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Atuação na conquista e/ ou

No documento michellecardosobrandao (páginas 80-83)

3. O HOMEM BOM EM VILA DO CARMO: PERFIL SOCIAL E ECONÔMICO

3.1. A COMPOSIÇÃO DA CÂMARA: os homens bons de Vila do

3.1.3. Atuação na conquista e/ ou

É notório na historiografia referente à temática em questão que os ofícios na Câmara deveriam ser reservados àqueles de maior expressão sócio-econômica, isto é aos “principais” da localidade, os quais se compunham de diversas características cunhadas, sobretudo, num nível local, mas que sem dúvidas estavam intrinsecamente ligadas a uma cultura política de Antigo Regime vivenciada nos trópicos.

Destarte, a hierarquização social baseada na diferença de qualidades entre os indivíduos e sustentada principalmente pelo status nobre, tinha profunda relação com a antiguidade destes indivíduos na localidade. Assim, neste contexto: “pensava-se que os

membros das famílias mais antigas, nobres e ricas eram os que davam maiores garantias de isenção e independência no desempenho dos seus ofícios e os que dispunham de uma autoridade natural, no sentido de construção pelo tempo, e por isso, mais facilmente acatada”(MONTEIRO, 2005, p. 44).

E ao que parece a realidade vivenciada em Vila do Carmo, pelo menos diante do nosso universo de informações, assim como em outras localidades, aponta justamente para o que acabamos de assinalar. Vejamos a tabela abaixo:

TABELA 5: Indivíduos atuantes na conquista e/ou povoamento, 1711-36. Número de indivíduos Atuação na conquista/povoamento no Império Português Porcentagem 27 16 81,2 Número de indivíduos Atuação na conquista/povoamento na região do Carmo Porcentagem 16 11 68,7

Fonte: FRANCO,1989 e AHU (vários documentos avulsos).

Dos 102 indivíduos que compõe nossa listagem, encontramos informações diversas para 27 deles, sendo que dos demais sabemos apenas que foram oficiais camaristas em determinados anos na Câmara de Vila do Carmo. Destes 27, um total de 16, isto é, 81,2% estiveram envolvidos no processo de conquista e/ou povoamento em diferentes lugares do Império Português e, 11 daquele total, atuaram especificamente na conquista e/ou povoamento da região do Carmo; fazendo parte da gente mais antiga e, portanto mais qualificada, daquela região.

Desta forma, o serviço ao Rei principalmente o desempenhado no sentido da conquista e/ou povoamento de terras no Império português parece-nos ter sido primazia na determinação do indivíduo mais qualificado para o exercício de um ofício na Câmara de Vila do Carmo; fato constatado e ratificado pela ocorrência de mais de 80% dos indivíduos (para

os quais encontramos informações) estarem nesta condição. É importante, contudo,

salientarmos que isso se revela no âmbito do cenário o qual fora desenhado a partir das informações obtidas, e que como ressaltamos representa apenas 27 indivíduos dentro de um quadro de 102. Assim, tais informações referem-se a um número aparentemente pequeno, mas que somadas ao que a historiografia tem revelado acerca da relação entre elite local e ações de conquista e/ou povoamento apontam para indícios que nos revelam uma importante faceta desta elite que atuava em prol de “Sua Majestade”, visando, obviamente, mercês e títulos.

Tais indivíduos, à custa de seu sangue e fazendas muito se esmeraram no serviço ao Rei, tendo o estatuto de nobreza, principais da terra, legitimado, sobretudo, na condição de primeiros povoadores e conquistadores; contudo poucos conseguiram uma ascensão tão

destacada quanto Caetano Alves Rodrigues; legítimo fiel de Sua Majestade no que respeita ao exercício de importantes serviços no contexto apresentado.

O português Caetano Alves Rodrigues foi oficial da Câmara do Carmo por duas legislações, uma em 1718, como vereador, e outra em 1721 exercendo o ofício de juiz. Sua atuação se deu por importantes áreas do Império ultramarino português. Destaca-se que acompanhou o vice Rei da Índia Caetano de Melo e Castro em 1702, servindo-o com muito zelo durante seis anos em seus empreendimentos em prol da Coroa. Direcionou-se ao Brasil, com cerca de 23 anos de idade, indo servir em Minas Gerais e ainda no Rio de Janeiro, acompanhando Antônio de Albuquerque Coelho na ocasião da expulsão dos franceses em 1711. Ademais, obrou com o Governador Dom Brás Baltazar da Silveira agindo, inclusive, nas rebeliões havidas no Rio das Mortes. A atuação na Revolta de 1720 rendeu-lhe a nomeação de Guarda-Mor do Ribeirão do Carmo, pelo Conde de Assumar ao qual socorreu e por isso foi recompensando ainda com o cargo de Coronel das Ordenanças de São Paulo (FRANCO, 1989, p. 343).

Sem dúvidas sua carreira militar parece ter sido bastante promissora e graças ao seu engajamento no serviço real e no constante apoio aos governadores de Minas, tornou-o capaz de construir uma condição de grande poder e valor em Vila do Carmo. Assim, o acúmulo de tantos cabedais em serviços à Sua Majestade possibilitou-lhe o sucesso na aquisição de diversas mercês. Não obstante, foram tais serviços também que (na busca pela obtenção de benesses reais via reconhecimento dentro da lógica da remuneração) seu filho José Caetano Rodrigues Horta, em representação ao Conselho Ultramarino no ano de 1766, listou o rol de serviços realizados pelo pai a fim de justificar o seu merecimento ao posto de Tenente Coronel da Cavalaria Auxiliar de Ligeiros do termo de Mariana(AHU/MG/cx.: 86; doc.: 17). Nota-se que José Caetano esforça-se não apenas para demonstrar e listar os vários serviços do pai, mas também para assinalar o quanto ele vem servindo ao Rei, assim como o pai fez: “Caetano Alves Rodrigues é Cavaleiro da Ordem de Cristo, Escudeiro e Cavaleiro Fidalgo,

Coronel das Ordenanças de São Paulo por patente de 15 de Abril de 1722 tudo em atenção aos grandes serviços praticados no tempo do levante nesta capitania [...] continua seu filho o mesmo foro e em 1760 aprovou o Conde de Bobadela no Posto de Capitão [...]”

(AHU/MG/cx.: 86; doc.: 17, grifo meu).

Acrescente-se, portanto, como os serviços prestados ao Rei eram utilizados pelas gerações posteriores a fim de obterem mercês recompensatórias, além de distinção e prestígio.

No documento michellecardosobrandao (páginas 80-83)