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5.3 Atuação em rede como forma de aumento da eficiência da atividade

5.3.1 Atribuições de cada ente público

As atribuições do TCE-RS, do MP-RS e da FEPAM , sobretudo no que se refere às ações passíveis de atuação compartilhada, serão listadas e brevemente comentadas, quando pertinentes ao entendimento pleno da questão.

a. Tribunal de Contas

As atribuições dos Tribunais de Contas estão plenamente definidas na constituição de 1988 e, no Rio Grande do Sul, de modo similar ao âmbito federal, os artigos 70 e 71 da Constituição Estadual, as definem. Estas atribuições gerais já foram elencadas no item 2.3, sendo dispensável seu detalhamento, a não ser no que pertine ao TCE-RS.

No elenco de suas competências, conforme dispõe a Lei 11.424/00 (Lei Orgânica do TCE-RS), destaca-se a fiscalização “de quaisquer recursos pertencentes ao Estado”, além de, em função de proposição originada na Comissão Especial supracitada (TCE, 2002), ter sido inserida no Regimento Interno desta corte de contas, a fiscalização ambiental como atribuição objetiva, conforme se reproduz a seguir (art. 7o, inc. III e art. 103).

Competem ao Tribunal de Contas (...) realizar inspeções e auditorias (...) de gestão ambiental, acompanhando a execução de programas de trabalho e avaliando a eficiência e eficácia dos sistemas de controle interno dos órgãos e entidades fiscalizados” e, ainda: “Os atos que importarem em dano ao erário e ao meio ambiente, ocasionados por ação ou omissão dos administradores ou por agentes subordinados a estes, serão objeto de impugnação para constituírem tomada de contas especial.

Há que se considerar, de forma suplementar, o art. 45 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), que trata da obrigação de preservação do patrimônio público, da mesma forma, discutido no subitem 3.3.2.

A indicação objetiva de viabilidade de participação do TCE-RS está descrita em seu planejamento estratégico (TCE-RS, 2007, p. 14), onde, em suas estratégias e principais ações, estatui como meta:

Implementar ações para ampliação de parcerias com diversos órgãos, notadamente com aqueles que, de alguma forma, exercem funções de controle ou delas participam, ainda, que dispõem de informações, habilidades, conhecimentos ou tecnologias úteis ao exercício do controle externo.

b. Ministério Público

A Constituição Federal, no art. 127, incumbe ao Ministério Público a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, texto repetido na Constituição do Estado do RS, em seu art. 107.

A Lei Orgânica do MP-RS (Lei Est. 7.669) fixa, no art. 32, que, no exercício de suas funções, os membros do MP poderão, dentre outras atribuições, promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente e para anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público.

Neste sentido, a atuação deste importante ente público, está firmemente alicerçada na proposição de Ação Civil Pública (Lei Federal 7347/85) e na solução extrajudicial latu sensu, através dos chamados “compromissos de ajustamento” (CAPELLI, 2002). Estes instrumentos, sob a inspiração dos dizeres da mesma autora, serão apresentados de forma resumida.

A Lei da Ação Civil Pública alterou drasticamente o sistema processual brasileiro em termos de tutela aos interesses supra-individuais (o meio ambiente é um deles). Antes, a defesa do meio ambiente se restringia às ações individuais e ao exercício do poder de polícia administrativa, sendo o trato dos interesses difusos circunscrito aos limites dados pela Lei da Ação Popular, que visa a anular ato do poder público lesivo, entre outros, ao meio ambiente, conforme disposto no art. 5º, inciso LXXIII, da CF.

A Lei nº 6.938/81, por sua parte, dava legitimidade ao Ministério Público para propor ações de responsabilidade civil e criminal pelos danos causados ao meio ambiente sem, no entanto, a instrumentalização objetiva dessa tutela.

