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6 – DA ATUAÇÃO DAS TRANSPORTADORAS DE VALORES EM CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO E CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

6 – DA ATUAÇÃO DAS TRANSPORTADORAS DE VALORES EM CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO E CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O colaborador ÁLVARO NOVIS revelou em seu anexo 8 que no esquema estruturado de distribuição de propina da FETRANSPOR, o dinheiro espúrio “era recolhido nas garagens de algumas empresas de ônibus vinculadas à FETRANSPOR pela TRANSEGUR (hoje Prosegur); Que o dinheiro era custodiado na sede da

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TRANSEGUR; Que o dinheiro custodiado era utilizado para fazer pagamentos a políticos;... Que ressalta que HUDSON BRAGA também recebeu recursos da FETRANSPOR”.

Ouvido pela Procuradoria-Geral da República, NOVIS ratificou referido anexo, tendo acrescentado: “... Que a Fetranspor realizava pagamentos por meio da conta Fsabi para SERGIO CABRAL/CARLOS MIRANDA; Que a conta Super também já foi utilizada; Que ambas as contas estavam custodiadas nas transportadoras de valores PROSEGUR e TRANSEXPERT...”. Ainda, esclareceu:

“... Que as empresas de ônibus entregavam o dinheiro em espécie em transportadoras de valores; Que a entrega dos valores inicialmente era feita para a TRANSEGUR; Que a TRANSEGUR foi adquirida pela PROSEGUR; Que havia outra transportadora de valores chamada TRANS EXPERT que era utilizada para custódia de valores; Que as empresas de ônibus possuíam 'contas' nas transportadoras de valores para custódia dos recursos arrecadados com passagens; Que o Colaborador abriu 'contas' nas referidas transportadoras também para poder movimentar os valores das empresas de ônibus; Que tais 'contas' eram meramente informais; Que os valores eram transferidos das 'contas' das empresas para a 'conta' do colaborador e a partir daí eram feitos os pagamentos aos beneficiários finais; Que o colaborador possuía contrato formal com ambas as transportadoras...”

Do anexo Relatório 3074/2017 da Assessoria de Pesquisa e Análise do MPF constata-se que a empresa TRANSEGUR S.A. TRANSPORTADORA DE VALORES, CNPJ: 33.885.005/0001-06, com sede na Rua Primeiro de Março, 23/1306, Centro/RJ, foi baixada em 31/12/2008, constando como massa falida em 2006. De outro lado, do também anexo Relatório 3075 conclui-se que não houve de direito uma sucessão societária entre a TRANSEGUR e a PROSEGUR (PROSEGUR BRASIL S/A - TRANSPORTADORA DE VAL E SEGURANCA - CNPJ 17.428.731/0001-35), sendo esta uma empresa regularmente constituída e em atividade.

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Mas as declarações do Colaborador corroboram diversos elementos de investigação apurados desde a fase mais ostensiva da Operação Calicute, porquanto além dos pagamentos feitos pela FETRANSPOR por intermédio de ÁLVARO NOVIS a CARLOS MIRANDA, braço direito de SÉRGIO CABRAL, indicam o uso da empresa de transporte de valores TRANS EXPERT como ferramenta para lavagem e ocultação do dinheiro da propina, empresa que já é objeto de investigação desde o início, e onde foram apreendidos em busca e apreensão documentos relacionados a membros da Orcrim (ADRIANA ANCELMO, HUDSON BRAGA e PAULO FERNANDO MAGALHÃES).

Com efeito, segundo o colaborador ÁLVARO NOVIS, a TRANS EXPERT tinha como dono de fato e responsável pela sua gerência um policial de nome “DAVI”, conforme o Anexo 12.2, junto as fls. 737 da PET 11.962 - STJ, devidamente ratificado em declarações formais:

“DAVI” vem a ser o policial civil DAVID AUGUSTO DA CAMARA SAMPAIO, conduzido coercitivamente por esse Juízo quando da deflagração da fase mais ostensiva da Operação Calicute, oportunidade em que, ouvido em sede policial, admitiu a sua relação com a corretora HOYA de ALVARO NOVIS, e não conseguiu afastar os indícios da sua ingerência de fato sobre a TRANS EXPERT, tampouco explicar a documentação de HUDSON BRAGA, ADRIANA ANCELMO e PAULO FERNANDO

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MAGALHÃES (todos elementos importantes da Orcrim de SERGIO CABRAL), encontrados em busca em sua sala na empresa:

