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através do diálogo e da interacção, da cooperação e da colaboração, que o currículo Ramos Leitão, 2006, p.39)

3.3 Tema 3 : Necessidades decorrentes do previsível aumento de alunos com

Necessidades Educativas Especiais

No terceiro e último tema, surgiram as duas categorias seguintes:

• Melhorias na organização e funcionamento da escola • Melhoria nos conhecimentos e práticas dos professores

Estas duas categorias relacionam-se com as expectativas que os professores mostraram ter em relação a aspectos que, desejavelmente, poderiam ser melhorados nas escolas, para que o seu funcionamento melhorasse e servisse melhor toda a população escolar e concretamente os novos alunos que serão abrangidos pelo alargamento da escolaridade obrigatória.

Quadro 11 -

Melhorias na organização e funcionamento da escola

Categoria Subcategorias Indicadores UR/I

Recurso ao professor de Educação Especial 1P1 1P3 1P4 1P5 3P6 Falta de aceitação/colaboração na

intervenção dos professores de ensino especial

3P2 Melhoria no trabalho

colaborativo

Necessidade de mais trabalho de equipa 1P1 2P2 1P3 3P5 Necessidade de mudanças nas Escolas

Secundárias para receber mais alunos com NEE

6P2 2P4 1P5 4P6 Aceitação voluntária de turmas com alunos

com NEE 3P2 Melhorias na organização e funcionamento da escola Melhoria nas condições de ensino

Necessidade de redução do número de alunos por turma

8P1

Na primeira Categoria deste último tema “Melhorias na organização e funcionamento da

67 Especial. De acordo com estes professores, esta será a figura dentro da instituição escolar que lhes dará não só apoio incondicional como terá as soluções para todas as suas dificuldades, ao nível de ajuda directa (construção de materiais, por exemplo), de informação científica e de facilitar a relação com o aluno e a sua integração.

“ (Penso recorrer) Ao professor de Ensino Especial.” (P1)

“Primeiro ao professor do Ensino Especial que me poderá dizer quais poderão ser as limitações, quais os obstáculos. E depois gostava de trabalhar não só com ele como também com as pessoas do meu grupo. Dependendo dos casos.” (P3)

“ (Penso recorrer) Ao professor de Educação Especial.” (P4)

“ (Penso recorrer) Ao professor de Educação Especial. Eu disse ao professor de ensino especial mas quer dizer, no fundo também é verdade! A gente precisa de uma equipa pluridisciplinar para fazer isso.” (P5)

“Sim. É pensarmos. Reflectirmos, reflexão sobre... Porque nem tu nem eu... Tu tens preparação técnica, mas ninguém tem soluções.” (P6)

Apesar dos entrevistados também referirem que nem sempre encontraram apoio por parte dos professores de Educação Especial, por não ter muita qualidade ou apenas devido ao facto de as escolas onde trabalharam não contarem com esse suporte técnico, as afirmações que transcrevemos mostram que também houve boas experiências anteriores que os fazem contar com este apoio, mas não retira a preocupação que também demonstraram relativamente a professores que rejeitam qualquer tipo de colaboração ou apoio por parte destes colegas.

“Porque se vocês (professores de EE) também sentirem que há uma rejeição por parte do professor, vocês não podem fazer grande coisa. Vocês não podem ir às aulas fazer, tem que ser o professor. E por isso vocês podem dizer: podem fazer assim, mas se não houver aceitação, se não houver uma abertura da parte do professor, ou porque ele não pediu e ficou e não queria, ou porque não sei quê... Há muitas resistências, há professores que são pouco flexíveis.” (P2) Por outro lado, quase todos os professores referiram a necessidade, e as respectivas vantagens, de se desenvolver um trabalho cooperativo seja dentro dos grupos disciplinares seja nos conselhos de turma.

