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2 PREMISSAS DA CONTRATAÇÃO PÚBLICA

3.4 ATUALIZAÇÃO DE VALORES

Conforme norma, o limite para dispensa de licitação é resultado de um determinado percentual aplicado aos valores mínimos para o convite, em síntese 10% para a administração direta, e 20% para a administração indireta, correspondendo ao numerário em destaque na tabela 1.

Os valores de referência datam de 27 de maio 1998 quando fora promulgada a Lei Nº 9.648, portanto aproximadamente há 19 anos. É fato notório a desvalorização financeira da moeda no decorrer do tempo. Diante disso, considerando a doutrina de Justen Filho (2012, p. 371), em que se justifica o limite expresso em valores pela relação do custo em função do benefício; é evidente que esta correspondência atualmente está prejudicada. Fora a desvalorização da moeda, ao longo dos anos as despesas de uma licitação fatalmente aumentam.

Recapitulando um dos princípios estudados, percebe-se que tal desequilíbrio afeta a eficiência. Apesar de não limitar-se aos assuntos de ordem econômica, nas palavras de Justen Filho (2012, p. 67) tal princípio veda o desperdício ou a má utilização dos recursos destinados à satisfação de

necessidades coletivas. Sendo necessário obter o máximo de resultados com a menor quantidade possível de desembolsos. Ainda, “o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional” (MEIRLLES, ALEIXO, BURLE FILHO, 2012, p. 100).

Diante disso, após decorridos 20 anos de corrosão financeira, tais valores merecem atualização monetária. Seguindo a corrente doutrinária supracitada, é inviável a realização de licitação em todas e quaisquer compras, seja pelo custo do procedimento ou pela necessidade de agilidade na aquisição. Nesta seara, o valor ínfimo para dispensa teria o mesmo efeito, pois limita a eficiência do poder público, haja vista o irrisório poder de compra dos valores frente longo lapso temporal sem a devida correção.

A atualização monetária é competência da ciência econômica, não cabendo ao direito explanar cientificamente sobre o tema. Porém, com a vênia necessária, desloca-se a baila ao tema, de maneira singela, simplesmente com o intuito de ensejar uma possível atualização dos valores correspondentes àqueles estipulados no passado.

Para França (1976 apud RAZUK, 2005, p. 47) a correção monetária é a atualização do valor da moeda, tendo-se em vista a data do entabulamento do vínculo e da execução da prestação. Tal atualização faz-se necessária frente à ocorrência da inflação em que tecnicamente é caracterizada por aumento geral dos preços, com consequente perda de poder aquisitivo da moeda (HOJI, 2011, p. 52).

Desse modo, a correção monetária atualiza o valor original de ativo corroído pela inflação, com base em um determinado índice predeterminado ou definido por órgão ou instituição oficial (POLO, 2000, p. 39).

A seguir serão apresentados os índices que medem a variação de preços mais importantes à economia brasileira.

O IGP – Índice Geral de Preços elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia - IBRE da Fundação Getúlio Vargas - FGV

O IGP é a média aritmética ponderada de três outros índices de preços. São eles:

• Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), • Índice de Preços ao Consumidor (IPC),

• Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).

da despesa interna bruta, calculadas com base nas Contas Nacionais – resultando na seguinte distribuição:

• 60% para o IPA, • 30% para o IPC, • 10% para o INCC.

O IGP desempenha três funções: Primeiramente, é um indicador macroeconômico que representa a evolução do nível de preços. Uma segunda função é a de deflator de valores nominais de abrangência compatível com sua composição, como a receita tributária ou o consumo intermediário no âmbito das contas nacionais. Em terceiro lugar, é usado como referência para a correção de preços e valores contratuais.

http://portalibre.fgv.br/main.jsp?lumChannelId=402880811D8E34B9011D92 AF56810C57

O INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor ; e o IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, ambos levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

O Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor - SNIPC efetua a produção contínua e sistemática de índices de preços ao consumidor, tendo como unidades de coleta estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e domicílios (para levantamento de aluguel e condomínio). O período de coleta do INPC e do IPCA estende-se, em geral, do dia 01 a 30 do mês de referência. A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 (hum) e 5 (cinco) salários-mínimos, cuja pessoa de referência é assalariado em sua ocupação principal e residente nas áreas urbanas das regiões; a do IPCA abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 (hum) e 40 (quarenta) salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos e residentes nas áreas urbanas das regiões.