“... QUE em relação a empresa TRANS EXPERT tem a dizer que a mãe do declarante figura no quadro societário com 33% das cotas; QUE, em relação a essa empresa atua na área de relação comercial; QUE, não toma quaisquer decisões gerenciais; QUE, essa empresa consiste numa S/A, possuindo presidente, um conselho administrativo e demais órgãos característicos; QUE, a função do declarante era basicamente o contato com o cliente no que tange a captação; QUE, trabalha na captação de clientes há aproximadamente 10 anos; QUE, teve relação comercial com a equipe de SÉRGIO CABRAL, por meio da empresa sendo esta a responsável pela segurança de uma das campanhas dele a governador, sendo a segurança física do comitê central de campanha; QUE, não possui qualquer amizade com SÉRGIO CABRAL. QUE, sabe que ADRIANA ANSELMO é esposa de SÉRGIO CABRAL, no entanto não possui com esta nenhuma relação; QUE, não se recorda do porquê de uma cópia do imposto de renda de ADRIANA ANSELMO ter sido encontrada na sala do declarante na empresa TRANS EXPERT; QUE, o declarante ratifica que não tem nenhuma relação com ADRIANA ANSELMO; QUE, sabe dizer que PAULO FERNANDO MAGALHÃES PINTO era assessor de SÉRGIO CABRAL, contudo não tem nenhuma relação com ele; QUE, acredita que PAULO FERNANDO em algum momento da campanha tenha oferecido um cartão de visitas ao declarante; QUE, SÉRGIO CABRAL nunca custodiou dinheiro na TRANS EXPERT; QUE, deseja esclarecer que SÉRGIO CABRAL jamais deixou valores na TRANS EXPERT; QUE, não sabe dizer quem seja CARLOS MIRANDA ou CARLOS BEZERRA; QUE, HUDSON BRAGA era chefe de gabinete do governador PEZÃO, tendo convidado o declarante para fazer a segurança física do comitê de campanha do governador PEZÃO; QUE, acredita que os serviços do declarante tenham sido indicados por assessores de CABRAL, em face do trabalho realizado na campanha deste; QUE, acredita que JOSÉ ORLANDO RABELO seja assessor de HUDSON BRAGA; QUE, ORLANDO era quem autorizava o pagamento das faturas de serviço ao declarante; QUE, as relações comerciais eram resguardadas por contratos, de forma a perseguir a legalidade; QUE, não conhece WAGNER JORDÃO GARCIA; QUE, HUDSON BRAGA jamais custodiou dinheiro em espécie ou quaisquer outros valores na empresa TRANS EXPERT; QUE, as anotações de contabilidade de recursos que foram apreendidas nas dependências da TRANS EXPERT estavam relacionadas a uma dívida de HUDSON com a empresa TRANS EXPERT, em relação aos serviços de segurança; … QUE, com relação ao valor de R$ 600.000,00 (seiscentos

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mil reais) acredita que seja referente ao envelopamento; QUE, esse envelopamento consiste em colocar o dinheiro no envelope com o nome da pessoa que irá receber, referente a campanha; QUE, o sinistro a que se referem, em 07/03/2015, às 13h40min, em ligação entre JOSÉ ORLANDO e HUDSON, provavelmente ao sinistro relacionado ao incêndio da empresa; QUE, HUDSON BRAGA jamais depositou dinheiro na transportadora; QUE, FERANDO CAVENDISH depositou dinheiro em espécie na empresa; QUE, este valor girava em torno de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais); QUE, somente aceitou guardar este dinheiro, pois sabia que era referente a venda de um imóvel, declarado no imposto de rendas de CAVENDISH; QUE, jamais aceitaria custodiar qualquer dinheiro de origem ilícita;... QUE, ratifica que não gerenciava a empresa TRANS EXPERT; QUE, a sala apontada como a do declarante, na verdade era acessada por qualquer pessoa, podendo ser considerada como um sala de uso comum; QUE, os valores que em espécie que havia na empresa eram referentes as coletas diárias dos clientes e bancos, tudo homologado pelo Banco Central e pela própria Polícia Federal, eis que era tudo formalizado conforme as normativas legais e constantemente fiscalizado pelas auditorias de banco; QUE, no incêndio ocorrido na empresa TRANS EXPERT havia dinheiro do Banco do Brasil e Caixa Econômica e que haverá restituição pela seguradora, com as devidas correções, tudo devidamente informado no inquérito policial que apura o fato; QUE, a HOYA CORRETORA era cliente da TRANS EXPERT; QUE, jamais atuou como um banco para esta empresa ou para qualquer outra...”

