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Atualidade das políticas de ação afirmativa

No documento As ações afirmativas no Brasil (páginas 70-73)

3.3 FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA E ATUALIDADE DAS POLÍTICAS DE AÇÃO

3.3.2 Atualidade das políticas de ação afirmativa

Ao versar acerca da atualidade das políticas de ação afirmativa, entendem Geziela Jensen e Luís Fernando Sgarbossa, que as conhecidas políticas de quotas, tão em voga na atualidade, são espécies de discriminações positivas, e muitas vezes com elas confundidas, talvez por serem as medidas mais comumente adotadas.189

Comentam também, Celina Kazuki Fujioka Mologni, Daniela Massaro, Fernanda Emi Inagaki e Thalita Youssef, que:

A união homossexual é realidade da vida social embora tratada com preconceito e discriminação. Por um lado, negam-se a ela direitos básicos da cidadania e, por outro, implementam-se em seu favor as ações afirmativas, através de processos judiciais e extrajudiciais, com tendência de reconhecimentos de direitos, baseados na igualdade e na dignidade humana do homossexual. [...].

Assim, nas decisões judiciais, as ações afirmativas em favor dos homossexuais estão presentes em julgados de nossos Tribunais, em diversos ramos do direito, partindo-se do reconhecimento dessas relações como entidade familiar, merecedora de especial proteção do Estado.190

Por sua vez, descreve Juliano Heinen, que as políticas de ação afirmativa podem ser utlizadas, hodiernamente, como uma forma de implementação da educação, apesar de o problema brasileiro se referir constantemente às ações de questão racial,

188

Ibid., p. 293. 189

JENSEN, Geziela; SGARBOSSA, Luís Fernando. Análise da constitucionalidade das ações afirmativas em face do princípio isonômico através do princípio da proporcionalidade . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1309, 31 jan. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9446>. Acesso em: 01 mai. 2009.

190

MOLOGNI, Celina Kazuki Fujioka; MASSARO, Daniela; INAGAKI, Fernanda Emi; YOUSSEF, Thalita.

Ações afirmativas em favor dos homossexuais: fundamentos jurídicos. Disponível em:

<http://bdjur.stj.gov.br/jspui/bitstream/2011/18715/2/A%C3%A7%C3%B5es_afirmativas_em_favor_dos_h omossexuais.pdf>. Acesso em: 01 mai. 2009.

tema este que tem ocupado espaço na mídia e causado muita polêmica, no que se refere à reserva de vagas para afrodescendetes nas universidades brasileiras. Portanto, percebe-se que se popularizaram as referidas ações afirmativas, como uma maneira de implementação do acesso à universidade. Aliás, procura-se inserir uma política pública de discriminação positiva, em benefício das classes sociais que são historicamente marginalizadas no mercado de trabalho.191

Ao tratar das políticas de ação afirmativa, no que tange ao aspecto racial, discorre Renato Emerson dos Santos:

A definição da política de reserva de vagas segundo critérios raciais [...], com todos os seus percalços, é elucidativa de como avança a construção de políticas públicas voltadas à superação das desigualdades raciais no Brasil. É uma longa caminhada que tem, como traços marcantes, a luta incansável do Movimento Negro, a capitalização social e institucional de seus militantes, as resistências políticas e institucionais, além da vitória – mais pelo constrangimento do que pela conscientização dos setores dominantes. A guetificação das iniciativas, das entidades, dos militantes e das idéias do campo da luta anti-racismo, através de estratégias discursivas que têm a negação, o silenciamento e o recurso recorrente às teses da perversidade, ameaça e futilidade [...], vem aos poucos sendo rompida.192

No entanto, Almira Rodrigues e Elizabete Barreiros observam que além destes casos atuais de políticas de ação afirmativa, verifica-se, ainda, quanto à discussão em torno das quotas para participação das mulheres na direção política de órgãos partidários e sindicais. Busca-se, atualmente, através da política de ação afirmativa, aumentar as chances e oportunidades da participação das mulheres na vida política brasileira, posto que a exclusão destas, foi fruto, durante muitos anos, de uma sociedade patriarcal, que reservou às mulheres quase que a exclusividade da maternidade e das tarefas domésticas e limitou institucionalmente a sua participação por intermédio da proibição do voto feminino.193

191

HEINEN, Juliano. As ações afirmativas como instrumento promotor da educação. Disponível em: <http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/article/view/95/113>. Acesso em: 01 mai. 2009.

