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4 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NOS SERVIÇOS DE

4.4 A atuação multidisciplinar

Tratando-se da relação entre o trabalho desenvolvido por estes profissionais e o trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais nos serviços, podemos perceber na fala dos sujeitos entrevistados que esta relação não se dá de forma interdisciplinar, sendo na maioria das vezes, o profissional supracitado solicitado apenas para aparar arestas do atendimento médico e apagar os incêndios provocados pelas sequelas da questão social, tonando-se o profissional um apêndice das equipes de saúde, o que se pode perceber na fala dos entrevistados 4, 5, 8 e 9.

Bem, a relação se dá nessa questão de encaminhar só os problemas que agente não pode resolver, que na verdade nem sei se é atribuição de vocês (assistentes sociais), mas que acabamos encaminhando pra ver a resposta que tem [...] (Entrevistado 4).

Sim, como já havia falado o seu trabalho é um complemento [...] Na verdade o trabalho é integrado, ou isso é pelo menos o que se espera que seja (Entrevistado 5).

Sim, é uma relação de interdisciplinaridade, trabalhamos em equipe, quando precisamos do trabalho de outro profissional da saúde, inclusive do assistente social, solicitamos [...] então é uma relação multiprofissional (Entrevistado 8).

Sim, somos uma equipe multiprofissional e apesar da correria, da rotina de trabalho, temos que nos relacionar. A relação é da forma que eu já lhe falei, se identifico algum problema, de orientação, que o paciente precisa eu encaminho para o profissional do serviço social (Entrevistado 9).

Alguns profissionais também enfatizaram essa relação como um processo de mera troca de informação, sem perspectiva de relacionar conhecimentos para construção de um plano de ação para a saúde do usuário em parceria com a equipe e o sujeito, é o que se percebe na fala do entrevistado 1.

A relação é de troca, também agente conversa muito, o que acontece nas atividades extramuros, agente traz para discutir

aqui, ou então as próprias questões do funcionamento, então há uma interação sempre... Há uma relação de troca em algum momento quando há alguma informação, ou há algumas questões, por exemplo, que eu sei que a assistente social tem um perfil [...] A relação se dá no planejamento, na discussão dos casos, as vezes na informalidade, porque no dia a dia sempre tem questões, sempre tem um momento que agente para pra ter uma troca de informações, ou quando há uma necessidade não e? Agente tem momentos em que agente tem essa possibilidade de está fazendo a troca dentro do serviço (Entrevistado 1).

Apenas um dos sujeitos entrevistados fez em sua fala conexão com que conhecemos como interdisciplinaridade auxiliar, explicitada por Ortiz (2010) como sendo a contribuição de uma ou mais disciplinas para o domínio de uma disciplina específica que é campo receptor e coordenador das demais, ressaltando a necessidade da junção de conhecimentos para o oferecimento de um tratamento resolutivo, é o que mostra a fala do entrevistado 2.

[...]ao termino da consulta por vezes trocamos informações sobre os usuários para traçar um trabalho em equipe específico para aquele usuário (Entrevistado 2).

A interdisciplinaridade é essencial ao trabalho desenvolvido junto a pessoas que vivem com HIV/Aids, tendo em vista que a contaminação pelo vírus e a doença em si trazem a tona questões complexas que vão desde o próprio aspecto social negativo da doença, até os efeitos colaterais causados pelo coquetel anti-retroviral, sendo impossível intervir eficazmente na sua magnitude com apenas uma área do conhecimento.

Na interdisciplinaridade há reciprocidade, enriquecimento mútuo, horizontalização das relações de poder entre os campos do saber e principalmente a construção de uma plataforma de trabalho conjunto, por isso enfatizamos que esta não consiste simplesmente na adição ou mistura de conhecimentos e sim na combinação de seus elementos internos, democratizando as relações de poder entre as profissões.

Há diferenças claras entre uma prática multiprofissional e multidisciplinar e uma práticainterdisciplinar, estando à primeira relacionada a várias categorias profissionais atuando na mesma área, porém de forma isolada; e a segunda a existência de várias categorias profissionais atuando nas suas especificidades

com um objetivo em comum a ser alcançado. Já a terceira consiste na vivência de vários profissionais atuando numa mesma área tendo o mesmo objetivo e mantendouma relação de constante interação, pondo fim definitivamente a hierarquização do saber, tendo em vista um atendimento integral e resolutivo ao usuário.

Diante do exposto percebe-se que nas equipes estudadas há uma tentativa constante de se estabelecer uma troca de informações, porém tal prática não pode ser considerada como interdisciplinar. A ausência deste tipo de ralação profissional pode impossibilitar que o trabalho seja realizado numa perspectiva de totalidade da vida do sujeito usuário do serviço, pois compreendendo os fatores sociais e culturais que envolvem o processo saúde/doença fica bem mais fácil propiciar um atendimento resolutivo fortalecendo o sujeito nos aspectos físico e social.

Contudo, concordando com Sobrinho; Sousa(2002), ponderamos que a interdisciplinaridade ainda precisa ser trabalhada, e enfatizamos que não é nossa pretensão culpabilizar especificamente os profissionais por esta não esta ocorrendo de fato nos serviços, levando em consideração que um trabalho interdisciplinar só será possível quando as pirâmides profissionais forem horizontalizadas, fato que é constantemente validado pelo mercado de trabalho na atualidade, enquanto isso não ocorre haverá apenas a presença de uma equipe multiprofissional nos serviços o que não significa que vai ocorrer uma interação ou um trabalho interdisciplinar.

Assim, ressaltamos que a interdisciplinaridade deve ser problematizada, tanto no processo formativo dos profissionais como no cotidiano das instituições, considerando a forma como a sociedade esta organizada do ponto de vista politico, ideológico, cultural e econômico, reconhecendo que o trabalho interdisciplinar deve orientar-se sempre numa perspectiva de totalidade.

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