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2 ANTECEDENTES: A GUERRA DE 1991 E O INÍCIO DA

3.2 A OPERAÇÃO IRAQI FREEDOM

3.2.7 Atuação das Forças Especiais

No geral, as missões das Forças de Operações Especiais podem ser resumidas como:

Impedir que o V Corpo iraquiano se desloque para o sul para reforçar Bagdá, conduzir operações de reconhecimento e ação direta no deserto a oeste; localizar e destruir as capacidades missilísticas iraquianas; fornecer apoio às forças convencionais em seu trajeto rumo norte até Bagdá, interditar as linhas de comunicação iraquianas, especialmente na Rodovia Leste-Oeste entre a Síria e Bagdá, tomada e proteção de campos de petróleo e estações de PUMPING no território iraquiano, tomada de importantes aeródromos, e a captura de grande parte dos objetivos de alto valor estabelecidos pelo CENTCOM (PIRNIE, 2015, p. 104, tradução nossa)108.

Foram formadas quatro forças-tarefa de Forças de Operações Especiais para a atuação no Iraque. A primeira, a Força Tarefa Conjunta de Operações Especiais Norte (JSOTF-N Joint Special Operations Task Force – North) deveria inicialmente apoiar a 4ª Divisão de Infantaria que, pelos planos estadunidenses, deveria entrar no Teatro de Operações através da Turquia. Entretanto, quando a Turquia negou a passagem à 4ª Divisão de Infantaria, a JSOTF-N ficou responsável por manter a frente no norte iraquiano com o apoio do Peshmerga curdo e da 173ª Brigada Aerotransportada. Sua missão era a de trabalhar com as forças curdas no norte do Iraque, assegurar a cidade de Kirkuk, seus campos de petróleo e infraestrutura petrolífera, e tomar a cidade de Mossul. Além disso, a JSOTF-N ainda realizou operações junto às forças curdas para

108 Do original em inglês: “preventing the Iraqi V Corps from moving south to reinforce Baghdad; conducting special reconnaissance and direct action in the western desert; locating and destroying Iraqi ballistic missile capabilities; supporting conventional forces in their movement north toward Baghdad; interdicting Iraqi lines of communication, especially on the East-West highway between Syria and Baghdad; seizing and protecting oil fields and pumping stations throughout Iraq; seizing critical airfields; and capturing most of the high-value targets contained in CENTCOM’s ‘deck of cards.’” (PIRNIE, 2015, p. 104).

tomar e destruir campos de treinamento do grupo terrorista Ansar al-Islam, próximo à fronteira com o Irã (PIRNIE et al., 2015, p. 106-123; FONTENOT; DEGEN; TOHN, 2004, p. 250-251).

A segunda das forças-tarefa era a Força Tarefa Conjunta de Operações Especiais – Oeste (JSOTF-W Joint Special Operations Task Force – W), que contava com o apoio de uma companhia blindada da 3ª DI. Sua área de responsabilidade se estendia por todo o deserto oeste iraquiano. Sua função principal era a de impedir que as forças convencionais iraquianas utilizassem a região para lançar mísseis em direção a Israel e Jordânia. Também tinha como função a tomada de aeródromos e controlar as linhas de comunicação. Também foram instrumentais na tomada de diversos objetivos estratégicos (PIRNIE et al., 2015, p. 123-124; FONTENOT; DEGEN; TOHN, 2004, p. 252-254).

A terceira, chamada Grupo de Tarefa Naval para Guerra Especial – Central (TG- Cent) ficou responsável pela proteção de instalações ligadas à produção de petróleo e a tomada de objetivos próximos ao litoral. Por fim, a quarta força tarefa, Força Tarefa 20 (TF-20) era composta por forças que, em 2015, ainda estavam sob confidencialidade classificada. Duas de suas principais missões receberam especial atenção da mídia: o resgate da soldado Jessica Lynch109 e a proteção da Barragem de Haditha (PIRNIE et al., 2015, p. 124).