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/default inpc.shtm

O valor do índice acumulado no decorrer dos anos é calculado com a seguinte fórmula:

Figura 1: Fórmula para cálculo de índice acumulado

Fonte: Autor desconhecido (2017) Onde : i = índice

Para verificar a equivalência ao valor original do limite instituído para a modalidade convite, e consequentemente a dispensa, foram coletados nos sites das instituições os percentuais dos índices: IGP-M, INPC, IPCA e Poupança, entre 1998

e 2016, e aplicado à fórmula acima para obter-se o valor acumulado de cada indexador , seguido do cálculo da média aritmética, conforme tabela 2.

Tabela 2: Índices acumulados

Índices registrados 1998 - 2016

Ano IGP-M INPC IPCA Poupança 1998 1,78% 2,49% 1,66% 15,08% 1999 20,10% 8,43% 8,94% 12,75% 2000 9,95% 5,27% 5,97% 8,61% 2001 10,37% 9,44% 7,67% 8,49% 2002 25,30% 14,74% 12,53% 8,97% 2003 8,69% 10,38% 9,30% 11,93% 2004 12,42% 6,13% 7,60% 8,04% 2005 1,20% 5,05% 5,69% 9,19% 2006 3,84% 2,81% 3,14% 8,41% 2007 7,74% 5,15% 4,45% 7,80% 2008 9,80% 6,48% 5,90% 7,74% 2009 -1,71% 4,11% 4,31% 7,09% 2010 11,32% 6,46% 5,90% 6,81% 2011 5,09% 6,07% 6,50% 7,50% 2012 7,81% 6,19% 5,83% 6,58% 2013 5,52% 5,56% 5,91% 6,32% 2014 3,67% 6,22% 6,40% 7,02% 2015 10,54% 11,27% 10,67% 7,94% 2016 7,19% 6,58% 6,28% 8,35% Acumulado 353,65% 245,44% 232,75% 383,01% Média 303,72%

Fonte: IBGE, IBRE, Portal Brasil (2017)

Tendo por base a média aritmética dos índices apurados, conforme apresentado na tabela 2, é possível simular a atualização dos limites estabelecidos para definição das modalidades de licitação, especialmente para os casos de dispensa, objeto de debate. Em todos os índices apresentados, o percentual acumulado no decorrer dos anos é de proporção considerável. Supondo uma correção dos limites, seria necessário ajustar pelo triplo do valor praticado atualmente. Verifica-se na tabela 3 que o limite para dispensa por valor, no caso da administração direta seria de R$24.297,32 para compras e outros serviços, e R$45.557,48 para obras e serviços de engenharia. Para a administração indireta R$48.594,65 para compras de outros serviços, ou R$91.114,96 para obra e serviços de engenharia. São valores factíveis, frente à desatualização monetária dos limites praticados.

Tabela 3: Limites calculados a partir da média de índices oficiais

TABELA DE VALORES PARA LICITAÇÃO (SIMULADO)

Compras e outros serviços Obras e serviços de engenharia

Modalidade Limite Atual Limite

Simulado Limite Atual

Limite Simulado

Convite R$ 80.000,00 R$ 242.973,23 R$ 150.000,00 R$ 455.574,80

Dispensa (ADM Direta) R$ 8.000,00 R$ 24.297,32 R$ 15.000,00 R$ 45.557,48

Dispensa (ADM Indireta) R$ 16.000,00 R$ 48.594,65 R$ 30.000,00 R$ 91.114,96

Fonte: Elaborado pelo autor (2017)

Os cálculos são coerentes, tanto que a Lei Nº 13.303/16, que dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em seu artigo 29 impõe como limite para dispensa para de licitação R$100.000,00 para obras de serviços de engenharia e R$50.000,00 para compras e outros serviços. Portanto, próximo ao calculo simulado.

Art. 29. É dispensável a realização de licitação por empresas públicas e sociedades de economia mista:

I - para obras e serviços de engenharia de valor até R$ 100.000,00 (cem mil reais), desde que não se refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda a obras e serviços de mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente;

II - para outros serviços e compras de valor até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizado de uma só vez. (BRASIL, 2016)

Percebe-se que a Administração indireta já teve a atualização necessária, frente à edição da lei supracitada. Quanto à Administração direta, a modernização é imprescindível para trazer agilidade e presteza em compras cotidianas necessárias ao bom desempenho e alcance do interesse público.

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