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CAPÍTULO 2 – A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR BRASILEIRA

2.4 O ATUAL CONTEXTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR BRASILEIRA

2.4.2 As atuações docentes presentes na escola

Nos últimos anos, uma rede8 de pesquisadores produziu conhecimentos sobre a atuação de professores de Educação Física do Brasil e de alguns países da América do Sul. Segundo González (2015), nas pesquisas realizadas por diferentes grupos que fazem parte desta rede foram observadas nas escolas três categorias de atuação docente caracterizadas por: práticas tradicionais, abandono do trabalho docente ou desinvestimento pedagógico e práticas

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REIIPEFE – Rede Internacional de Investigação Pedagógica da Educação Física Escolar da qual fazem parte no Brasil, a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG) e a UNIJUÍ. Do Uruguai fazem parte a Universidad de la República (UdelaR) e da Argentina o Instituto Superior de Educación Física, Ciudad de General Pico (ISEF), a Universidad Provincial de Córdoba, a Universidad Nacional del Comahue e a Universidad Nacional de La Plata (UNLP).

inovadoras. Nesse processo também foram investigados os fatores que interferem na prática docente, considerando que o abandono não estava relacionado a situações interpretadas pelo senso comum como “um problema individual, uma questão atrelada à vontade da pessoa ou, contrariamente, entendida como um efeito do ‘sistema’ onde o sujeito é apenas uma vítima” (GONZÁLEZ, 2015, p. 06).

De acordo com as pesquisas, são consideradas práticas tradicionais aquelas em que o foco é o esporte de rendimento ou o desenvolvimento de exercícios físicos para a aptidão física e a saúde orgânica. Pode-se interpretar que essa condição faz parte das influências sofridas pela área antes do movimento renovador. São concepções que em algumas escolas ainda orientam a Educação Física. Entretanto, os professores que depois dos anos 80 deixaram de acreditar na prática tradicional, mas não construíram conhecimentos sobre as novas perspectivas se encontram em situação de abandono do trabalho docente ou desinvestimento pedagógico.

Nesse contexto, Machado et. al (2010) destacam que tem chamado atenção nas aulas de Educação Física nas escolas que a função do professor se resume ao fato de apenas observar os alunos enquanto praticam atividades que eles mesmos escolheram. De acordo com os autores esses professores são conhecidos como professor bola ou professor rola-bola. Os mesmos pesquisadores também denominam esta característica como desinvestimento pedagógico, pois o docente nessa condição encontra-se “em estados nos quais não apresenta grandes pretensões com suas práticas; talvez a pretensão maior seja a de ocupar seus alunos com alguma atividade” (MACHADO, et. al, 2010).

Além disso, discute-se que o desinvestimento pedagógico ou o abandono do trabalho docente caracterizados pelo fato do professor não ter pretensão em ensinar algo, pode ser chamado de “não aula” (MACHADO, et. al, 2010). De acordo com Machado et. al (2010, p. 133) uma não-aula é quando “no tempo-espaço designado/reservado para que a prática pedagógica do professor ocorra, este não intervém de forma objetiva-intencional, privando os alunos da possibilidade de acesso à aprendizagem”. Esse momento pode ser confundido com o recreio, ou aula vaga, em que os alunos apenas se divertem, não há intenção de aprendizagem e nem orientações do professor.

Diante disso, os autores destacam que eles compreendem estas características como desinvestimento pedagógico porque acreditam que “a prática pedagógica deve ser entendida como uma construção que envolve, entre outras coisas, as crenças, as motivações, as tensões e as conquistas próprias da formação humana desses professores” (MACHADO, et.al 2010, p.

134). No entanto ressaltam que para entender esse fenômeno é importante saber como está a vida pessoal, profissional e o ambiente de trabalho dos professores nestas condições.

Segundo González (2015) há quatro categorias que auxiliam a compreender os motivos que levam muitos professores de Educação Física ao abandono ou desinvestimento pedagógico. A primeira categoria apresentada pelo autor é o processo de transformação da área, pois o discurso do movimento renovador teria tirado o “chão” dos professores e a crítica ao esporte confundiu a identidade pessoal de muitos docentes. A segunda situação está relacionada as condições objetivas do trabalho que são: o salário, falta de tempo para planejar, pouco acesso a formação continuada qualificada, número de escolas para preencher a carga horária semanal. A terceira categoria é a cultura escolar, a cultura da escola e a Educação Física, que consiste no fato da área não ser reconhecida como um componente curricular. Por fim a quarta situação são as disposições sociais do professor atualizadas no contexto de trabalho e significa que “nenhuma das três dimensões anteriores nos fornece suficientes elementos para entender as razões pelas quais frente às mesmas circunstâncias, alguns sujeitos conseguem implementar propostas que rompem com a tradição da área, enquanto outros desistem de ministrar aulas” (GONZÁLEZ, 2015, p. 12-13).

Nesse sentido, a definição de práticas inovadoras é um tanto complexa. Segundo Faria et. al (2010) há várias opiniões sobre este conceito, portanto não é possível apresentar uma única definição. Dessa forma os autores procuram apresentar um conceito amplo evitando que práticas inovadoras ainda não investigadas fiquem de fora desta caracterização. Como é o caso dessa pesquisa em que apresentamos a integração das tecnologias educacionais nas aulas de Educação Física. Portanto, acredita-se que uma “prática pedagógica inovadora rompe com a ideia de que uma aula teórica na EF teria que ser desenvolvida em espaços como salas de aula e distanciada das situações vivenciadas dos elementos da cultura corporal de movimento”, mas também “rompe [...] com o entendimento de que promover discussão e reflexões com os alunos sobre os conteúdos tratados em aula seria roubar tempo de movimento ou de atividade física” (FARIA et. al, 2010, p. 21).

Desse modo, segundo Faria et. al (2010) pode se compreender que o processo de inovação consiste na passagem de um prática funcional para uma prática intencional. A prática funcional “na EF considera que simplesmente pela prática dos esportes ou de outras práticas da cultura corporal de movimento são interiorizados valores e normas sociais sem a interferência do professor no processo”. Por outro lado, a prática pedagógica intencional “compreende que a prática normativa, principalmente a esportiva, pode ou não desenvolver valores necessários à vida em sociedade” (FARIA et. al, 2010, p. 21). Portanto, a prática

pedagógica consiste em desenvolver um processo através da problematização relacionando objetivos de aprendizagem com situações de aula.

Nesse sentido, podemos interpretar que a superação das práticas tradicionais e do abandono e desinvestimento pedagógico depende de mudanças na formação inicial e continuada, além de movimentos contínuos de pesquisa-ação. Afinal, diante do atual contexto da Educação Física na escola, produzir práticas inovadoras não é tarefa fácil. Para isso, um dos desafios é elaborar um plano de ensino que apresente uma sequência de conteúdos para o componente curricular na educação básica. Entretanto são necessárias à implementação de novas metodologias e ferramentas que contemplem as mudanças da educação e também possam contribuir com a inovação pedagógica. No inicio do primeiro ciclo desta pesquisa- ação a professora colaboradora se encontrava em desinvestimento pedagógico e com a evolução do processo passou a apresentar características de inovação. Dessa forma, dialogamos no próximo capítulo as potencialidades das tecnologias educacionais para a educação e para a Educação Física.