3.3 CONCLUSÕES PRELIMINARES

Os objetivos desta dissertação como um todo foram os de “explorar a influência das Doutrinas Bush e Rumsfeld na forma em que se deu o planejamento de guerra” e “analisar a influência dos resultados das operações no Iraque na própria condução política e militar das Operações na Guerra do Iraque e durante as operações de contra- insurgência”. Já o objetivo deste capítulo era o de analisar o planejamento e as operações de combate da Guerra do Iraque. Neste sentido, averiguou-se que planejamento para a Operação Iraqi Freedom foi marcado pelas solicitações constantes pela diminuição de contingente e pelo aparente descaso em relação ao planejamento da

109 A Soldado Jessica Lynch havia sido seqüestrada por fedayeens durante o incidente com a 507ª Companhia de Manutenção em Nasiriyah. Graças a uma denuncia anônima, a soldado foi resgatada em uma operação no Hospital Saddam, nos arredores de Nasiriyah (PIRNIE, 2015, p. 125).

fase que se seguiria aos combates majoritários, em consonância com a Doutrina Rumsfeld.

Quanto a suas operações, a Iraqi Freedom foi extremamente bem executada. Pode-se considerar que os cortes de contingente solicitados por Rumsfeld não prejudicaram a performance das Forças Armadas da Coalizão. Entretanto, pode-se questionar se tal feito seria reproduzível frente a um adversário em condições mais favoráveis. Como buscamos referir no capítulo anterior, o Iraque encontrava-se arrasado e não-recuperado de uma guerra anterior (a Guerra do Golfo de 1991), e, mais, encontrava-se sob embargo internacional, com capacidade pífia de recuperar suas capacidades militares. É importante lembrar que os principais adversários estadunidenses na arena internacional hoje (Rússia e China) encontram-se em uma situação muito mais vantajosa do que se encontrava o Iraque em 1991. A redução de contingente talvez não seja uma opção em uma guerra envolvendo competidores de capacidade tecnológico-qualitativa similar.

Por sua vez, sabe-se que o descaso com o planejamento para o pós-guerra se faria sentir pelos vários anos que se seguiram à OIF. Nesse sentido, pode-se dizer que há uma discrepância entre o pretendido pela Doutrina – guerras curtas, rápidas e decisivas – e os resultados obtidos no Iraque: um envolvimento prolongado, sobre o qual se tratará no próximo capítulo.

Ainda, resta destacar os aspectos de retroalimentação, em que os imperativos do combate trouxeram modificações ao planejamento e execução das operações. Neste sentido, duas ocasiões se destacam: a Pausa Operacional e as Incursões Relâmpago em Bagdá.

Como referido acima, a Pausa Operacional foi uma mudança real no planejamento e execução das operações. Percebendo-se que a linha de suprimentos americana encontrava-se fragilizada devido aos ataques advindos das cidades (que haviam sido contornadas sem serem controladas de fato), decidiu-se por estancar a progressão de modo a permitir que as forças de reserva controlassem a situação nas cidades – mudando efetivamente o planejamento e execução das operações como foram concebidas. Pode-se, mesmo, questionar se a Pausa Operacional já não denotava uma necessidade ignorada pela Transformação Militar: a necessidade de contingentes maiores para o controle das populações locais e para a própria segurança das tropas americanas.

As Incursões Relâmpago, por sua vez, são o prenúncio de uma estratégia que resultaria em desastre nos anos seguintes. Ao “tomarem” Bagdá através de rápidas incursões ao centro da cidade e assumirem que estas seriam suficientes para garantir a vitória sobre a cidade, as Forças Armadas dos EUA cometeram um grave engano. Afinal, o controle populacional e a contra-insurgência, demandariam um esforço ainda maior nos meses e anos que viriam após a declaração do fim das operações de combate, em 01 de maio de 2003. A forma como o território iraquiano foi tomado é refletida pela forma como Bagdá foi “tomada”. A investida veloz pelo território iraquiano, sem que se controlassem as cidades que se localizavam no trajeto estadunidense até Bagdá (e que se tornariam motivo de vulnerabilidade à linha de suprimentos americana) é espelhada nas incursões relâmpago em Bagdá, assegurando apenas pontos principais no caminho e assumindo que o restante da cidade permaneceria pacificamente sob seu controle a partir disto. O controle populacional foi ignorado, e isso acarretaria o crescimento, à revelia das forças estadunidenses, de forças insurgentes que manteriam os EUA no Iraque por anos a fio. Este problema se evidenciaria durante toda a ocupação estadunidense, e as tentativas de corrigi-lo – ou a própria retroalimentação – se estenderam durante o pós-guerra, temática do próximo capítulo.