(destaques nossos) Além de dono de fato da TRANS EXPERT, DAVID SAMPAIO demonstra estar bem relacionado com o Poder Legislativo fluminense, eis que, conforme pesquisa no DOE, vinha sendo requisitado para ocupar cargos de assessor parlamentar alguns anos até pelo menos meados do ano passado:

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Ainda sobre a TRANS EXPERT, a testemunha RICARDO CAMPOS SANTOS, funcionário da HOYA que fazia as entregas de valores a mando de ÁLVARO NOVIS ou EDIMAR MOREIRA DANTAS, confirmou em depoimento ao Ministério Público Federal essa dinâmica de recolhimentos de valores da FETRANSPOR pela TRANS EXPERT e distribuição regular e que se protraiu no tempo a diversas pessoas indicadas pelos primeiros, inclusive a CARLOS MIRANDA e CARLOS BEZERRA, operadores financeiros de SÉRGIO CABRAL.

Em relação à PROSEGUR, relevantes as declarações do colaborador EDIMAR MOREIRA DANTAS sobre o verdadeiro esquema bancário paralelo de ocultação, guarda e transporte ilegal dos valores ilícitos por essas transportadoras, bem como seu contato com MÁRCIO MIRANDA:

“(…) que essa “compensação” ou aporte de valores de uma conta para a outra se dava através de contato com MÁRCIO MIRANDA da PROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem de JOSÉ CARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA; que então o depoente dava uma ordem a MARCIO MIRANDA da PROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDA entregava o valor pedido para Francisca na GUANABARA DIESEL em espécie; que, reversamente, quando era para FRANCISCA remeter valores para a conta da FETRANSPOR, esta dava a ordem para MARCIO MIRANDA, que simplesmente creditava o valor à disposição da FETRANSPOR; que FRANCISCA trabalhava na empresa GUANABARA DIESEL; (...)”

Em outras declarações prestadas perante a Procuradoria Geral da República, EDIMAR esclareceu que: “Que após 19/05/2014 não houve mais envio de valores, pois foi o dia que o funcionário da PROSEGUR, o SR. MARCIO MARQUES PEREIRA DE MIRANDA sumiu com o dinheiro da Transportadora; Que há na Polícia Federal o IPL n.º 0080/2016-11 – DELECOR/PF/RJ, sob a condução do Delegado Federal Robson Papini Mota; QUE acredita que a FETRANSPOR não tenha reclamado esse dinheiro perdido, e não sabe qual o montante”.

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Vale destacar as suspeitas de crime contra o sistema financeiro nacional identificadas no Relatório de Inteligência Financeira – RIF nº 26972.3.4812.4596, do Conselho de Atividades Financeiras, em anexo, envolvendo as empresas do grupo GUANABARA de JACOB BARATA e a HOYA, que inclusive assevera o desaparecimento do funcionário da PROSEGUR MARCIO MIRANDA:

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Ou seja, entre os anos de 2013 e 2014 mais de R$ 150 milhões em espécie foram custodiados irregularmente, com a dissimulação de seus verdadeiros donos, para burlar os controles financeiros, em dinâmica que vem a corroborar no todo aquela declinada por ÁLVARO NOVIS em sua colaboração.

Mas é fato que, como se viu, os valores recolhidos das empresas de ônibus e que formaram a contabilidade paralela administrada pelo doleiro ÁLVARO NOVIS chegaram a mais de R$ 260 milhões somente quanto aos requeridos na presente medida cautelar, os quais eram custodiados informalmente e ilegalmente nas sedes das referidas transportadoras de valores e posteriormente distribuídos a diversos agentes públicos, de acordo com os interesses das empresas filiadas ao esquema.

As planilhas apresentadas pelos colaboradores demonstram, inclusive, que o capital custodiado recebia uma espécie de remuneração ao longo do tempo,

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circunstância que denota a sofisticação e estabilidade do esquema, cuja operação se assemelha a uma “instituição financeira” clandestina.

Há indícios, portanto, de que, além dessas pessoas integrarem a Orcrim de SÉRGIO CABRAL, também praticaram crimes contra o sistema financeiro nacional (artigos 11 e 16 da Lei nº 7492/86).

A Lei nº 7492/86 assim define instituição financeira em seu art. 1º: Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros (Vetado) de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.