192

SANTOS, Renato Emerson dos. Política de cotas raciais nas universidades brasileiras – o caso da UERJ. In: GOMES, Nilma Lino (Org.). Tempos de lutas: as ações afirmativas no contexto brasileiro. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006. p. 22.

193

RODRIGUES, Almira; BARREIROS, Elizabete. Quotas para as mulheres na política: a busca da equidade de gênero. Disponível em: <http://www.pps.org.br/gaf/documentos/quarta%20parte%20- %20texto%202.doc>. Acesso em: 01 mai. 2009.

Com base em todo o exposto, afirma-se que as políticas de ação afirmativa na atualidade, buscam variadas formas para combater a discriminação, motivo pelo qual:

As ações afirmativas vêm então, exercendo um papel estratégico em todo o processo de reparação social, para as famílias e estudantes negros, possibilitando uma real condição de reduzir as não escolhas por determinada trajetória educacional e cursos de prestígio social, dando-lhe um motivo para estudar, lhe dando esperança para uma história social e familiar diferente. O papel das ações afirmativas então tem sido o de reparar as injustiças históricas, afirmar identidades, criar expectativas, possibilitar a construção de carreiras e modificar e valorizar trajetórias de estudantes com o destino traçado, pelo lugar que a sociedade lhe reservou como jovem, negro e pobre.

As ações afirmativas no âmbito das Instituições privadas, são outros aspectos que merecem nossa reflexão, é importante que surjam pesquisas que investiguem a importância das mudanças, com a inclusão dos estudantes do PROUNI (o que poderíamos chamar de cotas sociais) com grande demanda reprimida de vagas, tem refletido nos aspectos administrativos e financeiros, impactando na ociosidade e conseqüente taxa de ocupação de alguns cursos, do aumento e expansão da oferta de vagas e cursos, na taxa de inadimplência estudantil, no planejamento pedagógico, nos ganhos da pluralidade étnico-racial e social nos espaços acadêmicos, no financiamento, planejamento e gestão do ensino superior das instituições de ensino privadas, etc.

Como podemos perceber, faz-se necessário uma maior avaliação sobre os impactos na saúde financeira das instituições privadas, dessas "políticas públicas para as populações marginalizadas e minorias". Assim, nossas primeiras observações, dão conta de que a circulação dessa nova clientela (negra, da periferia, da escola pública) no espaço acadêmico universitário, onde se encontram estudantes de classes sociais tão díspares, separados até o vestibular pela "harmonia estética e social" das escolas privadas, tem agora de se encontrarem lado a lado. [...].194

Sendo assim, apresentado o conceito de ação afirmativa, o seu objetivo e natureza, o desenvolvimento e aplicação desta, como também a fundamentação jurídica e atualidade das políticas de ação afirmativa, estudar-se-á no capítulo seguinte sobre as questões relativas ao sistema de cotas para os afrodescentes no Brasil, que resulta em vários estudos doutrinários.

194

SOUSA, Romilson da Silva. Acesso de estudantes negros à educação superior: ações afirmativas e superseleção. Disponível em: <http://www.frb.br/ciente/dir/dir.mestrando%20da%20uneb.sousa.pdf>. Acesso em: 01 mai. 2009.

4 QUESTÕES RELATIVAS AO SISTEMA DE COTAS PARA OS AFRODESCENDENTES NO BRASIL

Neste capítulo, abordar-se-á sobre o modelo escravagista brasileiro e a desigualdade racial no Brasil, bem como sobre as ações afirmativas no Brasil como medidas para a implementação de cotas para os afrodescendentes, segundo dados colhidos na legislação, doutrina e jurisprudência pátria vigente.

4.1 O MODELO ESCRAVAGISTA BRASILEIRO E A DESIGUALDADE RACIAL NO

No documento As ações afirmativas no Brasil (páginas 70-73)