“Eu não sei se vai haver mais trabalho de equipa, mas eu acho que ele era muito importante.” (P1)

O professor de Filosofia (P2) sugeriu que os professores deveriam oferecer-se voluntariamente para trabalhar com estes alunos. Á semelhança do que acontecia nos concursos para professores para trabalhar em escolas TEIP, em que existia um concurso separado e o professor sabia à partida para o que estava a concorrer, também aqui o professor se poderia voluntariar para integrar conselhos de turma que tivessem alunos com Necessidades

68 Educativas Especiais, dessa forma o trabalho seria desenvolvido de uma forma mais gratificante para todos. Por isso, quando se pronuncia sobre a formação dos docentes, este professor acrescenta esta nota sobre a obrigatoriedade da tarefa a desempenhar:

“A formação é necessária, e não sei se também não era necessário que os professores não fossem obrigados.” (P2)

O mesmo professor defende que a maior lacuna se refere à mentalidade das pessoas e isso não se muda com facilidade.

“A questão da mentalidade... Tem que ser... Da tal abertura, da tal flexibilidade, isso tem que ser trabalhado e tem que ser alterado. Há muita resistência e então no secundário!” (P2) Quanto às mudanças a implementar nas escolas secundárias decorrentes da inclusão de mais alunos com Necessidades Educativas Especiais e diferentes problemáticas, houve entrevistados que afirmaram nunca ter pensado muito nisso, outros apontaram as acessibilidades ou o equipamento tecnológico como a reforma mais importante e por fim também foi abordada a problemática dos exames nacionais, que é de facto a questão mais delicada e de momento sem solução.

“Implica realmente a tal reflexão conjunta, poderá haver coisas que podem ser feitas, não é?” (P2)

“Também trabalhar com os outros alunos para tomarem consciência de permitir essa integração, dos próprios colegas que têm essas necessidades, não sei se isso é possível trabalhar.” (P2)

“Para já tem a questão dos exames. Eu acho que vai ser muito difícil repensar isso.” (P3) “Não faço ideia! Não sei, nunca pensei no assunto.” (P5)

Finalmente, e contrariando as actuais directivas da tutela, a professora de Português (P1) defendeu convictamente a ideia da redução do número de alunos por turma, de acordo com as diferentes problemáticas dos alunos com Necessidades Educativas Especiais que a turma integrasse.

“O conceito de escola deveria passar pelo conceito de alunos por turma. Serem mesmo turmas mais reduzidas, efectivamente mais reduzidas, não é? Se calhar vinte alunos até é demais. E portanto uma medida poderia ser adequar o número de alunos por turma ao problema do aluno. Sei lá, para um aluno disléxico se calhar 20 alunos estava bem, mas para um aluno cego, ou um aluno autista, quinze alunos podia ser demais, se calhar, por exemplo. Isso seria uma medida educativa interessante, eu sei que ela é utópica. Ainda para mais com a crise! É um bocadinho utópico, mas eu acho que era uma medida educativa que era facilitadora para o trabalho de todos.” (P1)

69 Podemos concluir em relação a esta categoria que os entrevistados pensam que é possível desenvolver um trabalho estruturado e adequado desde que sejam dadas condições aos professores e às escolas para fazerem um trabalho individualizado com os alunos com necessidades específicas, doutra forma a inclusão não existe de uma forma efectiva, existem alunos que permanecem nas salas de aula lado a lado, que não interagem com os colegas e têm um nível de sucesso e de obtenção de competências muito baixo, desempenhando tarefas (diferenciadas ou não) sem qualquer tipo de apoio.

Como refere a Agência Europeia para o Desenvolvimento em Necessidades Educativas Especiais (2003, p.23), “Os alunos com NEE precisam de mais tempo de ensino e de outros métodos. Envolve mais tempo atribuído aos professores ou uma reorganização do mesmo. Os professores podem encorajar os outros alunos a trabalhar de forma mais autónoma, a entreajudarem-se, para que os alunos com NEE possam beneficiar de mais tempo de ensino. É também necessária a sensibilidade do professor para incrementar relações sociais significativas entre os alunos.” Mas, se a inclusão permite que os alunos se apoiem mutuamente, através do trabalho cooperativo e de parcerias, “O problema é que a qualidade da educação continua a ser medida através dos resultados obtidos.” (Guidelines for Inclusion – Ensuring Access to education for All, Unesco, 2005, p.16)