Por sua vez, o mesmo diploma tipifica o crime de operação ilegal de instituição financeira no seu art. 16:

Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio:

Temos, então, a captação e aplicação de recursos de terceiros como o núcleo essencial do funcionamento e da definição de instituição financeira. Essa é exatamente a atividade regulada pela Lei nº 7492/86, cuja prática ilegal é coibida pela norma do art. 16 desse diploma. Nesse sentido nossa jurisprudência:

“Penal – Crime contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86, art. 16 - “1. Provado que o recorrente de forma consciente e voluntária, praticava atividade privativa de instituição financeira, captando recursos de terceiro sem a devida autorização do Banco Central do Brasil, impõe-se a manutenção da sentença. 2. Recurso improvido” (trf 2ª Reg. - Ap. 2185 – Processo 1999.02.01.046413-2 – Rel. Paulo Barata – j. 14.03.2000).” (in,

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Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial, Vol. 1., São Paulo, Editora RT, 7ª ed., 2002, p. 850)

Assim, invocando tudo que já narrado acima, em especial neste capítulo referentes às transportadoras de valores, há que se lembrar que parte essencial do esquema de ocultação de dinheiro montado pelos investigados consistiu na manutenção de dinheiro em espécie nas transportadoras de valores TRANSEGUR – por MÁRCIO MARQUES PEREIRA MIRANDA e TRANS EXPERT – por DAVID AUGUSTO DA CÂMARA SAMPAIO – onde os diversos clientes tinham contas e onde funcionava até uma “câmara de compensação” entre as contas que esses mesmos clientes mantinham ilegalmente no local. Vejamos a descrição da operação do sistema, como narrada pelo colaborador EDIMAR MOREIRA DANTAS, que consta da Petição nº 11.962-DF (2017/0103830-6) – em anexo:

“(…) que essa “compensação” ou aporte de valores de uma conta para a outra se dava através de contato com MÁRCIO MIRANDA da PROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem de JOSÉ CARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA; que então o depoente dava uma ordem a MARCIO MIRANDA da PROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDA entregava o valor pedido para Francisca na GUANABARA DIESEL em espécie; que, reversamente, quando era para FRANCISCA remeter valores para a conta da FETRANSPOR, esta dava a ordem para MARCIO MIRANDA, que simplesmente creditava o valor à disposição da FETRANSPOR; que FRANCISCA trabalhava na empresa GUANABARA DIESEL; (...)”

Essa prática se estendia a diversos clientes das transportadas, dentre eles, várias empresas de ônibus e pessoas físicas, a caracterizar forte atuação de captação de recursos de terceiros.

Desta forma, como amplamente narrado acima, não faltam elementos a indicar a necessidade de se investigar, pelo menos, as condutas de JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS, ÁLVARO NOVIS, DAVID AUGUSTO DA CÂMARA SAMPAIO

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e MÁRCIO MARQUES PEREIRA MIRANDA (além de diversos outros que podem ter contribuído para o desfecho criminoso, na forma do art. 29 do Código Penal), que, transcendendo totalmente a autorização para custódia que qualquer empresa transportadora de valores possui, passaram a operar francamente instituição financeira, inclusive com a manutenção de contas em nome de empresas e de pessoas físicas, fazendo intensas operações de compensação entre elas e até mesmo aplicando espécie de remuneração mensal no saldo custodiado.

Também o crime do art. 11 da Lei nº 7492/86 merece ser investigado eis que, ao menos a HOYA CORRETORA DE VALORES E CAMBIO LTDA – esta sim, instituição financeira com autorização para tanto – manteve, como se verifica de tudo que narrado acima, ampla contabilidade paralela dos valores de terceiros que as transportadoras mantinham ilegalmente.

Nesse sentido, ainda, a doutrina pátria:

“O crime em questão é o denominado “caixa dois” que, embora passível de ocorrer em outras situações, no caso em comento, por estar contido na Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, a figura típica está restrita às instituições financeiras próprias bem como àquelas a elas equiparadas, conforme art. 1º”

(in, Franco, Alberto Silva, Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial, Vol. 1., São Paulo, Editora RT, 7ª ed., 2002, p. 845)

Desta forma, necessárias as medidas pleiteadas para apurar, além de crimes de corrupção passiva e ativa e pertinência a organização criminosa, os mencionados crimes tipificados nos artigos 11 e 16 da lei nº 7492/86.

7 – DAS PROVAS DE CORROBORAÇÃO INDEPENDENTES ÀS