e construir uma base de dados com entrevistas a

25 homicidas conhecidos e condenados (Egger, 1999, 2006), conduzidas por John Douglas e Bob Ressler, os mais conhecidos profilers de todo o mundo (Hicks & Sales, 2006; McGrath, 2000), com o objetivo de recolher informação que pudesse ser útil na análise de crimes que viessem a ocorrer no futuro (Devery, 2010) e na construção de futuras classificações que pudessem ser utilizadas para auxiliar nas investigações policiais (Godwin, 2008).

A partir do contributo da ciência e dos trabalhados desenvolvidos quer por psicólogos, psiquiatras quer por criminologistas, polícias, surgem diversas metodologias associadas à forma como são efetuados os perfis criminais, que serão discutidas em seguida.

O Processo de Construção da Técnica Forense do Perfil Criminal

O processo de construção da técnica forense do perfil criminal não assenta apenas exclusivamente nas características do presumível agressor, mas também na recolha do máximo de informação possível nomeadamente: uma descrição detalhada da personalidade e das características do presumível agressor; uma descrição sobre o provável local de residência e/ou local onde poderá ter cometido os delitos; uma estimativa sobre a probabilidade que voltar a cometer crimes no futuro; uma análise detalhada do caso para auxiliar a equipa de investigação com novas linhas de trabalho (e.g. colocar a hipótese de que diversos crimes podem ter sido cometidos por um mesmo indivíduo); uma gestão do tipo de relação a estabelecer com os órgãos de comunicação social, no caso de ser um crime em série ou particularmente violento e perverso; e uma análise mais detalhada e apropriada da estratégia a utilizar no contexto da entrevista e/ou interrogatório com os presumíveis agressores (Copson, 2006; Crabbé, Decoene, & Vertommen, 2008; Garrido, 2007; Kocsis, 2006b; Soeiro, 2009).

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