O inquérito civil -procedimento administrativo, de caráter pré-processual e inquisitorial, no qual o Promotor Público dirige as investigações, sem intermediários, o livra das amarras da prova pré-constituída por outros órgãos (o que muitas vezes, contribui para o insucesso das ações, a exemplo do que ocorre na área penal). Como instrumento para a coleta das provas necessárias ao ajuizamento seguro da ação civil pública ou de outras, o inquérito civil também pode alicerçar o “compromisso de ajustamento”, ou redundar no seu arquivamento. Isso porque é procedimento administrativo e, não processo. Em síntese, possibilita uma "triagem das várias denúncias que chegam ao conhecimento do Ministério

Público: somente as que resultarem fundadas e relevantes acarretarão, por certo, a propositura da ação”.

O compromisso de ajustamento, já mencionado, foi introduzido na Lei da Ação Civil Pública pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 5º, § 6º), e é uma composição celebrada entre os órgãos públicos legitimados e as pessoas físicas ou jurídicas que perpetraram ação lesiva aos bens tutelados pela ação civil pública. Pondo fim ao inquérito civil e sem impedir que os demais legitimados proponham ação civil pública contra o investigado, este termo tem,

ao longo desses anos de vigência, se relevado um instrumento extremamente eficaz para a solução dos danos ambientais, desafogando o Judiciário de um número cada vez maior de ações.

Em outro artigo, Capelli (s/d), firma que “A cada dia que passa, a necessidade de

trabalhar em conjunto (...) revela-se fundamental para os membros do Ministério Público. Nesse sentido, a troca de experiências entre o MP Estadual e Federal, dentro e entre Estados-Membros, é fundamental para a efetividade do trabalho” demonstrando a

importância prática da atuação em rede (ou conjunta), nas diferentes esferas de atuação. Aqui se vislumbra no contexto originário do MP, o trabalho em rede, o que também se perceberá no item seguinte, no que se refere à FEPAM, demonstrando-se sinais evidentes da existência de vontade mútua para sua implementação.

c. Órgão de Licenciamento, Fiscalização, Controle e Monitoramento Ambiental

Os entes desta natureza, em qualquer dos níveis de atuação (municipal, estadual ou federal) possuem atribuições e organogramas diferenciados. Em geral são responsáveis pelo licenciamento ambiental, em função do nível de impacto dos empreendimentos ou ações analisadas, estando freqüentemente vinculadas aos respectivos órgãos gestores do meio ambiente.

As definições a seguir foram trazidas do sítio na internet da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Roessler -FEPAM (www.fepam.rs.gov.br) órgão de licenciamento, fiscalização, controle e monitoramento ambiental gaúcho, vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente-SEMA.

É um dos órgãos executivos do Sistema Estadual de Proteção Ambiental -SISEPRA que, a partir de 1999, passou a ser coordenado pela SEMA, sendo que o SISEPRA prevê a ação integrada dos órgãos ambientais do Estado e os Municípios, como se vê, determinando a integração das atividades desta fundação com os municípios, como uma rede.

Além do licenciamento das atividades de impacto supra-local (os municípios podem ser licenciadores das atividades de impacto local), as principais atividades da Fundação são:

- aplicação da legislação ambiental e fiscalização em conjunto com os demais órgãos da SEMA, municípios e Batalhão Ambiental da Brigada Militar;

- diagnóstico e planejamento, para que a ação do SISEPRA, a avaliação das mudanças ambientais e o licenciamento ambiental de atividades individuais sejam vistos dentro do marco de diretrizes regionais e da capacidade suporte do ambiente;

- apoio, informação, orientação técnica e mobilização de outros atores importantes como os municípios, os comitês de bacia e organizações da sociedade civil.

A leitura do conteúdo acima denota que a lógica de atuação em rede permeia a ação da FEPAM, no que se tange a outros órgãos da estrutura de fiscalização estadual, da mesma forma que o MP, como já mencionado.

Considerando-se que o TCE-RS, dentro do estabelecimento de parâmetros para sua inserção na seara ambiental, manteve tratativas com dirigentes dos demais entes mencionados (MOTTA, 2004), contando, neste primeiro momento, com aceitação da proposta de trabalho em rede, prenuncia-se viabilidade da proposta em estudo.