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CAPÍTULO 02 TRABALHO E COTIDIANO DA ATIVIDADE DA PESCA EM

3.3 Os agentes envolvidos na atividade da pesca em Penalva

3.3.2 O atravessador ou revendedor

Já foi mencionado em outro momento o papel desenvolvido pelo atravessador ou revendedor na cadeia produtiva da pesca artesanal em Penalva. A reprodução social dos pescadores depende de certa forma, do atravessador, se o considerarmos como aquele que se apropria do produto final da pesca e se ocupa com a comercialização do pescado nos diversos espaços de destino dado ao produto. O atravessador é o agente que se ocupa com a comercialização do pescado, na feira, nas ruas e povoados de Penalva, nos municípios vizinhos e, até mesmo, em São Luís. Seu João Mariano, pescador de Penalva, tem 59 anos e, que atualmente, tem desenvolvido a função de revendedor, nos informa sobre a venda do peixe em Penalva. Observe abaixo trechos do seu relato:

160 Olha aqui vem comprador de Matinha, São João Batista, Olinda e Viana, aqui nessa praia comprar, pra revender nessa redondeza aí todinha (Entrevista realizada em 06/06/2015).

Em Penalva se estabelece uma grande concorrência na comercialização do pescado. Observei diariamente um grande número de revendedores que disputam a produção obtida pelos pescadores ao ancorarem na “praia”. A concorrência se inicia a partir do momento em que o pescador se aproxima, sendo que, no impulso de chegar e negociar primeiramente com o pescador, os atravessadores caminham em direção ao lago Cajari na tentativa de ter êxito na negociação e sair com seu produto para a venda. Essa procura acirrada pelo pescado faz com que, aconteça um tipo de “leilão” em que os interessados ofertam diversas propostas de preço, fazendo com que o peixe se torne cada vez mais valorizado do ponto de vista econômico.

Imagem 17: Disputa entre atravessadores para se aproximarem das canoas

Fonte: Arquivo pessoal

Aí quando a canoa chega aí na praia eles entra dentro d`água vão com água nisso [apontando na altura da cintura], e já compra logo o peixe, comprar lá mesmo dentro d`água. Quanto mais o peixe maior mais classifica o peixe, mais caro é (Seu Zacarias - Entrevista realizada em 06/06/2015).

161 Na imagem acima e no trecho da narrativa de Seu Zacarias é possível observar como se dá a abordagem do pescador pelos atravessadores ao se aproximar do porto, na tentativa de convencê-lo a vender a produção do dia de forma que seja economicamente rentável para eles.

De acordo com estatística levantada por Pinheiro & Arouche (2013), no ano de 2013, os pescadores desembarcavam e comercializavam no porto de Penalva diariamente uma quantidade de pescado que gerava um valor bruto de produção estimada em R$ 60.000,00. Chegando-se a um valor médio de venda diária por canoa de quase R$ 50,00.

O produto de que o atravessador se apropria para, em seguida, revender e obter sua renda, é transportado, sobretudo, em motocicletas, mas outros meios de transportes são utilizados, como o carro de mão e a bicicleta. Geralmente, quem utiliza a bicicleta para o transporte vende o pescado nos bairros e povoados do próprio município. Nos carros de mão, o peixe é transportado para ser vendido na feira e ruas da cidade de Penalva. Os pescadores que decidem vender o pescado diretamente na feira costumam transportar o produto nos carros de mão. Os revendedores que utilizam a motocicleta levam o peixe para ser comercializado nos povoados mais distantes de Penalva e para os municípios próximos. Com menor frequência são utilizados também, automóveis para o transporte e venda do peixe. Este meio de transporte carrega o produto para os municípios mais distantes, inclusive para São Luís.

162 Quadro 2: Espécies de peixes capturados nos lagos de Penalva

Nome Nome científico Habitat

Piaba Lambari Cheirodon s.p. Lagos, rios e igarapés de águas limpas e claras.

Piau de coco/Piau cabeça gorda

Leporinus friderici Ribanceiras rios e lagos de águas limpas e claras.

Viola cabeça comprida

Lericariichthy s.p Rios, lagos em águas turvas, argilosas e arvores em decomposições nos fundos dos lagos.

Bodó Joana Mina/Aca

Hypostomus s.p Pequenos rios, igarapés.

Bagrinho Parauchenipterus

galeatus

Águas correntes. Sardinha Anchovia surinamensis Águas limpas.

Cacundinha Roeboides sp Águas limpas e claras.

Carrau Paltydoras sp Águas profundas e escuras cobertas

com balcedos.

Curimatá Prochilodus nigricans Ambientes com vegetações aquáticas

Jeju Phoplerythrinus

unitaenatus

Águas escuras cobertas com balcedos.

Mandi bicudo Hassar sp Águas profundas e escuras e turvas.

Pescadinha Palgioscion

squamosissimus

Lagos e rios de águas claras. Piranha ambéu Sarrasalmus

marginatus Lagos e rios.

Piranha vermelha Pygocentrus nattereri Águas paradas em lagos e rios. Sarapó curuvira Stenopygus macurus Em lagos

Surubim Pseudoplatystoma

fasciatum

Em rios e lagos em águas profundas.

Tubio Raamphicthys

guianessis

Em rios e lagos em águas profundas

Urubarana Hemiodus sp Em lagos

Tapiaca sorona Curimatá cyprinhoids Em lagos e rios Mandubé papista Pseudauchenipteru

nordosus

Em rios e lagos em águas profundas Cara preta Cichiasoma orientele Campos cobertos, aterrados e

balcedos

Bodó preto Pterygoplichthys sp Águas profundas Piau aracu/piau de

vara Schzodon-vittatus

Vegetação aquáticas

Calambage geophagusbrasiliensis Áreas rasas e arenosas de lagos e rios Cascudo tamatá Hoplosternum litorale Trincheiras inundadas

Mandiaçu Pimelodus ornatos -

Cara pitanga Cihiasoma sp Em rios lagos e igarapés

Pacu Metynnis sp Lagos e rios

Camurim/sabão Cherinicichlas-saxatilis Águas rasas e claras Sardinha Triportheus-angulatus Em lagos

163 Em Penalva, tem se registrado o aparecimento de espécies exóticas, entre elas são citadas o Tucunaré (Cichla ocellaris) e o camarão gigante da Malásia (Macrobrachium rosenbergii) denominado localmente de lagosta. De acordo com Pinheiro e Arouche (2013), o camarão gigante da Malásia passou a ser capturado no logo Cajari a partir do final da década de 1990. Seu aparecimento no lago é atribuído ao rompimento dos taludes dos açudes onde estavam sendo cultivados, no município de Viana, avançando para os lagos de Penalva pelo canal Maracu. Os pescadores informam que essas espécies não são muito apreciadas pelos consumidores locais, sendo mais vendidas em São Luís.

Imagem 18: O camarão gigante da Malásia e o Tucunaré

Fonte: Arquivo pessoal

O tucunaré é uma espécie de peixe que não é nativo no nosso campo, as pessoa até tem assim uma disconfiaça que o tucumaré como outros peixe. Aqui não é muito bom de venda, Às vezes eles levo [os atravessadores] pra São Luís, porque lá é bom pra venda (Entrevista realizada em 04/06/2015).

Com relação ao o aparecimento do Tucunaré, localmente os pescadores artesanais desconhecem uma explicação lógica para o aparecimento desta espécie nos lagos de Penalva. Mas, alguns pescadores acreditam que o peixe deve ter chegado na região através

164 das grandes enchentes, e que, portanto deve ter vindo dos rios próximos. José Ribamar narra o seguinte sobre o tucunaré: